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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 11 • número 40 • Divisão C abr-jun 2014
o etanol, o governo e a nação
TESTON
A MARCA DOS GIGANTES GIGANTE 22.000
Inteligente, rápido e econômico, além de ter a maior capacidade do mercado.
Maior agilidade nas manobras. Reduz o risco de acidentes. Tempo de transbordo reduzido em até 40%. Consumo reduzido de óleo diesel.
Idealizada em 1994 pelos irmãos que carregam o nome da empresa, a TESTON iniciou suas atividades prestando serviços de plantio e colheita da cana-de-açucar e se tornou referência no setor em pouco tempo. Com a experiência adquirida através do trabalho na lavoura, a TESTON reuniu uma equipe de engenheiros especializados para criar, em 2008, um implemento que atendesse as necessidades que encontravam na prática e que o mercado não atendia. A partir daí surge uma nova empresa, que vem revolucionando a colheita mecanizada, fabricação e comercialização de equipamentos agrícolas e rodoviários. Atualmente conta com uma sede com mais de 98.000 m², além de um corpo de funcionários com mais de 600 colaboradores diretos, todos treinados e aptos a desenvolverem experiências que a corporação exige. Sincronizada com as novidades do setor, cria soluções inovadoras para a colheita da área sucroalcooleira, pois além de utilizar tecnologia de ponta que agrega alto rendimento a um custo operacional baixo para o cliente, também proporciona aos implementos da TESTON, design e funcionalidades que aumentam a lucratividade como nenhum outro maquinário. Então, quando o assunto é transbordo, a TESTON é gigante.
Rodovia PR 323 - Km 218 | Cianorte - PR CEP 87200-000 Telefone: (44) 3351-3500 www.teston.com.br
o etanol, o governo e a nação As artes apresentadas na capa e no índice desta edição são uma homenagem a uma das melhores duplas de criação publicitária que eu conheci na minha vida, formada por pai e filho – Vicente e Lucas Corneta, da "sp studio" de Sertãozinho, SP. Estava à procura de uma imagem que pudesse registrar o forte valor que o sistema sucroenergético tem para nossa nação. Lembrei-me de algo que, anos atrás, me impressionou. Foi uma arte produzida por essa dupla para a Fenasucro, na qual conseguiu incorporar e integrar, dentro da bandeira do Brasil, a cana vindo da lavoura, passando pelo processo industrial e transformando-se, num maravilhoso e gracioso movimento, em açúcar e etanol. Você que é brasileiro, que ama esse setor, que vive dele, aprecie a beleza desta capa como arte que é; procure os detalhes, veja a bandeira estilizada, veja a graça do movimento ali contido. Quando você olhar para o céu e vir um desenho de grande criatividade, imagine que seja o Luquinha, já com Deus, ajudando-O a tornar o dia mais bonito.
índice
William, Editor-chefe
Entidades Fornecedores:
Editorial:
6
Roberto Rodrigues
Presidente do Conselho da Unica*
Ensaio Especial:
50
Diretor da Vignis
Eduardo Pereira de Carvalho
Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Presidente da Orplana
Fornecedores:
Sizuo Matsuoka
Especialistas:
8 12 16 20
22 26
Ismael Perina Junior
28 30
Diretor da Archer Consulting
Alexandre Enrico Silva Figliolino
Diretor da Abag
Diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel
Roberto de Rezende Barbosa Presidente Conselho da NovAmérica
Produtores:
Jairo Menesis Balbo
Diretor Industrial da Usina São Francisco
32
34 36 38
Pedro Isamu Mizutani Vice-presidente da Raízen
Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar
Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Sindaçúcar-AL
Mário Campos
Presidente da Siamig-MG
Consultores e Cientistas:
Paulo de Araujo Rodrigues
Diretor da Expressão
Arnaldo Luiz Corrêa
Entidades Produtores:
40 42 44 46 48
Ana Paula Malvestio
Sócia da PricewaterhouseCoopers
Dib Nunes Jr.
Diretor do Grupo IDEA
Sebastião Henrique R. Gomes Consultor em Gestão Estratégica
Rosmary Delboni
Consultora da Key Associados
Marcelo Pierossi e Francisco Linero Especialistas de Tecnologia Agrícola do CTC
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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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editorial
naufrágio E
no seco
ntre vários outros fatores, dois são essenciais para a tomada de decisão de investimentos por parte de empreendedores privados: o preço do que irá produzir, fruto da relação entre oferta e demanda, gerando saldo positivo – o lucro, e confiança em que essa relação terá estabilidade e duração suficientes para garantir o seu payback, isto é, regras claras. Esses dois fatores estiveram presentes na formulação do famoso Estatuto da Lavoura Canavieira, preparado pelo grande Barbosa Lima Sobrinho, na primeira metade do século passado, dando origem a uma poderosa indústria açucareira, competitiva e eficiente. Com a crise do petróleo, já nos anos 1970, regras precisas estabelecidas pelo Proálcool deram um novo salto positivo ao setor, transformando o Brasil no único país capaz de responder ao aumento dos preços dos derivados do petróleo. Ao mesmo tempo, o eficiente combustível gerou milhares de empregos diretos e indiretos, uma indústria de base poderosa e bem estruturada e uma energia renovável e limpa, com o etanol emitindo apenas 11% do CO2 emitido pela gasolina.
Assim, desde a quota de produção de cana por cada fornecedor (note-se que o agricultor de cana tinha esse tratamento, e não o de plantador) até as de produção dos diferentes tipos de açúcar e o estabelecimento dos preços de cada produto, tudo era regulado pelo IAA. Outros tempos. Com a extinção do IAA pelo governo Collor, em março de 1990, essa gigantesca corrente de produção, criada no Brasil antes de o conceito de agribusiness ser plantado por Ray Goldberg, em Harvard, em 1957, ficou um tanto perplexa. De repente, as regras de intervenção perderam seu efeito, e a lógica empresarial foi totalmente perturbada: e agora? Mas a dupla essencial para investir – preços e expectativa (confiança no futuro) – persistiu, e, com a criação do Consecana, agricultores e industriais encontraram uma nova fórmula para sua própria remuneração, inteiramente privada e sem intervenção do governo. Foi uma bela saída, uma autodeclaração de maturidade: da estreita dependência de regras oficiais para a plena competição global. Na virada para o século XXI, nessa nova fase sem intervenção, surgiu o carro flex, dando outro empurrão à produção de etanol.
A instituição do pagamento da cana pelo Teor de Sacarose, logo depois do Proálcool, deu outro impulso ao setor, com o surgimento de uma revolucionária tecnologia agrícola e industrial, com o uso de novas variedades de cana-de-açúcar, modernos tratos culturais, máquinas e colhedeiras muito mais eficientes e, como corolário, a produção de energia elétrica a partir do bagaço da cana e até das folhas de canaviais cortados sem fogo. Toda essa história, nem sempre tranquila (tivemos a tremenda crise no setor nos anos 1960, superada no início dos anos 1970), teve sua estabilidade lastreada no modelo de intervenção do Estado, especialmente pela ação do IAA - Instituto do Açúcar e Álcool, que a tudo regulava, e sempre sob a égide do Estatuto da Lavoura Canavieira.
Bons ventos agitaram o mercado com o entusiasmo do então Presidente da República, Lula da Silva, que entendeu ser a agroenergia, sob a liderança brasileira, uma possível mudança positiva da geopolítica global: poderíamos "ensinar" o mundo tropical menos desenvolvido e com crescente população e renda per capita a gerar energia renovável, na nova civilização de biomassa. E saímos a vender a ideia pelos quatro cantos, o que atraiu para o Brasil as atenções das grandes multinacionais do agronegócio, que aqui vieram comprar usinas prontas, montar greenfields, certamente com a expectativa (de novo ela) de que, motivados pelo exemplo brasileiro, os países tropicais se tornassem grandes produtores de energia renovável a ser consumida no mundo todo.
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Opiniões E, na primeira década do século XXI, o crescimento do setor foi espetacular: 10% ao ano. De repente, 2008 amanhece com uma crise financeira global terrível. Stop!!! Fim dos investimentos, parada total. Nos últimos 5 anos, só um greenfield, assim mesmo porque já estava tudo pronto. Mais de 40 usinas fecharam, e, neste ano, outras 12 ou 13 vão para o mesmo caminho, várias em recuperação judicial. A indústria de base está estrangulada, tendo perdido 50.000 empregos diretos nesse período. Endividadas pelos investimentos contratados do começo da década, ainda havia a esperança na recuperação do setor. Mas não deu certo, e, embora haja quem atribua ao Pré-sal a responsabilidade pelo descalabro brutal, essa não é toda a verdade. O novo governo se desinteressou pela agroenergia por motivos desconhecidos. Desconfia-se de que haja preconceito contra a agroindústria, má vontade governamental para com seus representantes, mas o fato terrível é que a decantada civilização da biomassa foi deserdada pelo atual governo. Há razões de ordem econômica por ele apontadas, e uma delas é a inflação, terror a ser eliminado pelo controle do preço da gasolina. Esse procedimento está matando, simultaneamente, a Petrobras (e o governo é responsável por isso) e a promissora indústria de agroenergia. Em nome do combate à inflação, retirou-se a Cide da gasolina, submetendo o etanol a outra perda de competitividade: a cana é agricultura, e seus custos sobem com mão de obra, insumos, máquinas. Como álcool não pode custar mais do que 70% da gasolina nas bombas de combustíveis, ficou difícil competir. Claro que inflação é um fantasma inaceitável. Claro que intervenção não cabe mais. Mas apoio sim: o papel do Estado é garantir condições para o investidor cumprir o seu: produzir.
Também é imperioso igualar o ICMS do etanol nos estados, fator de desequilíbrio desnecessário. E outros temas são relevantes: • a indústria automobilística deve "investir" em motor para etanol e não apenas adaptar o da gasolina. Um carro flex (com etanol, gasolina e eletricidade) seria bem-vindo; • aperfeiçoamento do Consecana, para que o equilíbrio entre produtor de cana e usineiro seja restaurado sem intervenção governamental; • estímulo à cogeração de eletricidade; • reforço da indústria de base; • estabelecimento de pagamento por serviços ambientais, dada a redução de emissão de CO2; • investimentos vigorosos em tecnologia, desde a transgenia da cana até a segunda geração de etanol e a alcoolquímica, sempre buscando redução de custos; • certificação da produção final; • exportar a tecnologia, desde a agrícola até o carro flex, passando pela indústria, para todo o mundo tropical: só assim o etanol será “commoditizado”. Enfim, falta resgatar a dupla citada no primeiro parágrafo deste artigo. E, sem um diálogo positivo entre governo e privados, veremos naufragar, num verde mar de cana, um dos mais promissores programas mundiais de energia. Não pode haver tanta má vontade do lado do governo, isso não é sequer democrático.
O novo governo se desinteressou pela agroenergia por motivos desconhecidos. Desconfia-se de que haja preconceito contra a agroindústria, má vontade governamental para com seus representantes, mas o fato terrível é que a decantada civilização da biomassa foi deserdada pelo atual governo. " Roberto Rodrigues Presidente do Conselho Deliberativo da Unica*
* Indicação em processo de formalização pela AGO-E
E, num ano de eleições, em que as ações oficiais só buscam uma coisa – o voto –, é pouco provável que o Governo Federal resolva salvar a Petrobras e a agroenergia. Se tivesse coragem – e terá que fazê-lo mais cedo ou mais tarde –, praticando um preço interno da gasolina, equilibrando com os preços internacionais e resgatando a Cide da gasolina, já se reacenderia a chama das expectativas, e o setor avançaria de novo. Mas, agora, o estrago já é grande, e, ao lado de uma clara definição oficial de qual é o papel da agroenergia na matriz energética brasileira, será necessário um amplo programa de saneamento financeiro do setor.
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especialistas
Opiniões
mais
do mesmo
Assistimos à maior crise da atividade agrícola e industrial da cana-de-açúcar em sua história no País. As 400 usinas; os 10 milhões de hectares de cana; os 9 mil MW de geração de energia elétrica; o milhão de empregos diretos; as exportações de 18 bilhões de dólares; a indústria de equipamentos e os milhares de prestadores de serviços; a fatia de 16% de toda a matriz energética brasileira; o complemento indispensável dos combustíveis líquidos; a significativa presença na geração de renda e tributos; nossa inventividade na criação de novas tecnologias; a mundialmente inigualável redução dos efeitos poluentes do consumo de combustíveis fósseis; sua marcante presença em nossa história e em nossa civilização: tudo isso corre risco de esfarelamento. Infelizmente, a percepção de que esse imenso patrimônio nacional pode realmente ser perdido ainda não é apreendida por todos e, em especial, por nossas autoridades.
ora, ora, ora... Tudo serve como explicação para a continuidade e o aprofundamento da crise – e mais, como pretexto para lamentarmos passivamente o que está ocorrendo "
Eduardo Pereira de Carvalho Diretor da Expressão Comercial, Importadora e Exportadora
Os fatos se sucedem há pelo menos cinco anos. Sentimos a água esquentando no caldeirão onde estamos, mas nada acontece para que saltemos fora. Estamos sendo cozidos a fogo brando. É chegada a hora de mudar o jogo. A contida contestação do empresariado junto ao governo na defesa de seus interesses faz com que nossos tímidos protestos, nossas modestas e tênues “listas reivindicatórias” sejam solenemente desprezadas. E as más notícias continuam a se avolumar semana a semana. Ora é o mercado do açúcar, ora, do etanol; ora o câmbio, ora a crise financeira; ora as chuvas, ora, sua falta; ora o El Niño (ou sua irmã...); ora os efeitos negativos da acelerada mecanização do plantio e colheita da cana; ora a pequena disponibilidade de novas variedades; ora o excesso
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especialistas ou a falta do “espírito selvagem” dos empreendedores; ora as perspectivas do petróleo e seus derivados; ora o shale gas; ora o pré-sal; ora os preços contidos da gasolina; ora sua disponibilidade; ora os custos de produção; ora, ora, ora... Tudo serve como explicação para a continuidade e o aprofundamento da crise – e mais, como pretexto para lamentarmos passivamente o que está ocorrendo. Vejamos, por exemplo, o que se passa com nossa agenda ambiental. Foram esquecidos os inúmeros alertas quanto à aceleração das emissões nocivas do carbono pela queima indiscriminada de combustíveis fósseis. Foram abandonadas as posições altamente agressivas do Brasil na direção dos renováveis. Foi largada ao relento nossa matriz energética, de que tanto nos orgulhamos, pela absoluta predominância das energias renováveis. E, com isso, nosso etanol foi igualmente esquecido, abandonado e largado ao relento. O diálogo com o poder público está muito difícil. Dentro do setor, pelos vários, diferentes e divergentes interesses. As profundas mudanças estruturais por que passou a indústria na última década trouxeram, em consequência, crescentes problemas de representatividade institucional, bem como falta de clareza nos temas capazes de pautar o indispensável processo de conversas com o governo. É essencial a unificação de linguagem, de representação, de temas críticos. Há um enorme obstáculo: a política de contenção arbitrária de preços para os combustíveis líquidos. Isoladamente, trata-se do ponto mais crítico e relevante de toda a agenda do setor. Por que investimos US$ 50 bilhões na expansão do setor entre 2005 e 2010? Por que dobramos a lavoura da cana e o parque processador? Preços excepcionalmente altos de açúcar e/ou etanol? Não.
