Os parâmetros atuais ideais de governança - a guerra subliminar - OpAA78

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Opiniões on i t di E al u ng i l ti ul M

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ISSN: 2177-6504

BIOENERGÉTICO: cana, milho, agave, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade e carbono ano 20 • número 78 • Divisão C • Nov-Jan 2024

os parâmetros atuais ideais de governança a guerra subliminar


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instruções IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG • First of all, before any action, please touch in the flag of your language. • Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue. • Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma. • Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache. • Para que obtenha o melhor aproveitamento dos recursos que a Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões pode lhe oferecer, solicitamos que assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao chegar no final, o video das instruções será iniciado novamente.

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EDITORIAL DE ABERTURA: 08. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ABAG e Canaplan MACROVISÃO ESTRATÉGICA: 12. Plínio Mário Nastari, Datagro 14. Sergio Rodrigo Vale, MB Associados 16. Edivaldo Domingues Velini, Unesp-Botucatu 20. Haroldo José Torres da Silva, Pecege 22. Dib Nunes Junior, Idea 26. Eduardo Lunardelli Novaes, Produtor Rural 28. Marcos Fava Neves, FEA-USP e EAESP-FGV 32. Josias Messias, ProCana Brasil e IBGC 36. Arnaldo Jardim, Câmara dos Deputados 38. Marcela Pitombo, MoselloLima Advocacia 42. Gabriel de Oliveira Teixeira, FEA-USP e Markestrat MERCADO NACIONAL E INTERNACIONAL 46. Evandro Gussi, UNICA 50. Guilherme Nastari, Datagro 54. Manoel Pereira de Queiroz, Mapa Capital SUCESSÃO FAMILIAR: 58. Cláudio A. Pinheiro Machado Fº, FEA-USP e FGV-EESP 62. Bruno Rangel Geraldo Martins, COPLANA 64. Cláudia Tonielo, Grupo Toniello 68. Nelson Cury Filho, FBFE


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quando estiver na estrada

Quando você estiver na estrada

ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO: 01. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ABAG e Canaplan 02. Plínio Mário Nastari, Datagro 03. Sergio Rodrigo Vale, MB Associados 04. Edivaldo Domingues Velini, Unesp-Botucatu 05. Haroldo José Torres da Silva, Pecege Quando terminar, toque no segundo autor 06. Dib Nunes Junior, Idea e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a 07. Eduardo Lunardelli Novaes, Produtor Rural edição da revista. 08. Marcos Fava Neves, FEA-USP e EAESP-FGV Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, 09. Josias Messias, ProCana Brasil e IBGC lido com voz nativa, localize o artigo desejado 10. Arnaldo Jardim, Câmara dos Deputados e toque na bandeira da língua que preferir. 11. Marcela Pitombo, MoselloLima Advocacia Além do português, estão à disposição os 12. Gabriel de Oliveira Teixeira, FEA-USP e Markestrat áudios em espanhol, inglês e francês, traduzido e lido com uso de inteligência artificial. 13. Evandro Gussi, UNICA Você não precisa viajar para desfrutar desse 14. Guilherme Nastari, Datagro conforto. O sistema funcionará na sua mesa de 15. Manoel Pereira de Queiroz, Mapa Capital trabalho, andando no parque, na academia, nas 16. Cláudio A. Pinheiro Machado Fº, FEA-USP e FGV-EESP ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. 17. Bruno Rangel Geraldo Martins, COPLANA Boa leitura ou boa audição, como preferir. 18. Cláudia Tonielo, Grupo Toniello 19. Nelson Cury Filho, FBFE Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo utilizando os controles do rádio do seu carro.

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editorial de abertura

os parâmetros atuais ideais de governança “O ser capaz mora perto da necessidade.” Pitágoras O processo acelerado de mudanças globais guarda relação direta com os acontecimentos verificados com a reglobalização iniciada no bojo das reações negativas das sociedades face ao aprofundamento das diferenças entre os ricos e pobres, mesmo com a sensível melhoria provocada pela globalização no campo do comércio internacional. A pronunciada queda nas ações liberalizantes do comércio e a subida efetiva nas medidas protecionistas são o lado mais escuro das mudanças que têm ocorrido. Com isso, a Guerra Fria EUA-China, a invasão russa à Ucrânia e, agora, o ataque do grupo Hamas a Israel, entre outras guerras no mundo, criou um ambiente geopolítico, carregado negativamente, às vésperas do ano de 2024, quando haverá as eleições nos EUA. Os impactos profundos observados nos países pós-pandemia, como inflação e crise logística, são percebidos na redução do crescimento da economia de nações-chave como os EUA, os países da União Europeia e China, dificultando as ações efetivas na lógica da descarbonização, ocorrendo o contrário do que foi estabelecido no Acordo de Paris, com maior utilização de combustíveis fósseis e lenta adoção do uso de energias renováveis. Outro aspecto no processo global de mudanças é a pressão pela melhoria na forma de produzir e consumir, sempre na rota de se buscar a mitigação das emissões de carbono e, ao mesmo tempo, buscar a segurança alimentar e energética do planeta. Os programas lançados pela União Europeia (Green Deal) e pelos EUA (IRA), sem visão multilateral, e, portanto, sem a governança essencial da OMC – Organização Mundial do Comércio, são ações nitidamente unilaterais que trazem ainda maior complexidade às relações comerciais, perturbando o melhor equilíbrio global obtido no pós-Segunda Guerra Mundial. Em síntese, há uma grave ruptura na governança global, com tentativas de imposição de políticas internas dos países ricos ocidentais e seu unilateralismo, acarretando dificuldades ao comércio internacional. Esse desequilíbrio traz problemas a um país como o Brasil, que tem raízes ocidentais, mas tem seu grande mercado externo no Oriente.

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Por enquanto, não se sente uma ação unilateral de países como a China, mas a pressão vinda dos países líderes ocidentais pode pressionar os chineses a, também, adotarem medidas unilaterais, o que é preocupante. Uma consequência desses fatos é a pressão dos grandes importadores e das empresas externas com essas novas medidas e seus impactos no processo de governança das empresas brasileiras, como as certificações e a rastreabilidade, entre outras. O agronegócio tem mostrado, no Brasil, diferentes evoluções na questão do carbono. A cadeia da cana-de-açúcar, do milho e dos óleos vegetais está à frente das demais cadeias produtivas, em face da lei dos biocombustíveis que levou aos CBIOs e a um mercado moderno na B3 – RenovaBio. As outras cadeias, seja a da pecuária ou a dos grãos, têm procurado se ajustar à nova realidade e às métricas fundamentais relativas às emissões de carbono. De alguma forma, a pressão dos agentes financeiros no Brasil tem apresentado resposta positiva das empresas do setor sucroenergético na governança, com profissionalização, conselhos montados e abertura de capital. São medidas cobradas pelos agentes citados para a renovação ou para novos recursos de crédito, o que é positivo. A evolução da governança no agronegócio trará maior consistência aos investimentos, melhor análise das ameaças e oportunidades e maior abertura no networking das empresas. Segundo o ItaúBBA (ItaúBBA, Agroschool, Trilha da Governança Agro, agosto-22), o negócio agrícola, como qualquer outro, precisa ser tocado com bom nível de governança, com estratégia, com planejamento operacional e com gestão profissional. O mesmo se diz em termos da governança aplicada ao Executivo (federal/estadual/municipal), e no preparo público-privado às negociações internacionais. Há um desconcerto nas ações dos poderes do Brasil para o tema. Enquanto o Legislativo brasileiro trabalha as novas leis (Mercado de Carbono, entre outras), o Executivo tenta agir e o Judiciário atropela ambos os poderes citados, gerando confrontações.


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Independentemente disso, há um esforço de adaptação do setor produtivo do agro para viabilizar-se nesse novo mundo, que, por seu lado, preocupa-se com o protagonismo brasileiro no campo da segurança alimentar, energético e na luta pela transição energética! Em geral, uma nova ordem protecionista deveria trazer ao Brasil um senso de urgência em políticas públicas, que permitam capacidade competitiva ao produtor brasileiro, em ações de defesa da OMC, do multilateralismo e nas ações internas do governo federal, as quais transmitam confiança e, com ela, os investimentos fundamentais pelo setor produtivo. O que se vê hoje no Brasil é um preocupante e crescente grau de disputa entre os Poderes (Legislativo/Executivo/Judiciário) trazendo inseguranças e volatilidade no mercado. Tem-se, também, apoio interno ao MST ou apoio externo a governos totalitários, assim como a divisão do agronegócio em vários Ministérios, com invasões a propriedades agrícolas e um grau permanente de possíveis medidas ao setor produtivo agroindustrial, gerando desconfiança. É difícil entender por que o processo político brasileiro não procura aprofundar, cada vez mais, serenas relações público-privadas. Elas são e serão essenciais ao desenvolvimento das políticas públicas e aos investimentos privados, notadamente, os externos. A governança requerida significa, por um lado, custos adicionais razoáveis, o que pressupõe impacto nos preços e na inflação. Isso é verdade no Green Deal europeu e aos consumidores da União Europeia, assim como, também, será no Brasil.

Também, será fundamental o preparo do setor produtivo, via aperfeiçoamento profissional, no processo de governança das empresas privadas, familiares ou não. Como foi salientado, muitas dessas empresas no setor da cana-de-açúcar estão preparadas ou em preparo com Conselhos Deliberativos ou Consultivos, profissionais na gestão executiva e com compromissos e formas de atuação engrenadas no processo global atual. As entidades que defendem e atuam globalmente (Agência Internacional de Energia, FAO-ONU, OCDE) lutam para buscar coordenação, o que é difícil em ambiente global tenso e de confrontações. Internamente, no Brasil, a luta por equilíbrio fiscal, juros mais baixos e investimentos depende das ações do executivo e do legislativo e das relações público-privadas. Tensas relações mal efetivadas entre os poderes e potenciais oportunidades perdidas, na ânsia de gastos públicos e na ausência de uma reforma administrativa, não aliviam o Custo Brasil. No campo da transição energética, o mundo busca o SAF (combustível sustentável de aviação) e o Brasil poderá ser a Arábia Saudita desse combustível; procura o Hidrogênio Verde ao transporte rodoviário; procura legislar segundo o interesse dos mais ricos; procura questionar subjetivos desmatamentos indiretos para gerar dificuldades a países como o Brasil e seu claro e potencial protagonismo nas coisas do Agro. Isso requer senso de urgência, profissionalismo e integração público-privada. Não se chega a lugar nenhum sem integração e eficiência e, não se vai a lugar algum, sem planejamento ou com populismo. Ameaças crescem e vêm do mundo externo. Sabe-se que em democracia deve-se respeitar as diferenças. Mas, sempre, governar é preciso! n

Não se chega a lugar nenhum sem integração e eficiência e, não se vai a lugar algum, sem planejamento ou com populismo. "

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da ABAG e Diretor da Canaplan

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Aqui não tem Agora também para adensamento de 4 ruas em espaçamento alternado.

www.fcntecnologia.com.br +55 19 99604-0736 • +55 19 98159-0609 Rua Antonio Frederico Ozanan, 2293 13417-160 - Piracicaba - SP


milagre, tem tecnologia ! O que pode ser mais agradável para um produtor do que ouvir a seguinte frase: " Você pode dobrar a sua produção e baixar seus custos pela metade " Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas. O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada para as duas ruas laterais. O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".

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Esta operação reduz o trabalho da colhedora pela metade, colocando o dobro da cana no elevador. Outra vantagem: para fazer o posicionamento de retorno, a colhedora passa a ter um raio de curva 3 vezes maior, reduzindo o número de manobras, o tempo, a complexidade dos movimentos e o pisoteio. Em função da sua produtividade, um "engordador " atende a duas colheitaderas. Assim, seu uso dobra ou triplica a massa de cana colhida. O CORT-I-CANA, copia o relevo do solo – independente da ação do operador – permitindo corte bem rasos, e auxilia na abertura de aceiros de colheita evitando o esmagamento da cana. O TCH limite para adensamento passa a depender da capabilidade da colhedora, pois a mesma passará a enfrentar um canavial com TCH dobrado. O uso de tratores com piloto automático facilitará sobremaneira a operação em áreas georeferenciadas. Temos agora também uma opção para o adensamento de 4 ruas em espaço alternado. O que você acha da ideia de ligar agora para a FCN e pedir uma visita? Se desejar se adiantar, solicite o envio de uma Planilha de Pay-back pelo e-mail Felix@fcntecnologia.com.br. Agora, aperte o botão do Play da página ao lado e assista ao vídeo que mostra a CORT-I-CANA em ação. Aguardamos seu contato.


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macrovisão estratégica

governança existe,

mas é preciso que funcione

O regime presidencialista brasileiro conta com quatro conselhos, a maioria deles com função de assessoramento ao Presidente da República: Conselho da República, Conselho de Defesa Nacional, Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável, e Conselho Nacional de Política Energética. O Conselho da República foi criado para deliberar sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Criado pela

Lei 8041/90, é dirigido pelo Presidente da República e composto pelo Vice-presidente da República, os Presidentes da Câmara e do Senado, os líderes da maioria e da minoria na Câmara e no Senado, o Ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros maiores de 35 anos de idade. O Conselho de Defesa Nacional é órgão consultivo do Presidente em assuntos de segurança nacional, política externa e estratégia defensiva. Foi criado em 29 de novembro de 1927, pelo Presidente Washington Luís, e é responsável por assessorar o Presidente no caso de declarar guerra ou estabelecer a paz, de decretar estado de defesa, estado de sítio ou de intervenção federal. É responsável, também, para propor os critérios e condições para a utilização de áreas

É exatamente por esses motivos que temos a nítida percepção de que a governança existe, mas que infelizmente nem sempre funciona. "

Plínio Mário Nastari Presidente da Datagro

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indispensáveis à segurança nacional do território, opinando sobre seu efetivo uso, especialmente, nas fronteiras e questões relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer espécie, bem como, estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento das medidas necessárias para garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. O Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável é um colegiado composto por representantes da sociedade civil, criado inicialmente em 2003 e recriado pela Medida Provisória nº 1154, de 1º de janeiro de 2023. É um órgão de assessoramento direto ao Presidente em todas as áreas de atuação do Poder Executivo, na formulação de políticas e diretrizes voltadas ao desenvolvimento econômico, social e sustentável do País. E, finalmente, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, e composto por outros quinze ministros de Estado, o presidente da Empresa de Planejamento Energético, e representantes da sociedade civil e da academia. É órgão de assessoramento ao Presidente para a formulação de políticas e diretrizes na área de energia. Os Conselhos da República e de Defesa Nacional são convocados de forma esporádica, embora tenham importância fundamental. O Conselho de Desenvolvimento tem a função de estabelecer um canal formal de comunicação e coleta de sugestões, orientações e debate junto à sociedade civil. Mas é no CNPE que são definidas as condições para o desenvolvimento sinérgico, seguro e em condições economicamente viáveis da oferta de energia no País, considerada a base fundamental do desenvolvimento. As atribuições e responsabilidades do CNPE são enormes e a composição do colegiado é reflexo de sua importância. Seu papel é estabelecer as condições para que a ação e os investimentos dos agentes públicos e privados relacionados às diferentes áreas de energia sejam orientadas na direção do atingimento do planejamento energético almejado, da crescente eficiência energética-ambiental, da conservação, da equidade, e da integração sinérgica das diferentes fontes de energia, sejam elas de origem fóssil ou renovável.

