2º Concurso Literário farmácias Pague Menos

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Flores do Sertão

Respondeu que não. Que não sabe ler E tão pouco escrever. Nunca viu o mar? Não senhora, Mas dizem que é açude grandão, sem paredes. Sou sertanejo, não conheci escola Só leio o céu, estrelas na lua cheia do sertão. Os meus filhos fazem letras no papel, Nem sei desenhar meu nome, mas toco repente e sei rimar. Na escola, meus miúdos vão pra aprender a fazer conta. Só se vive se sabe cobrar e pagar, dona. A vida aqui é peleja. Minha idade, eu não tenho certeza, Sou homem maduro, tronco de terra firme. Aquele retrato – não conheço, Mas gosto do sorriso. Viu o do finado, o anjinho, na parede? Na cidade vejo o doutor, não me atrevo a puxar prosa, Sou modesto, venho atrás do remédio. Bom mesmo é xarope de raiz.

Quando o mal me acomete, chamo Maria Caipora. É a benzedeira mais afamada do Vale. É meio-dia. Sol a pino, Boca seca e barriga vazia, hora da boia. Volto pra lida, debaixo da fervura, tenho bocas, Meninos pequenos, são sete os meus. Já é hora. Vou levar o cachorro outra vez, Ontem mesmo, Fulô matou uma cobra. E acredite, a mulher levou pra panela, O cozido que é um manjar. Segue o astro, com enxada no ombro, Em peito nu de pele fadigada. E as rachaduras dos calcanhares, Marcam o chão de poeira na estrada. Simone de Fátima Brichta Fortaleza - CE

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