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O investidor não olha o preço de hoje ou amanhã. O que ele tem que ter é a crença de que, em seu horizonte de investimento (duas, três décadas...), as condições de seu negócio sejam positivas e estáveis. Positivas: haverá demanda futura forte, crescente e consistente para seus produtos? Estáveis: o quadro institucional manter-se-á estável e positivo para apoiar e suportar suas atividades como empresário? Sem surpresas, sem contramarchas, sem caras feias? Predomina, no governo, uma desconfiança importante sobre o papel da iniciativa privada na área de energia. Tal ranço – lembrança de temas políticos preferidos nos meados do século passado – tem caracterizado as respectivas políticas, tanto no setor de energia elétrica, exemplo marcante em nossos dias, quanto na política de combustíveis líquidos. Por que essa desconfiança? Temos claramente uma profunda divergência ideológica, a ser entendida, debatida e resolvida antes que se pretenda mudar, para melhor, nossas expectativas quanto ao etanol. Qual o empresário que se arriscaria a investir em aumento de capacidade produtiva nesse clima? Vamos nos lembrar da saudável reação positiva do mercado quando a presidente da Petrobras anunciou, no fim do ano passado, eventual explicitação institucional de critérios de uma política de médio e longo prazo de reajuste de preços de seus combustíveis. Infelizmente, o governo jogou para o ar tal iniciativa, mantendo no escuro tal política. Hoje, os preços de venda da gasolina e do diesel são menores que seus custos de importação. Tais subsídios trazem graves consequências negativas para o orçamento da Petrobras e para a produção complementar de etanol no País. Esse não é o primeiro nem o último problema criado por um sistema artificial de controle de preços. Mas tem de ser enfrentado, se quisermos os benefícios de uma vigorosa expansão do setor, com seus efeitos multiplicadores sobre renda, emprego, tributos, divisas. Será que as perspectivas futuras dos preços internacionais de petróleo induzem imaginarmos baixas importantes em seus patamares? Difícil. Basta observarmos a resiliência desses preços ao longo dos últimos anos, na maior recessão econômica dos últimos 80 anos. Não se venha argumentar com o shale gas dos Estados Unidos, cuja evolução da produção mal acompanha, por exemplo, o aumento do consumo chinês, sem falar de outros mercados em igual processo de crescimento. Lembremo-nos das taxas de depleção bem superiores dos depósitos de xisto. Mais do que isso: sabemos que, com exceção do Oriente Médio, os custos marginais de produção dos campos em expansão, golfo do México, pré-sal brasileiro e africano ocidental, o próprio shale oil norte-americano e outros, as areias betuminosas do Canadá, exigem preços, no mínimo, equivalentes aos de hoje. Difícil, pois, justificar o controle atual de preços em função de baixas prospectivas nos preços internacionais de petróleo. Vamos nos mexer. Não podemos assistir passivamente ao sucateamento de um dos mais importantes setores da economia brasileira. De um dos mais competitivos. De um dos mais inovadores. De um dos mais empregadores. De um dos mais exportadores. Vamos abandonar nosso conformismo. Vamos arregaçar as mangas e brigar. Em casa, arrumando-a. Em nossos sindicatos e associações, participando e nos unindo. Nas urnas, votando. No governo, atuando, mais e mais, no diálogo duro, profundo e, sobretudo, necessário para mudar esse trágico quadro. Agora.
especialistas
quando não ajuda,
atrapalha Os desmandos foram muitos; as incertezas, então... Agora, o setor colhe as agruras das decisões (não) tomadas pelo governo, e o que se descortina não é o melhor dos mundos para o setor sucroenergético, que foi deixado à própria sorte, não é de hoje. Tarde demais? O fato é que a crise está aí, e sobrevive quem puder... Iludido. Essa é a palavra que define o setor, que entrou na onda do então presidente Lula, quando este levantou a bandeira do etanol como o ouro verde brasileiro, o combustível renovável. Em 2007, Lula chegou a batizar o Brasil como a Arábia Saudita do Etanol. Muitos empresários pularam de cabeça nesse delírio, investiram o que tinham e o que não tinham para expandir suas usinas e construir novas unidades.
pergunto: alguém ainda acha que esse governo tem um pingo de seriedade para se importar com o que está ocorrendo com o setor sucroalcooleiro? "
Arnaldo Luiz Corrêa Gestor de riscos em commodities agrícolas e especialista no setor sucroalcooleiro da Archer Consulting
Opiniões O que se descortinou depois foi o show de horrores. Lula deu uma rasteira no setor assim que descobriu o pré-sal, talvez já se imaginando com o mesmo poder totalitário do seu guru Chavez, afundando a Petrobras e dilapidando o valor da empresa que, desde que o PT assumiu o poder, perdeu mais de 58% do seu valor e, hoje, assiste a seu nome ser jogado na lama, imerso em escândalos de corrupção estampados nas páginas policiais. Retornando ao ano de 2005, quando ainda sonhávamos com o etanol como a solução mundial para os combustíveis do futuro, o Brasil produzia 16 bilhões de litros de etanol, enquanto os Estados Unidos chegavam a uma produção de 14 bilhões de litros. O então presidente George W. Bush determinou prazos para que o volume de produção de etanol fosse aumentado para que o país dependesse menos de combustíveis fósseis. No ano seguinte, capitaneados pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), uma comissão foi formada para traçar um programa detalhado a ser colocado em prática com metas que se estendiam até 2060. No ano passado, o Brasil produziu pouco mais 27 bilhões de litros de etanol, enquanto os Estados Unidos chegaram à marca de 56 bilhões de litros de etanol de milho. Em oito anos, crescemos 7% ao ano, e os americanos cresceram 19%. Debates sobre subsídios aos produtores de milho à parte, o fato é que os EUA planejaram e executaram. Aqui, a classe política é boa mesmo de oba-oba. Planejamento é algo muito enfadonho e não angaria votos. E execução depende de gente competente. Sem mencionar aqui que, quando finalmente conseguimos derrubar as barreiras alfandegárias americanas contra a importação de etanol brasileiro, após anos de conversas e debates, vimo-nos na situação de importadores de etanol de milho dos Estados Unidos, motivados pela queda de produção de cana por dois anos seguidos. Ou seja, o setor pode se esforçar para se inovar, trabalhar com afinco para superar as adversidades, mas conta com a incompetência e a interferência nociva do governo. Vale reforçar, novamente como um mantra, que o setor não precisa de subsídios por parte do governo; bastaria que ele interferisse o mínimo possível e deixasse vingar a lei da oferta e procura. É assim com qualquer commodity. O produtor de soja conhece bem isso. O produtor de café também. O setor sucroalcooleiro, na parte que se refere ao açúcar, igualmente. Mas, quanto ao etanol, não tem como se proteger contra variações negativas de preços. Como o preço do etanol está vinculado ao preço da gasolina e este depende da canetada de Dilma ou Mantega, o setor fica a ver navios. A falta de comprometimento por parte do Governo Federal, que procura focar apenas na sua perpetuidade no poder e que se dane o resto, colocou em risco mais do que iminente a sobrevivência do setor sucroalcooleiro. Parcela significativa das usinas está em situação financeira alarmante por ter acreditado no projeto de combustível renovável – que até poderia ter dado certo, não fossem os devaneios e mania de grandeza de Lula, seguido pela grotesca falta de visão e incompetência de sua pupila no poder. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulgou, recentemente, o consumo total de combustíveis no mês de fevereiro de 2014. No acumulado de doze meses (março/2013-fevereiro/2014), 31,8 bilhões de litros de gasolina A (sem mistura) foram consumidos – um acréscimo de apenas 0,25% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o etanol mostrou um consumo de 11,1 bilhões de litros para o
hidratado e 10,1 bilhões de litros para o anidro – aumento significativo em bases anuais de 14,3% e 28%, respectivamente. No total, o consumo de combustíveis atingiu a marca de 53 bilhões de litros, 7,47% de acréscimo em relação ao ano anterior. Nesse ritmo, assumindo que tudo o mais permaneça inalterado, nos próximos quatro anos, ou seja, até a safra 2017/2018, apenas para atender ao consumo de combustíveis, que deverá somar 17,4 bilhões de litros adicionais no somatório das próximas quatro safras, somente a região produtora do Centro-Sul precisaria crescer 50 milhões de toneladas de cana – algo em torno de 9% ao ano, ou seja, grosso modo, um investimento anual de US$ 7,5 bilhões. Isso dá uma ideia de como o setor sucroalcooleiro poderia crescer e como se tornaria uma indústria mundialmente pujante; mas, amargando os erros de decisões tomadas a canetadas por um governo populista, dificilmente o setor conseguirá crescer no ritmo esperado. E, tudo isso, graças à falta de competência da equipe da presidente atual, que desconhece o funcionamento básico do mercado de commodities. Está cada vez mais difícil encontrar, no atual governo, gente comprometida com o desenvolvimento do País. O PT só tem projeto de poder e, para se perpetuar nele, vale tudo, inclusive destruir a Petrobras. Com a desculpa estapafúrdia de conter a inflação e uma visão míope sobre economia, mercado internacional e política, em uma das decisões mais erradas, o governo optou por não permitir os reajustes de preços da gasolina ao consumidor, em linha com o mercado internacional. O problema é que a sangria provocada na estatal não se circunscreve apenas à empresa. Ela provoca reações em cadeia que produzem efeitos em outros mercados, entre eles o sucroalcooleiro. E, agora, quando lemos as manchetes que afundam a imagem da estatal do petróleo em escândalos, pergunto: alguém ainda acha que esse governo tem um pingo de seriedade para se importar com o que está ocorrendo com o setor sucroalcooleiro?
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especialistas
vamos ter
fé
Nas relações comerciais humanas, costumam acontecer três tipos de situações: a primeira é o ganha-ganha, que é a situação ideal e altamente sustentável, porém necessita de muita inteligência, diálogo e visão de longo prazo para vigorar; a segunda é o ganha-perde, que é até normal de acontecer, face à ambiciosa natureza do homem, que sempre procura extrair o máximo nas suas negociações. Normalmente, essa relação não se sustenta em longo prazo; e, por último, o perde-perde, fruto da burrice, da falta de compreensão e do diálogo entre as partes, que é insustentável até no curto prazo, pois não beneficia ninguém e é totalmente irracional. Infelizmente, o que observamos no tratamento ao setor sucroenergetico pelas políticas públicas, no que diz respeito à definição do papel do etanol na matriz de combustíveis e da biomassa na matriz de geração de energia elétrica, nos faz acreditar que estamos em meio a um perde-perde sem precedentes, como procuraremos demonstrar a seguir.
Uma vergonha para um país tão abençoado por Deus em termos de fontes de suprimento de energia e tão amaldiçoado por políticos e técnicos inconsequentes. "
Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor da Abag - Associação Brasileira do Agronegócio
Os números de importação de gasolina mostram gastos de US$ 3 bilhões em 2012 e US$ 2,2 bilhões em 2013, redução conseguida graças ao aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, de 20% para 25%, e ao aumento da competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina. As importações de derivados são, hoje, de montantes bastante expressivos e representam perdas de empregos aqui no Brasil. Esses volumes importados de gasolina poderiam ser substituídos por produção de etanol, gerando renda, empregos e impostos localmente. Além disso, essas importações, em face da não paridade com os preços internacionais, causaram uma perda à nossa Petrobras de R$ 1,6 bilhão em 2012, R$ 1,1 bilhão em 2013, e são estimadas perdas de R$ 2,9 bilhões em 2014.
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Opiniões
especialistas Essas perdas ocorrem num momento muito ruim para a empresa, que se encontra em meio ao grande desafio de colocar o pré-sal em marcha, demandando investimentos de grande montante, em valores ao redor de R$ 100 bilhões por ano. Com isso, a Petrobras tende a apresentar níveis de alavancagem, no importante ratio dívida/EBITDA, superiores a 3,5 – ameaçando sua condição de investment grade. Sem falar que toda essa situação causou relevante perda do seu valor de mercado. Hoje, é menos da metade do que já chegou a valer no passado. Portanto essa política retro-oitentista, de segurar inflação via represamento de preços, está causando um claro perde-perde para o setor sucroenergetico e para a Petrobras. Alguns membros do governo, movidos por interesses não claros, insistem em que essa política beneficia o consumidor. Será? Na falta de investimentos que estamos vivendo, o que será da oferta futura de etanol? Então, de que adianta um fugaz benefício de preços contidos no curto prazo, que, no longo prazo, causarão escassez, redução de oferta e, eventualmente, explosão dos preços artificialmente contidos no passado? Isso é bom para o consumidor no médio e no longo prazo? Outro aspecto nefasto dessa política é o rombo que está causando nas contas externas brasileiras, dado o peso que a importação de combustíveis vem tendo na balança comercial, que vinha apresentando saldos superiores a US$ 20 bilhões até 2011 e que, hoje, ameaçam ficar negativos ou, no máximo, no zero a zero neste ano. Lembrando que nossa conta corrente deve atingir déficits por volta de US$ 80 bilhões, numa clara deterioração dos antigos bons fundamentos da economia brasileira, e ajudam a ameaçar o grau de investimento do Brasil também. Ademais, todos sabem da importância do agronegócio brasileiro nas exportações, com volumes próximos a US$ 100 bilhões. Açúcar e etanol representam 14% de participação e despontam como o terceiro item mais importante da pauta, atrás apenas dos complexos soja e carnes. Outra situação que causa perplexidade é o extremo descaso do governo com a produção de energia elétrica oriunda de biomassa. O setor, hoje, oferta ao SIN (Sistema Interligado Nacional) apenas 1.720 MW médios, quando, potencialmente, poderia exportar o triplo desse volume e, num futuro próximo, muito mais, pois o potencial é muito grande.