Tendo como orientação geral o artigo 174 da Constituição Federal de 1988, que estabelece que “como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”, a orientação geral da ação do CNPE deve ser sempre a de orientar de forma indicativa ao setor privado e determinante ao setor público, através de legislação e regulamentação apropriadas, as ações condizentes com os objetivos gerais do planejamento energético. Mas isso deve ser feito sem confundir regulação com intervenção. Esta é uma condição basilar da ação do CNPE, como órgão consultivo e orientador, sendo importante que seja consistente com políticas públicas nas áreas de segurança nacional, econômica, social, industrial, agrícola, de desenvolvimento regional, e de meio ambiente. Para que seja eficaz no longo prazo, e traga eficiência econômica, é determinante, também, que essa ação seja desenvolvida com segurança jurídica e longevidade, evitando alterações frequentes que tragam incertezas ou dúvidas quanto aos objetivos pretendidos. A compreensão e o aproveitamento das sinergias entre as diferentes fontes de energia, aproveitando os atributos específicos de cada fonte, é também primordial para que não sejam desperdiçadas oportunidades. E, finalmente, a sua função deve ser a de promover a constante inovação e o desenvolvimento cientifico, com diálogo aberto junto a toda a sociedade. Estas são tarefas árduas de serem cumpridas, e é exatamente por esse motivo que, quando não são observadas, perdemos oportunidades de desenvolvimento, de termos tarifas e preços livres definidos de forma mais competitiva e eficiente, garantindo oferta permanente e reduzindo o custo para o consumidor final, os quais devem ser os objetivos finais da política energética. Tudo isso lembrando igualmente que as orientações emanadas do CNPE são sugestões ao Presidente da República, que poderá ou não acolhê-las. É exatamente por esses motivos que temos a nítida percepção de que a governança existe, mas que infelizmente nem sempre funciona. n

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macrovisão estratégica

o Brasil do agro

como modelo de práticas ESG

Nos últimos anos, o termo ESG tem atraído atenção e demandado investimento por parte das empresas como um novo modo de ver a presença das companhias na sociedade. Já se foi a época em que o resultado buscado por elas tinha que ser apenas o lucro, como defendido por Milton Friedman, nos anos 70. Claro que o lucro segue sendo de vital importância para as empresas, mas o consumidor mudou e tem, cada vez mais, demandado ações corporativas que visem, também, ganhos para a sociedade. Parte dessa mudança de visão do consumidor pode ter a ver com o forte aumento da desigualdade de renda nos países desenvolvidos desde os anos 80. Em momentos mais graves, como na crise financeira de 2008, a distância entre os ganhos das empresas e a renda das pessoas ficou ainda mais explícito e movimentos, como o Occupy Wall Street, ganharam as manchetes. Isso demandou um esforço por parte das empresas de melhorar a parte do S (social) na sua relação com os funcionários. Diversos escândalos empresariais, como o da Enron, em 2001, o vazamento de petróleo da Deepwater Horizon, em 2010, a fraude nos testes de emissão de poluentes na Volkswagen, em 2015, e o escândalo de privacidade de

informação do Facebook, em 2018, têm gerado discussão, também, sobre o aspecto do G (governança) nas companhias. De certa forma, o S e o G estão bastante interligados. Parte das explicações de uma piora na desigualdade de renda nos últimos anos tem a ver com certa concentração de poder econômico e político das empresas americanas, as quais têm feito com que os salários por lá permaneçam pressionados para baixo. Nesse sentido, vale muito a leitura do livro de Thomas Philippon, The Great Reversal: How America Gave Up on Free Markets. A melhora de governança passa por continuar aumentando os lucros, mas melhorando o soft power da companhia, a imagem que ela tem na sociedade, ao mesmo tempo, e isso passa por melhorar a qualidade de vida de seus funcionários, além de ser vista pela sociedade como uma empresa merecedora do consumidor adquirir seus produtos. Essa ideia do impacto do soft power da empresa ficou muito clara ano passado na invasão da Ucrânia pela Rússia. Diversas empresas saíram desse último país com receio da contaminação de sua imagem ao permanecer num país agressor. Em outros tempos de governança, de menos preocupação com a imagem e com a sociedade, isso seria impensável.

vale a ideia de os países começarem a trabalhar a sua imagem externa como portadores de bons índices, em cada um dos critérios ESG, para começar a ser usado pelos países como objeto de decisão para investimento."

Sergio Rodrigo Vale Economista-chefe da MB Associados

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Mas, a discussão foi além do social e da governança e avançou para o ambiental, o E de Environmental. As mudanças climáticas têm claramente um peso na decisão das empresas de se tornar Net Zero em emissão de carbono, o que tem sido uma constante nos relatórios trimestrais apresentados pelas companhias de capital aberto. Os consumidores, também, têm ampliado essa visão e demandado a compra de produtos de empresas que tenham responsabilidade ambiental. Os jovens chineses, por exemplo, em pesquisas recentes, demonstram um grau de comprometimento, cada vez maior, com a compra de produtos que tenham origem ambientalmente correta. É interessante observar que esses critérios ESG são importantes do ponto de vista das empresas, mas é igualmente relevante pensar no papel dos países e de setores segundo esses critérios. Da mesma forma que pensamos em métricas que podem avaliar a qualidade desses três indicadores em uma empresa, cada vez mais, será relevante pensar isso, também, do ponto de vista da atração de investimentos que um país pode fazer se ele, também, tiver uma política pública voltada a atender a esses três critérios, bem como, a setores específicos nesses países, como o agro brasileiro. Pois, como imaginar uma empresa que tenta seguir da melhor forma possível os três critérios em um país que não respeita minimamente essa agenda? E vejam que esse movimento não parte, apenas, de uma mudança de percepção das empresas, mas, também, dos consumidores. Mas, se as condições e regulações ambientais de um país não são adequadas para suprir as demandas desse novo consumidor, como produzir adequadamente nesse país? Para isso, eu e Lourdes Sola apresentamos um artigo no último Congresso Internacional de Ciência Política, em Buenos Aires, em julho, com o intuito de criar um ranking ESG de países. A ideia era observar como cada país tem lidado com essas questões e como isso pode se tornar um atrator de investimento estrangeiro direto. Ou seja, a tese é que países que tenham responsabilidade social, de governança e ambiental podem se tornar importantes atratores de investimento. De fato, fizemos uma estimativa econométrica bem simples para estimar o impacto do ranking ESG de países, com dados de investimento estrangeiro direto, e identificamos uma elasticidade bastante alta de 2,3. Ou seja, para cada aumento de 1% no ranking ESG, o investimento estrangeiro direto subiria 2,3%, o que mostra o potencial de atração de recursos

que os países poderiam ter se seguissem essas métricas. Aqui, vale a ideia de os países começarem a trabalhar a sua imagem externa como portadores de bons índices, em cada um desses critérios, para começar a ser usado pelos países como objeto de decisão para investimento. Infelizmente, o Brasil se encontra numa posição em desvantagem no ranking. Dentre 150 países analisados, o Brasil se encontra na 104ª colocação, sendo que nossa melhor posição é a métrica ambiental. Como não poderia deixar de ser, os três escandinavos, Dinamarca, Finlândia e Suécia se encontram nas três primeiras posições, respectivamente. Por mais que a questão ambiental tenha se tornado corretamente incontornável, a ideia de os países precisarem ter boa governança e gestão social de suas populações é essencial para, inclusive, que se tenham boas práticas ambientais e consigam atrair investimentos de qualidade. O agronegócio tem um papel relevante nesse sentido, porque ele comporta os três critérios de uma forma particularmente importante no Brasil. Do ponto de vista de governança, as empresas do setor são reconhecidas pela qualidade da gestão, até porque, por serem muito expostas às exportações, isso exige que a governança tenha paridade internacional e não apenas local. O Mato Grosso, por exemplo, é responsável por um terço da balança comercial brasileira e isso coloca um senso de responsabilidade em ter de se manter uma governança de alto nível. Do ponto de vista social, cada vez mais, vemos o impacto local que o setor tem trazido nas regiões que se encontram. O Centro-Oeste, por exemplo, tem se tornado polo importante de crescimento econômico. Desde 1986, por exemplo, o Mato Grosso viu seu PIB crescer 782%, enquanto a média do Brasil foi de, apenas, 121%. Mais ainda, os indicadores sociais na região têm crescido com força e é provável que, no final da década, a desigualdade de renda da região se torne menor do que a da região Sul, historicamente, a de melhor distribuição de renda do país. Por fim, na questão ambiental todos sabemos que o setor segue as regras, e que os culpados pelo desmatamento que afeta a mudança climática se encontram nos garimpos e madeireiras ilegais em sua vasta maioria. O agro brasileiro é um microcosmo das boas práticas ESG, as quais deveriam se espalhar como modelo para o resto do país, pois geram qualidade empresarial, bons indicadores sociais e responsabilidade ambiental. O agro tem se transformado no que o Brasil todo ainda não conseguiu se transformar. n

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Governança e comunicação:

grandes desafios para a competitividade e a valorização da agricultura brasileira Reli o artigo sobre inovação que escrevi em 2018 e constatei que inovar continua sendo uma das maiores necessidades no Brasil. Possivelmente, em um contexto um pouco diferente. Inovações não se limitam a novos produtos e processos. Também precisamos das inovações organizacionais e na comunicação, que abordarei neste artigo. Sem deixar de tratar de novos produtos e processos, reconhecidos mais facilmente como inovações, a nossa agricultura tem sido extremamente efetiva em produzi-los. Chamo de “agricultura” toda a produção de alimentos, fibras, bioenergia e serviços ecossistêmicos. Há uma infinidade de exemplos de novas tecnologias a citar. Aprendemos, como nenhuma outra nação, a fazer controle biológico; usar racionalmente agrotóxicos e fertilizantes; fixar simbioticamente nitrogênio; colher mecanicamente culturas anuais, café e cana-de-açúcar; combinar biotecnologia e melhoramento genético clássico; propagar vegetativamente várias culturas; fazer plantio direto e cultivo mínimo.

Em termos de culturas perenes, cana-de-açúcar e eucalipto, possivelmente, correspondem às alternativas mais eficientes já desenvolvidas pela humanidade para captar e armazenar a energia solar em suas biomassas. "

Edivaldo Domingues Velini

Professor de Controle de Plantas Daninhas da Unesp-Botucatu

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Mas gostaria de destacar o desenvolvimento de sistemas de produção, utilizando culturas perenes ou culturas anuais em sequências, o qual permite manter a terra ocupada em praticamente todas as épocas do ano em que há disponibilidade de água e luz para suportar o crescimento vegetal. Em culturas anuais, é comum a realização de dois ciclos de cultivo sem uso de irrigação. Em termos de culturas perenes, cana-de-açúcar e eucalipto, possivelmente, correspondem às alternativas mais eficientes já desenvolvidas pela humanidade para captar e armazenar a energia solar em suas biomassas. Além disso, elas têm contribuído para que a matriz energética brasileira seja uma das mais sustentáveis do mundo, mas esse fato é pouco conhecido em nossa sociedade. Tratando de organização, o Brasil é um país com alta participação do Estado, em seus três níveis, na economia e em praticamente todas as nossas atividades cotidianas. A maioria dos brasileiros desconhece esse fato, mas o orçamento público no Brasil corresponde a aproximadamente 2/3 do nosso PIB. E a execução desse orçamento ocorre 65,3% ao nível federal e apenas 19,4% e 15,3% aos níveis estadual; e municipal, respectivamente.


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macrovisão estratégica Do orçamento total em 2022, 52,2% foram dedicados ao pagamento de encargos de dívidas e à previdência social, totalizando 3,4 trilhões de Reais. Essas informações são de fácil acesso e constam de documentos públicos, produzidos anualmente pelo Tesouro Nacional, intitulados BSPN - Balanço do Setor Público Nacional. Vale a pena estudá-los para compreender melhor como se organiza nosso País. E por que inicio esse texto trazendo essas informações? Por dois motivos principais: 1) em muitas ocasiões a lógica do Estado não é a da promoção do desenvolvimento, mas a do aumento de arrecadação; 2) precisamos urgentemente discutir o tamanho e o modelo do Estado que queremos, o que passaria por uma reforma administrativa que, em minha modesta opinião, está muito longe de ocorrer. Também vivemos em um país extremamente regulamentado. Todas as nossas atividades são impactadas por alguma norma. Algumas são modernas e eficientes e outras são ultrapassadas e obsoletas. A nossa Lei de Biossegurança, o Código Florestal e os Marcos Regulatórios da Inovação e do Saneamento são exemplos de legislações funcionais que contribuem para a organização de setores da economia, mesmo havendo críticas. Considerando que a reforma tributária está em andamento, podemos citar como exemplos de legislações antigas e que precisam ser reformadas, a lei dos Agrotóxicos, de 1989, e a lei de licitações, de 1993. A lei dos agrotóxicos é anterior ao uso rotineiro da nanotecnologia, biotecnologia e agricultura de precisão, por exemplo. E a lei de licitações não prioriza qualidade ou sustentabilidade e limita-se a estabelecer rituais que também não garantem que os objetivos das despesas serão atingidos. Atualizar e harmonizar normas deveria ser uma atividade constante em uma jovem democracia como a nossa. Infelizmente não tem sido. Agora tratando da necessidade de inovar em comunicação, tenho participado de vários eventos ligados à agricultura em que tem sido recorrente a constatação de que precisamos melhorar a nossa comunicação com a sociedade. Mesmo entre os que trabalham com agricultura ou agroindústria a comunicação é precária. Há informações fundamentais sobre o setor que não são compartilhadas ou difundidas na escala em que deveriam ser. O desconhecimento que mais me impressiona atualmente é sobre a nossa matriz energética e sobre a contribuição das biomassas para a sua sustentabilidade. Acervo Cerradinho

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Mesmo profissionais que trabalham com bioenergia desconhecem total ou parcialmente essas informações. Sobre fontes de energia, recomendamos a consulta aos Relatórios Síntese BEN que são publicados anualmente e tratam do Balanço Energético Nacional. O último disponível é o BEN 2022 que traz as informações de 2021. Nesse ano, observamos que as fontes renováveis contribuíram com 44,7% de toda a produção de energia no Brasil, superando amplamente a média mundial (14,15%) e a média dos países membros da OCDE (apenas 11,5%). A cana-de-açúcar é a principal responsável pela produção de energia renovável, tendo contribuído com 16,4% do total. Lenha, carvão e lixívia de eucalipto, principalmente, contribuíram com 9,2%. O biodiesel correspondeu a 0,44%. A participação total das biomassas e seus produtos foi de 27,63%. Para se ter como referencial, as participações da energia hidráulica, eólica e solar (térmica e fotovoltaica) foram 11%, 2,32% e 5,5%, respectivamente. A produção de energia hidráulica e solar, somadas, equivalem à produção de energia a partir de cana-de-açúcar. É muita energia que essa cultura produz. É importante enfatizar que os países desenvolvidos membros da OCDE não são exemplos em termos de produção de energia renovável. Por outro lado, o Brasil tem se tornado um exemplo em escala mundial em termos de produção de energia renovável, com participação expressiva e crescente das biomassas, da energia solar e da energia eólica. Esse fato precisa ser amplamente divulgado e conhecido em termos nacionais e internacionais. Precisamos e merecemos ser reconhecidos por isso. Voltando aos papéis da agricultura no Brasil, se a contribuição para produção de energia é notável, igualmente notável é a capacidade de empregar, gerar renda e superavit comercial, produzir alimentos, fibras e serviços ecossistêmicos, como a assimilação de carbono. Fazemos tudo isso utilizando aproximadamente 7,5% do nosso território e com possibilidade de aumentar a nossa produção, sem precisar desmatar novas áreas. Temos um Código Florestal e fiscalizações que garantem isso. O aumento da nossa produção tem se baseado no emprego da tecnologia para aumentar a produtividade. Mas para continuarem sendo competitivas, a agricultura e a agroindústria brasileiras precisam, urgentemente, da atualização de várias normas. A revisão dessas normas deve ser baseada no conhecimento e ter como objetivos o desenvolvimento sustentável e o bem da nossa gente. n

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macrovisão estratégica

a biorrefinaria

O setor que atualmente chamamos de “sucroenergético”, em suma, trata-se de um conjunto relativamente ampliado de atividades econômicas derivadas do plantio da cana-de-açúcar. Se, no século XVI, a produção canavieira no Brasil surgiu como resposta à demanda por um ingrediente ainda muito caro e pouco utilizado (o açúcar), no século XX, veio, também, a produzir a matéria-prima para a produção de etanol, passando de “açucareiro” para “sucroalcooleiro”. Isso foi particularmente evidente com o Proálcool quando, preocupado com a dependência do petróleo estrangeiro, o governo brasileiro disponibilizou fartos recursos para o investimento em produção do combustível alternativo à gasolina. Evidentemente, tal operação só logrou sucesso pela rápida adoção do recém-criado carro a álcool comercial, durante a década de 1980, em virtude do menor custo por quilômetro rodado para os brasileiros. A nomenclatura, porém, perdeu parte do seu sentido ainda na década de 1990 com a derrocada do carro a álcool, revertendo boa parte do destaque dado ao biocombustível a partir do Proálcool.

