#1 Outros Críticos [ano I - janeiro 2014]

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com dois minutos, os músicos Basílio Queiroz (baixo), Bruno Saraiva (teclado), Rennar Pires (bateria), e os guitarristas Saulo Mesquita e Túlio Albuquerque tentam criar esse ambiente de contínuas transformações. Embora as referências – e a ambição de tentar traduzi-las em música – possam soar pretensiosas, a Kalouv, ao buscar conceituar o seu álbum, acaba por trazer significado a um gênero instrumental que ainda não é de fácil definição ou assimilação. Apontar nomes como Mogwai, Explosions in the Sky ou Red Sparowes como referências das músicas produzidas pela Kalouv é corroborar com essa ideia de renovação e transitoriedade presentes a cada virada de bateria, ambientação do teclado, solos e paredes de guitarra.

O single “Boa Sorte, Santiago” foi lançado em 2013 precedendo o lançamento do álbum novo. Pluvero é o segundo disco da banda, em 2011 eles haviam lançado Sky Swimmer.

sica em um minucioso jogo de armar, em que todos os elementos estão presentes de forma meticulosamente calculadas.

O Kalouv prefere focar no caminho do preciosismo matemático, assumindo os riscos de soar, em alguns momentos, frios e distantes – o que parece ser, inclusive, intencional. Composto em um processo que durou cerca de dois anos e que tem como parceiros o produtor Roberto Kramer, que também mixou e masterizou o álbum e toca bandolin na faixa “Esquizo”, Pluvero também conta com a participação do trompetista Kevin Jock, Felipe Viana na viola de arco, GA Barulhista nos samplers e do guitarrista Fernando Athayde.

O transitório é um elemento marcante do post-rock. A ausência da palavra cantada desamarra o processo criativo do gênero, possibilitando novas construções, experimentações e andamentos que carregam, em si, a ideia de mudança e transitoriedade. Não à toa, há certa similaridade entre o post-rock e algumas vertentes da música eletrônica nas constantes alternâncias de andamento e intensidade. Destas possibilidades abrem-se dois caminhos: o primeiro é dilatar as composições a um limite que beira o improviso e o imprevisível, flertando com elementos do free jazz e aceitando o erro e as “sujeiras” como parte do processo criativo. O segundo caminho é o de transformar a mú-

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Pluvero não fala, mas tem voz. Nas faixas “Boa Sorte, Santiago” e “Altro” a cantora Isadora Melo utiliza seus recursos vocais para embalar as construções sonoras da Kalouv, numa tentativa calculada – e acertada – de alcançar o sublime. OC


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