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Opiniões Mas, infelizmente, uma visão de curto prazo que privilegiou excessivamente a modicidade tarifária alijou, nos últimos anos, essa e outras fontes dos leilões de energia, principal porta de entrada para o sistema elétrico nacional e que propicia contratos de longo prazo, imprescindíveis à obtenção de financiamentos. Nosso crescimento recente de oferta de energia ficou excessivamente concentrado na fonte eólica e nas grandes geradoras hidráulicas, todas cada vez mais distantes dos principais centros de carga do sistema, causando elevados custos de transmissão. Atrasos na construção e na interligação ao sistema foram observados, levando a elevados prejuízos, em função da situação atual de escassez de chuva que enfrentamos. Na realidade, faltou uma visão de longo prazo, que, além da modicidade tarifária, levasse em conta outras externalidades positivas, inerentes a demais fontes, incluída aí a biomassa. Hoje, além da ameaça de apagão, sofremos um enorme rombo nas contas do setor elétrico, que serão, em breve, colocadas na fatura do consumidor ou do contribuinte, que, mais cedo ou mais tarde, são os únicos a pagar essa conta. Isso devido à necessidade de se colocar em operação as famosas, caras, ineficientes e poluentes termoelétricas a óleo, algumas despachando com custos superiores a R$ 1.000,00 por MWh. Energia de reserva indo para a base do sistema. Uma vergonha para um país tão abençoado por Deus em termos de fontes de suprimento de energia e tão amaldiçoado por políticos e técnicos inconsequentes. Sem falar que energia elétrica de biomassa e etanol, em conjunto, são as melhores alternativas para projetos nas regiões de fronteira agrícola, pois um ajuda a viabilizar o outro, e a produção de açúcar, nesses lugares, muitas vezes não se justifica, dada a precariedade logística para transportar esse produto em longas distâncias até o porto ou aos principais centros consumidores. Se isso não é perde-perde, o que virá a ser, então? O que devemos dizer para aqueles metalúrgicos das indústrias de bens de capital de Sertãozinho, que estão de braços cruzados, face à ociosidade das fábricas onde trabalham, por falta de encomendas, em função da ausência total de estímulos aos investimentos e de políticas públicas? Outro ponto para destacar como situação de perde-perde é a desgraça logística deste País: fruto da incompetência e da falta total de planejamento e de capacidade de executar projetos. Esse caos não tem ganhador. Para se ter uma ideia de perda de produção durante o transporte: ficam nas estradas 40% de soja, 60% do milho produzido no Mato Grosso, e o açúcar consome, em média, 20% do preço FOB Santos, pois, para essa commodity, as distâncias até o porto são, felizmente, menores que a da soja. São números absurdos, que nos envergonham e tiram a competitividade do agronegócio brasileiro tão arduamente conquistada da porteira para dentro. Mais um perde-perde que aconteceu, graças a visões autoritárias, estatizantes e anticapitalistas de total aversão ao lucro que dominou o pensamento de importantes cabeças de Brasília em um passado recente, foi aquele que empacou diversos programas de investimento em infraestrutura, que já poderiam ter ocorrido, rendendo bons frutos e retorno para o nosso País. Mas, quem sabe, depois de errarmos tanto, não tenha chegado a hora de colocarmos o trem nos trilhos e tentarmos rapidamente recuperar o tempo perdido. Velho ditado: a esperança é a última que morre. Vamos ter fé.
especialistas
Opiniões
miscelânea Os Estados Unidos trabalham para conquistar sua independência energética em 2035. Em 2013, eles gastaram US$ 300 bilhões com importação de petróleo. Isso representa quase dois terços de todo o déficit comercial anual daquele país. O Brasil teve tudo para ser independente desde 1975, quando se tornou o primeiro país a encontrar, no etanol, a alternativa para o petróleo. E espantou o mundo. A ponto de o então presidente da Anfavea Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, André Bier, confessar que o álcool de cana salvou a indústria automobilística – condenada a parar, por falta de gasolina e óleo diesel. O País importava 85% do petróleo de que precisava. Para quem não sabe ou não se lembra, o Brasil foi o que menos sofreu as consequências daquela crise mundial, que colocou o planeta à beira de uma guerra por energia. Nós vencemos a guerra, com ajuda da natureza, em paz.
Os americanos podem planejar os caminhos para alcançar a meta que desejarem ... O Brasil não pode, porque ... é obrigado a se submeter a doutrinas, ideologias, interesses individuais ou de correntes partidárias, jamais da Nação. " Jairo Menesis Balbo Diretor Industrial da Usina São Francisco
Por que tanto contraste? Há vários motivos que distinguem esse nosso atraso, diante de tanta riqueza, e o avanço dos EUA, mesmo diante de tantos gastos e dificuldades para não sucumbir. O primeiro: educação e patriotismo; o segundo: para eles, a energia não pertence ao Partido Republicano nem ao Democrata, muito menos ao Estado. Ela é da Nação. É fácil entender essas diferenças quando se percebe que sua minúscula Constituição não é feita para vigiar e tolher a livre iniciativa, mas para vigiar o Poder e proteger o povo. Intacta e estável há 238 anos.
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Opiniões Os americanos podem planejar os caminhos para alcançar a meta que desejarem, porque a liberdade lhes permite adotar estratégias de mercado, com a certeza da conquista. O Brasil não pode, porque, em vez de estratégias de mercado, é obrigado a se submeter a doutrinas, ideologias, interesses individuais ou de correntes partidárias, jamais da Nação. Em nosso País, quando um grupo vê seus objetivos contrariados, trata logo de acusar o outro de falcatrua. Em vez de propostas claras, sem viés político ou ideológico, destinadas a definir estratégias para cada setor da economia, o que se vê é a busca desenfreada por documentos que pretendem provar fraudes de toda sorte. Uma mistura de petróleo, trens do metrô ou de subúrbio, gás, água, telefonia... O que lesa toda a sociedade, obrigada a pagar a conta, sem conseguir entender de que despesa – ou desperdício. Faltam união de todas as fontes, interdependência e independência diante do mercado, em condições competitivas de igualdade e lealdade. Por exemplo, a fonte energética canavieira pode oferecer ao Brasil a força de duas hidrelétricas de Itaipu, com o uso do bagaço e da palha, postos a produzir eletricidade, sem plantar mais nenhum pé de cana. Basta uma política energética que contemple a biomassa para expandir a tecnologia já conhecida e aumentar a produtividade: consequentemente, aumentará a oferta de energia elétrica. Com a otimização, o bagaço e a palha de apenas um hectare de cana poderão abastecer com eletricidade 21 residências. Só a região de Ribeirão Preto tem 2 milhões de hectares de cana em 85 municípios. Hoje, essa população regional é de cerca de 4 milhões de habitantes que moram em um milhão de casas. A luz capaz de sair dos canaviais só dessa região, além de iluminar essas moradias, atenderia às necessidades das indústrias, do comércio, dos hospitais, das escolas, da agropecuária... Energia para a cidade e para o próprio campo, onde ele é gerada. Mas essa realidade luminosa continua apagada pela política energética inadequada. Como já dissemos aqui, a causa maior é o governo, que, além de reger os músicos, quer tocar todos os instrumentos. O resultado é uma orquestra inchada, desafinada e caríssima. Para manter os compromissos políticos do inchaço, disfarçar a desarmonia e sustentar a folha, aumentam os impostos, o que significa energia mais cara. Trata-se, portanto, de um imposto punitivo, que castiga o cidadão, ao tributar geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Mais da metade da conta de luz é imposto. Com o risco de desabastecimento, as autoridades pedem ao consumidor que economize energia. O consumidor economiza; a receita, obviamente, cai, e, para dar conta dos compromissos políticos, o governo eleva os impostos ou o preço, novamente. São 23 impostos e 13 encargos. O poder público consegue, assim, a “façanha” inédita de burlar a mais antiga lei do mercado – a da oferta e da procura. Para aumentar a oferta de energia da cana, o governo precisa, antes, definir a função e o tamanho de cada componente da matriz para atender ao País. Ter plano estratégico para estabelecer o custo e o grau de dependência externa de cada item. Por fim, permitir que todos os componentes tenham seus valores alinhados de acordo com as necessidades do mercado.
Dois exemplos ajudam a esclarecer a participação equilibrada de todas as fontes da matriz. Dependendo da região do País, o custo médio da energia térmica nas usinas movidas a gás natural (nacional ou importado) varia de R$ 260 a R$ 740 por megawatt-hora, enquanto a energia térmica gerada nas usinas de açúcar e álcool, proveniente do bagaço de cana, sai por R$ 180,00; o investimento na ampliação da quantidade de matérias-primas naturais e mais baratas, cana-de-açúcar, eleva mais rapidamente a oferta de eletricidade. Cientistas e delegados governamentais reunidos em Berlim concluíram que um "nível sem precedentes de cooperação internacional" será necessário para conter efeitos das mudanças climáticas e citam a cana como alternativa concreta: "Opções com emissões de baixo ciclo de vida (como a cana, árvores de crescimento rápido e uso sustentável dos resíduos de biomassa) podem reduzir emissões". A bioeletricidade fornecida pela cana à rede economizou 7% da água nos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil em 2013. Evitou a emissão de 7,5 milhões de toneladas de CO 2. Sem essa geração, a matriz de emissões do setor elétrico teria um acréscimo de 23%. Ao mesmo tempo, desde 1975, quando foi criado do Proálcool - Programa Nacional do Álcool, até dezembro de 2013, o uso do etanol proporcionou ao País a economia equivalente a 120 milhões de barris de gasolina importada por ano. Essa vantagem confere ao consumidor brasileiro o privilégio único no mundo de chegar ao posto e escolher o combustível que melhor lhe convier. Por maior que seja a jazida do pré-sal, ela sempre terá fim, enquanto a cana sempre será renovável e sempre ganhará em produtividade, o que beneficia o consumidor. Como o Brasil dispõe dessa vantagem, que pode ser cada vez mais abundante, não damos valor. Mas, durante a Copa do Mundo, será comum ver estrangeiros curiosos com essa possibilidade. Autoridades brasileiras devem aproveitar para perceber a importância do etanol (pelo menos para os turistas...). São essas as ferramentas, os instrumentos, os recursos, os mecanismos, as propostas e as estratégias que temos, à disposição do governo, para alavancar o sistema sucroenergético e contribuir decisivamente para o equilíbrio do segmento mais importante da economia – o da energia. Basta as autoridades administrarem a matriz energética com eficácia e competência e confiarem-na aos que sabem produzir seus componentes: empresários, empreendedores, cientistas e trabalhadores especializados, com objetivos definidos, interessados em participar da lucratividade e da prosperidade do seu trabalho. Nesse ambiente, a competência e a eficácia prevalecem naturalmente – algo incompatível num regime atrelado a favores e barganhas do poder. Assim, é possível atender a todas as expectativas e necessidades num só ritmo: ecologicamente correto, grande gerador de empregos qualificados, de impostos justos e genuinamente nacional. Isso é uma ilusão? Não, é a solução! Existe essa possibilidade? Como está, não!
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entidades de fornecedores de cana
passou da hora de o setor mostrar a
cara
Ao fazermos uma análise bastante fria do passado recente, tenho a sensação de que ficamos anestesiados frente às atitudes do Governo Federal para com o setor. Qual o razão do descaso? O setor tem impacto direto na economia brasileira, com grande geração de empregos diretos e indiretos, principalmente no interior deste País; produz açúcar e etanol, o primeiro, responsável por abastecer todo o mercado interno e gerar divisas importantes com sua exportação, o segundo, por abastecer toda a frota de veículos brasileiros com motores de ciclo Otto, seja utilizando-o totalmente nos tanques (etanol hidratado), ou, parcialmente, misturado à gasolina (etanol anidro), diminuindo a necessidade de importação de combustíveis e promovendo grande melhoria na qualidade das emissões provocadas pelo funcionamento dos motores. Acredito que só esses dois últimos motivos, para as pessoas que pensam num país melhor, já seriam suficientes para, pelo menos, aceitarem, durante as conversações, as observações dos representantes do setor.
Participando ativamente, nesses últimos anos, de vários fóruns e várias reuniões em diversos ministérios, foi possível perceber o quanto o setor é mal compreendido pela maioria dos representantes do governo nas esferas “competentes”. Chego a pensar que, certamente, há um grande resquício de má intenção por parte dos governantes. Promover uma política suicida para os produtores de etanol e, consequentemente, para nós, produtores de cana, é algo a lamentar. As pessoas não têm ideia de como, na agricultura, um ano muito seco ou muito chuvoso interfere na nossa atividade. Seria importantíssimo que esse vazio fosse mais bem entendido por todos. O quão é importante uma política bem elaborada de estoques, principalmente etanol, para que a tranquilidade impere nos momentos difíceis. A velha história da formiguinha que trabalha na época boa para guardar para a época difícil sempre é muito bem-vinda num setor que tem grande dependência dos fatores climáticos. E o que fizeram?
A saída, em muitos casos, é dura e difícil e passa por ter que vender seu patrimônio, conseguido a duras tarefas por longos períodos. Ou seja, a situação é quase insustentável. " Ismael Perina Junior Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
Se agregarmos toda a indústria de produção de máquinas e equipamentos para o setor, a geração de energia elétrica (que anda com grandes problemas por diminuição do estoque de água nos reservatórios ou pelo alto custo de funcionamento das termelétricas), que poderia contribuir muito para esse momento de dificuldades; o grande número de produtores agrícolas vinculados às unidades industriais (que têm um sistema produtivo de ponta e com boa produtividade e que só não é melhor porque nos falta rentabilidade); a arrecadação de impostos desses produtos; o efeito forte que esse segmento tem ao promover o desenvolvimento do interior; e tantos benefícios mais, com certeza, as atitudes desse governo não poderiam ter sido as tomadas até o presente momento.
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Conseguiram sempre colocar recursos para estocagem depois que o “estoque” já havia sido consumido. Uma lástima! Política de estoque é de longo prazo e para sempre. A decisão de zerar a Cide - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, para a gasolina, eliminando um dos únicos compromissos firmados com governos anteriores que incentivava o combustível renovável em detrimento do combustível fóssil, foi uma punhalada pelas costas no setor. Parece-nos que os grandes feitos em benefício do ambiente são jogados no lixo. Baixar a mistura de 25% para 20% e, numa atitude de retaliação, alterar a legislação, trazendo o limite mínimo para 18% num momento em que já se demonstrava a não necessidade, pois o abastecimento estava regularizado, foi outra.
Pior, retornar para 25%, quando a oferta já estava regularizada, demorou-se mais de um ano. O dano financeiro provocado nas empresas é algo incalculável, e, aqui, certamente, o produtor de cana foi um dos que mais sofreram. Primeiro, o fato de ter a formação dos preços, que é dependente dos preços de açúcar e etanol, bastante aviltado, abaixo do custo de produção, trouxe um alto grau de endividamento neste momento. Segundo, que muitas unidades industriais deixaram de moer, não adquirindo as canas dos produtores ou, em outros casos, não pagando aos produtores pela matéria-prima entregue. Imaginem o que é trabalhar um ano inteiro e, na hora de vender o seu produto, não conseguir fazê-lo. Dá pra imaginar o que se passa na cabeça de um cidadão que vivencia isso? Não tem seguro (política governamental ineficiente) e nem Seguro-desemprego que lhe dê cobertura. A saída, em muitos casos, é dura e difícil e passa por ter que vender seu patrimônio, conseguido a duras tarefas por longos períodos. Ou seja, a situação é quase insustentável. Talvez, o único "conforto", neste momento, seja assistir a que não estamos sozinhos nesse ambiente hostil e de falta de horizontes. Com a gente, estão Petrobras, Eletrobras, indústrias de máquinas e equipamentos voltadas para a área agrícola e industrial, comércio de pequenas cidades ao quais os reflexos não chegaram ainda, mas, certamente, chegarão, prefeituras com quedas de arrecadação, principalmente nos centros produtores, e – por que não dizer? –, também os trabalhadores de todos esses segmentos, que correm risco de perder seu emprego, jogando fora grande esforço até agora. Nos empreendimentos que fecharam ou recorreram à recuperação judicial, isso já é um fato. Poderia passar aqui um bom tempo tentando, talvez, explicar um pouco mais os grandes benefícios que esse setor promove. Mas vou me ater a falar um pouco sobre um tema discutido no mundo inteiro e no qual o setor mostra grande maestria, que diz respeito à questão ambiental. O trabalho desenvolvido pelos produtores em suas propriedades agrícolas é de dar inveja. Quem conserva e planta árvore somos nós. E plantamos cana também, que é uma das culturas mais eficientes quando se fala em produção de oxigênio. O setor jogou a favor e foi o grande protagonista num processo de mudança quase secular, que foi o da eliminação da queima no processo de colheita da cana. Isso nos custou muito caro, a sociedade teve um grande benefício, e nem isso foi suficiente para convencer nossos governantes de que nosso custo aumentou e ficou muito difícil. Ganhamos a eliminação, como já disse, da Cide e de suas consequências nefastas ao ambiente. Temos que gritar alto para a sociedade, e entendo que a hora é essa. Finalmente, depois de muito debater, alinhados com o setor industrial canavieiro e de produção de máquinas e equipamentos, vamos nos mobilizar, alinhando-nos também com os trabalhadores de todos esses segmentos, e mostrar à sociedade se, realmente, o que importa para o País é ter todo esse complexo de empresas gerando emprego e renda, ou um governo que muito tem colaborado para liquidá-las.