Nos anos 2000, o advento e o sucesso dos carros flex-fuel (capazes de rodar utilizando o agora renomeado etanol e/ou gasolina) teriam justificado a manutenção da denominação sucroalcooleiro, não fosse uma mudança importante ocorrida no funcionamento das usinas: a ampla adoção de sistemas de cogeração, visando ao atendimento das demandas internas de energia (inclusive com a eletrificação dos processos) e a comercialização de excedente. A ampliação do número de unidades capazes de produzir e comercializar energia levou à progressiva adoção do ora comum “sucroenergético”. A despeito das dificuldades infligidas pela má política econômica no início da década de 2010, o setor resguardou a característica multiproduto, nomeadamente, açúcar, etanol e energia elétrica. Verdade seja dita, embora, nos anos 2000, o setor e o governo encorajassem o reconhecimento do etanol como alternativa ambientalmente correta à gasolina, o efeito desses esforços foi limitado, sendo o crescimento da participação do biocombustível decorrente de sua atratividade na bomba, assim como havia acontecido na década de 1980.

uma usina poderia produzir diversos itens de maneira análoga ao que ocorre em uma clássica refinaria de petróleo, incluindo etanol E1G e E2G, biometano, SAF, biobunker, bioplásticos, hidrogênio verde "

Haroldo José Torres da Silva Gestor de Projetos do PECEGE

Coautores: Peterson Felipe Arias Santos e Beatriz Ferreira, Analistas Econômicos do PECEGE Consultoria e Projetos

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Em meados da década de 2010, quando as preocupações com o aquecimento global tomaram novas proporções, o setor, de repente, se viu em ótimas condições frente à mudança de humor mundial. Progressivamente, os aspectos ambientais e de economia circular passaram a ser um componente importante da estratégia do, já renomeado, setor sucroenergético, inclusive do ponto de vista financeiro. Olhando para o mundo, o Acordo de Paris, assinado em 2016, acelerou o processo de descarbonização das economias, abrindo espaço para mercados de carbono, mandatos de mistura de combustíveis, aperto nos limites de emissões veiculares, entre outros. No Brasil, o RenovaBio e os requisitos mais restritivos do Proconve refletem essa nova realidade global. A oportunidade que se apresenta ao setor sucroenergético é imensa quanto a seu papel como fornecedor de energia limpa, não apenas pelos consolidados etanol e eletricidade. Além de seu uso direto (puro ou adicionado à gasolina), o etanol pode ser a matéria-prima para a produção de novos combustíveis “verdes”, cuja demanda deve se elevar em todo o planeta em função de legislações que se avolumam. A confirmação, contudo, de rotas economicamente viáveis para esses novos combustíveis a partir do etanol pode levar o setor a ter uma capacidade de influência na vida econômica, que não se vê desde quando se chamava apenas “açucareiro”. A adoção do conceito de biorrefinaria – em contraposição à “usina sucroenergética” – tornaria, ainda mais claro, o abandono do apego do setor a produtos específicos. Nesse sentido, uma usina poderia – ela mesma ou por meio de parceiros próximos – produzir diversos itens de maneira análoga ao que ocorre em uma clássica refinaria de petróleo, incluindo etanol E1G e E2G, biometano, SAF, biobunker, hidrogênio verde, bioplásticos, etc. Particularmente, no caso dos produtos energéticos, a cadeia da cana-de-açúcar pode ser fundamental para sua oferta global. Para atender a essa potencial demanda, porém, haverá necessidade de recursos financeiros, de capacidade de gestão e de governança que, hoje, não se vê em todos os grupos econômicos. Os players que, nos últimos anos, combinaram os bons preços de comercialização com a racionalização da operação, e a maximização do uso da capacidade instalada – e, portanto, com redução de custos – ao menos no quesito financeiro, já saem com melhores condições

de realizar os investimentos necessários para a conversão de usinas em biorrefinarias. Além disso, tais grupos já sinalizam melhores práticas de gestão e que, no futuro, se tornarão ainda mais críticas. Se o cenário se confirmar, as novas biorrefinarias podem se tornar extremamente competitivas a montante, podendo pressionar os preços locais da matéria-prima e do mercado de terras. Isso pode deixar unidades agroindustriais defasadas tecnologicamente e/ou com problemas financeiros e com dificuldades de se manter na atividade. Tal situação pode favorecer um novo processo de consolidação do setor. Ademais, os novos combustíveis não entrarão no mercado sem pesada regulamentação, não apenas por órgãos nacionais como a ANP, mas, também, por entidades no exterior que imporão elevados padrões de qualidade e rigoroso controle de todas as etapas de produção (inclusive a agrícola) no que tange a aspectos ambientais e sociais da produção. Os benefícios que, hoje, existem pela boa governança da cadeia de produção, em nada se comparam aos que irão surgir caso se materialize o cenário de múltiplos derivados de etanol – cujo maior mercado será estrangeiro e em países desenvolvidos. O futuro do mercado de etanol no Brasil é uma paisagem complexa, marcada por desafios e oportunidades. A ascensão do etanol como uma alternativa mais sustentável aos combustíveis fósseis é inegável, dada a crescente preocupação com as mudanças climáticas. No entanto, a governança das usinas de cana-de-açúcar no Brasil desempenha um papel crucial no delineamento desse futuro. Novamente, o nível de gestão e de governança necessário para aproveitar essas oportunidades não se encontra totalmente disseminado pelo setor. Assim, os grupos que desejarem aproveitar, desde o início, a janela de oportunidade que se espera abrir deverão redesenhar suas estruturas gerenciais e de governança para serem capazes de atender os requisitos, não apenas técnicos, mas, também, ambientais e sociais, os quais serão impostos pelos compradores desses novos produtos. A transição para uma matriz energética mais sustentável exige, não apenas avanços tecnológicos, mas, também um compromisso inequívoco com práticas éticas e responsáveis, em especial, ante os quesitos de governança. Reconhecendo os desafios que se apresentam, o setor pode olhar com otimismo para as oportunidades que surgem. n

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a cana-de-açúcar e a onda da sustentabilidade

Desde 1972, quando as mudanças climáticas foram denunciadas em Estocolmo, em uma das primeiras conferências sobre o Clima, a ONU abraçou essa causa, pois percebeu ser um tema de alta relevância que afetaria todos os países do mundo. Desde então, já foram promovidas muitas convenções e assinaturas de protocolos de intenções sugerindo procedimentos para elaboração de políticas socioambientais com apoio de mais de 170 países. Houve inúmeras campanhas para mitigação de emissão de GEEs, Gases do Efeito Estufa, tendo como bandeira as enormes catástrofes ambientais que o aumento da temperatura causaria ao planeta. A partir daí, uma onda se criou e, como um enorme Tsunami, foi arrastando todos os setores da sociedade, como a saúde, a educação, a mobilidade urbana, o meio ambiente, a infraestrutura, o agronegócio, etc. Aos poucos, recebeu a adesão de muitos países e dos conglomerados financeiros que dominam os principais ramos de atividades em todo o mundo. Uma palavra passou a dominar todos os ramos de atividades: sustentabilidade. De fato, se transformou em um novo conceito de gestão de negócios. Com o conceito de sustentabilidade, vieram dezenas de “filhotes” que passaram a fazer parte do cotidiano das empresas, causando profundas mudanças nos processos produtivos. Pela velocidade com que estão sendo adotadas, elas demonstram um poder sem igual para fazer uma grande revolução.

Os conceitos que envolvem a sustentabilidade são maravilhosos, pois propõem, acima de tudo, reverter e evitar a destruição dos recursos naturais pelo próprio homem, dando ênfase à preservação das florestas, dos rios e da biodiversidade. Eles obrigam as empresas a tratar dejetos, cuidar da água e despoluir o ar, além de fazer a difícil transição energética para substituir os combustíveis fosseis por fontes de energia limpa e renovável. Como não poderia deixar de ser, a cana-de-açúcar, com seus quase 10 milhões de hectares de cultivo e uma produção de 660 milhões de toneladas, tem dado sua contribuição. A cana, essa fonte renovável de energia, voltou a ganhar importância, pois, juntamente com o milho, são matérias-primas para produção do etanol combustível, cuja emissão de gases é quatro vezes menor que a de veículos a gasolina. Uma relação da ordem de 37 gramas de CO2 por km rodado contra 155 g/km da gasolina pura. O setor sucroenergético poderá ampliar sua contribuição, uma vez que se provou que a gaseificação do etanol é uma das melhores fontes de produção do hidrogênio combustível, o H2V - o hidrogênio verde, que é totalmente limpo e poderá ser produzido e exportado em grande escala. Na produção do H2V, há alta demanda por energia elétrica produzida através do bagaço da cana. O setor se tornou um exemplo perfeito de um circuito fechado de uma economia circular, em que nada se perde e tudo se transforma. Haverá uma grande demanda de investimentos da ordem de bilhões de dólares em equipamentos, mão de obra especializada, insumos, infraestrutura, etc. O Brasil precisa também da regulamentação de procedimentos para evitar ; distorções e consolidar as exigências do IPCC.

Corre-se o risco de usar o clima como cortina de fumaça para esconder velhos problemas socioambientais e, até mesmo, aumentar impostos."

Dib Nunes Junior Diretor do Grupo IDEA

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macrovisão estratégica Entretanto, há, ainda, muitos exageros por parte de ambientalistas na busca pela redução de emissões de GEE. Por isso, o agronegócio corre sérios riscos de ser penalizado, caso não se dê a devida proteção à segurança alimentar. Por exemplo: como evitar a emissão de gases pela flatulência do gado ruminante? Como evitar as emissões de CO2 a partir da fermentação do caldo da cana? Quando será possível substituir os altos volumes de óleo diesel das máquinas nas operações agrícolas e no transporte da produção de cana? Tudo isso tem sido questionado e as soluções virão, porém, gradativamente. É importante, nesse momento, ficar atento aos conhecidos oportunistas de plantão, que se aproveitam da situação para entrar nessa onda, distorcendo os princípios originais da sustentabilidade em benefício próprio ou de alguma ideologia política. Corre-se o risco de usar o clima como cortina de fumaça para esconder velhos problemas socioambientais e, até mesmo, aumentar impostos. Devido à forte pressão internacional sobre o agronegócio, produtores rurais passaram a ser assombrados com possibilidades de desapropriações de terras, multas ambientais, corte de financiamentos, além de proibições de exportação de seus produtos. Pode haver ainda um claro desvio de finalidade e uma evidente distorção das boas intenções protocoladas na COP92 e referendadas na última convenção do clima. No Brasil, o Estado deseja aproveitar a oportunidade de dominação para criar o Selo Verde e o Selo Amazônia para ditar regras socioambientais aos produtores e exportadores de produtos do agro, sem ter qualquer condição de auditar processos, mesmo não sendo competência do ramo. Essas medidas mitigadoras de GEE e protetoras de meio ambiente não podem se transformar em uma irresponsável trava ao desenvolvimento do país. A interpretação de leis e medidas socioambientais, frequentemente distorcida pelo judiciário e pelo mau uso devido a interesses políticos, já tem atrasado a conclusão de várias obras, como rodovias, estradas de ferro, barragens, a exploração de grandes reservas de potássio, por se encontrarem em reservas indígenas, e impedimento da exploração de novos poços de petróleo em áreas protegidas, dentre outras. Estão também na esteira dessa onda do politicamente correto e da mitigação de emissões de GEE as políticas ESG (acróstico para Environmental, Social and Governance) nas empresas. Mailson Pignata

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Trata-se de mais uma proposta apresentada pela controversa ONU em 2004, reforçando os conceitos do Globalismo. São princípios de gestão que prometem trazer mais bem-estar aos funcionários, respeito aos princípios de preservação do meio ambiente e, ainda, garantir a lucratividade dos negócios. Assim, uma nova onda de ajustamento de conduta foi disparada, só que ainda não se sabe qual é seu o verdadeiro impacto sobre os custos de produção das empresas. Muitas delas apressaram-se a obter certificações e a adotar o ESG para constar em seus balanços para ter acesso garantido a financiamentos bancários. O sistema ESG seria outro modismo como muitos outros que já passaram pelas empresas nos últimos anos? E o agronegócio já não está enquadrado o suficiente? Seria muito prudente que o sistema ESG, antes de ser exigido, tivesse um desenvolvimento especial para o agronegócio, pois não se deve esquecer que o produtor rural gosta, antes de tudo, de terra, ar, sol e chuva. O setor canavieiro do Brasil tem revisto e aprimorado todas as suas práticas agrícolas, visando à máxima mitigação das emissões de GEE. Novas tecnologias e grandes mudanças foram implantadas, até o momento, as quais contemplam os seguintes objetivos: revisão de práticas de conservação de solo, redução de operações agrícolas que utilizam muita energia, plantio direto sobre restos de cultura, desenvolvimento de equipamentos multifuncionais, utilização de resíduos orgânicos de origem animal para substituição parcial do adubo nitrogenado, utilização de variedades mais agressivas de fechamento rápido de entrelinhas para redução do uso de herbicidas, maximização do uso de resíduos industriais, utilização de práticas regenerativas de solo, rotacionando com mix de plantas de cobertura e leguminosas, uso de bioinsumos à base de microrganismos benéficos para o controle de pragas e doenças, racionalização do uso da água na irrigação, colheita de quase 100% da cana sem queima prévia, manejo adequado ou recolhimento de palha para produção de energia e, finalmente, busca contínua por melhorias nos processos agroindustriais não emissores de gases. Espera-se que isso tudo promova grandes mudanças na gestão e uma significativa melhoria na eficiência dos processos produtivos, com a conversão desses ganhos em certificados de descarbonização, em aumento de produtividade agroindustrial e, consequentemente, em dividendos financeiros para as empresas. Não está bom? n

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macrovisão estratégica

seria o ESG uma ameaça ao livre mercado? Ao longo dos séculos XIX e XX, o capitalismo propiciou que as sociedades ocidentais lograssem padrões antes inimagináveis de prosperidade, expectativa e qualidade de vida. Dois campos de pensamento opostos disputavam proeminência e se equilibravam. De um lado, as ideias do livre mercado e da livre concorrência. Do outro, a promoção de intervenções do Estado como meio de equilibrar mercados e garantir o avanço do progresso econômico. Na virada do século XXI, com o advento do ESG, a concepção de livre mercado passou a desaparecer e, talvez não acidentalmente, a classe média venha sofrendo as consequências. Na microeconomia, em que os fenômenos de trocas econômicas das indústrias são estudados, o livre mercado se aproxima do conceito de “mercado de competição perfeita”. Para tanto, algumas condições estruturais precisam existir: produtos com pouca diferenciação, inúmeros agentes econômicos e baixas barreiras contra a entrada ou saída de concorrentes. Nesse caso, nenhum indivíduo tem poder de mercado e o preço a ser praticado é dado pelo ponto pelo

qual a quantidade de produto ofertado iguala o volume demandado. A concorrência é livre e os agentes econômicos, ao disputarem mercados, perseguem soluções cada vez mais atraentes a seus clientes. Tornam-se, assim, os principais vetores de inovação, de ganhos de produtividade na economia e, em última instância, do progresso material. A classe média, ela própria produto do capitalismo, prospera, constituindo mercados consumidores cada vez maiores em um virtuoso modelo de compartilhamento dos benefícios do progresso econômico. No extremo oposto, a teoria descreve o monopólio, em que as barreiras contra entrada de novos concorrentes são intransponíveis, inexistindo a concorrência. O preço e quantidade de produção são definidos exclusivamente pelo monopolista de tal modo que sua rentabilidade seja maximizada. O volume ofertado será menor, o preço maior, e caso não haja risco de substitutos, os consumidores não usufruirão de novas versões dos produtos. A concentração de renda é evidente. Como a natureza é implacável, o empreendedor busca sempre capturar poder de mercado e garantir ganhos extraordinários a seu negócio. Para fazê-lo, ou ele se aproveita de barreiras naturais contra a competição, ou procura construí-las. Assim são formados os oligopólios, em que grandes empresas convivem com pequenos operadores em um ambiente de concorrência desigual.

