Oswaldo Cruz Cultural – Ed 29

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6 Descartes, “o pai da razão”, tão traumatizado estava pelos dogmas de então, que partiu da dúvida como método sistemático: “para duvidar eu penso e, se eu penso, logo existo”. Filósofo, físico e matemático, Descartes sugeriu a fusão da álgebra com a geometria – fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas, fazendo dele uma das figuras-chave na revolução científica. Finalmente podemos citar Isaac Newton, que fez a síntese da matematização de Galileu, do empirismo baconiano e do racionalismo de Descartes.

Ao destrinchar a física mecânica, extrapolou a metáfora da máquina para o universo inteiro, regido por leis precisas. No entanto, aquilo que era para ser o movimento compensatório dialético, histórico, infelizmente levou a uma outra esclerose. A revolução científica conduziu a humanidade de um extremo, onde a ciência era reprimida em nome de algo que confusamente era chamado Deus,... ...para os momentos obscuros da modernidade, onde a experiência sublime, onde toda essa dimensão essencial – de onde jorram os princípios da ética – é reprimida em nome de algo que confusamente tem sido chamado ciência. E o cego apego ao progresso tecnocientífico, sem a contraparte de transcendência, de espiritualidade, do divino, fez com que as mesmas trevas medievais recaíssem sobre os nossos atuais tempos modernos.

Robert Oppenheimer, nesta foto ao lado de Einstein, era uma das mentes mais brilhantes de sua época.

E por ser uma das mentes mais brilhantes de sua geração, foi designado pelo governo norteamericano para liderar a 'Operação Manhattan'. Durante 28 meses – de abril de 1943 a agosto de 1945 –, Oppenheimer encabeçou uma equipe formada por centenas de cientistas de ponta, e outros milhares de técnicos e assistentes. E como resultado desta incansável dedicação: a primeira bomba nuclear. Uma enorme concentração de energia engendrada em um pequeno espaço, capaz de ser liberada subitamente, com resultados devastadores, aliada a um subproduto letal: a radioatividade.

O dia 6 de agosto de 1945 tinha tudo para ser apenas mais uma segundafeira como tantas outras.

O sol já despontara, e os habitantes da cidade de Hiroshima, ao sul do Japão, se preparavam para a semana por começar. Seria um dia como tantos outros, não fosse o avião a sobrevoar sorrateiramente a cidade, e lançar, às 8h 16min, a primeira bomba atômica jogada sobre uma cidade povoada. “Meu Deus, o que foi que nós fizemos?” Foi a primeira interrogação de um dos tripulantes do avião diante da cena de absoluta devastação. Cerca de 100 mil pessoas morreram instantaneamente, – as vítimas eram civis, cidadãos comuns, já que a cidade não era um alvo militar importante. Gerações inteiras, pais e filhos, avós e netos, crianças, jovens e velhos, cães, gatos, e passarinhos, dizimados num piscar de olhos.

A chama que devora a delicada carne, transformando-a em cinzas. Dor, sofrimento, suplício, – o fim de toda esperança. Sobe para as abóbadas o canto dos pássaros. Subirão ou não ao céu as preces dos humanos... Que pensamentos terão ecoado na mente de Oppenheimer diante dos resultados do mais avançado projeto científico de sua época, que ele liderou com tamanho afinco? Além dos cem mil mortos no ataque, outros tantos milhares viriam a falecer em consequência das feridas e do envenenamento radioativo. E três dias mais tarde, na manhã do dia 09 de agosto de 1945, a chama radioativa consumiria outros 80.000 em


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