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Opiniões
entidades de fornecedores de cana
o real cenário do setor
sucroenergético
Pela primeira vez na história da cultura canavieira, representantes da academia e importantes formadores de opinião saem em defesa dos benefícios sociais, econômicos e ambientais dos seus produtos, com ênfase ao etanol e à bioeletricidade. Tudo leva a crer que os produtores foram bem-sucedidos na construção da imagem real e positiva que a cana traz e dos seus efeitos multiplicadores, notadamente nos polos agrícolas do interior brasileiro.
Mais, nossos centros de pesquisas e desenvolvimento são referência mundial. Até 2020, existe demanda para dobrarmos os atuais níveis de produção de etanol, isso sem considerar o mercado externo. A crise de energia, que apenas está no seu início, sinaliza para a valorização da bioeletricidade, e, também aí, somos campeões. Como na sua maioria agricultores familiares, os fornecedores de cana – 16 mil associados à Orplana (Organização dos Plantadores de Cana
A forte adesão às criações das “Frentes Parlamentares em Defesa do Setor Sucroenergético” confirma que há ambiente favorável para um amplo diálogo com os setores governamentais. "
Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Presidente da Orplana
Não é de hoje que se reconhece que, aonde chega, a cana traz consigo a alavancagem da criação de empregos qualificados, distribuição de renda e prosperidade. As regiões de Ribeirão Preto – em São Paulo, de Maringá – no Paraná, do Triângulo Mineiro, de Dourados – no Mato Grosso do Sul, e Quirinópolis – em Goiás são alguns dos bons exemplos desse motor que propulsiona o crescimento e o desenvolvimento. Os fundamentos da cadeia produtiva sucroenergética são inquestionáveis, positivos e promissores. Senão, vejamos: a indústria de base nacional desenvolveu tecnologia 100% “verde-amarela”, e independemos de importações para atendermos às demandas dos processos agrícola, industrial e de logística. Ao contrário, pois as exportações da nossa indústria de bens de capital atendem a, praticamente, todos os países produtores de cana-de-açúcar.
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da Região Centro-Sul) e 60 mil ao todo no País – atravessam o seu pior momento, convivendo com os preços baixos e inferiores aos seus custos e a inadimplência das usinas. Essa situação tem provocado um forte movimento de saída da atividade, ao mesmo tempo em que se verifica o aumento da concentração das usinas. Então, o que é que está faltando? A crise que o setor sucroenergético atravessa, com dezenas de usinas desativadas, outras tantas em regime de recuperação judicial, 100 mil postos de trabalho extintos, inadimplência crescente, que traz reflexos na economia, principalmente no comércio e junto aos prestadores de serviços, remete ao Pacto de Moncloa, reunião ocorrida em outubro de 1977, na Espanha. Vale lembrar que o General Franco (ditador espanhol) tinha morrido em 1975, e essa reunião definiu um acordo
Opiniões dade e perdas retidas no campo. Variedades inadequadas e o aumento descontrolado de pragas, antes insignificantes, aumentam os custos de produção e baixam a produtividade. Esse tem sido o preço da implantação de uma nova tecnologia e assumido pelos produtores, já que os preços do açúcar, do etanol e da bioeletricidade são fixados, não por quem produz, mas pelo mercado, que, muitas vezes, pode ser e é manipulado. Não é justo que agentes públicos, que deveriam estar comprometidos com um setor da envergadura e da importância do sucroenergético, insistam no falso argumento de que há de se reduzir custos e que este tem sido o pecado capital do setor. O produtor ou o empresário que não estiver focado em produzir com custos menores não sobrevive, isso todos sabemos. E o setor tem dado sua contribuição, através de investimentos em logística (alcooldutos, tancagem portuária, modais de embarque de açúcar) e até no desenvolvimento de novas tecnologias (uso de palha junto com o bagaço da cana para a bioeletricidade e etanol de 2ª geração). É evidente que o contraponto ao aumento dos custos dos encargos trabalhistas, das nossas matérias-primas, da pesada carga tributária e até da contratação de advogados, para defesa em processos que nos impõem a insegurança jurídica, não pode ser a política de importação de combustíveis vendidos a preços inferiores aos da compra. E nem o custo exagerado das termelétricas poluentes, em detrimento da energia limpa e renovável da bioeletricidade.
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amplo de reforma da economia espanhola, em razão do total descontrole governamental. Situação e oposição, ao lado de lideranças da sociedade civil, decidiram dialogar e buscar o consenso para os problemas que atingiam a todos. A forte adesão às criações das “Frentes Parlamentares em Defesa do Setor Sucroenergético” confirma que há ambiente favorável para um amplo diálogo com os setores governamentais. E o lançamento da “Frente Popular”, com o objetivo de engajar os 2,5 milhões de trabalhadores que dependem do setor, reforça essa tese. Em 1999, trabalhadores e fornecedores de cana foram às ruas para chamar a atenção da opinião pública e do governo. O resultado foi a criação de um ciclo virtuoso que provocou a implantação de cerca de 100 novas usinas, reformas importantes em praticamente todas as outras e a duplicação dos níveis de moagem da cana-de-açúcar. O anúncio de que grupos de investidores estrangeiros colocaram seus ativos de usinas à venda e a difícil situação das unidades industriais – os prejuízos nos balanços confirmam isso – acabam se capilarizando em toda a cadeia produtiva. Apenas um amplo programa de refinanciamento de dívidas (Refis) com o mercado e também com o próprio governo pode resolver essa questão. Ao mesmo tempo, o governo precisa rever a sua política de preços predatórios impostos à Petrobras, a falta de critérios regionais e por tipo de fontes de geração nos leilões de compra de energia. Há de se convir que ninguém ganha nada com essa situação. A mecanização da colheita da cana-de-açúcar provocou o aumento dos custos de capacitação profissional e a queda de produtivi-
fornecedores de cana
como valorar a “nova”
cana-de-açúcar
No Brasil colônia, já existia o conceito da “cana obrigada”, que vinculava a produção da cana a determinado engenho. A partir dos anos 1930, vivemos um sistema de cotas em que qualquer plantio vinculado à indústria dependia de autorização quando o setor era totalmente controlado pelo Estado. Esses fatos não são por acaso, a cana não pode ser tratada como soja ou milho, commodities que têm no mercado sua regulação. Além de ser perecível, não podendo ser estocada, temos também a especificidade de distância, exigindo a busca do menor percurso para o processamento, somado ao fato de ser cultivo semiperene, exigindo decisões para o longo prazo. Vale aqui ressaltar algumas poucas regiões onde ainda temos alta concentração de unidades industriais e competição pela matéria-prima. Esses fatos são traduzidos pela forma como quem planta cana ficou conhecido: fornecedor de cana e não produtor, como para todas as outras atividades agropecuárias. É lógico, quem planta cana precisa ter certeza de onde vai entregá-la, pois, sem isso, não há valor para a produção, evidenciando a necessidade de uma relação especial entre produtor de cana e indústria.
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de agricultores e indústrias em torno da qualidade da matéria-prima, em última análise, da quantidade de açúcar produzido por hectare, eliminando, ainda, uma série de arbitrariedades na avaliação da cana, trazendo transparência para o sistema, além de evidenciar e valorizar os mais eficientes. Esse foi um grande passo para reduzir os ranços e as diferenças do passado e iniciar a construção de uma relação mais moderna e equilibrada dentro do setor. Desde então, o Consecana passou a ser o guia nas relações entre produtores e indústrias. Certamente, vem sendo feito um esforço para adaptar as regras estabelecidas às mudanças que estamos vivenciando, seja no mundo onde podemos ressaltar a velocidade das informações, afetando a volatilidade dos negócios e as cadeias produtivas, seja no Brasil, com a transição, em um curto prazo, de uma euforia incentivada para um antagonismo do Estado, mas, principalmente, dentro do próprio setor, quando saímos da colheita manual queimada para a mecanizada sem queimar, no aumento de custos levando à concentração e ao fechamento de unidades industriais, nos sistemas de transporte de cana, na produção de energia via cogeração, entre outros novos
O Consecana precisa continuar a ser modernizado, enfrentar e discutir as mudanças necessárias, de modo a harmonizar, com justiça, as relações no setor sucroenergético.
Paulo de Araújo Rodrigues Diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel
Nos anos 1990, depois da extinção do IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool, e do fim da intervenção estatal, o setor, então chamado de sucroalcooleiro, mostrou maturidade e, antes de entregar-se ao impossível mercado livre sem nenhuma regra, decide pela criação do Consecana - Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool, que estabeleceu um sistema de pagamento pela cana, com base nos valores do açúcar e álcool praticados e no antigo PCTS - Pagamento de Cana por Teor de Sacarose. Nesse ponto, precisamos reconhecer que a mudança no sistema de pagamento pela qualidade da cana, implantada pelo PCTS a partir de 1984 e que teve, inicialmente, forte oposição na indústria, foi o indutor de importante ganho de produtividade para o setor, em função de, finalmente, alinhar os interesses
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produtos, no aumento da complexidade das legislações ambientais e trabalhistas, na maior eficiência industrial, apenas para citar alguns pontos. Agora, somos o setor sucroenergético, e, seguramente, as mudanças não vão parar por aqui! Infelizmente, apesar do esforço de muitos, a remuneração da cana aos produtores não conseguiu acompanhar essas mudanças, reduzindo a renda e a participação deles no setor. O pagamento de cana no formato atual vem aumentando a distância não somente entre usinas e produtores, desequilibrando as relações, mas entre usinas, também evidenciando a necessidade de atualizar e modernizar as regras do Consecana. No caso da apuração da qualidade da matéria-prima, ainda temos a fibra como grande vilão, reduzindo preciosos quilos de ATR - Açúcar Total Recuperável - no cálculo do valor da cana.
Opiniões A partir da intensificação do uso do bagaço e, mais recentemente, do recolhimento da palha, a fibra passou a ter valor e não pode mais ser entendida simplesmente como “impureza vegetal”. A metodologia já foi reavaliada para atenuar essa questão, mas sabemos que ainda temos diferenças a conciliar. Esse fato torna-se ainda mais relevante quando levamos em conta a operação de colheita, onde podemos colher mais ou menos fibra no atendimento dos interesses da indústria, podendo dizer que passamos a ter mais de um padrão de matéria-prima. Já na questão dos produtos que compõem a fórmula que transforma os valores praticados no mercado ao longo da safra em valores de ATR para remunerar a cana, não podemos ignorar que o setor não vive mais exclusivamente dos diversos tipos de açúcar e álcool. Cada vez mais, aparece a energia gerada pelo uso do bagaço e da palha na composição do faturamento das indústrias, e que, não raro, nesses momentos de crise, é alçada à condição de salvadora da lavoura. Outra questão é a tomada dos valores de venda dos produtos que compõem o sistema de cálculo que representa as médias praticadas no mercado e que levará, obviamente, a um preço médio de ATR para pagamento da cana. As indústrias em melhor situação financeira e que utilizam melhor as ferramentas modernas de comercialização vendem sua produção por valor acima daquele apurado para o pagamento da cana, mas pagam essa cana pelos valores médios apurados, apropriando-se da diferença. O inverso também é verdadeiro. Alguém poderá dizer que isso faz parte do jogo e que vivemos em uma economia de mercado, e, portanto, a eficiência é uma prerrogativa para seguir em frente.
O fato é que o produtor de cana, independente de sua condição financeira ou eficiência, não tem nenhuma chance de escolha, ou seja, não tem nenhum acesso ao mercado. Outro ponto é a utilização do ATR relativo, artifício previsto pelo regulamento do Consecana e que traz benefício no curto prazo para a indústria, seja por transferir renda do produtor, seja pela melhoria logística para a colheita. No longo prazo, corremos o risco de apenas mudar de época a concentração da cana do produtor e ainda perder o estímulo à qualidade individual, transformando em prejuízo para todos. Em vez disso, deveríamos estimular o manejo varietal, grupos de colheita e buscar a entrega da cana durante toda a safra, invertendo a concentração das operações e da renda, como já foi no passado. Esses pontos e alguns outros não são novidade, tanto é que muitas indústrias têm buscado alternativas para driblar esses problemas e, assim, melhor remunerar a matéria-prima, utilizando os valores de venda próprios para o cálculo do valor da cana, estabelecendo planos de incentivo em que o produtor recebe mais em função de metas estabelecidas e/ou programa de certificação, subsidiando, principalmente, operações de colheita, ou, simplesmente, aplicando ágio sobre o valor básico. O Consecana precisa continuar a ser modernizado, enfrentar e discutir as mudanças necessárias, de modo a harmonizar, com justiça, as relações no setor sucroenergético. Essa crise uma hora acabará, e, seguramente, teremos outras. Mas as relações não vão passar, ao contrário, precisam ser cultivadas e preservadas, fortalecendo o setor e aumentando nossa legitimidade ao mostrar à sociedade nossa importância! A Grameyer, fundada em 1986, é hoje uma das mais conceituadas empresas brasileiras no segmento de geração de energia, e pioneira na produção e desenvolvimento de reguladores de tensão. Atua com excelência em pesquisa, desenvolvimento, projetos, fabricação e comercialização de equipamentos eletroeletrônicos para o gerenciamento, controle e proteção de sistemas de energia.