Na virada do século, com a justificativa de prevenir uma ameaça existencial, poderosos oligopólios financeiros articularam-se com a ONU na Europa para apresentar uma solução para humanidade: o ESG. "

Eduardo Lunardelli Novaes Produtor Rural

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Existem, portanto, dois tipos de barreiras contra a competição: as naturais e as artificiais. As naturais são aquelas relacionadas às características intrínsecas da indústria e da competência do agente econômico em aproveitá-las. Um bom exemplo é o agronegócio brasileiro. De um lado, temos as indústrias de produção de grãos, de gado de corte e de leite. Como não há economias de escala na posse de terras, os produtores rurais não detêm poder de mercado; por maiores que sejam, são tomadores de preço. Não é à toa que, nas grandes regiões produtoras, a classe média prospera. Já na agroindústria, a capacidade industrial instalada produz dinâmicas determinantes de economias de escala, o que favorece a concentração. Outros exemplos de barreiras naturais são a proeminência da marca, a exigência de altos investimentos iniciais e o acesso a baixo custo de capital e inovações disruptivas. A barreira artificial é a regulação dos mercados. É aqui que ocorre o debate secular entre aqueles que defendem políticas de desregulamentação e competição e aqueles que defendem maior intervenção regulatória e inexorável concentração de mercado. Até o final do século passado, a regulação nas mais diversas jurisdições do mundo era competência exclusiva dos estados nacionais, por intermédio de seus respectivos sistemas de representação política. Na virada do século, com a justificativa de prevenir uma ameaça existencial, poderosos oligopólios financeiros articularam-se com a ONU na Europa para apresentar uma solução para humanidade: o ESG. Não obstante a suposta benevolência da iniciativa, fato é que se constitui em um poderoso instrumento de regulação global e promoção de oligopólios em escala jamais antes imaginada. Façamos um breve retrospecto da instituição do mecanismo. Em 1997, surgiu nos círculos financeiros de Londres a ideia de que considerações não-financeiras e subjetivas deveriam ser incluídas na determinação do valor das empresas. Era o Triple Bottom Line, composto pelo resultado econômico (lucro), sustentabilidade ambiental (planeta) e responsabilidade social (pessoas). Entre 2004 e 2005, dois estudos comissionados pela ONU e apoiados por alguns dos maiores conglomerados financeiros do mundo, incluindo o Banco do Brasil, lançaram o ESG. O primeiro, financiado pelo Ministério de Relações Exteriores da Suíça,

trazia um conjunto de “recomendações da indústria financeira para melhor integrar questões ambientais, sociais e de governança à análise e gestão de ativos e à corretagem de valores mobiliários”. O segundo introduzia uma abordagem jurídica, afirmando que seria dever fiduciário das empresas financeiras integrar o ESG a seus processos de análise de investimentos. O golpe de misericórdia na lógica de livre mercado se deu pela substituição do pilar de lucro econômico do Triple Bottom Line pelo G de Governança do ESG. A partir de então, nem mesmo os operadores daquelas indústrias naturalmente competitivas, como a produção rural, teriam poder exclusivo sobre seus próprios negócios, tendo que compartilhá-los com meia dúzia de poderosos conglomerados financeiros. Os riscos, no entanto, continuariam a ser exclusivamente seus. Passados vinte anos de seu começo, vejamos em que pé estamos. A totalidade dos chamados “ativos financeiros ESG” atingiu a cifra de US$ 35 trilhões no final de 2020, vinte e quatro vezes o PIB brasileiro. A indústria de “fundos ESG”, parcela do mercado que é totalmente parametrizada por agências de ratings de ESG, totalizou US$ 793 bilhões no início de 2022. A agência líder desse mercado de ratings, a MSCI, detém 56% de participação de mercado. Qual o nível de poder de uma empresa que, em última instância, regula o acesso à porção tão considerável do mercado de capitais globais, conforme seu exclusivo critério e sob nenhuma supervisão? E como anda a reputação do ESG no primeiro elo de transmissão do sistema, ou seja, nas grandes empresas? Segundo pesquisa global conduzida com 1.476 altos executivos, quatro entre cinco entrevistados creem que suas empresas, por não serem capazes de mensurarem seus esforços, prometem o que não podem cumprir e 72% acreditam que a maioria das organizações de sua indústria seriam pegas em fraude (greenwashing) se investigadas minuciosamente. É difícil questionar um sistema que se tornou hegemônico, considerado a única alternativa de comportamento corporativo capaz de salvar o planeta do próprio homem. Desconfio, no entanto, que as distorções e reais propósitos do ESG sejam revelados ao menor escrutínio. Quem sabe, nesse caso, o legado das ideias de livre mercado possa retornar ao lugar que merece na cultura ocidental. n

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macrovisão estratégica

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a governança corporativa como

base da gestão Quando falamos em sustentabilidade, podemos pensar em um longo processo histórico que demandou (e ainda demanda) um amadurecimento da consciência humana para lidar com a grande velocidade do desenvolvimento econômico e tecnológico, que, se não for bem gerido e utilizado de maneira consciente, pode trazer impactos para as pessoas e organizações. Alguns estudiosos da área afirmam que sustentabilidade é um processo em contínua mudança e adaptação, no qual se tem a capacidade de um sistema de manter sua produtividade, mesmo em situações de adversidade.

Quando entramos no mundo organizacional, falamos de “sustentabilidade corporativa”, cujo principal objetivo é atender às partes interessadas (stakeholders e shareholders) sem comprometer sua capacidade de responder às necessidades das gerações futuras. As empresas possuem uma grande responsabilidade, pois são elas que representam os recursos produtivos da economia. Nesse sentido, é de grande importância que haja a interação e cooperação entre os agentes de um sistema (como empresas privadas, governo e comunidade) na busca por objetivos comuns, relacionando lucratividade com ; sustentabilidade socioambiental.

sustentabilidade é um processo em contínua mudança e adaptação, no qual se tem a capacidade de um sistema de manter sua produtividade, mesmo em situações de adversidade "

Marcos Fava Neves

Professor da FEA-USP e da EAESP-FGV Coautoria: Vinícius Cambaúva, Associado na Markestrat

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macrovisão estratégica O conceito de “ESG”, acróstico das palavras em inglês, Environental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança) foi criado em 2005, como resultado de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial, tem sido o modelo mais aceito e adotado como base para definição das estratégias das organizações. Essa proposta trouxe a sugestão de que todo o aspecto de governança (políticas, valores e ações da organização, entre outros) permeia os tópicos ambiental e social. Isso significa que ser uma organização sustentável é comprometer-se com o social, o ambiental e as atitudes que comprovem os preceitos do desenvolvimento sustentável. No agronegócio, alguns dos tópicos, que têm sido utilizados pelas organizações para a mensuração dos indicadores de sustentabilidade, incluem no elo econômico: desenvolvimento econômico, investimento em tecnologia, contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) local e busca contínua por ganhos em eficiência. Na dimensão ambiental, estão incluídos: recursos renováveis, geração de energia própria, economia circular e uso eficiente da água. Já os itens incluídos na dimensão social são: saúde e bem-estar dos stakeholders, inclusão de agricultores, boas condições de trabalho, erradicação da fome e segurança alimentar. Atualmente, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela ONU, são o carro-chefe dos países que visam, em 2030, estarem em um novo patamar de percepção relacionada ao tema. Muitas empresas têm utilizado esses parâmetros para promover suas ações, para atender, ao menos, a uma parte desses objetivos (ODS). A busca pelas empresas responsáveis está ainda mais refinada. A preocupação com o longo prazo é maior e tem levado a questionamentos acerca da origem e destino de determinado produto na chamada rastreabilidade da cadeia de produção. Com ferramentas de mensuração, é possível acessar mais de um tipo de capital, não só o financeiro, mas, também, o capital natural e o capital humano, que são muito valiosos para a corporação e para o sistema em que ela está inserida. Por meio de relatórios ESG, as empresas disponibilizam, de maneira transparente e clara, suas atividades inseridas nesses critérios em prol da governança, meio-ambiente e sociedade,

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Acervo Joca dos Santos


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abrindo caminho para possíveis investimentos. Tais informações servem para mitigação de riscos, com foco em resultados a longo prazo. Realizada anualmente, a avaliação desse conjunto de pontuações pretende identificar as empresas mais bem equipadas para reconhecer e responder às oportunidades e desafios emergentes de sustentabilidade. Do ponto de vista empresarial, é notável a importância que a governança corporativa desempenha em prol da melhoria dos parâmetros ambientais e sociais. Os líderes e gestores precisam compreender esse papel e trabalhar de forma articulada para que a sustentabilidade não seja apenas uma “promoção de imagem”, mas, principalmente, a “promoção de mudanças” na sociedade, nos setores, nas pessoas e na própria corporação. Em um de nossos trabalhos recentes, como linha de pesquisa na pós-graduação da Universidade de São Paulo (Neves & Martinez, 2020), propusemos alguns temas que representam a governança corporativa, e que devem ser trabalhados pelas organizações. Na sequência, cada um desses itens foram listados e podem contribuir para as discussões e decisões estratégicas de seus líderes, sendo eles: 1) fornecer produtos ou serviços com respeito aos stakeholders, transparência, ética e integridade; 2) implementar e manter a cultura da sustentabilidade; 3) definir objetivos comuns na rede da empresa (desde fornecedores até distribuidores); 4) trabalhar parcerias e alianças públicas e privadas, contribuindo para o desenvolvimento de projetos maiores e para a inovação; 5) medir os impostos pagos e a contribuição para o PIB, a situação econômica antes e depois do investimento e as contribuições da empresa; 6) estimular a economia compartilhada; 7) interagir de forma ativa com outros agentes na promoção do desenvolvimento econômico; 8) buscar certificações em sustentabilidade; 9) formar equipes técnicas para auxiliar toda a cadeia de fornecedores e monitoramento, e 10) criar e a gerir fundos de investimentos em projetos voltados a ações ESG. Esperamos que essa reflexão possa contribuir para estimular discussões nas empresas e promover a conscientização de lideranças acerca de seu valioso papel de promover a sustentabilidade na rotina empresarial. n

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macrovisão estratégica

oportunidades na governança A transição energética compõe um contexto de mudança mais radical do que a maioria de nós pensa. Há evidências de que a humanidade esteja no vórtice de uma transformação mais profunda e abrangente, uma transformação geopolítica, antropológica, demográfica, ética, social e econômica, significativamente ampliada pela democratização digital. Uma mudança que está afetando e deve reformar as relações humanas e, portanto, também todas as relações econômicas, comerciais e de trabalho. Se pelo lado do mercado, a transição energética representa enormes oportunidades de expansão para as empresas bioenergéticas, pelo lado “da porteira pra dentro”, também requer atualizações na governança em atenção a todo o contexto global no qual está inserida. Neste espaço, eu gostaria de dar atenção a tendências e oportunidades em 4 aspectos das empresas: propósito, produtos, pessoas e processos. Propósito – Congelar princípios e descongelar estratégias: Observando os booms de expansão que aconteceram nestes meus 35 anos de setor, eu diria que o primeiro cuidado seria não repetir os mesmos erros. Com um cenário otimista para investimentos e farta oferta de capital, a tentação é relativizar alguns princípios, como limites de alavancagem financeira, cuja consequência prática a história demonstra que pode demorar, mas um dia chega, destruindo décadas de trabalho, culminando com o fechamento de unidades e com empresas em recuperação judicial e falências.

E em uma atividade tão complexa como a produção bioenergética, somente é possível adotar padrões dinâmicos assertivos com a ajuda de tecnologias digitais, as quais permitem desdobrar as estratégias em ações táticas e atuações em tempo real "

Josias Messias

CEO de ProCana Brasil & Pró-Usinas e Conselheiro de Administração do IBGC

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Mas acredito que as empresas já aprenderam a lição e serão mais prudentes diante das promessas do mercado. Se, por um lado, não se deve flexibilizar princípios, entendo que devemos estar abertos para discutir e atualizar quaisquer outros fatores estratégicos, inclusive o core business. Na minha percepção, diante das oportunidades e ameaças geradas pela transição energética, eu estenderia o entendimento de core business como atividade central, que mais gera valor para o negócio, para as operações que a empresa deve ter competência e, portanto, domínio para garantir a entrega dos resultados. Nesse sentido, algumas operações tradicionais de uma usina de cana podem ser ampliadas ou excluídas como core business. Alguns exemplos vêm de grupo de usinas que incluiu em seu core a comercialização de açúcar na modalidade CIF, visando a capturar ganhos comerciais e logísticos, enquanto outras usinas entenderam que o seu core é apenas o processamento industrial da cana, e não a produção agrícola nem a comercialização dos produtos, que ficam sob a responsabilidade de parceiros estratégicos e cooperativas. O core se restringe à produção de bioeletricidade, açúcar e etanol, e à logística interna da matéria-prima.


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Já no caso de etanol de milho, temos o exemplo da Inpasa, que incorpora a logística do etanol ao mercado consumidor como seu core business, como fator fundamental para a competitividade de seu negócio. Produto – A sustentabilidade como produto: Mais do que produtores de energia e de alimentos, as usinas passam a oferecer a sustentabilidade como produto. Não é apenas o etanol, bioeletricidade, biogás, biometano, biodiesel, SAF, hidrogênio... é a descarbonização que esta energia agrega da sua origem ao destino. Assim também com o açúcar, a levedura, o DDG, o óleo... Não são apenas os alimentos, mas a segurança alimentar, o desenvolvimento socioambiental que esses alimentos agregam na sua cadeia ao consumidor. A estratégia é transformar os crescentes requisitos ESG em diferenciais competitivos, investindo na mensuração e certificação para agregar valor ao negócio. Pessoas – Formação e revitalização de Conselhos: Investir na formação de Conselhos Consultivos e de Administração, ou revitalizar os estabelecidos, com diversidade de percepções e competências adequadas às grandes transformações em andamento no ambiente de negócios, é uma forma de capturar as oportunidades geradas pela transição energética e pelas exigências e benefícios legais. A ideia é superar a composição tradicional, que privilegia conselheiros com competências financeiras e de comercialização, e seguir a tendência das grandes corporações globais, com a inclusão de conselheiros com competências diversas, tais como em transformação digital e cibersegurança, e em gestão de pessoas, considerando que esse é o maior ativo da empresa e principal origem, meio e fim da sustentabilidade. O objetivo é ganhar abertura para descongelar a visão estratégica (moon shot) e somar competências para congelar essa estratégia (roof shot), permeando todas as camadas da organização. Processo – Padrões dinâmicos: Estratégias dinâmicas bem definidas vão requerer cada vez mais agilidade e flexibilidade assertivas na gestão e na operação das empresas. Não será mais possível trabalhar com lógicas e parâmetros estáticos, por mais assertivos que sejam. E em uma atividade tão complexa como a produção bioenergética, somente é possível adotar padrões dinâmicos assertivos com a ajuda de tecnologias digitais, especialmente das tecnologias facilitadoras, as quais

permitem desdobrar as estratégias em ações táticas e atuações em tempo real. Considerando que o objetivo estratégico de toda usina é reduzir custos e aumentar a liquidez, o papel das empresas na transformação digital deve focar em customizar aplicações existentes para suas demandas e não desenvolver sistemas, missão que requer expertise ampla, altos investimentos e riscos. Nesse sentido, a adoção de tecnologias facilitadoras deve crescer rapidamente, considerando que elas têm a função de embarcar todo o conhecimento conceitual, técnico e gerencial da empresa em lógicas digitais, quase sempre pelo uso de IA específicas. Uber e iFood são exemplos genéricos de tecnologias facilitadoras, as quais embarcam todas as lógicas para atender cada usuário da atividade, seja ele o consumidor ou fornecedor. Já no ambiente corporativo, são tecnologias que englobam automatizações de qualquer lógica analógica ou workflows de processos, sejam financeiros, contábeis, industriais e agrícolas, considerando que a maior parte das atividades são regidas por padrões universais, como a termodinâmica; obrigatórios, como os fiscais; ou específicos da empresa, como os agronômicos. O papel é automatizar as tarefas repetitivas e facilitar o trabalho de todos os envolvidos, de acordo com a função de cada um. A gestão ganha agilidade e flexibilidade para ajustar as lógicas de acordo com as metas da empresa e as condições de operação. A liderança e supervisão recebem insights de melhorias e alertas de ajustes de rotas ou de anomalias a serem tratadas e quais parâmetros devem ser ajustados para alcançar as metas. A operação é ajustada em tempo real através de ajustes automáticos pelo sistema, ou através de recomendações de pontos ótimos aos colaboradores. Um papel importante das tecnologias facilitadoras nas empresas é a humanização tecnológica, reforçando características humanas como inspiração, criatividade e resolução de novos problemas. Afinal a inteligência criativa está nas pessoas, são elas que definem as lógicas. Com a ajuda de tecnologias facilitadoras, os colaboradores se tornam mais produtivos, assertivos, cooperativos, fazendo mais, melhor, com mais tranquilidade e segurança. Usar uma ferramenta inteligente é uma recompensa para os colaboradores e maior flexibilidade para a empresa reter talentos. E essas virtudes internas serão cada vez mais valiosas em tempos de revolução humana e transição energética. n

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macrovisão estratégica

combustíveis do futuro:

mais presentes e necessários do que nunca Há anos ouvimos, cada vez mais, sobre as mudanças climáticas e a urgência com que as nações devem adotar medidas efetivas para mitigar os efeitos nocivos das mudanças climáticas, que impactam o meio ambiente, a economia, a saúde das pessoas e a sociedade de maneira geral. Um dos caminhos é a descarbonização dos transportes por meio da substituição gradual dos combustíveis fósseis.

