Revista Livre Pensamento - Número 3

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Colunas - Filosofia Como observa o antropólogo Edgar Morin, a organização social proporcionada a nós, seres humanos, pela linguagem, criou condições para a nossa evolução biológica e cultural. Independente da origem da comunicação, a história nos mostra que os homens encontraram a forma de associar um determinado som ou gesto a um certo objeto ou ação. Assim nasce o signo. A natureza da linguagem é antes de tudo um signo. Um signo é qualquer coisa que conduz alguma outra coisa a referir-se a um objeto ao qual ela mesma se refere de modo idêntico. É qualquer coisa que busque representar outra. Charles Sanders Peirce, pai da semiótica (estudo dos signos/imagens), definiu bem, de forma geral, os tipos de signo:

Estudos de antropologia se embasando na biologia mostram que, o que provavelmente possibilitaram o surgimento da linguagem (organizada) foram uma caixa craniana com aptidões acústicas, um cérebro capaz O ícone é um signo que mantém uma relação de de organizar a linguagem, complexidade crescente proximidade sensorial com o signo, representação com um ambiente e organização social requerendo do objeto - pintura, fotografia, o desenho de um cada vez mais comunicações (a necessidade de falar) e homem. Também possuiria o caráter que o torna uma mútua relação e interação entre essas ordens de significante, mesmo que seu objeto não existisse, fenômenos. tal como um risco feito a lápis representando uma Morin denomina Call System o modo como nos comulinha geométrica. (Peirce, Charles S.). nicávamos inicialmente através de uma linguagem primitiva. O Call System já não era capaz de inventar noO índice é um signo que de repente perderia seu vos sons que pudessem diferenciar-se uns dos outros caráter que o torna um signo se seu objeto fosse fazendo com que houvesse a necessidade e criando removido, mas que não perderia esse caráter se uma brecha para um tipo de linguagem mais complenão houvesse interpretante. Tal é o caso de um xa. Assim surge a gramática - indispensável e o grande molde com um buraco de bala como signo de um impulso para a evolução da comunicação. A gramática tiro, pois sem o tiro não teria havido buraco; po- não passa de um tipo de linguagem (signo simbólico). rém, nele existe um buraco, quer tenha alguém ou Gramática é o conjunto de regras de combinação nenão a capacidade de atribuí-lo a um tiro. (Peirce, cessárias para dar-nos um repertório de signos, que teCharles S.). O signo indicial indica alguma coisa - oricamente poderíamos combinar de infinitos modos. acontecido. Como observa Diaz Bordenave, se cada pessoa combinasse seus signos a seu modo seria impossível nos coUm símbolo se constitui em um signo simples- municarmos uns com os outros. Seria como se cada um mente. Não possui natureza alguma por si só, falasse uma língua diferente e tentasse se comunicar. podendo somente ser usado e compreendido Graças à gramátiatravés de regras e convenções. Tal é a palavra, ca, o significado e como uma palavra, está ligada a seu objeto por já não depende uma convenção de que deve ser assim entendi- só dos signos, do sem que necessariamente ocorra uma ação mas também da qualquer que poderia estabelecer uma conexão estrutura de sua factual entre signo e objeto. (Peirce, Charles S.). apresentação. Perderia o caráter que o torna um signo se não Com a posse de houvesse algo para significar, ou um interpretante repertórios de a par das regras. O signo simbólico possibilita o signos, e de resurgimento da linguagem organizada. gras para comRevista Livre Pensamento - Número 3

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