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fornecedores de cana
Opiniões
o “barco” da cadeia produtiva da
agroenergia as políticas populistas terão que encontrar uma breve solução no novo governo, seja qual for o eleito "
Roberto de Rezende Barbosa Presidente do Conselho Administração das Empresas NovAmérica
O “barco” da cadeia produtiva da agroenergia está sofrendo com os enormes buracos, fazendo-nos adernar, e, nessas horas, só remando rápido para não afundarmos de vez. Não temos, neste momento, como reivindicar uma salvação nas instituições federais e estaduais, que se envolveram em armadilhas com difícil retorno e soluções, tais como: • retirada da CIDE (reduzindo a competitividade do etanol); • necessidade de importação de combustíveis (vendendo, aqui no Brasil, com baixo custo); • construção atrasada de novas refinarias que objetivavam suprir a demanda crescente de combustível no consumo interno. Novamente, o mercado "preço" será a salvação; temos como fundamento o mercado de açúcar, que nos indica estar em recuperação. Com uma certa paciência, poderemos esperar até 2015. Quanto ao etanol, a dúvida persiste, contudo, há esperanças ... Hoje, as políticas populistas terão que encontrar uma breve solução no novo governo, seja qual for o eleito. A cadeia produtiva só se salvará na busca do custo baixo, sob uma gestão austera, com uma operação eficiente, implementando todas as tecnologias comprovadas e de olho nas novas que estarão surgindo no tempo futuro, torcendo para que a natureza se mantenha em equilíbrio e nos ajude nessas águas revoltas. O grande drama está sendo como a nossa cadeia produtiva é percebida pela sociedade como um todo; neste momento, a sobrevivência está difícil: diminuição da oferta, pois os canaviais indicam uma queda nas próximas safras 2014/2015/2016, bem como uma drástica perda de produção, já que várias unidades estão parando, com consequências sociais no seu entorno, não tendo mais como financiar o serviço das dívidas e captar novos recursos.
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Resta-nos apenas sobreviver com o fluxo de caixa, sem agregar valor para depreciação dos ativos, liquidar as dívidas e remunerar o negócio, dificultando, ainda, empreendimento de novas unidades, necessárias para a crescente e real demanda. A sensibilidade para as externalidades do setor não faz parte do referencial institucional com grande dificuldade para o setor se expor e dialogar com esta dita percepção popular, sendo combustível renovável, interiorizado socialmente, economicamente viável, está gastando toda sua energia para remarmos até um porto seguro, antes que esse fluxo de águas nos afunde sem salvação. Ainda temos um barco salva-vidas ao largo, que podemos acessar. É a pesquisa e desenvolvimento que busca o uso dos subprodutos da cadeia produtiva da cana, para viabilizar-se como um negócio, que são: a palha, a vinhaça e o próprio bagaço. A palha, temos que recolhê-la no campo com custos compatíveis ao valor calórico dela e a seu peso especifico, enfardando para o transporte. Está sendo um desafio. A vinhaça deverá ir para um biodigestor eficiente; o bagaço e palha, sacarificados com enzimas modernas e produtivas, e assim teremos a segunda geração do etanol. Os produtos finais dessas sobras se tornarão matérias-primas e terão valor econômico: pellets de bagaço e palha, gás “metano”, que deverá ser purificado, para uso em motores ou queima em caldeiras, gerando energia elétrica para exportação (já operacional) em algumas unidades. Os investimentos nessas novas áreas são altos e de lonJacyo go tempo de operação e maturação com economicidade, Direreos que não são de longo prazo e nada fáceis, principalmente neste momento de “águas revoltas”.
produtores
Opiniões
a cana como a melhor
alternativa
O setor sucroenergético, iniciativa sinônimo de progresso e sustentabilidade no Brasil, está buscando mais oportunidades para contribuir para o País. O mercado está em um momento que pode ser considerado crucial para os produtos derivados da cana-de-açúcar. Não basta apenas a boa vontade e o investimento dos players do segmento, é preciso uma conscientização, do consumidor ao governo, de apostar na cadeia.
A primeira unidade da Raízen de etanol de segunda geração entrará em produção ainda em 2014. Com a planta, serão produzidos aproximadamente 40 milhões de litros de etanol por ano. "
Pedro Isamu Mizutani Vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen
Os participantes desse mercado trabalham em prol de que o Brasil ocupe um espaço de destaque no mercado internacional, em especial com o etanol, e também que o biocombustível passe a ser oficialmente reconhecido como alternativa ambiental. No entanto é preciso somar mais peso ao time. O Brasil figura entre os países que subsidiam os combustíveis fósseis. Com a alta do dólar, a importação dos derivados do petróleo passa a pesar ainda mais na balança comercial desses países. Portanto o etanol é uma alternativa no contrapeso: segundo a Unica, em 10 anos, o mundo demandará 26 milhões de toneladas de açúcar, e o Brasil precisará de 62% a mais de etanol. Para isso, o País terá que elevar sua moagem em 200 milhões de toneladas de cana por ano. É o momento de transformar o etanol em uma commodity. O fato é que o etanol ainda caminha para ter um maior reconhecimento de sua capacidade energética e de seu processo produtivo sustentável.
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Opiniões Os holofotes estão voltados para o preço, ainda o principal fator de escolha do consumidor, que, em raríssimas situações, leva em conta o fator ambiental no momento do abastecimento de seu veículo. No entanto o setor segue apostando no combustível. Um exemplo é o investimento em novas tecnologias, como o etanol de segunda geração – produto feito a partir do bagaço, folhas, cascas e outros resíduos da produção da cana-de-açúcar. É uma alternativa para driblar os altos custos das terras e, em especial, de novas unidades de produção (greenfileds). A primeira unidade da Raízen do novo tipo de etanol entrará em produção ainda em 2014. Com a planta, serão produzidos aproximadamente 40 milhões de litros de etanol de segunda geração por ano. A fábrica será construída anexa à unidade Costa Pinto, em Piracicaba (SP). Para a produção do biocombustível, a Raízen já possui um estoque de matéria-prima: a biomassa existente na unidade poderá ser aproveitada tanto para a geração de energia elétrica quanto para a produção do novo etanol. Toda a expertise do setor com a criação de um novo combustível se deve à experiência de décadas do Brasil com a produção do etanol extraído da cana-de-açúcar. Em 1975, após a primeira crise do preço do petróleo, foi iniciado o programa Proálcool, que tinha o objetivo de diminuir a dependência das importações de petróleo. Antes disso, por volta da década de 1920, o País já saía na frente ao utilizar o etanol como alternativa ao impacto de conflitos e crises mundiais. Dos anos 1970 para cá, o País desenvolveu um interesse em ampliar a produção de etanol. Tal incentivo também esteve relacionado à grande discussão internacional sobre as mudanças do clima e a importância da diminuição de emissão de CO2 na atmosfera. Vale ressaltar que o Brasil apresenta condições naturais extremamente favoráveis para a produção da cana, fator determinante para firmar seu lugar como futuro líder do etanol no mercado internacional. E não são somente clima e terras favoráveis que fazem do Brasil um destaque sucroenergético. O País tem tecnologia e profissionais altamente especializados, e ano a ano, vem investindo em agricultura de precisão e na melhoria do manejo, com a finalidade de elevar a produtividade da cana e, em especial, a eficiência do setor. A melhoria dos processos no campo é benéfica tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente. Há um melhor aproveitamento da terra, redução no uso de substâncias químicas para controle de pragas e a evolução do plantio e colheita mecanizadas. Além da importância para a evolução da produção de biocombustíveis, o setor sucroenergético contribui, consideravelmente, para a cogeração de energia elétrica.
Na Raízen, por exemplo, 13 das 24 unidades da empresa possuem infraestrutura para produzir energia a partir da queima da biomassa. Juntas, as unidades termelétricas têm capacidade de geração de 940 MW por ano. E o setor sucroenergético tem um potencial de produção ainda maior. No início do ano, a Unica projetou que, até o fim de 2014, as usinas de cana-de-açúcar do Centro-Sul poderiam gerar até 14.000 MW por ano, o equivalente a uma usina de Itaipu. Outra vantagem da energia gerada a partir do processo produtivo da cana-de-açúcar é a localidade das unidades de produção. Tendo como base que 60% da energia consumida no Brasil vem do Centro-Sul do País, a mesma região onde estão concentradas as unidades sucroalcooleiras, há um ganho logístico nas linhas de transmissão, diferentemente do que ocorre com as fontes eólicas, concentradas na região Nordeste. Se o fator da proximidade fosse levado em conta, os preços em leilões de energia baixariam e, com isso, poderiam atrair mais investidores. Por enquanto as ações de contingência dos contratempos das hidrelétricas, que acabam sendo usadas quase constantemente, são as usinas a gás e a óleo (mais caras e mais poluentes). Sem contar que, nem sempre, a oferta desses combustíveis está disponível no mercado. É importante ressaltar que há espaço para o crescimento do setor sucroenergético. O Brasil é um dos principais produtores mundiais de açúcar – a maior parte da produção nacional é escoada para outros países, como China e Indonésia. Porém é preciso que, tanto a iniciativa pública quanto a privada, acreditem que esse seja o caminho. As oportunidades positivas, como o retorno da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) da gasolina, ou seja, o fim do subsídio ao combustível fóssil, e a valorização da bioeletricidade, devem ser mais exploradas. Seja no etanol, açúcar ou na cogeração de energia, a cadeia produtiva do setor é limpa e com um alto valor agregado. Ela traz desenvolvimento para o Brasil e, principalmente, para as localidades onde está inserida.
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entidade de produtores
em busca de interlocução e
de um norte
Como já é de amplo conhecimento público, inclusive do governo, todos os problemas e decisões que levaram o setor sucroenergético à dificílima situação em que se encontra, não nos deteremos nesse ponto. Nosso foco, neste artigo, serão as ações e medidas levadas pelo setor ao governo, através do Fórum Nacional Sucroenergético. Sem dúvida, a principal reivindicação feita por todas as lideranças, empresários e entidades ligadas à cadeia produtiva do etanol foi a correção do preço da gasolina na bomba de combustível, acompanhando as variações do preço do petróleo no mercado internacional. Medida que resolveria não só o problema do setor, mas também da Petrobras, que tem amargado prejuízos consideráveis com a comercialização da gasolina no mercado interno por um valor inferior ao de importação. Mas não fomos atendidos. Os argumentos para a negativa foram os mais variados possíveis: o reflexo que isso traria para a inflação no País; a oscilação do preço do petróleo; e que, com a evolução na extração do shale gas e do pré-sal, os preços poderiam ser derrubados a qualquer momento.
Essa talvez seja a maior dificuldade que enfrentamos. Apesar de sermos recebidos por diferentes órgãos do governo, e agradecemos por isso, até o momento, obtivemos poucas ações que realmente possam impactar na recuperação do setor. A cada dia, agrava-se mais a dificuldade, à mercê do mercado internacional de açúcar e ao sabor do clima, que também tem sido cruel, tanto no Nordeste do País, como em todo o Centro-Sul. Estiagens nos momentos de maior demanda de chuvas (a maior parte do crescimento da planta ocorre no período de verão) e excesso de chuva nos momentos em que seriam necessários menores volumes (no inverno, prejudica a colheita), isso sem contar a ocorrência de geadas mais ao Sul; tudo isso só veio agravar ainda mais a crise. O que mais nos prejudicou e assustou, principalmente aos grupos estrangeiros que investiram fortemente no setor nos últimos anos, foi a elevação do custo de produção: insumos, equipamentos, arrendamentos de terra e mão de obra. Aumentos que superaram, e muito, os índices de inflação.
Essa talvez seja a maior dificuldade que enfrentamos. Apesar de sermos recebidos por diferentes órgãos do governo, e agradecemos por isso, até o momento, obtivemos poucas ações que realmente possam impactar na recuperação do setor. " Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar, Sialpar, Siapar e Sibiopar
Em vez disso, tivemos a situação agravada com a retirada da Cide sobre a gasolina, aliviando a Petrobras, mas piorando a competitividade do etanol frente à gasolina. Solicitamos crédito para renovação dos canaviais e armazenagem de etanol para o período de entressafra, o que foi oportunizado, porém com vários entraves para acessá-lo. Poucas foram as usinas que puderam aproveitar os recursos. Outra solicitação, a isenção do Pis/Cofins, também nos foi dada, mas o seu impacto foi mínimo, atenuou pouco o prejuízo atual. Continuamos, ainda, aguardando outra medida que é fundamental para a reestruturação do setor e para a tomada de decisão nos investimentos: a criação de um marco regulatório que dê uma direção ao setor quanto ao futuro da matriz energética do País. Ficamos sem resposta.
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Com relação a esses custos, que medidas podemos tomar? Em muitos pontos, não temos muito que fazer. A produção de insumos, adubos e defensivos é controlada mundialmente por poucos. É assustadora também a exigência crescente em termos trabalhistas e ambientais, duas grandes “indústrias” que crescem a cada dia em nosso País, trazendo sérias dificuldades não só para o nosso setor, mas para todos os segmentos produtivos da economia. Sensatez talvez seja a grande pedida para a questão. Somos totalmente a favor dos direitos de nossos trabalhadores, que muito nos ajudam, e o setor tem investido pesado na segurança, qualificação, conforto e respeito de seu pessoal. Mas o nível de exigência feito por determinados órgãos acaba afetando a nossa competitividade.
Opiniões Trabalhamos com todo o respeito às questões ambientais. Em muitos aspectos, o setor foi além do que foi solicitado. Aprimoramos constantemente o cuidado com o ambiente e fazemos campanhas de conscientização das comunidades onde estamos inseridos. Pedimos apenas um olhar ao nível de exigência que nos fazem. Afinal, o Brasil é um dos poucos países que preservam suas reservas ambientais, e sua legislação é uma das mais exigentes do mundo. Dessa forma, o grande foco de nossas ações para recuperar nossa competitividade é o aumento de produtividade. Buscando contornar os problemas surgidos no campo, firmamos parceria com universidades e órgãos de pesquisa. As usinas também estão atentas ao interesse crescente da biotecnologia no setor em todo o mundo e às inúmeras possibilidades desse novo nicho de mercado. Sem dúvida, isso nos ajudará, mas são soluções de médio e longo prazo. De momento, podemos sugerir medidas que não causem impacto ao orçamento do governo neste ano. Uma delas seria retomar, de forma gradual, a cobrança da Cide sobre o combustível fóssil, poluente, em favor do combustível renovável. O valor arrecadado poderia ser utilizado na redução da tarifa de coletivos de transporte público, o que compensaria o aumento do combustível no cálculo da inflação. Outra sugestão seria criar um programa de reestruturação do setor, a exemplo do que já foi feito no passado com outros segmentos (Pesa, Recoop), através
da emissão de títulos do governo, com vencimento de longo prazo (20 a 25 anos). O título seria transformado em um ativo para renegociação, alongamento de dívidas ou investimento. Naturalmente, temos que reconhecer que medidas foram tomadas. Porém, para que haja uma retomada no investimento em novas indústrias, é necessário um plano de médio e longo prazo que possibilite um horizonte de retorno dos investimentos e que englobe todo o potencial produtivo da cana-de-açúcar, não só de açúcar e etanol, mas também de cogeracão de energia. Temos uma "Itaipu adormecida" no campo que pode trazer maior segurança energética, dando equilíbrio à produção de energia elétrica nos principais centros econômicos do País, dada a proximidade das usinas com estes. Isso diminuiria a dependência do sistema elétrico brasileiro das hidroelétricas, cuja produção é constantemente ameaçada pela instabilidade climática. Esse seria um tempo necessário também para dar escala e tecnologia ao etanol de segunda geração, que ampliaria, e muito, o volume de etanol por hectare, com o aproveitamento do bagaço e da palha no campo, acelerando a não queima da cana para colheita. O atual Ministro do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, pessoa do agronegócio, demonstra interesse na busca por soluções. Esperamos que seja ele o interlocutor tão esperado.
entidade de produtores
um cenário real demais Quando, a partir do final de 2008, o setor sucroenergético nacional sinalizou estar enfrentando dificuldades para continuar mantendo o forte nível de crescimento dos anos anteriores, admitiu-se, numa primeira avaliação, que se tratava de um processo de aperto no fluxo de caixa das empresas, motivado, unicamente, pelo desaparecimento súbito das linhas de financiamentos externas, como consequência do ambiente gerado pela crise financeira internacional de então. Não era, de todo, singela essa avaliação preliminar, na medida em que o setor sucroenegético tem um forte vínculo com o mercado exterior, quer seja pelos negócios de exportação de seus produtos açúcar e etanol, como pelo expressivo nível de investidores externos no setor. Tudo levava a crer que se estava enfrentando uma conjuntural escassez de fluxos financeiros advindos de poupança do exterior. Para suplantar essa escassez, foram disponibilizadas, à época, alternativas financeiras domésticas decorrentes de uma pronta ação governamental, as quais minorariam parte desse aperto no fluxo de caixa das empresas do setor e nos seus programas de investimentos. Permaneciam ativas as âncoras fundamentais do setor representadas na existência de um mercado de etanol crescente e de um largo espaço de crescimento de produção, sem desconsiderar a forte determinação empresarial de continuar investindo na expansão da atividade.