Fui designado relator do Projeto de Lei 4516/2023, que cria o Programa Combustível do Futuro, reafirmando o compromisso do Brasil com a redução das emissões dos GEEs – Gases de Efeito Estufa. O objetivo da proposta é acelerar nossa transição para uma mobilidade de baixo carbono. Dentre as ações do programa, estão o aumento da mistura de etanol na gasolina, de 27,5% para 30%; o incentivo à produção e utilização de Combustível Sustentável de Aviação (SAF, do inglês, Sustainable Aviation Fuel) e de Diesel Verde; e a regulamentação dos Combustíveis Sintéticos.

Com o programa do biodiesel, deixamos de consumir 47 bilhões de litros do diesel, evitando a emissão de 82 milhões de toneladas de CO2. "

Arnaldo Jardim

Deputado federal, presidente da Comissão Especial de Transição Energética e Produção de Hidrogênio

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Na verdade, a palavra transição não se aplica bem ao Brasil. Diferente do resto do mundo, cuja matriz energética é predominantemente fóssil, o Brasil tem investido, desde a década de 1970, no aumento da participação das fontes renováveis em sua matriz. Um esforço que nos levou a invejáveis 48,4% de energia limpa frente a, apenas, 15% da média mundial. No setor de transportes, por exemplo, quase 50% da gasolina comercializada no País é substituída pelo etanol, o qual reduz as emissões de CO2 em até 90% quando comparado ao combustível fóssil. Com o programa do biodiesel, deixamos de consumir 47 bilhões de litros do diesel, evitando a emissão de 82 milhões de toneladas de CO2. Portanto, em vez de transição energética, o termo correto para o Brasil seria “consolidação da renovabilidade da nossa matriz”. Entretanto, esse processo impõe, no mínimo, dois grandes desafios. Um de caráter tecnológico, haja vista que a adição de SAF ao querosene de aviação, de Diesel Verde ao diesel fóssil e o aumento da mistura de etanol à gasolina demandarão aprimoramentos dos motores de combustão interna e, consequentemente, investimento em inovação tecnológica. Por isso, a importância de o programa ser discutido com os fabricantes de equipamentos automotores, especialmente a Anfavea. Outro desafio é de caráter econômico, pois a adição de biocombustíveis não pode impactar o preço do combustível comercializado no país. No caso do etanol, por exemplo, o programa traz a autorização para o aumento da mistura, mas a fixação desse percentual é competência do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que o faz de maneira gradual e transparente, sempre compatibilizando produção e demanda. Além disso, a oferta de etanol pode ser ampliada a partir do milho, que já responde por 20% da produção nacional do biocombustível. O Programa Combustível do Futuro incrementará, ainda mais, a utilização de combustíveis de baixo carbono no Brasil. As empresas aéreas ficarão obrigadas a reduzirem, de forma gradual, as emissões de CO2, misturando o SAF ao querosene de aviação. Essa obrigatoriedade nos alinha ao compromisso do setor aéreo internacional de tornar-se neutro em carbono até 2050.

Sozinha, a aviação comercial é responsável por 3% das emissões globais de GEEs. No transporte de cargas pesadas – caminhões, ônibus e máquinas agrícolas - o Diesel Verde se somará ao biodiesel, já produzido no Brasil desde 2006, para reduzir, ainda mais, as emissões do setor, considerado de difícil eletrificação. Além de descarbonizar, a adoção do Diesel Verde contribuirá para a redução da dependência externa de diesel fóssil. Outra iniciativa que ajudará o País a consolidar sua vocação para a produção de energia renovável é o Marco Legal do Hidrogênio de Baixo Carbono, que está sendo elaborado pela Comissão Especial de Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde, da qual sou presidente. Destaco, por exemplo, a virtuosidade das fontes renováveis, eólica e solar, na produção do hidrogênio por meio da eletrólise, especialmente no Nordeste brasileiro. O Brasil tem vantagens competitivas e comparativas para disputar o mercado internacional. Mas não podemos nos esquecer do potencial de produção de H2 a partir da biomassa, principalmente com a utilização dos resíduos da indústria sucroenergética, cujo custo de produção tem se mostrado mais competitivo quando comparado a outras rotas tecnológicas. Certamente, podemos produzir hidrogênio para exportar – a União Europeia será um grande consumidor - mas o H2 precisa ser utilizado na descarbonização dos nossos processos produtivos, a chamada neoindustrialização. Um processo que demandará esforço do setor produtivo e muito mais investimentos. Por isso, apresentei o Projeto de Lei 5174/2023, que institui o Programa de Aceleração da Transição Energética – PATEN. Elaborado a partir da contribuição de diversos economistas e estudiosos do setor de infraestrutura, o programa poderá ser um alavancador de investimentos em um segmento fundamental para o desenvolvimento nacional. O Brasil pode ser vanguarda da nova economia, da economia verde e da economia de baixo carbono. Por meio dos créditos tributários e da transação financeira, esse projeto poderá antecipar investimentos em uma escala muito mais rápida, com forte impacto sobre a atividade econômica. n

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Índice

macrovisão estratégica

mercado de carbono brasileiro:

perspectivas e ramificações econômicas

A pauta verde representa a agenda prioritária dos setores econômicos e do poder público para os próximos anos, tanto na esfera do Poder Legislativo, através das deliberações referentes ao novo mercado de carbono, hidrogênio e patrimônio verde, como no Judiciário e no Executivo, com especial ênfase nas controvérsias relacionadas à interpretação e aplicação integral do Código Florestal Brasileiro, na insegurança jurídica associada à implementação do Cadastro Ambiental Rural – CAR, na delimitação da identidade ecológica para fins de aplicação de instrumentos econômicos, entre outros.

Na prática, agentes que ultrapassarem o limite previsto legalmente deverão reduzir suas emissões ou comprar créditos de carbono de quem possui excedente "

Marcela Pitombo

Head de Relações Institucionais e ESG da MoselloLima Advocacia Coautoria: José Brito, Advogado da MoselloLima Advocacia

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Nessa esteira, há um foco acentuado na estruturação e implementação do mercado brasileiro de créditos de carbono, notadamente, após a aprovação no Senado Federal do Projeto de Lei nº 412/22, que visa instituir o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa – SBCE, por meio de regras que se aplicam às atividades, às fontes e às instalações localizadas em todo território nacional que sejam emissoras ou tenham potencial de emissão de Gases de Efeito Estufa – GEE.


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Na prática, a dinâmica do mercado segue a lógica da compensação de emissões, na qual aqueles agentes que ultrapassarem o limite previsto legalmente deverão reduzir suas emissões ou comprar créditos de carbono de quem possui excedente, estando apto a comercializar a sua cota como credor da compensação da emissão de GEE. Nessa concepção, um crédito de carbono é unidade de medida que corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) sendo sequestrada ou não emitida na atmosfera. A propositura define que os setores econômicos estarão sujeitos à regulação e à incidência da tributação, caso emitam acima de 25.000 tCO2e por ano, condicionado ao cumprimento integral das obrigações elencadas pelo legislador, tais como apresentação de plano de monitoramento e relato de emissões e remoções, que serão regulamentados por meio de Decreto Federal. Não obstante a inegável relevância do processo de descarbonização, tanto para o Brasil quanto para o contexto global, há de se reconhecer que o texto final do projeto aprovado, ainda, carece de tempo e aprofundamento das discussões, visando maior amadurecimento técnico e jurídico e, sobretudo, tangibilidade operacional do mercado. Dentre os principais desafios identificados, está a dispendiosa incidência da carga tributária, particularmente, no que se refere ao Imposto de Renda – IR, bem como o alto custo vinculado às exigências para emissão de relato e certificação, o que na nossa visão representa um contrassenso à ideia de incentivo mercadológico. Outro ponto que merece destaque, diz respeito à fragilidade do sistema de gestão e governança, com uma concentração excessiva da condução, direcionamento e regulamentação do iminente mercado sob a competência do Executivo Federal, agravada pela baixa participação do setor privado e sociedade civil no sistema proposto, com previsão de participação apenas em grupo técnico com caráter meramente consultivo. Além disso, chama atenção a nebulosidade da Seção IV, do capítulo III, que trata das infrações e penalidades, sobretudo, quanto às métricas de aplicabilidade das onerosas multas elencadas, sem definição

do agente responsável pelo processo administrativo próprio para aplicação das sanções. O que deve ser revisto e tratado com cautela pelos setores interessados. Nesse contexto, é imperioso maior aprofundamento técnico nas discussões internas, na promoção de mais audiências públicas e de debates envolvendo os diversos setores econômicos, poder público e sociedade civil. Assim, o tema poderá ser enfrentado de forma responsável, sanando lacunas e inseguranças jurídicas do texto, e oferecendo, através da regulação, um ambiente mercadológico mais robusto, com transparência nas metodologias para garantir a qualidade dos créditos. Isso implica a estruturação de um sistema de gestão e governança sólido, a fim de evitar cair na vala no greenwashing e evitar a emissão dos chamados “créditos podres”, além da necessidade de maior clareza na operacionalização e incentivos para que o novo mercado se desenvolva com credibilidade e seja indutor de oportunidades no plano nacional e internacional. O Projeto de Lei 412/22 foi aprovado no início do mês de outubro, por unanimidade na Comissão do Meio Ambiente – CMA, do Senado Federal, contemplando algumas emendas apresentadas, a exemplo da exclusão do setor agropecuário (produção primária), da regulação do mercado, não eximindo, portanto, agroindústrias. Ato seguinte, conforme prevê o rito de tramitação, a matéria foi encaminhada à Câmara dos Deputados, a ser submetida à nova rodada de audiências públicas e debates técnicos para maior amadurecimento do tema, incluindo a possibilidade de recepção de novas emendas e ajustes no texto. Da recepção na Câmara, a proposição foi apensada ao Projeto de Lei nº 528/21, que regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões – MBRE, por sua vez apensado ao Projeto de Lei nº 2148/15, que estabelece redução de tributos para produtos adequados à economia verde de baixo carbono. Por se tratar de matérias semelhantes, está pronto para entrar na pauta de votações no Plenário em regime de urgência, sob a relatoria do Deputado Aliel ; Machado (PV-PR).

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Índice

macrovisão estratégica A projeção é de que haja uma espécie de “fatiamento” e atualização dos PLs, para que sejam firmados os marcos regulatórios do mercado de carbono brasileiro, tanto na modalidade regulada, quanto na modalidade voluntária. Nesse contexto, é relevante mencionar que no mercado voluntário, os créditos de carbono são denominados Reduções Voluntárias de Emissões – VERs, e a demanda é impulsionada por compromissos corporativos e estratégias ESG. Na ausência de obrigações legais, os programas têm regras definidas pelo terceiro setor, no qual os compromissos de carbono neutro ou Net Zero são estabelecidos pelas próprias empresas, conforme padrões internacionais de governança climática. Para esse arranjo, os créditos são auditados por uma entidade independente, mas não estão sujeitos a registros da ONU e, por isso, não valem como meta de redução para os países que fazem parte do acordo internacional. No mercado regulado, por sua vez, a demanda é estabelecida pela legislação definida por um governo e cria um ambiente de segurança jurídica e confiabilidade de investimento, sobretudo, por definir as metas e métricas de mensuração, relato, verificação e monitoramento das emissões e remoções de gases do efeito estufa na atmosfera, de modo a contribuir para que os países atinjam as suas NDCs, por meio de um novo mecanismo de mercado que estimula o desenvolvimento da atividade econômica de forma compatível com a política climática. Segundo estimativa do Relatório de 2022 da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), o Brasil tem potencial para suprir até 28% da demanda global do mercado regulado de carbono e 48,7% do mercado voluntário até 2030, com geração de receita de cerca de US$ 120 bilhões. É importante dizer que esse processo tem participação conjunta de diversos setores econômicos, como os setores de energia e etanol, que têm participado ativamente das discussões e do avanço de instrumentos que contribuem para o processo de transição energética do país. Um exemplo é o recém-lançado PL Combustível do Futuro (PL 4516/23), que traz um conjunto de iniciativas para catalisar

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a descarbonização da matriz energética de transportes, para industrialização do país, e para o incremento da eficiência energética dos veículos. Em paralelo, relevante menção ao Projeto de Lei nº 725/22, recém-aprovado na Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal, que disciplina a inserção do hidrogênio como fonte de energia no Brasil e estabelece parâmetros de incentivo ao uso do hidrogênio sustentável. Pela proposta, que agora será analisada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura em votação terminativa, a ANP fica responsável por regular e fiscalizar toda a cadeia do hidrogênio. Além disso, a proposição estipula a integração das operações de produção e distribuição de hidrogênio ao setor econômico de abastecimento de combustíveis no país, o que representa um passo significativo na busca por novas alternativas energéticas, diversificando as nossas opções e promovendo o desenvolvimento do setor. Desse modo, resta claro que a abordagem da pauta verde representa o ponto de convergência entre os objetivos de preservação do meio ambiente e o crescimento econômico associado à baixa emissão de GEE, com o propósito de contribuir para o desenvolvimento social, ambiental e econômico sustentável, de modo a posicionar o Brasil no radar estratégico dos fornecedores de serviços e soluções que agregam os elos da cadeia, bem como, ocupar o merecido lugar de protagonista que lhe cabe nessa frente, com base no aproveitamento das vantagens que lhe são orgânicas. Para tanto, é indispensável a integração dos diversos setores econômicos, para uma participação efetiva e coordenada, com um envolvimento ativo nas discussões, audiências públicas, reuniões temáticas e grupos de trabalho instituídos no âmbito do amadurecimento dos marcos regulatórios em destaque na agenda pública ambiental, a fim de apresentar suas propostas e perspectivas setoriais, de modo a evitar um cenário normativo impositivo, o esvaziamento do novo mercado em construção e chancelar a nossa potência como aliados da preservação ambiental e do combate aos desafios climáticos. n



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Índice

macrovisão estratégica

hidrogênio verde:

o Brasil como protagonista mundial Desde a década de 1970, o setor sucroenergético tem tornado o Brasil único na produção e uso de combustíveis sustentáveis em larga escala por meio do incentivo ao mercado de etanol, o qual, com a criação dos carros flex, no ano de 2003, consolidou-se definitivamente no país. Ainda no início do século XXI, houve uma grande expansão da bioeletricidade produzida a partir da biomassa da cana-de-açúcar, que também tem apresentado um papel estratégico no quesito sustentabilidade, contribuindo para que a matriz elétrica brasileira seja aproximadamente 85% renovável. Desde 2012, tem ganhado força ainda a produção de biogás a partir de resíduos da indústria canavieira, a vinhaça, a palha e a torta-de-filtro. Um dos produtos com maior potencial do mercado de bioenergia, o biogás pode ser utilizado para geração de energia térmica, elétrica e, quando transformado em biometano, em veículos automotores leves e de carga, colaborando para a redução do uso e da importação de combustíveis fósseis, como o diesel, e, consequentemente, para a redução das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa.

é possível produzir o hidrogênio a partir da reforma ou pirólise do biometano, processos dos quais é possível gerar uma pegada de carbono negativa, considerando-se desde a geração da matéria-prima até o uso final do hidrogênio. "

Gabriel de Oliveira Teixeira

Economista e Mestrando em Administração pela FEA USP-RP e Consultor na Markestrat Group

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Recentemente, uma nova oportunidade tem surgido e o setor sucroenergético pode, mais uma vez, ser protagonista nesse cenário e tornar o Brasil um dos mais importantes players do mercado mundial de mais um produto produzido no agronegócio, o hidrogênio verde. Com diversas possíveis rotas de produção, ele tem uma enorme possibilidade de uso em inúmeros setores, devendo apresentar uma demanda crescente nos próximos anos, o que torna fundamental que a sua produção de forma limpa aumente em larga escala. A indústria brasileira é capaz de superar esse desafio. Uma das principais formas de se produzir o hidrogênio sustentável é por meio da “quebra” de moléculas de água em hidrogênio e oxigênio, processo chamado de hidrólise. Existe grande sinergia entre os produtos do setor sucroenergético com esse processo, sendo que esse pode utilizar a água da vinhaça no processo produtivo e a bioeletricidade gerada a partir da biomassa, ou da queima do biogás como a fonte de energia elétrica limpa necessária, para que o hidrogênio possa ser efetivamente considerado verde.


