Edição 13

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Ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho e faz uso de conhecimentos multidisciplinares: a melhor maneira de executar um serviço, a utilização dos recursos mais apropriados, a organização dos procedimentos e do local de trabalho, o uso correto e a manutenção dos equipamentos necessários. Tenho desenvolvido análises e projetos ergonômicos e visto a aplicação da ergonomia em pacientes amputados a fim de tornar possível a reabilitação para o trabalho, porém, em pacientes portadores de seqüelas no aparelho locomotor de origem neurológica, tive uma experiência e as respostas foram surpreendentes e animadoras. Este “cliente” era um senhor de 65 anos, parkinsoniano, e apresentava discreta hipertonia plástica, discreto tremor de extremidades, bradicinesia e marcha petit pass e estava com excelente acompanhamento fisio-terápico. Em nossa primeira entrevista, verifiquei que trabalhava em um escritório de advocacia, em um posto de trabalho informatizado. Observei que seus olhos estavam irritados e perguntei se ele estava com dor nos olhos ou dor de cabeça. Ele disse que estava com dor de cabeça e que esta se manifestava quase que diariamente e normalmente ao fim do Fisio&terapia 16

expediente de trabalho. Como havia em sua sala uma grande quantidade de luminárias, solicitei a um técnico de segurança do trabalho que realizasse uma medição da iluminação que apresentou 753 LUX sobre a mesa. O parâmetro recomendado pela NBR 5413 para este tipo de atividade é de 500 LUX. Uma semana após modificações na iluminação, soube que suas dores de cabeça haviam desaparecido. Este fato contribuiu para aumentar a produtividade no trabalho. Solicitei que colocasse o telefone, o botão que aciona a abertura da porta e as cadeiras de seus clientes à sua esquerda, pois ele apresentava esquecimento para o uso de seu dimidio esquerdo. Ajustei sua cadeira baseado em estudos antropométricos e depois soube, através da fisioterapeuta que o atendia, que ele estava colaborando muito na cinesioterapia, principalmente nos alongamentos, e que havia começado a se vestir sozinho. Orientei-o quanto a necessidade de uma mobília própria, uma mesa com padrões ergonômicos adequados às suas necessidades e uma cadeira que apresentasse regulagem no encosto, pois ele não conseguia sentar-se com as costas bem apoiadas. Recomendei ainda que usasse sobre o carpete e sob a cadeira um material que permitisse que os rodízios da cadeira deslizassem melhor, mas as que encontramos

no mercado apresentaram uma altura incompatível com a sua. Procuramos até que descobrimos um material com pequena altura, bordas em forma de rampa, de fácil instalação e remoção para limpeza. Concluo este artigo recomendando a aplicação da ergonomia em postos de trabalho cujo usuário apresente seqüelas no aparelho locomotor de origem neurológica e, para tanto, é necessário considerar os aspectos patológicos e fisiopatológicos. A implementação deste tipo de trabalho servirá de auxílio na reabilitação global do paciente, aumentando a produtividade, o bem-estar, o nível de independência e a qualidade de vida. Gostaria de expressar meus agradecimentos ao paciente e às fisioterapeutas Dra. Marta Araújo e Dra. Lígia Pereira Fonseca, que tornaram possível a realização deste trabalho.

Erimilson Roberto Pereira Fisioterapeuta (H.P.C.J.C.M) Professor (SEFLU e U.C.B) Ergonomista (Ambiental - Assesso-


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