Entretanto a sua dimensão nacional, seu peso social na ocupação de postos de trabalho, com significativa remuneração, e interiorizada em quase todos os estados da federação, a expressiva renda gerada para os estados e municípios onde se localiza essa atividade, o alcance sustentável de uma atividade produtiva com inesgotáveis externalidades para o bem-estar do homem e do planeta sugeriam que seria proporcionado aos empresários e aos milhares de agricultores comprometidos com esse segmento o ambiente econômico adequado para que, no regime de livre mercado, pudessem visualizar a continuidade plena e progressiva de seus esforços para continuar produzindo e expandindo. Essa expansão continuada do setor só se visualiza e só se concretiza se for restabelecida a âncora fundamental da receita que suplante custos operacionais e restaure a margem para investimento. Nesse capítulo, vem se constatando o maior abandono a que uma atividade empresarial privada vem se submetendo na história econômica recente do nosso país, tendo como vetor principal a administração da política governamental federal com a formulação de preços para a energia, inclusive os combustíveis no nosso país. Não é inusitado associar a política do Governo Federal de congelamento do preço da gasolina como causa para a redução drástica de receita para o etanol combustível de produção privada, na medi-
Na medida em que se mantém artificialmente baixo o preço da gasolina, impõe-se ao etanol a prática de um preço abaixo da linha de custo, em função da competitividade energética entre os dois combustíveis. " Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Sindaçúcar - Alagoas
Contudo esse ambiente turbulento da época, que, aos poucos, ia sendo acalmado pelas atitudes empresariais, foi sucedido por três anos de safras consecutivos de adversidades climáticas e, por conseguinte, inibidores do processo de aumento da produção agrícola de cana-de-açúcar e, sobretudo, da produtividade geral da atividade agrícola e industrial de todo o sistema. Em que pese a adversidade climática se caracterizar como um elemento passível na atividade agrícola e, portanto, gerível pela experiência empresarial, passou a participar com uma ponderação muito forte nas dificuldades que o setor já vinha administrando pelo ambiente de financiamentos escassos, em função da intensidade desses atropelos climáticos persistirem por três safras seguintes. Estava, portanto, o setor sucroenergético diante do seu maior teste de resistência frente a um menu exagerado de dificuldades.
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da em que o etanol é o principal concorrente da gasolina na vertente do consumidor. Na medida em que se mantém artificialmente baixo o preço da gasolina, impõe-se ao etanol a prática de um preço abaixo da linha de custo, em função da competitividade energética entre os dois combustíveis. Essa assimetria na competição econômico-energética entre esses combustíveis em desfavor do etanol, além de subtrair a capacidade de geração de margens empresariais para continuar investindo na expansão, proporciona uma ocupação de espaço no mercado do etanol pela gasolina. Essa competição artificial favorecendo a gasolina em detrimento do esforço empresarial pela manutenção do etanol e de seu mercado natural está expressa na eliminação da Cide sobre a gasolina como opção governamental para esse artificial ambiente competitivo desfavorável ao etanol, desconsiderando todas
Opiniões as externalidades e a importância na produção e na expansão da oferta desse combustível para o Brasil. Como se pode continuar a desenvolver investimentos para a necessária expansão horizontal da produção de etanol e o aprofundamento do aumento da produção pela sua verticalização, com aumento de produtividade e inovação de processos, sem que não esteja definida, de forma estável e clara, a participação do etanol na matriz de combustíveis, bem como o restabelecimento do mecanismo tributário que assegure ao etanol o diferencial de alíquota necessária e suficiente para a sua convivência econômica com a gasolina? Vale lembrar que esse mecanismo tributário expresso através da Cide incidente sobre a gasolina teve a sua eficácia comprovada enquanto foi praticado e teve seus reflexos negativos sobre o setor sucroenergético evidenciados a partir da sua redução até a sua completa eliminação. A opção nacional pelo etanol é uma assertiva desde a sua implantação, em 1975, e, mais recentemente, ratificada na adoção e no estímulo na oferta e na circulação dos veículos flex, na opção de uso do etanol como combustível. Por que razão retirá-lo da política oficial de incentivos aos combustíveis limpos, cujo espaço foi duramente conquistado pelo esforço de tantos? Por que inibir a vontade empresarial privada de investir nesse segmento, com sinalizações governamentais de incertezas quanto ao seu futuro? Não é desconsiderável o que já foi realizado pelo governo através de ações como o retorno da mistura do etanol anidro na gasolina para 25%, a implantação do programa de financiamento para renovação de canaviais – Prorenova – e para a formação de estoques de etanol e a parcial desoneração do Pis e da Cofins.
Acontece que o ambiente econômico de baixa remuneração ao produtor e a eliminação de qualquer margem para cobertura de custos, de amortização e para formação de capital próprio para investimento transformaram essas medidas em ações pontuais, haja vista que não alcançaram, de forma universal, todos os produtores, ou mesmo a sua grande maioria. A permanência desse ciclo virótico asfixia o fluxo de caixa das empresas, reduz a sua capacidade de operação e de desenvolvimento pleno de suas regulares atividades e projeta para o futuro o cenário de instabilidade para a viabilidade do etanol como combustível alternativo e complementar à gasolina, num ambiente de livre mercado, considerando, porém, de forma clara e permanente, as externalidades positivas já reiteradamente demonstradas. Não é razoável e não há mais espaço para postergar uma atitude clara e definitiva para a inserção do etanol na matriz dos combustíveis e transferir aos empreendedores e ao mercado a sua natural evolução, mas a eles sinalizando e apresentando o arcabouço institucional que transmita aos investidores e aos agentes econômicos da cadeia produtiva a tranquilidade para continuarem gerindo os seus negócios, grandes e pequenos, com a certeza de que não haverá mudança de regras que substituam, intencionalmente, a opção do etanol pelo concorrente gasolina de forma subsidiada. Dessa forma, virão os investimentos que tanto se cobram do setor e a retomada da normalidade das operações de produção, e, assim, estaremos reencontrando o caminho da produção e do desenvolvimento sustentável e a evidência do compromisso desses milhares de empreendedores que não querem ser heróis, mas protagonistas do maior negócio sustentável de combustíveis do planeta.
entidade de produtores
o grave prejuízo da
intervenção
O setor sucroenergético iniciou mais uma safra de cana-de-açúcar sem que os graves problemas da política de preços no mercado de combustíveis fossem resolvidos e, pior, sem qualquer perspectiva de que isso ocorra neste ano. Com a Copa do Mundo se avizinhando e as eleições já estampadas nas páginas dos jornais, 2014 será mais um ano em que o setor enfrentará as consequências da drástica intervenção do poder público no mercado de combustíveis, com todos os males advindos e sem o tratamento saudável da livre concorrência que permita o retorno do crescimento do setor. De um lado, existe um populismo governamental maquiado como política econômica em manter congelado o preço da gasolina na bomba, apesar do grande prejuízo imposto à Petrobras, com defasagem de cerca de R$ 0,20/litro, levando-se em conta as importações e o preço comercializado no mercado nacional, além da indiferença ou da inércia do atual governo, que colocou os produtores de etanol sem saída no enfrentamento de uma concorrência desleal no mercado, o que já provocou o fechamento de 50 unidades no País.
Até aquele ponto, tudo está bem: as montadoras de veículos, distribuidoras e os milhares de donos de postos pelo País nunca ganharam tanto dinheiro quanto nos últimos anos, basta vermos o enorme movimento de automóveis nas ruas e avenidas das cidades brasileiras. Nos últimos anos, as vendas de novos veículos e o consumo de combustíveis do País superaram, em muito, os índices de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), como consequência clara da política de incentivo à aquisição de automóveis no País. O problema, contudo, está no primeiro e mais importante elo dessa grande cadeia, a produção de combustíveis. Ao ter como vontade política a manutenção dos preços da gasolina na bomba, o Governo Federal prejudicou, primeiro, a própria Petrobras, que, já há muito tempo, havia tomado a decisão de não mais investir na produção de gasolina no território brasileiro. Como consequência, observamos um movimento de importação de gasolina, sem o repasse dos custos aos consumidores, o que provocou grandes perdas à Petrobras, mexeu com as expectativas dos investidores do mercado e, mesmo com a descoberta do pré-sal, perdeu mais da metade de seu valor de mercado nos últimos quatro anos.
a indiferença ou da inércia do atual governo colocou os produtores de etanol sem saída no enfrentamento de uma concorrência desleal no mercado, o que já provocou o fechamento de 50 unidades no País " Mário Campos Presidente Executivo da SIAMIG - Minas Gerais
O preço do combustível é um fator determinante para o consumidor na hora de encher o tanque. Por isso, quando o governo decidiu manter artificialmente o preço da gasolina na bomba, já há oito anos, sem a contrapartida imediata de desoneração também para o etanol, o combustível fóssil ganhou terreno e avançou sobre os motores flex, provocando a atual depressão da indústria sucroenergética. Porém a manutenção dessa política trará consequências gravíssimas nos próximos anos. O sonho de ter um carro foi conquistado por grande parte da população, que não encontra qualquer problema no País para abastecê-lo, já que o Brasil possui uma rede de postos revendedores com grande capilaridade. Esses postos são abastecidos pelas companhias distribuidoras, que, por sua vez, compram o combustível dos produtores, armazenam e fazem a sua distribuição.
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Ao mesmo tempo, essa política desorganizou, substancialmente, a cadeia sucroenergética, que não consegue vender o etanol hidratado a preço competitivo frente à gasolina. De 2006 a 2014, o preço médio da gasolina vendida no Brasil subiu apenas 16%, passando de R$ 2,55 para R$ 2,95 o litro. Nesses quase oito anos, o índice oficial de inflação do governo IPCA totalizou, no acumulado, cerca de 54%. Os índices de inflação do setor sucroenergético foram ainda maiores, com majorações nos insumos, máquinas e implementos agrícolas, arrendamento e preço de terras, salários, entre outros. Para competir com o preço da gasolina e auferir rentabilidade, seria necessário um aumento da competitividade do setor (aumento de produtividade agrícola e eficiência industrial) acima de 4% ao ano, resultado impossível de se atingir.
Opiniões Parece haver também uma desorganização das ideias na condução da política de combustíveis no País, já que a recomendação, hoje, é a busca da sustentabilidade e a valorização das fontes renováveis, para conter o grave quadro de poluição e de mudanças climáticas que se apresenta, e não o inverso. Recentemente, o relatório do IPCC da ONU cobrou ações que agilizem a implantação, no mundo, da utilização de combustíveis limpos, como o etanol. Mas, no Brasil, o privilégio aos combustíveis fósseis pode se tornar irreparável e ocorrer um grave retrocesso, levando a uma matriz energética nacional mais suja. Algumas medidas adotadas em 2013 pelo Governo Federal, como a desoneração do Pis/Cofins, foram importantes, mas são somente paliativas frente à grande desorganização que a intervenção estatal impôs à cadeia produtiva. A dimensão do impacto é muito maior e não traz prejuízos somente aos produtores, mas a toda a cadeia produtiva, já que movimenta vultosos recursos na indústria de base e de maquinário agrícola brasileira. Além disso, existem milhares de agricultores que plantam cana e vendem às unidades produtoras e, assim, dependem da saúde financeira das empresas para receberem pela matéria-prima entregue. Soma, também, quase um milhão de trabalhadores diretos, que ajudaram a construir o grande sonho do combustível limpo e, hoje, estão vendo seus empregos ameaçados pela atual política. Por fim, temos que nos lembrar da dependência de centenas de pequenos municípios das agroindústrias, na geração de renda e nos impostos.
Infelizmente, há uma visão míope sobre o setor e sua importância para o Brasil, o que precisa ser rapidamente consertada, para evitar um efeito ainda pior sobre essa cadeia produtiva. Para se reeguer, o setor precisa contar com uma política consistente para o etanol, que reflita os benefícios ambientais, sociais, de desenvolvimento tecnológico (etanol de 2ª geração) e de redução dos custos, além do suporte para o crescimento da geração de energia elétrica do bagaço de cana, a bioeletricidade, que poderia estar contribuindo em muito para amenizar a crise atual do sistema elétrico nacional. Nesse sentido, as entidades estaduais do setor têm contribuído para o fortalecimento do Fórum Nacional Sucroenergético, a fim de unir forças em torno dos pleitos comuns e ampliar o relacionamento com o Executivo e o Legislativo nacional, além do suporte às frentes parlamentares de valorização do setor sucroenergético, com informações que possibilitem a ampliação do conhecimento dos vários temas de interesse e contribuam com as soluções necessárias. Para que não seja mais um ano perdido, as eleições deste ano podem ser também uma oportunidade para um debate com os candidatos aos governos Federal e estadual sobre a necessidade de incentivo a um dos setores mais importantes da economia brasileira. Não podemos deixar que um programa espetacular como o do etanol pereça ante o intervencionismo que se instalou na área de combustíveis e tenha o triste fim que se avizinha.
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gestão !
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foco em
Na década passada, o setor sucroenergético vivenciou um forte ciclo de expansão, pelo aumento da demanda de açúcar no mercado internacional e pela propagação do uso do etanol no País, na era dos motores flex. O avanço da cana-de-açúcar entre as safras 2001/2002 e 2008/2009 impulsionou grandes empresas, nacionais e multinacionais, em altos investimentos, e a produção brasileira de cana-de-açúcar cresceu a uma taxa de 10% ao ano, ciclo que foi interrompido pela crise mundial de 2008. Segundo a Unica, nas últimas cinco safras, 44 usinas fecharam, e outras 12 suspenderam suas operações, sendo que, somente neste ano, 6 usinas já entraram com pedido de recuperação judicial. O Governo Federal é constantemente responsabilizado pela crise, e as queixas vão desde o subsídio imposto ao preço da gasolina até a falta de políticas públicas, como a relação entre a mistura de etanol na gasolina. Uma política de estímulo à produção de etanol é o que muitos esperam ser a solução para a crise no setor, além da volta da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina. É evidente que a ausência de um planejamento estratégico claro e bem definido por parte do Governo Federal é fundamental para o desenvolvimento e o crescimento sustentável do setor.