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Também é possível produzir o hidrogênio a partir da reforma ou pirólise do biometano, processos por meio dos quais é possível gerar uma pegada de carbono negativa, considerando-se desde a geração dessa matéria-prima até o uso final do hidrogênio. A produção por meio do etanol é, também, uma rota promissora. Há, atualmente, o desenvolvimento de diversas tecnologias que usam como base essa solução, como as células de combustível voltadas ao setor de transportes e que permitem que os automóveis transformem o etanol em hidrogênio, que, por sua vez, é utilizado para geração de eletricidade para os motores elétricos que movem esses veículos. Espera-se que o hidrogênio sustentável seja a nova solução para o sistema energético mundial nos próximos anos. Há uma previsão de que ocorram US$ 280 bilhões em investimentos, até o ano de 2030, e US$ 14,5 trilhões, até 2050, considerando-se toda a cadeia de valor que envolve desde a produção, a armazenagem, a distribuição até o desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio voltados a esse produto. Estima-se que o hidrogênio de baixo carbono deve ser responsável por gerar 22% da energia demandada pelo mundo até 2050. Por meio da utilização de 660 milhões de toneladas do produto, haverá um mercado que pode chegar a US$ 3 trilhões ao ano. Isso contribuirá para a redução da emissão de 800 milhões de toneladas de CO2 no mesmo período. A grande versatilidade do hidrogênio é uma característica que o torna importante, não somente para o uso no setor de energia elétrica, mas também em outros setores intensivos no uso de energia e de combustíveis fósseis, como os de cimento, mineração, ferro e aço. Além de ser utilizado como matéria-prima para a produção de combustíveis e outros compostos sintéticos limpos, como o metanol, o hidrogênio verde é uma excelente alternativa para a produção de amônia e fertilizantes dele derivados. O setor sucroenergético brasileiro é um grande privilegiado nesse cenário por possuir recursos como poucos no cenário global, sendo capaz de diminuir a pegada de carbono do país e colaborar para que isso se torne um hub mundial de produção de hidrogênio verde. O estabelecimento de regras e a realização de processos de certificação que garantam a baixa pegada de carbono do hidrogênio, não só é necessário, como pode ser um diferencial

para o Brasil diante do mercado mundial. Há diversos países adotando diretrizes voltadas à produção e à exportação desse produto. Certamente, o Brasil é capaz de aproveitar essa oportunidade, por existir no país expertise suficiente para a criação de políticas e certificações voltadas à sustentabilidade. Dentre elas, destaca-se o RenovaBio, o qual já tem sido bem-sucedido em medir e incentivar a redução da pegada de carbono da bioenergia produzida no país, focando atualmente na cadeia produtiva dos biocombustíveis. Nos EUA, a política do LCFS (Low Carbon Fuel Standard), a qual possui muitas semelhanças com o programa brasileiro, já é utilizada para certificar a eletricidade da indústria produtora de hidrogênio para uso no setor de transportes. Esse tipo de medida pode facilmente servir de inspiração para o caso brasileiro, assim como outras normatizações da Europa e de diversos países desenvolvidos. É importante destacar a necessidade da existência de uma governança setorial que envolva as empresas produtoras de bioenergia, as suas associações e outros agentes envolvidos na cadeia de negócios do setor sucroenergético, para a realização de campanhas de comunicação que realmente apresentem ao mundo a realidade da indústria brasileira. Muitas vezes ela é vista no cenário internacional de forma negativa. Existem vários mitos que precisam ser esclarecidos para que haja o conhecimento de que são inverídicos. O Brasil, hoje, é exemplo no quesito sustentabilidade, possuindo um dos códigos florestais mais rígidos do mundo e uma das matrizes energéticas mais limpas da atualidade. A disseminação dessas informações é fundamental para o sucesso dos novos investimentos que ocorrerão no país. O Programa Nacional do Hidrogênio já está em implementação no país e possui metas estabelecidas que devem promover a expansão do mercado brasileiro de hidrogênio de baixo carbono. Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que já existem projetos anunciados para os próximos anos que atingem um montante total de US$ 30 bilhões. A oportunidade para o Brasil e para o setor sucroenergético é clara. É importante que haja, desde já, um posicionamento do país como um grande fornecedor global de bioenergia e produtos sustentáveis. É preciso mostrar a importância que temos para o mundo e trabalhar para que o nosso agronegócio e a sua imagem sejam mais valorizados a cada dia. n

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macrovisão do mercado nacional e internacional

Cooperação:

o caminho para a transição energética

Ao lado de Estados Unidos e Índia, o Brasil faz parte da lista de países fundadores da Aliança Global de Biocombustíveis (GBA). O grupo foi lançado em setembro desse ano, durante a reunião de cúpula do G20, em Nova Delhi, e conta com 19 países, além de mais de uma dezena de organizações internacionais. A missão da aliança é fomentar o uso de biocombustíveis no mundo, para atender aos compromissos assumidos pelo mundo no Acordo de Paris, no sentido de conter o aquecimento global e seus efeitos. A estratégia da aliança é criar um “cinturão de bioenergia” na zona tropical, para disseminar a produção e o consumo dos biocombustíveis, com ênfase para o etanol, biodiesel, biometano e bioquerosene de aviação.

Estados Unidos e Europa discutem a adoção de 5% de SAF ao querosene fóssil até 2026. Se aprovada, a demanda seria da ordem de 20 bilhões de litros. Nem todo o etanol do Brasil seria suficiente para atender a essa demanda. "

Evandro Gussi

CEO da UNICA União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia

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Nesse audacioso projeto, o Brasil ocupa uma posição de destaque. Para além de um lugar de referência na nova geopolítica energética global, temos a missão de ajudar os países, especialmente os do Sul Global, a trilhar um caminho no sentido de oferecer e garantir o abastecimento de uma energia sustentável.


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Esse pedaço do planeta, conhecido por Sul Global, reúne cerca de 3 bilhões de pessoas, que podem ser beneficiadas pela descarbonização de seus países com a adoção dos biocombustíveis. Para isso, é fundamental que tenhamos um trabalho de cooperação global para dar tração a essa que será uma das rotas de carbonização adotadas pelo mundo. Nosso papel é levar ao mundo o sucesso que já conseguimos, em mais de 40 anos de experiência no uso de etanol em nossa frota, demonstrando ser possível ter uma mobilidade sustentável, eficiente e mais barata para as populações de muitos países. Conseguimos dominar a tecnologia do etanol do campo à indústria automobilística. Desenvolvemos o motor flex e chegamos aos veículos híbridos flex. Esses últimos, abastecidos 100% a etanol, possuem uma emissão equivalente aos carros elétricos que rodam no Brasil. Ao longo do tempo, alcançamos um patamar digno de admiração. A própria Aliança Global é consequência do reconhecimento que o Brasil tem recebido no tema dos biocombustíveis, especialmente, pelo exitoso compartilhamento da nossa experiência feita com a Índia, com efeitos impressionantes por lá. Já os inspiramos a elevar a mistura de etanol na gasolina de 2% para os atuais 10%. E que chegará a 20% em dois anos. Mas a aliança dos países não se restringe ao transporte terrestre. Seria impossível deixar de fora desse debate o que está por vir na aviação. A Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) estipulou para 2050 a meta de Net Zero a todos os seus membros. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, em inglês), 65% do corte de emissão da aviação virá da substituição do combustível fóssil, atualmente utilizado nas aeronaves, pelo Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês). No ano passado, a produção global de SAF alcançou 300 milhões de litros, uma fração dos 450 bilhões de litros necessários para atender a demanda da indústria em 2050. Para não ir tão longe, Estados Unidos e Europa discutem a adoção de 5% de SAF ao querosene fóssil até 2026. Se aprovada, a demanda iminente de SAF seria da ordem de 20 bilhões de litros.

Nem todo o etanol do Brasil seria suficiente para atender a essa demanda. Como se vê, o desafio não é pequeno. As preocupações das diferentes esferas públicas, em relação à capacidade de seus sistemas políticos agirem de forma efetiva e decisiva no sentido de resolver o problema do aquecimento global e da mudança do clima, são evidentes. Será necessário que os países implementem sistemas de governança eficientes, capazes de manter a iniciativa da Aliança Global, não como um projeto de governo, mas como um projeto de Estado. Por aqui, o governo federal já sinalizou que o Brasil não se furtará a encarar os desafios conhecidos e aqueles que ainda surgirão. Na pessoa do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Governo Federal abraçou a causa dos biocombustíveis e da aliança global, levando ao mundo as possibilidades de geração de emprego e renda, menor preço ao consumidor e diminuição da pegada de carbono no setor de transportes. Mas, já fomos além. Se um dos significados de governança é dar direcionamento, seja na esfera público ou privada, há temas que trarão impactos coletivos, o programa Combustível do Futuro é um exemplo claro disso. O projeto de lei, assinado pelo presidente Lula e já encaminhado ao Congresso Federal, endereça temas fundamentais para o futuro da mobilidade e reconhece o papel determinante que os biocombustíveis desempenharam no País. Ancorado no que há de mais avançado, em termos de ciência, o Brasil construiu um programa de transição energética, que ouviu todas as expressões da sociedade civil, com espaço para empresários e trabalhadores darem suas contribuições. Já chegamos aonde o mundo ainda almeja estar – e estará – em alguns anos. Temos a responsabilidade de levar outras nações, especialmente, as que ainda não experimentaram os frutos do desenvolvimento nesse caminho. Temos tudo para oferecer ao Sul Global um modelo de liderança e governança baseada em exemplo e cooperação. A Aliança Global de Biocombustíveis, pela forma como foi estruturada e pela busca do bem coletivo, é a oportunidade que temos de ocupar o lugar da já tão desgastada luta por hegemonia. n

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Informe técnico

Um equipamento versátil: Multicargas autodescarregável da Sergomel O Rodotrem Multicargas autodescarregável da Sergomel é a solução para transportar diversos tipos de carga, um equipamento versátil, otimizando processos. Este equipamento, atende o mercado canavieiro nas várias etapas de carregamento, transporte e auto descargas de produtos granéis de alta densidade, principalmente torta de filtro. Também atende a produtos de baixa densidade como mudas de cana, toletes ou rebolos de cana (carregamento por transbordos / transporte / transferência para transbordos ou plantadoras). Pode também transportar produtos com características similares aos itens anteriores (Cama de frango, esterco de procedência animal e bagaço). • Possibilitar a descarga com o motorista na cabine, evitando a descida do motorista para a descarga (reduzindo a necessidade de colocação/remoção de EPIS, tais como: luvas, óculos, protetor auricular, perneira, tocas, capacetes, além de não expor o condutor à poeira ↓ e/ou chuva). • Robustez ( peso x ↓resistência) estrutural para suportar a carga aplicada, buscando atender a legislação vigente. • Altura de descarga que permita:↓ Altura de “leiras” > economia de pátios.

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• Ângulos internos das caixas adequadas para a redução das forças de tensões, com cantos adequados. • Geometria otimizadas das caixas de forma a atender a largura e altura de pás carregadoras convencionais, apropriadas para o carregamento em basculantes com fominhas, dispensando a necessidade de artifícios para o carregamento, tais como: valetas, rampas, etc... • Ângulo de repouso para atender a torta de filtro nas mais variadas condições de umidade e granulometria (composto misto / cama de frango). • Capacidade hidráulica (força e curso) para as multi cargas. • Posição de descarga e dispositivos que mantenham os produtos depositados ao lado das rodas, sem entrar sob a área do rodado ou da composição; • O içamento das caixas de carga é realizado por pistões telescópicos (03 unidades por caixa) com dois estágios e acionamento por dupla ação; • Comando eletro hidráulico com alavanca e acionamento por controle remoto sem fio (opcional) proporcionando uma segurança maior para o usuário.


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Sobre a divisão Canavieira da Sergomel A divisão Canavieira da Sergomel oferece um acompanhamento das necessidades do cliente, projetando o equipamento ideal para cada tipo de operação logística. Uma equipe altamente qualificada, que estará junto em todos os processos. Desde a venda ao pós venda, com a entrega técnica e orientações das melhores práticas para se obter melhores resultados com sua frota. Sobre a Sergomel Reunindo 48 anos de história, a Sergomel desenvolve projetos para transformar e melhorar o ganho logístico de seu transporte. Sendo referência na fabricação de equipamentos de alta resistência em diversos seguimentos. Somos referência no seguimento canavieiro, fornecemos equipamentos para os principais players do mercado, com produtos personalizados de forma que tenham o melhor desempenho dentro de cada operação.

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Índice

macrovisão do mercado nacional e internacional

na moda novamente O agronegócio brasileiro vive um momento muito especial de reconhecimento no País e na comunidade internacional. O modelo de operação de ativos agroindustriais desenvolvido pelo Brasil se tornou um grande exemplo para diversas regiões importantes mundo afora. A segurança alimentar e a geração de energia renovável são assuntos cada vez mais relevantes, especialmente em um contexto de conflitos geopolíticos, como são os casos no Leste Europeu e em Gaza, que elevam os temores de escassez de alimentos e energia. Nesse cenário, o agronegócio brasileiro se consolida como opção viável, estável e competitiva para o fornecimento de alimento e energia limpa, sempre em consonância com as metas de descarbonização de tratados internacionais, como o Acordo de Paris.

É importante ressaltar que, em meados do século passado, a agricultura brasileira era rudimentar e, até a década de 80, o País era um grande importador de alimentos. Porém, a semente da autossuficiência foi plantada nos anos 70, quando surgiu a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. De lá para cá, o desenvolvimento da agricultura tropical viabilizou a expansão agroindustrial no Centro-Oeste, com o surgimento de um novo modelo de operação e manejo de fazendas em regiões anteriormente não tão desenvolvidas. O agribusiness brasileiro passa a ser um dos maiores e mais eficientes do mundo. Muito além de commodities agrícolas, o Brasil também exporta tecnologia e know-how. O modelo de produção brasileiro de energias limpas, como é o do etanol e do biodiesel, se tornou referência em diversas regiões pelo mundo. A Índia e a Indonésia anunciaram, nos últimos anos, programas importantes de revitalização dos setores de produção de alimentos e energias renováveis baseados na experiência brasileira.

até a década de 80, o País era um grande importador de alimentos. Porém, a semente da autossuficiência foi plantada nos anos 70, quando surgiu a Embrapa "

Guilherme Nastari

Economista Agrícola da Datagro

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Opiniões Multilingual Edition

No caso da Índia, especificamente, país que possui a terceira maior frota de carros do mundo e uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas, o etanol se mostra como a alternativa mais viável para a mitigação de GEE – Gases de Efeito Estufa, e também o principal indutor para o início da transição energética localmente. Como importante produtor global de cana-de-açúcar, a Índia almeja aumentar de 10% para 20% a mistura do biocombustível à gasolina, até 2025, em todo o seu território – 15 cidades indianas já adotam o E20. Para a produção de alimentos, o Brasil lidera as exportações de soja, milho, açúcar, café, carnes bovina e de frango, e suco de laranja. Outras commodities em que somos destaque são a da carne suína, do etanol, do algodão, e das frutas, nas quais o Brasil se posiciona como segundo ou terceiro produtor, ou exportador. Esse protagonismo é ainda mais impressionante e revelador quando levamos em consideração que o agronegócio brasileiro preserva a maior biodiversidade do mundo, com mais de 66% da vegetação nativa do território nacional conservada, de acordo com levantamento da Nasa.

