PanoramaCrítico 07

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#7 artigos ensaios

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feriu sua sede para o Brasil, que passou de periferia colonizada à capital do Império colonizador, experiência bastante peculiar entre os países colonizados. Outro ponto relevante, ainda, é o fato de nosso colonizador ter sido um país ibérico, sem grande tradição entre os europeus, o que tornou o Brasil subordinado não só a Portugal, mas também à Inglaterra, por conta das relações comerciais, à França, pela referências culturais, e, ainda, aos Estados Unidos, pela proximidade geográfica e domínio econômico. Essa mescla tão pluralizada de referências nas relações de poder, fez com que a condição colonial do Brasil não se fizesse com clareza nem no momento da busca pela autonomia política e econômica, nem nas definições de identidade cultural. A literatura brasileira do século XIX, em decorrência dessas questões, busca a criação de um ideal patriótico forjando um passado heróico ficcional, ao mesmo tempo tomando como modelo a referência do colonizador e defendendo um discurso político de autonomia, mostrando que no exotismo de nosso povo estaria a grandeza de nossa nação. Desse modo, imprimindo uma complexidade cheia de paradoxos para os leitores desse tempo. Leyla Perrone Moisés aponta que:

Nas artes visuais (ou plásticas) a situação não foi diferente, de modo que o surgimento de uma pintura nacional acontece logo depois da criação da Academia Imperial de Belas Artes. O fato importante é que os professores que aqui estiveram eram franceses e não portugueses, como se poderia esperar. Isso porque, a Academia surgiu no Brasil antes do que em Portugal, fazendo, inclusive, com que os portugueses reivindicassem direitos em relação à colônia, fato bastante incomum. A partir desse indício já se pode supor que os paradoxos também se estendem para a pintura. Em texto que prefacia o importante livro A Arte Brasileira, de Gonzaga-Duque, Tadeu Chiarelli comenta o projeto da Academia Imperial de Belas Artes durante a gestão de Araújo Porto Alegre como diretor, que:

Os nacionalismos literários latino-americanos,

(...) voltava-se para a construção idealizada de

do Romantismo aos dias de hoje, têm essa ca-

uma “mitologia brasileira”, baseada em obras

racterística de uma reivindicação que não co-

de gênero histórico, voltadas para a glorifica-

nhece muito bem os limites dos direitos e das recusas, correndo sempre o risco de misturar razões políticas e econômicas com razões estéticas, e de querer eliminar um inimigo que, do ponto de vista da história cultural, é constitutivo de sua identidade (PERRONE-MOISÉS, 1997, p. 249-250).

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