Contudo já se vão quatro anos ruins, e as perspectivas para atendimento do pleito do setor ainda parece indefinido, apesar das desonerações tributárias relativas ao PIS e ao Cofins, que ainda não resultaram em relevantes resultados no caixa das usinas, especialmente. Assim, o que fazer? Desistir não é alternativa, visto as boas perspectivas no longo prazo. O consumo global de açúcar deve continuar crescendo a uma média de 2% ao ano, e, em algumas regiões como o leste, sul e sudeste da Ásia, ele deve aumentar em até 47% até 2020, influenciando positivamente os preços. O caso do etanol não é diferente. A demanda global pelo combustível deve aumentar em até 100%, indo para 167 bilhões de litros, segundo a Organização Internacional do Açúcar (OIA). Foco em gestão! Isso é o que está nas mãos das usinas! Um dos grandes desafios que se apresenta para a maioria das empresas desse setor é conseguir entender como as dificuldades “externas” impactam suas operações individuais e buscar alternativas e oportunidades, mesmo nesse cenário adverso. As empresas que conseguem se sobressair à crise são agentes de mudança não conformistas, buscando soluções viáveis. Diversos fatores “externos” contribuíram para a atual crise no setor.
Foco em gestão! Isso é o que está nas mãos das usinas! Um dos grandes desafios que se apresentam para a maioria das empresas desse setor é conseguir entender como as dificuldades “externas” impactam suas operações individuais. " Ana Paula Malvestio Sócia da PricewaterhouseCoopers
Quatro deles são considerados de grande relevância e trouxeram fortes impactos nas últimas safras: • elevação dos custos de produção; • alto endividamento; • carência de matéria-prima e; • carga tributária. O foco na gestão de cada uma dessas adversas situações pode apontar possíveis alternativas para superá-las, tendo como princípio que uma boa gestão empresarial é capaz de evitar situações adversas.
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Remoção de cor de açúcar, turbidez e filtrabilidade com ozônio Objetivos:
1. Inibir preventivamente os compostos precursores de cor – flavonóides e compostos fenólicos (naturais da cana) 2. Oxidação dos sistemas de dupla ligação para ácidos carboxílicos, álcoois e aldeídos 3. Abertura das cadeias aromáticas dos compostos fenólicos para propiciar sua oxidação 4. Destruir os agentes colorgênicos formados durante o processo - produtos intermediários da reação enzimática formadora da melanina 5. Modificar os agentes colorgênicos e propiciar que os mesmos sejam posteriormente removidos por precipitação ou filtração 6. Oxidação de outras cadeias aromáticas para a formação de quinonas e ozonídeos poliméricos Oxidação de aminas primárias para compostos nitrogenados
Benefícios:
Os resultados apresentados demonstram que é perfeitamente possível potencializar e maximizar os sistemas de remoção de Cor, Turbidez e Viscosidade através da aplicação do Ozônio e da Fosfatação de Caldo e Xarope para obtenção de açúcar tipo C2.2 (120 UI e 3,5 minutos de filtrabilidade) • Ambos os sistemas atuam sinergicamente • Grande remoção de custos na produção • Maior recuperação de açúcar • Maior valor agregado (qualidade do produto final)
O3 < + 2 H+ + 2 e-
E
Princípios da oxi-redução pelo ozônio: O2 <+ H2O
Eº = + 2,07 V (meio acido)
gasil.com.br
silton@silton.com.br Fone: 81 3471-8543
• O Ozônio não acidifica o meio e portanto reduz significativamente o consumo de cal (correção do PH) • Aumento do ciclo de operação dos evaporadores devido a menor incrustação (14 dias) • Reduz as perdas por inversão e destruição da sacarosa devido ao tempo de retenção nos evaporadores • Reação irreversível comparado com o enxofre (menor tendência ao retorno da cor do açúcar armazenado) • Em situações de DEXTRANA ≤ 2,000. a aplicação do Ozônio no xarope permite a produção de açúcar tipo C2.2
Resultados alcançados e conclusões:
• Redução do consumo de enxofre de 220 g/t cana para 40 g/t cana, podendo chegar a completa ausência do enxofre em períodos de melhor pureza da cana. • Redução consumo de cal • Ciclo de operação da evaporação de 8 para 21 dias • Incrustações de fácil remoção (limpeza somente com hidro lavadora, sem uso de acido e soda) • Sem uso de anti-incrustantes
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Algumas ações, nesse sentido, são o uso de indicadores Elevação dos custos de produção: A cadeia produtiva de produtividade, a implantação de controles e processos e de açúcar e etanol é bastante complexa. Do plantio da a adoção, cada vez maior, da agricultura de precisão. Essas cana ao produto final, inúmeros processos estão envolações podem garantir uma gestão agrícola eficiente e excevidos. Ter controles e manter esses processos otimizados lentes retornos de investimentos. são um grande desafio para a indústria canavieira. A falha Carga Tributária: A despeito dos positivos resultados e a ineficiência nesse quesito podem ocasionar considerádas intensas negociações com o Governo Federal para as veis incrementos nos custos de produção. O mapeamento desonerações de açúcar e do etanol, ainda não se pode dos controles internos dos processos e a adequação às constatar a eficiência dessa nova ordem, face aos acúmelhores práticas do mercado são alternativas que podem mulos de créditos de PIS e Cofins, o que faz com que as auxiliar as usinas a obterem maior eficiência. Só para ciusinas tenham que pagar para depois ver seu caixa ser tar como exemplo, tenhamos em mente os custos envolressarcido. vidos com pneus na área agrícola, sejam eles para recauOutro aspecto que merece relevante olhar para sua chutagem ou aquisição de novos. Se pudéssemos geri-los gestão são as obrigações de pagar tributos, que custam de modo a reduzi-los... aos contribuintes brasileiros (de médio porte) 2.600 hoDe maneira geral, a gestão de suprimentos e estoques ras anuais, enquanto a média mundial varia entre Estanas usinas é um grande desafio, e garantir a otimização dos Unidos em 187 horas e China em 398 horas. desses fatores, de maneira a sincronizar a demanda (neAlguns números que nos dão a dimensão do que cessidade) e o processo de compras (entrada), buscando estamos falando, associados ao aumento dos riscos de reduzir a quantidade de material imobilizado, é ter, comquestionamentos fiscais face ao crescimento da quanprovadamente, diminuição de custos. tidade de dados que ficam disponíveis on-line: R$ 5,2 Alto endividamento: As estimativas apontam que as usibilhões de NF-e emitidas desde 2005, 879 mil emissores nas na região Centro-Sul, maior produtora de cana-de-açúde NF-e, 1,5 milhão de empresas transmitiram a EFDcar no País, iniciarão a safra 2014/15 com um endivida-Contribuições em 2013. mento de R$ 65 bilhões. O alto volume de dívidas comproO setor enfrenta outros desafios além desses, mas, mete a rentabilidade do negócio. face à viabilidade do mesmo, resta-nos investir na supePortanto um novo olhar para a gestão orçamentária, a ração dos desafios e na retomada do crescimento. renegociação de dívidas, a alienação de ativos com vistas A escolha da melhor alternativa é uma decisão exà capitalização das usinas podem ser alternativas para reclusiva de cada usina e deve refletir a sua realidaduzir o endividamento. Além disso, novos e diferentes esde, em termos de estratégia, planejamento, recursos forços podem ser direcionados para captação de recursos, humanos, infraestrutura, governança e organização. de maneira competitiva, analisando as melhores linhas de A combinação dessas dimensões é essencial para o financiamento ou formas de alternativas de captação. sucesso de qualquer negócio, esteja o setor passando Carência de matéria-prima: A carência de matériapor uma crise ou não. -prima tem aumentado nas últimas safras. Caso as usinas Assim, em tempos difíceis, com uma boa análise innão consigam garantir o seu suprimento de cana e a sua taxa terna, uma boa gestão e com a adoção de melhores práde ociosidade continue elevada, ocasionando em aumento ticas, esses impactos podem ser minimizados, e os bons dos seus custos operacionais, ficará difícil a obtenção de resultados serão apurados. Uma empresa fundamentada rentabilidade. Assim, foco na gestão para o suprimento de em princípios de boa gestão não só sobreviverá como matéria-prima é essencial, devendo as usinas buscar tanto sairá fortalecida de mais uma crise. o aumento de produtividade da chamada cana “própria” como o fornecimento de cana por terceiros. Outro importante aspecto DESAFIOS ALTERNATIVAS - SOLUÇÕES a ser considerado é a gestão de relacionamento com for• Controles internos de processos necedores de cana. Por que Elevação dos custos de produção • Melhoria de processos não se investir em programas • Compras estratégicas de fidelização de fornecedo• Otimização de estoques res? Segundo a Unica, o setor conta, hoje, com 70 mil for• Reestruturação financeira Alto endividamento necedores de cana, respon• Gestão orçamentária sáveis por cerca de 30% da • Renegociação de dívidas bancárias cana processada no País. Isso significa que, na média, cer• Gestão de fornecedores Disputa por matéria-prima ca de 1/3 da cana moída por • Gestão de performance agrícola uma usina é proveniente dos fornecedores. • Otimização dos custos tributários Outro quesito que também operacionais agrícolas, industriais e logísticos interfere no suprimento das Carga tributária • Gestão para afastar acúmulo de créditos usinas é o desempenho agrí• Escoamento de créditos cola. Garantir uma boa produ• Revisão das obrigações acessórias tividade no campo é essencial para o seu abastecimento.
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COOPERATIVISMO Motivo de orgulho para Sertãozinho e Região, o sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred mostra que o cooperativismo faz a diferença para toda a sociedade, promovendo desenvolvimento econômico e igualdade.
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os caminhos para a
sobrevivência
Estamos cansados de saber que o setor sucroenergético está sofrendo nas mãos do governo que, desde 2008, mantém defasados os preços dos combustíveis. Os grandes grupos que detêm ao redor de 50% da produção canavieira, de certa forma, já traçaram seu caminho e adotaram o “gigantismo”, que lhes permite uma produção em maior escala e ganho de competitividade. Seria esse o caminho para a sobrevivência? Por outro lado, a outra metade da produção, nos últimos cinco anos, está lutando contra enormes dificuldades que vêm, gradativamente, aumentando seu endividamento e reduzindo sua capacidade de honrar seus compromissos.
Um adequado ajuste de preços nos combustíveis colocará o setor sucroenergético novamente nos trilhos. Depois disso, o mercado fará o resto, como manda o bom senso e as leis da livre economia, sem as desastrosas intervenções do Governo Federal. "
Dib Nunes Jr. Diretor do Grupo IDEA
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Nesse período, os custos de produção subiram tanto que o setor acumulou dívidas e perdeu competitividade. A saída para muitas dessas usinas continuarem funcionando foi recorrer à Lei 11.101/2005, que regulamentou a Lei de Falências e Recuperação Judicial (RJ), esta última equivalente à antiga concordata. Entrar em RJ foi a atitude extrema dessas empresas, com o objetivo de superar a crise financeira, permitindo a manutenção da produção, dos empregos, dos interesses dos credores e da preservação do negócio, cujo papel para a sociedade e a economia local é de fundamental importância.
Opiniões Hoje, há mais de 30 empresas operando sob a lei da RJ, como é chamada, sendo que, se a situação continuar como está, esse número pode dobrar em apenas um ano. Deveriam as demais empresas se unir para formar um bloco de endividados e entrar com um único pedido de RJ; poderiam, assim, ganhar escala de produção e voltar mais ajustadas ao mercado. Será que isso é possível? Para isso, alguém precisa dar o primeiro passo. A alternativa escolhida por 59 empresas sucroalcooleiras foi paralisar as atividades, esperando por um melhor cenário econômico para o setor. Seriam esses os melhores caminhos para a sobrevivência? O setor sucroenergético tem sido vítima das políticas públicas desastrosas que levaram à “bancarrota” várias usinas que produzem açúcar, etanol e bioeletricidade e também levaram para o buraco a Eletrobras e a maior de todas as empresas da América Latina, a nossa gloriosa Petrobras. Essa Petrobras que era nosso orgulho está, hoje, totalmente dilapidada por ter sido usada como ferramenta de combate à inflação e, principalmente, pelos vergonhosos e despudorados escândalos de corrupção que desviaram milhões de dólares de seu caixa na compra de refinarias no exterior, plataformas de petróleo, entre outros investimentos malsucedidos. O governo, no tempo do Lula, criou a Petrobras Biocombustível e investiu no setor. Sob o governo de Dilma, tomaram-se outros rumos, preferindo estimular o consumo da gasolina poluente e importada em detrimento do etanol limpo e brasileiro. O pior de tudo é que essa política trouxe o maior dos cúmulos: a importação de gasolina por um preço superior ao que se vende aqui dentro, contribuindo, assim, para o aumento do rombo do caixa da estatal e afundando de vez o maior programa de combustível limpo do mundo. Para segurar o preço da gasolina, o governo ainda retirou a Cide desse combustível e o manteve para o etanol. Não seria mais racional se esse dinheiro desperdiçado pela Petrobras tivesse sido direcionado para a produção de etanol? E os subsídios de R$ 63 bilhões que serão distribuídos ao setor elétrico? Com esse dinheiro, poderia ter sido edificado um vigoroso programa de bioeletricidade. Diante disso, muitas empresas do setor chegaram a pensar em reduzir significativamente sua produção de cana e etanol e se dedicar exclusivamente à produção de açúcar, cujo mercado externo consome dois terços da produção brasileira. Seria esse o caminho para a sobrevivência do setor? Nos últimos cinco anos, o setor sofreu, e ainda está sofrendo, grandes transformações, que, somadas ao congelamento de preços do etanol, fizeram com que o setor se mobilizasse, em busca de alternativas por sua própria conta. As principais atitudes e ajustes que as empresas sucroenergéticas fizeram foram: • Permuta de canaviais entre usinas vizinhas, visando reduzir a distância e o custo de colheita; • Redução do valor do arrendamento de terras para níveis suportáveis; • Aumento da mecanização no plantio e na colheita, reduzindo os gastos com mão de obra; • Alteração no sistema de preparo de solo, optando por sistemas multifuncionais mais baratos; • Adoção de novos espaçamentos, visando aumentar a po-
pulação de plantas por hectare e, com isso, melhorar a produtividade agrícola; • Rigoroso controle de tráfego na lavoura, para reduzir os danos por compactação; • Severa redução no quadro de colaboradores nas diversas fases do processo produtivo, tanto na lavoura como na indústria; • Aprimoramento dos processos gerenciais, visando ganhar eficiência e reduzir desperdícios; • Devolução de arrendamentos de terras improdutivas e não mecanizáveis; • Utilização de modernos produtos químicos para o controle de plantas daninhas e pragas da cultura; • Terceirização dos serviços para reduzir a necessidade de investimentos e a folha de pagamento; • Substituição rápida de variedades pouco produtivas ou com problemas fitossanitários, para ganhar produtividade; • Investimentos na cogeração de energia elétrica, criando nova fonte de renda a partir do bagaço e da palha; • Prolongamento do período de safra, para dar melhor aproveitamento à estrutura existente; • Planejamento de venda dos produtos, utilizando mecanismos de hedge para garantir preços; • Investimentos em treinamento e capacitação profissional de seus funcionários para melhorar a produtividade geral; • Aprimoramento da logística de transporte, através de investimentos em ferrovias, hidrovias e dutos; • Realização de investimentos em biotecnologia e etanol de segunda geração para a maximização da produção agrícola; • Modernização da sua frota de caminhões e máquinas, para reduzir seus custos; • Implantação de novos processos de limpeza de cana a seco, para melhorar a qualidade da matéria-prima; • Substituição de velhas caldeiras por estruturas mais eficientes e mais potentes, viabilizando a cogeração de energia elétrica; • Busca por novos parceiros em bioeletricidade; • Renegociação de dívidas com bancos e fornecedores, melhorando sua capacidade de honrar compromissos. A maioria das ações relacionadas necessitam de investimentos, de capacidade técnica e de gestão, além de apoio de consultorias especializadas. Não são todas as empresas que podem dar-se a esse “luxo”. Seriam esses os melhores caminhos? Como se vê, quase nada dessas atividades dependem do governo, aliás, do governo só precisamos mesmo é da atualização dos preços dos combustíveis, que deverá ser feita oficialmente após as eleições (ou será feita “na marra” pelo próprio mercado). Apesar de tudo, o setor ainda continua razoavelmente estruturado, com pessoas capacitadas e mais de 8 milhões de hectares cultivados, somente no Centro-Sul do Brasil. Porém o setor permanece em compasso de espera, pronto para responder a estímulos de preços e, assim, voltar a crescer de forma vigorosa e organizada. Está pronto para atender às demandas nacionais por combustíveis, sem necessidade de importação de gasolina. Um adequado ajuste de preços nos combustíveis colocará o setor sucroenergético novamente nos trilhos. Depois disso, o mercado fará o resto, como manda o bom senso e as leis da livre economia, sem as desastrosas intervenções do Governo Federal.