A produção se concentra principalmente na região Centro-Sul do país, longe do bioma amazônico. A área destinada à preservação ambiental nas propriedades rurais equivale a mais de 33% do território nacional, conforme dados da Embrapa. Os olhares do próprio Brasil sobre a sua principal atividade econômica têm mudado muito nos últimos anos. Cada vez mais, moradores de grandes centros urbanos têm reconhecido a importância do campo para a economia do país. Em 2023, conforme dados da CNA – Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, o PIB – Produto Interno Bruto, do agronegócio brasileiro poderá representar 24,4% do PIB total do País, ou cerca de R$ 2,63 trilhões. Os desafios são grandes, mas as perspectivas são excelentes. Com o aumento exponencial da produtividade e o desenvolvimento de tecnologias que aceleram o caminho para a transição energética, o agronegócio brasileiro tem todos os pré-requisitos para continuar sendo o mais eficiente e o mais relevante do mundo. n

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Índice

macrovisão do mercado nacional e internacional

tendências globais e boa governança A mudança constante é um fato inevitável, não há como ignorá-la. A única certeza que podemos ter é a de que tudo vai mudar e, portanto, em nossa empresa, em nossa comunidade e em nossa família, temos que estar preparados para ela. A mudança ocorre em nossa sociedade de forma cada vez mais rápida. Entramos no século I andando a cavalo e terminamos o século XIX da mesma forma. Entretanto, 69 anos depois estávamos pisando na lua. De lá para cá, a velocidade das mudanças só aumentou. Internet, telefonia celular, big data e inteligência artificial são coisas que só eram imaginadas nos melhores filmes de ficção cientifica. Esse fato, por si só, faz com que as decisões estratégicas se tornem cada vez mais difíceis. Tendências globais podem mudar, repentinamente, e novas tecnologias podem impactar, violentamente, os negócios. A solução para sobreviver nesse mundo VICA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) é a qualidade das tomadas de decisão. Boas tomadas de decisão, como veremos, só são possíveis quando analisamos corretamente os riscos e oportunidades, de forma ampla e plural, no contexto de cada empresa. O setor sucroenergético, de forma geral, tende a se beneficiar das macrotendências globais.

É preciso ter nas corporações pessoas que pensem diferente, que tenham formação diferente e que tragam o contraditório. É preciso ouvir o contraditório, mesmo que isso nos incomode. "

Manoel Pereira de Queiroz

Diretor da Mapa Capital

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O mundo tende a acelerar compromissos climáticos, visando à redução da emissão de gases do efeito estufa, o que, obviamente, beneficia os biocombustíveis, em especial, o etanol. Pelas informações disponíveis, o etanol é a melhor matéria-prima para novas rotas energéticas, como o SAF, combustível sustentável de aviação, e a célula de hidrogênio, como propulsora de veículos leves urbanos. Segundo projeções, a população mundial deve continuar crescendo até 2100, o que, aliado à forte urbanização (estima-se que, em 2050, 70% da população do mundo viva em cidades), aumenta a demanda por alimentos, entre os quais o açúcar. Tal crescimento, também puxa a demanda de energia, para qual tanto o etanol quanto a biomassa podem ser parte da solução. Por outro lado, algumas ameaças se fazem, também, presentes, entre as quais estão: o eterno dilema da competição entre uso da terra para produção de alimentos e outros fins; o surgimento de tecnologias disruptivas concorrentes; um possível retrocesso na globalização devido ao aumento do protecionismo; e uma tendência do consumidor de beneficiar produtos locais.


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Tudo isso, sem considerar mudanças geopolíticas relevantes, as quais podem alterar a cadeia de suprimentos e priorizar interesses estratégicos domésticos em detrimento de soluções tecnicamente mais viáveis. Soma-se a essas ameaças, a vontade do consumidor. Esse sujeito, nem sempre, opta pelo melhor produto comprovado. As decisões individuais nem sempre são racionais. As pessoas, na maioria das vezes, não consomem com o cérebro, mas com o coração. Por que comprar uma bolsa Louis Vuitton, se outra mais barata cumpre a mesma função? Por que comprar um carro elétrico? Recentemente, em um evento, ouvi um palestrante declarar que “quem compra um carro elétrico não o troca mais por veículo a combustão”. Não importa provarmos que o etanol é mais sustentável, que é a solução para o Brasil devido as suas dimensões continentais, etc. O que importa é a percepção de valor por parte do consumidor, seja pela maior potência do motor, pelo silêncio ou por outra característica qualquer. Quando questionado sobre a infraestrutura necessária, o palestrante nos lembrou que no início da telefonia celular, também, não tínhamos infraestrutura alguma, e que a demanda forçou o rápido investimento. Fiquei chocado. Me toquei que talvez não tivesse olhado a situação por todos os ângulos possíveis. Sem juízo de valor, ou seja, sem entrar no mérito se o palestrante estivesse certo ou não, esse é apenas um exemplo que mostra que, quando tomamos decisões, temos que olhar a questão por todos os ângulos. O problema é que, em geral, todos temos vieses, fruto de nossas crenças ou mesmo vontades. Sem perceber, tendemos a buscar aqueles argumentos que reforçam e dão um aspecto racional aos nossos pontos de vista, ignorando os argumentos em contrário. Não raro, nos expomos a um ambiente que também tende a reforçar essas visões. No mundo VICA, essa pode ser a diferença entre sobreviver ou morrer. Outro aspecto curioso nas tomadas de decisão é que tendemos a superestimar o retorno e subestimar os riscos. Em um investimento, por exemplo, podemos acertar o valor do capex, mas é um erro comum subestimar a necessidade de capital de giro de um projeto, assim como o timing do fluxo de caixa. E timing, às vezes, é tudo. Quem não se lembra da primeira década do século, quando

atrasos na liberação dos financiamentos do BNDES e atraso na entrega de equipamentos por parte das indústrias de bens de capital obrigaram usinas a atrasarem o início de sua geração de caixa em mais de um ano? Quantas dessas empresas ficaram pelo caminho por causa disso? Portanto, a qualidade da tomada de decisões em uma instituição é fundamental para garantir sua performance e perpetuidade. Uma empresa com governança robusta, que tenha um conselho de administração atuante, com atribuições bem definidas e diversidade entre seus membros, tende a tomar decisões melhores do que aquelas em que a decisão é monocrática. No passado, uma só pessoa podia armazenar conhecimento suficiente para tomar decisões vitoriosas. Em um mundo como o de hoje, isso é praticamente impossível. É preciso ter nas corporações pessoas que pensem diferente, que tenham formação diferente e que tragam o contraditório. É preciso ouvir o contraditório, mesmo que isso nos incomode. Uma forma eficiente de obter isso é contratar conselheiros independentes, profissionais cuja experiência em outras áreas possa contribuir de forma relevante para a organização. Note que há uma diferença entre conselheiro independente e conselheiro externo. O conselheiro externo, embora venha de fora, pode representar um sócio ou um grupo de sócios. O conselheiro independente é aquele que representa os interesses da empresa (performance e perpetuidade) e, portanto, não deve ter nenhum conflito de interesse para exercer seu papel. Outra boa prática é a existência de comitês que possam assessorar a direção da empresa e o conselho, em especial: comitê de auditoria, comitê de recursos humanos e comitê financeiro. A existência de comitês permite que seus membros se debrucem sobre assuntos mais específicos. Esses comitês também podem contar com especialistas externos. Como vimos, o setor sucroenergético tende a se beneficiar das macrotendências globais, no entanto, o futuro nunca é garantido. É fundamental que as instituições, sejam elas governo, associações ou empresas, exercitem constantemente o trabalho de análise, não só das oportunidades geradas por essas tendências, mas também dos riscos, bem como de seus mitigantes. A boa governança permite que as decisões tomadas com base nessas análises sejam mais exitosas. n

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Mensagem dedicada Imagine se você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?! Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica. Você faria a cirurgia em paz?

🔊

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aos Diretores de RH : No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.

Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.

Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?

Todos os artigos da Revista Opiniões têm áudios e textos traduzidos para 4 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês e francês.

Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.

O acesso à informação dirigida é a forma mais eficiente de atualizar e unificar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais eficaz e natural forma de gerar a educação de forma continuada.

Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 20 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes de todos os cursos de agroconhecimento, de qualquer parte do Brasil e do mundo, para que passem a receber gratuitamente todas as suas publicações. O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas. Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.

Para se cadastrar na plataforma do programa de "Educação Continuada da Revista Opiniões" e passar a receber regular e gratuitamente as edições de nossas revistas, basta enviar um e-mail conforme especificado abaixo:

• Para: Jornalismo@revistaopinioes.com.br • Assunto: Educação continuada gratuita • Corpo do e-mail: - Nome do funcionário ou estudante - Área de trabalho ou curso que frequenta - Nome da empresa ou da Universidade - e-mail principal - e-mail secundário ou pessoal • Conforme a Lei nacional de proteção de dados, garantimos que as informações não serão utilizadas para qualquer outro interesse.

Opiniões

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Índice

sucessão familiar

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governança, legado e

sucessão familiar no agro

A imensa maioria dos cerca de 5 milhões de propriedades rurais no Brasil é controlada por famílias empresárias, desde pequenos negócios até empreendimentos que possuem dezenas ou até centenas de milhares de hectares, com produção em larga escala e elevado grau tecnológico. Seja qual for a dimensão do negócio e complexidade da família empresária, um grande desafio é o equacionamento do processo sucessório, na medida em que as novas gerações se preparam (ou não) para assumir o controle das atividades produtivas. Por isso, a adoção de boas práticas de governança nas propriedades rurais é base fundamental para o equacionamento de um processo sucessório exitoso. De geração em geração: O envolvimento de uma família empresária com a atividade rural é lastreado em relações de confiança, integração de esforços, visão de longo prazo e agilidade no processo decisório. As relações inter e intrageracionais são a chave para a longevidade nas organizações familiares. Mas a relação entre sucessores e sucedidos muitas vezes apresenta armadilhas que devem ser evitadas.

os herdeiros de uma família empresária não “se escolheram” como sócios. Divergências de opiniões sobre como investir ou aumentar retiradas, alavancar, diversificar ou não o negócio, podem gerar divergências e marcas profundas nos relacionamentos. "

Cláudio Antonio Pinheiro Machado Fº

Professor do Dpto. de Administração da FEA/USP Coordenador de Agronegócios do (PENSA) da FIA Business School de Bioeconomia da FGV/EESP

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Por um lado, é natural que o patriarca ou matriarca de uma família empresária tenha a expectativa de que seus herdeiros possam se qualificar para atuar no negócio da família. E, quando existem herdeiros motivados, o resultado pode ser magnífico. Mas, por outro lado, tal expectativa não deve se tornar uma pressão ou obsessão por parte dos pais a ponto de limitar as decisões de vida e carreira das novas gerações. É preciso ter o cuidado para não restringir as escolhas profissionais dos jovens, que, muitas vezes, são induzidos a atuar no negócio da família para satisfazer os desejos dos pais. Isso pode resultar em frustrações pessoais e impactos negativos para o próprio negócio. É importante, sim, preparar herdeiros para serem potenciais “sócios” com clareza de seus deveres e direitos para com a sociedade familiar. Mas não significa necessariamente que herdeiros deverão ser os “gestores do negócio da família”. Nessa mesma linha, nas relações intrageracionais, em uma sociedade de irmãos ou consórcio de primos, há que se fazer a distinção ;


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Índice

sucessão familiar entre a sucessão do patrimônio (participação societária e direito a dividendos) e a sucessão na gestão do negócio. Membros familiares que atuam na gestão devem ser remunerados como “gestores” (salário ou pró-labore e, eventualmente, incentivos variáveis) além da remuneração como “sócios”. Mas devem prestar contas de seus atos de forma transparente e compartilhar o processo decisório estratégico com seus “sócios não gestores”. Vale aqui a máxima de que quem tem sócio tem patrão. O gerenciamento dos conflitos: Os conflitos podem ocorrer nas dimensões intra ou intergeracionais, em qualquer sociedade empresarial. Mas na sociedade empresarial “familiar”, por norma, ocorrem com maior intensidade, em função da carga de emoção envolvida, especialmente, no ambiente do agro, em que se misturam a atividade produtiva com o estilo de vida do campo. Muitas vezes, “conflitos cognitivos” evoluem para “conflitos afetivos” entre membros familiares, o que pode ser altamente corrosivo, tanto para o negócio quanto para a família empresária. Isso se dá, muitas vezes, por diferenças absolutamente naturais, afinal, os herdeiros de uma família empresária não “se escolheram” como sócios. Divergências de opiniões sobre como investir ou aumentar retiradas, alavancar, diversificar ou não o negócio, podem gerar divergências e marcas profundas nos relacionamentos. Frequentemente, essas disputas são de difícil solução, pois a saída de sócios descontentes pode ser infactível, dado que grande parte do patrimônio da família está no próprio ativo imobiliário (terra). Os ingredientes para um bom processo sucessório: Alguns “combinados” podem ser elencados para a evolução de um processo sucessório efetivo, que leve em conta o alinhamento de interesses da família empresária e da empresa familiar: a. A busca do equilíbrio entre razão e emoção, empatia e o desenvolvimento das chamadas soft skills são importantes para manter a harmonia das relações familiares. Mas, igualmente importante, é a formalização de acordos de sócios e protocolos de família, além de um bom planejamento da sucessão patrimonial. Vale aqui a máxima de que o combinado não é caro. b. A profissionalização das propriedades rurais não deve se dar necessariamente com membros da família nem com a contratação de profissionais externos. O importante da profissionalização é tratar gestores, familiares ou não, como profissionais com direitos e deveres claramente Acervo Cláudio Antonio Pinheiro Machado Fº

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estabelecidos, a partir de uma cultura meritocrática, baseada nas competências para liderança, que requer habilidades técnicas e soft skills. c. A confusão entre família e negócio deve ser evitada. As regras devem ser claras acerca da participação de membros familiares na gestão do negócio, sem nepotismo. A separação da remuneração do trabalho (pró-labore) e do capital (distribuição de resultados) deve ser transparente. d. A visão e estratégias do negócio devem ser compartilhadas inter e intragerações. É importante ser fomentado um ambiente de diálogo, equidade e respeito pelos interesses individuais, mas sem se sobrepor à sociedade empresarial. O plano de sucessão do patrimônio e gestão deve ser estruturado por meio do consenso. e. Efetivamente, é importante educar os herdeiros para o papel de sócios, não “necessariamente” gestores. Trilhas de aprendizagem distintas devem ser implementadas para o exercício do papel de sócios e o papel de gestores. f. O “legado da família” deve ser cultivado. E vai muito além da transferência de patrimônio e gestão das operações do negócio. Ele envolve a cultura, valores e princípios transmitidos ao longo das gerações. É o amálgama que une as gerações e transmite sinais ao mercado, funcionários, clientes, credores, parceiros comerciais e demais stakeholders. Ao longo das gerações, o legado que CRIA valor é aquele que se aperfeiçoa, preserva valores positivos e mitiga erros e falhas humanas. g. O aperfeiçoamento do sistema de governança implica estruturar as instâncias decisórias do ecossistema família-empresa, separar os papéis de gestores e conselhos administrativos (formais ou consultivos) e estruturar o conselho de família para tratar de assuntos da família empresária. Além disso, é necessária uma estruturação jurídica que permita o melhor equacionamento tributário associado à redução de riscos societários. Tal sistema de governança deve estar alicerçado nos princípios da transparência, equidade e responsabilidade. Em síntese, a busca da longevidade de um negócio familiar requer uma estrutura de governança efetiva, adequada ao ciclo de evolução e maturidade da família empresária e do negócio familiar. Cada caso é um caso, literalmente, pois os negócios e as famílias são únicos. Mas existem ferramentas e processos do ponto de vista jurídico, administrativo e comportamental que podem ajudar as famílias empresárias do agro na busca da longevidade do negócio e das boas relações familiares. n

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sucessão familiar

sucessão familiar nas empresas agropecuárias modernas A sucessão familiar em empresas modernas, particularmente no setor agropecuário, desempenha um papel vital na garantia da continuidade e do sucesso a longo prazo desses empreendimentos. Nós, como cooperativa, temos trabalhado para apresentar esse tema aos nossos cooperados e orientá-los para que esse processo possa acontecer de maneira natural e suave, o que muitas vezes pode ser difícil nos ambientes familiares. É um processo complexo que envolve diversos desafios e está em constante evolução. Nesse artigo, falaremos sobre técnicas, abordagens e experiências que têm moldado o processo de sucessão familiar na região de atuação das nossas organizações e como elas podem ser aplicadas com sucesso.

A sucessão familiar é um processo complexo que requer planejamento cuidadoso e a colaboração de todos os membros da família envolvidos. "

Bruno Rangel Geraldo Martins

Presidente da Coplana, Cooperativa Agroindustrial

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Hoje, atuamos fortemente no nordeste paulista, compartilhando esforços entre três importantes organizações: a Coplana – Cooperativa Agroindustrial, a Socicana – Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba, e o Sicoob Coopecredi – Cooperativa de Crédito, todas com sede na cidade de Guariba-SP. Trabalhamos no fomento, assistência técnica e serviços financeiros para cooperados e associados que trabalham com as culturas de cana-de-açúcar, amendoim e soja. O processo sucessório nas organizações sempre aconteceu de forma natural, em média, a cada seis anos, quando é alternado o papel do líder principal. Investimos em capacitação de jovens líderes, visando a continuação do negócio e a difusão dos ideais cooperativistas para o desenvolvimento


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da comunidade e da região a qual está inserida. Batizamos esse trabalho de Ecossistema Guariba de Produção, visando o desenvolvimento e crescimento dos associados. Recentemente, na Coplana, fizemos um estudo amplo para analisar o perfil dos nossos cooperados e o que pensam em relação à continuação da atividade agropecuária. Ao analisar os primeiros dados coletados, nos deparamos com a informação de que mais de 60% dos nossos cooperados possuem mais de sessenta anos. Essa informação nos trouxe um alerta em relação à continuidade desse produtor e seus descendentes na atividade. Diante desse fato, nos unimos no intuito de pensar sobre a sucessão fora das organizações e auxiliar os nossos associados para começarem a agilizar esse processo. Foram feitos diversos eventos relacionados ao tema e, também, um curso capacitando esses produtores para avançarem nos trabalhos. Sem ser diferente do que acontece em empresas, os produtores nos trouxeram diversos desafios, os quais foram discutidos individualmente e em grupo durante o trabalho. Alguns deles nos chamaram mais a atenção, os quais tomarei a liberdade de explorar nesse artigo, quais sejam: transferência da gestão, divisão dos rendimentos e transferência patrimonial. Quando pensamos na transferência de gestão, que seria o início da sucessão familiar propriamente dita, é fundamental que o atual gestor aceite que esse processo deva acontecer. Assim sendo, faz-se necessária a identificação do sucessor, membro da família ou profissional de mercado mais adequado para liderar a empresa. A escolha deve ser baseada na competência, paixão pelo negócio e habilidades de liderança, não apenas na hierarquia familiar. É importante, também, um plano de desenvolvimento para esse líder. Preparar o sucessor é fundamental, e envolve um plano de capacitação que pode incluir educação formal, treinamento prático e mentoria. É salutar que a transição seja gradual, não abrupta. O líder em exercício deve trabalhar ao lado do sucessor por um período, para garantir uma transição suave e permitir que o sucessor ganhe experiência. Tudo isso, baseado fortemente na comunicação aberta entre todas as partes envolvidas. A família e os funcionários devem entender o processo e seus papéis nele. Consolidado o papel da nova liderança, adiante falaremos sobre a importância de organizar a divisão dos rendimentos. Esse tema é bastante sensível e, frequentemente, causa um ponto de tensão na sucessão familiar.

A transparência e a equidade são cruciais para mitigar conflitos. É aconselhável ter um acordo formal que estipule o compartilhamento equitativo dos proventos entre os membros da família. Esse documento deve ser claro e revisado por profissionais legais e financeiros. Para tanto, devem ser adotados critérios justos e transparentes, responsabilidades e investimento financeiro na empresa. Visando a segurança do processo, é necessário fazer uma provisão para divergências, mecanismo esse que visa resolver disputas e conflitos que possam surgir, relacionados à divisão da renda, acompanhado de revisões periódicas para refletir as mudanças nas circunstâncias da empresa e da família. Diante do exposto, e falando sobre patrimônio, é importante considerarmos a forma que será feita a transferência patrimonial para os envolvidos. Talvez seja essa a etapa final do processo de sucessão familiar, considerando as outras fases citadas anteriormente. Ela envolve a transferência de ativos e propriedades da geração mais velha para a mais jovem. Fazer um planejamento tributário é essencial para planejar a transferência de ativos de forma a minimizar as obrigações fiscais. Isso pode envolver a criação de apropriadas estruturas de propriedade e a utilização de estratégias fiscais. Uma avaliação profissional e isenta desses ativos é importante para determinar seu valor justo, o que pode ser usado para a distribuição equitativa entre os herdeiros, sempre considerando medidas para proteger o patrimônio, como a criação de um fundo de reserva ou a definição de políticas de uso desses ativos. Os herdeiros devem ser educados e capacitados sobre o valor e a gestão dos ativos recebidos, para garantir sua preservação e crescimento. Finalizando, mais uma vez chamo a atenção para a comunicação. A transparência é vital para alinhar expectativas e minimizar conflitos. As empresas modernas incentivam o diálogo constante entre todas as partes envolvidas na sucessão. Isso pode envolver a criação de acordos de família que estabeleçam, de forma clara, as regras e responsabilidades. A sucessão familiar é um processo complexo que requer planejamento cuidadoso e a colaboração de todos os membros da família envolvidos. A transferência da gestão, a divisão dos rendimentos e a transferência patrimonial são partes interligadas desse processo. A busca de aconselhamento profissional e a comunicação aberta são essenciais para garantir uma sucessão bem-sucedida que preserve o legado da empresa e mantenha a harmonia na família. n

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sucessão familiar

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o papel da mulher na governança corporativa “Preconceito é opinião sem conhecimento.” Voltaire

A grande lição que extraí nesses anos que tenho atuado nas empresas da minha família é o fundamental comprometimento que todos os envolvidos no processo de gestão da empresa devem assumir diante das responsabilidades propostas pelo modelo de governança adotado. Só assim, serão obtidas melhorias no gerenciamento e clima organizacional, e o benefício será sentido por todos. A proposta é permitir que a gestão se torne harmoniosa e eficaz no que tange a todas as atividades, processos, decisões e mudanças que possam ocorrer na empresa, caracterizando a melhoria da gestão organizacional por meio da aplicabilidade do conceito, princípios e boas práticas de governança corporativa. Tais responsabilidades vão muito além da eficiência em questões administrativas, financeiras e contábeis, sem tirar o mérito e a importância dessas pautas no desempenho dos negócios. O que quero dizer aqui é que o modelo de governança deve romper parâmetros e quebra de paradigmas, enraizados

Não podemos esquecer completamente as práticas do passado, nem mesmo desprezar tudo o que foi realizado pelos membros da família que geriram os negócios até chegarmos aos novos modelos. "

Cláudia Tonielo

Diretora de Recursos Humanos do Grupo Toniello

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durante anos, inclusive pensamentos e ações gerenciais preconceituosos. Na minha opinião, uma organização disposta a abandonar velhas crenças e modos de agir retrógrados demonstra sintonia com o que acontece no mundo e engajamento com a sociedade. Não podemos esquecer completamente as práticas do passado, nem mesmo desprezar tudo o que foi realizado pelos membros da família que geriram os negócios até chegarmos ; aos novos modelos.


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sucessão familiar Afinal, todo o patrimônio foi construído nas gestões anteriores, mas é preciso se abrir para o novo. Não podemos admitir desigualdade entre homens e mulheres, intolerâncias religiosas, de gênero ou qualquer outra diferença, nada disso contribui para o bom desempenho de um profissional. A visão dos negócios precisa ser mais sistêmica, olhando o papel dos departamentos e dos colaboradores como partes igualmente importantes para “rodar a engrenagem” da máquina chamada empresa. A maturidade dos membros da governança é um indicador para se obter esse reconhecimento. Como diretora de Recursos Humanos, estou muito atenta às questões sociais mais engajadas e menos tolerantes ao preconceito. Certamente, esse comportamento afeta todos os âmbitos da sociedade, inclusive as relações de trabalho. É verdade que as mulheres alcançam posições cada vez mais altas nas corporações, mas estudos apontam que elas ainda recebem menos do que os homens, se sentem reféns dos colegas, mesmo que sua capacidade seja igual e suas funções sejam complementares. Muitas barreiras ainda precisam ser vencidas. É claro que as mulheres assumiram seu papel de protagonista na vida e no mundo dos negócios e estão mais participativas e empoderadas. Porém, esta história só terá um final feliz quando a parceria “homem e mulher” for realmente aceita com igualdade. Não é fácil se impor diante de homens que carregam em seu DNA o machismo cultural, que acreditam que o papel da mulher ainda deve ser decidido por alguém do sexo oposto, seja ele o pai ou o marido. Muita coisa mudou para as mulheres. Elas não aceitam mais a sociedade patriarcal de dominação masculina e se recusam a agir como homens para conquistar seu espaço na organização. Penso que sua força feminina, sua sutileza e sua adaptabilidade para fazer várias coisas, ao mesmo tempo, são pontos positivos que devem ser considerados na vida profissional. E nem mencionarei a intuição, algo mágico na vida das mulheres. Capacitar-se é o caminho, já que a ideia está longe de pregar o discurso do ódio, que visa trocar a ideologia machista por sua oposta. A busca incessante deve ser em direção a formas mais justas de viver em sociedade.

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Mailson Pignata


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Nós, mulheres, precisamos ter consciência da nossa capacidade, mas, além disso, precisamos nos qualificar para poder assumir papéis e cargos de liderança. Nesse contexto, cargos de alta direção são almejados por muitas trabalhadoras, mas, na hora de assumir a posição, deparam-se com inúmeros desafios, principalmente, por falta de preparo e qualificação. Costumo brincar: quem disse que ser líder é fácil? Um dos maiores desafios dentro do RH é conseguir manter o espírito de equipe motivado. Nos deparamos diariamente com o desafio de inspirar e desenvolver pessoas para que elas superem suas limitações e conquistem muito mais do que imaginam. A relação de confiança entre os gestores e os colaboradores precisa ser permanentemente exercitada, mediante práticas transparentes de administração, em que as informações e a tomada de decisões importantes para a organização são compartilhadas com todos os integrantes da equipe. A retenção de profissionais que “vestem a camisa” e o desenvolvimento do time passam por um cotidiano construído e vivenciado de dentro para fora, em todos os níveis hierárquicos. Mais que isso, tem que ser algo completamente natural na corporação. Caso contrário, a imagem passada para o profissional se torna exatamente oposta à que se deseja transmitir. Por isso, é de extrema importância que a empresa mantenha um posicionamento contrário e firme a condutas discriminatórias. A inteligência emocional, quando se trata de pessoas, é um ponto ainda mais importante. Conflitos de interesse, situações inesperadas, metas não atingidas, dificuldades de relacionamento são desafios infindáveis. Como se manter equilibrado diante de tantas dificuldades? A resposta é pensar de forma estratégica, negociando metas, elaborando planos de ação com a equipe e impulsionando o pertencimento de cada integrante do time. Concluo meu artigo, afirmando que um ambiente de trabalho harmonioso é fundamental para o sucesso de qualquer negócio. Toda empresa tem pessoas de diversas classes sociais, raciais e culturais que, muitas vezes, não têm muito em comum, além do fato de trabalharem juntas. Portanto, a melhor estratégia é manter sempre um comportamento de respeito. n

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sucessão familiar

esg&i: a nova face da governança As sucessivas crises que ocorrem em escala global, quase que na velocidade da luz, como o exemplo mais recente da guerra entre Israel e Hamas, demandam um novo olhar em relação à governança e à gestão do patrimônio das famílias empresárias. Não concentre. Diversifique. Essa é a máxima do mundo “policrise”. Nas últimas décadas, as transformações e as inovações têm ocorrido em um ritmo frenético, ampliando os desafios à sobrevivência dos negócios familiares. Deixamos para trás o mundo VUCA (volatility, uncertainty, complexity e ambiguity) que se notabilizou no cenário empresarial pelas profundas mudanças tecnológicas nos anos 90. O acrônimo VUCA foi utilizado, inicialmente, pelos militares norte-americanos para definir o ambiente pós-guerra fria.

Cada família é única e tem necessidades específicas. A política de investimentos traçada deve estar em sintonia com os interesses do grupo familiar e dos seus objetivos de retorno. "

Nelson Cury Filho

Fundador do FBFE – Fórum Brasileiro da Família Empresária

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Com a pandemia, migramos para o mundo BANI (brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible). Em português: frágil, ansioso, não linear e incompreensível. Concebido pelo antropólogo e futurista norte-americano, Jamais Cascio, o conceito BANI representa a possibilidade de tudo mudar instantaneamente, sem explicação, sem que tenhamos controle algum sobre as mudanças.


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Já o termo policrise, criado na década de 90 pelo filósofo francês, Edgar Morin, foi resgatado no começo desse ano pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, para se referir às crises que acontecem ao mesmo tempo, as quais interagem e potencializam entre si. Nesse cenário, a perpetuidade do patrimônio está atrelada à diversificação dos negócios e à alocação estratégica da carteira dos ativos – investimentos, participações acionárias, entre outros – com a criação de valor a longo prazo. Há cada vez menos espaço para o antigo modelo de empresa familiar, aquele modelo de negócio no qual o “dono” é proprietário e gestor, com processos decisórios centralizados e a operação do dia a dia a cargo dos membros da família. Com o fundador focado 100% na gestão diária do negócio, não é de se estranhar que falte tempo para pensar estrategicamente, com visão de futuro e de longo prazo, o que acaba contribuindo para o índice elevado de mortalidade das empresas familiares. No Brasil, em que 90% das organizações têm esse perfil, 30% sobrevivem a segunda geração e apenas 3%, a terceira geração. A nova face da governança familiar é transformar a família empresária em família investidora, uma evolução do modelo anterior. A diversificação de investimentos transcende o negócio, aumenta seus ativos e perpetua seu patrimônio ao longo das gerações. Há uma preocupação genuína em garantir e planejar a longevidade patrimonial na totalidade. Como descreve o professor Thomas Zellweger, da universidade suíça St. Gallen, a família empresária se caracteriza por uma governança familiar, corporativa, estruturada e ativa (Conselho Consultivo ou de Administração, Conselho de Família, Acordo de Acionistas, Gestão Profissionalizada, Planejamento Sucessório, Código de Conduta, com divisão de responsabilidades dos gestores familiares e estruturação do family office). O ciclo de vida das empresas familiares pode ser curto, mas a família investidora tem horizonte de longo prazo, busca alternativas para perenizar sua riqueza através das gerações, seja como acionista ou como investidora. O modelo se assemelha a uma family equity firm. As turbulências recentes, especialmente o conflito Rússia e Ucrânia, mudaram a percepção de risco de investimentos.

A geopolítica supera a economia como preocupação principal, seguida pela recessão e pela inflação, segundo o relatório UBS Global Family Office 2023. Diante dessa nova realidade, os family offices estão redefinindo, pela primeira vez, em muitos anos, a alocação de ativos das carteiras administradas. Gestores estão antecipando mudanças no posicionamento de ativos para se protegerem das incertezas globais. O objetivo principal dos 230 family offices entrevistados nos quatro continentes, que juntos somam US$ 495,8 bilhões, é apoiar a transferência geracional de patrimônio. Contemplar novas oportunidades de investimentos, com uma abordagem equilibrada de risco, para que seja possível colher retornos sólidos e duradouros, é um processo que requer disciplina e conhecimento. Cada família é única e tem necessidades específicas. A política de investimentos traçada deve estar em sintonia com os interesses do grupo familiar e dos seus objetivos de retorno. Adequar seu negócio e investimentos às práticas ESG se tornou uma questão de sobrevivência, sem volta. A família investidora entende que sustentabilidade e lucro podem, sim, caminhar juntos. O Brasil tem um tremendo potencial para suprir as demandas internacionais e se transformar no protagonista da transição energética mundial. As famílias do agronegócio, principalmente do setor sucroenergético, têm um papel fundamental na luta contra as alterações climáticas e na melhoria dos padrões de vida no século XXI. Conforme destacou o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, o mundo está se movendo para “uma economia verde, sustentável e, agora, para uma era de inteligência artificial”. Nesse contexto, disse que o futuro do Brasil e da América Latina é promissor, mas depende de alinhar indústria, meio ambiente e tecnologia. Ter um propósito claro é também uma forma de motivar e engajar as novas gerações e atrair talentos. Abrir espaço para que as novas gerações tenham oportunidade de criar negócios de impacto, por exemplo, é uma forma de diversificação e de transferência geracional de patrimônio, agregando valor à família e ao seu legado. Não concentre. Diversifique. n

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FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 20 • número 74 • Divisão F • Dez-Fev-2024

a real riqueza da silvicultura brasileira


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