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Opiniões
dois negócios vitais: alimento e energia Quando me perguntam por que eu acredito tanto no setor sucroenergético brasileiro, respondo prontamente: Porque produz alimento e energia renovável, itens extremamente necessários para a humanidade, logo, não tem como dar errado. Quando me perguntam por que esse setor está sempre reclamando da situação, aí eu recorro à minha "bagagem" de 42 anos como diretor de grandes usinas para afirmar que os empresários do setor precisam “acordar” e passar por uma realidade inevitável: a de promover uma mudança de atitude e assumir que o negócio é viável, mas requer um bom planejamento e ser conduzido por uma gestão de qualidade, transparência e confiabilidade – fatores que o mercado realmente valoriza e de que carece. O modelo das décadas anteriores foi conduzido com acertos e erros, e conseguiu sobreviver e amadurecer, mas, agora, é preciso se reinventar e ter nova identidade, e não ficar esperando que as políticas públicas sejam a “tábua da salvação”, até porque como é que se pode acreditar num governo que, na campanha eleitoral, prometeu reduzir a carga tributária, mas a sobe a cada ano; prometeu acabar com a corrupção, mas os escândalos são cada vez mais assustadores; prometeu promover o crescimento do País, e só andou para trás; prometeu combater a inflação, e estamos numa onda que não sabemos aonde vai dar; prometeu proteger as empresas estatais da privatização, e está quebrando todas; prometeu maior segurança, e o que vemos é uma verdadeira guerrilha sem impunidade, porque ele próprio desmoralizou os poderes deste País; prometeu investir em saúde e educação, e, na prática, vemos um retrocesso sem igual. Então, não dá para ficar esperando. É bem verdade que esse setor depende de algumas variáveis incontroláveis, mas plantar cana numa distância menor de 50 quilômetros do local de processamento é uma variável controlável; conseguir maiores índices de produtividade e eficiência nos canaviais e na indústria é um trabalho que muitos já fazem, com bons resultados; e já passa da hora de se fomentar a multiplicação desses pontos positivos, como estes exemplos, todavia, é preciso que se faça uma seleção dos empreendimentos, e os que não apresentarem viabilidade, que sejam descontinuados. É um desafio e tanto, por que o setor é individualizado e a situação requer um modelo corporativo, afinal, por que o Brasil, sendo o maior produtor de açúcar, não consegue equilibrar o balanço entre oferta e demanda? Por que, ao longo do tempo, o setor foi se pulverizando, ao invés de se organizar melhor nos aspectos técnicos e mercadológicos? Por que o setor não se lança na comercialização do etanol mais globalizado, fazendo com que os combustíveis E85 e E25 sejam padronizados nas Américas e em outras
o sucesso não está somente no ato de vencer sempre, mas, sim, na arte de reerguer-se e de ainda ter forças para persistir na busca da vitória "
Sebastião Henrique Rodrigues Gomes
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regiões, interagindo com outros combustíveis disponibilizados para motores que, por questões técnicas, funcionem exclusivamente com a gasolina, o diesel, o GNV, etc. Essa iniciativa deve partir do setor e requer como atitude se organizar e mudar de “coadjuvante” para “concorrente”, quando o jogo passa a ser pesado. Pode-se dizer que se precisa alterar as legislações; mas não é só: é preciso mudar tudo o que cerca esse segmento para que os resultados melhorem. Continuar como está vai levar todos para um precipício não desejável. O papel da Unica, que, até então, trabalhou com maestria pelo setor, também tem que ser reinventado, tapinha nas costas não funciona mais e não traz benefício à coletividade. Lembram-se do comentário do governo de que a crise financeira internacional se tratava de uma “marolinha”? Pois bem, há muitas empresas boiando até hoje. Essas terminologias foram e estão sendo utilizadas para isentar-se de culpa, quando, na verdade, são subterfúgios para encobrir problemas bem mais sérios que prejudicam nosso País. As indústrias estão sofrendo muito e deixaram de ser competitivas. É hora de o setor sucroenergético acreditar em si próprio e ter coragem para transformar as usinas em biorrefinarias, modernizar-se; arregaçar as mangas para consolidar produtos de maior valor agregado, como o etanol celulósico, e de outros derivados. É preciso ser mais agressivo no marketing ambiental: atualmente há fatos concretos de alteração no clima, principalmente pela queima de combustível fóssil, e o setor está inerte, quando deveria capitalizar muito mais, conscientizando o mundo do benefício de usar energia renovável. Isso é sair da zona de conforto. É mister fazê-lo. Não defendo o isolamento do governo, pelo contrário, ele deverá sempre ser o grande parceiro, mas não o mandatário. Há muito cinismo nesse tipo de relação, e ele, regra geral, não faz a parte dele. Um regime democrático é bom quando há disciplina na sua condução, e podemos exigir isso dos nossos políticos e governantes, afinal, somos nós que pagamos os seus salários, e, como tal, esse recurso deveria apresentar retorno positivo. O grande inimigo do setor nos parece ser ele próprio, que posterga atitudes, permanecendo passivo; quando, nos tempos de empolgação, acabou dando passos maiores que as pernas. Entretanto o sucesso não está somente no ato de vencer sempre, mas, sim, na arte de reerguer-se e de ainda ter forças para persistir na busca da vitória.
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2014
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como pensar de maneira
sustentável Com uma trajetória que se confunde com a história do próprio País, o setor sucroalcooleiro transita da condição de promessa de salvação para um pesadelo de falências e desemprego. Assolado por uma política de preços de combustíveis equivocada, falta de coesão interna para consolidar uma liderança capaz de conduzir propostas consistentes e de representação política em busca de alteração de cenários, o setor, mais uma vez, é convidado a se reinventar.
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As dificuldades começaram a se agravar a partir da crise mundial de 2008, entre outros fatores, pela forte intervenção do Governo Federal no preço dos combustíveis fósseis. Desde 2009, 44 usinas deixaram de operar, e, com isso, mais de 30 mil postos de trabalho foram perdidos. Há previsão de que outras 12 empresas, sem condições financeiras de operação, possam encerrar as suas atividades ainda na safra de 2014.
Desde 2009, 44 usinas deixaram de operar ... mais de 30 mil postos de trabalho foram perdidos. Há previsão de que outras 12 empresas ... possam encerrar as suas atividades na safra de 2014. "
Rosmary Delboni Consultora da Key Associados
O cenário se torna ainda mais sombrio, difícil de compreender – e aceitar – por se tratar de um setor que se apresenta como solução em plena crise mundial por energia limpa e em busca de alternativas para combustíveis fósseis. Por que um setor que dispõe de tecnologia suficiente para chegar a uma matriz de fonte renovável, flexível, capaz de produzir açúcar, etanol e eletricidade, com potencial para se tornar ainda mais competitivo com produção de etanol de segunda geração, por exemplo,
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Opiniões se encontra em situação tão precária? Competência técnica, disposição e capacidade produtiva não é o problema, pois, apesar da severa seca no Sudeste brasileiro, no início do ano, que responde por cerca de 90% da produção total do País, o Brasil ainda conseguirá produzir volumes recordes de cana-de-açúcar e etanol na safra 2014/2015, na avaliação da estatal Conab - Companhia Nacional de Abastecimento. A produtividade agrícola, em razão da falta de chuva em importantes áreas produtoras em janeiro e fevereiro, meses em que são esperadas chuvas determinantes no rendimento, cairá para 75,8 toneladas por hectare, ante as 77,8 toneladas na safra passada. Porém essa quebra será compensada pela expansão da área cultivada, estimada para o Centro-Sul em 4,5%. A área a ser colhida nessa região deve ficar em 8,08 milhões de hectares na safra 2014/2015, disse a Conab, que estimou e divulgou, no início de abril, uma produção histórica de cana, tanto para o País, de 671,7 milhões de toneladas, quanto para o Centro-Sul, de 613 milhões de toneladas. A indústria e especialistas de mercado discordam da Conab com relação à produtividade, pois consideram que o impacto da seca produzirá perdas mais significativas, e estimam, aproximadamente, 570 milhões de toneladas de cana para essa safra. Mas todos estão de acordo quanto à expansão da área cultivada. A estatal apontou um crescimento de área plantada de 3,6% para o País com relação a 2013/2014 – um recorde de 9,13 milhões de hectares, em decorrência do crescimento de áreas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, onde se concentra o maior número de novas unidades, que sustentaram esse aumento de 12,87 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para processamento. Para o Centro-Sul, onde a moagem de cana começou oficialmente neste mês, o primeiro levantamento da Conab estimou a produção de açúcar em 35,9 milhões de toneladas, ante 34,4 milhões em 2013/2014. O levantamento realizado entre 9 e 22 de março deste ano apontou, ainda, a produção total de etanol do Centro-Sul, para 2014/2015, em 26,3 bilhões de litros, contra 26 bilhões em 2013/2014. A produção de açúcar do Brasil, incluindo o Nordeste, foi apontada também em históricos 39,45 milhões de toneladas, e a de etanol do País em 28,37 bilhões de litros. As estimativas são consideradas muito otimistas, mas, à medida que a safra se desenvolver, com o progresso da colheita, os números serão ajustados à realidade, naturalmente. Mas, acima de tudo, ainda que se tenha de passar por ajustes, esses números nos mostram a capacidade de superação da indústria sucroenergética, que, no ápice de uma das mais severas crises que a acomete, continua com potencial para ser a resposta a um dos grandes problemas da atualidade: energia. Energia limpa e renovável para combustível e eletricidade. Porém a realização desse potencial está seriamente ameaçada e depende do enfretamento, no curto prazo, do que se tem apresentado, há muito tempo, como desafio de grande impacto para o setor: política de preços de combustíveis instituída pelo governo, que, ao desonerar o combustível derivado do petróleo de maneira
irreal, penaliza o preço do álcool estabelecido em proporção direta ao preço da gasolina. O etanol compõe uma matriz energética estratégica para um mundo cada vez mais ameaçado e consciente dos problemas advindos dos combustíveis fósseis, e a queima da biomassa (bagaço e palha da cana) pode ser uma fonte significativa de energia, como complemento e alternativa às termelétricas acionadas por carvão (óleo e gás). Ainda que houvesse polêmica sobre as mudanças climáticas serem causadas pela atuação humana e, principalmente, por emissão de gases de efeito estufa gerada pela queima de combustíveis fósseis, a terceira e última parte do quinto Relatório de Avaliação feita por cientistas do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, além de jogar uma pá de cal sobre a questão, afirma que são necessárias ações urgentes para cortar as emissões de gases de efeito estufa e conseguir limitar o aquecimento do planeta a 2ºC até o ano de 2100. Segundo os cientistas, é preciso abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas, para evitar o efeito estufa, que poderá provocar um aumento da temperatura do planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o que seria um nível catastrófico. O documento, chamado de "Sumário para os Formuladores de Políticas", divulgado dia 13 de Abril passado, em Berlim, apresenta ideias de como limitar o impacto das alterações do clima a partir da análise de 900 modelos econômicos, formulados por governos e pesquisadores, com o objetivo de chamar a atenção de governantes e sensibilizá-los para a necessidade de mudanças drásticas em relação à emissão de gases do efeito estufa de modelo geral e, especialmente, em relação ao modelo atual de produção de energia. Apesar de os cientistas apontarem a inovação no setor de energia como forma de reduzir as emissões de carbono, as políticas públicas brasileiras para energia, em todas as suas formas, seguem, atualmente, na contramão do razoável. Mais do que não aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética, de forma sustentável, e acionar termelétricas para aumentar a oferta de eletricidade no País, a política de preços instituída pelo governo para combustíveis e energia ameaça de forma direta a existência de um setor que já foi referência em alternativa energética. Há necessidade de uma reflexão multilateral envolvendo empresários do setor, lideranças e governo. Uma análise profunda, séria, que possa conduzir à formulação de políticas que permitam ao setor produtivo da cana-de-açúcar, com conhecimento das regras, investir e se manter enfrentando as dificuldades inerentes à atividade empreendedora, que já não são poucas e nem pequenas para qualquer segmento; isso poderia contribuir de maneira significativa para mudar os rumos atuais. Buscar novas formas de atuar, pensar diferente, com um novo modelo mental, se reinventar parece ser o caminho possível em busca da solução que nos permita continuar dispondo de um setor produtivo forte, fonte de energia renovável para o próprio País.
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consultores e cientistas
bioenergia:
queremos enfrentar a Noruega ou a Venezuela?
2014 é o ano da Copa do Mundo no Brasil. Dentro de alguns dias, teremos, em nosso País, o maior torneio de futebol do planeta, acontecimento que, desde 1950, não ocorre em nosso território. Acreditamos que temos os melhores jogadores do mundo e que nossa seleção, se bem escolhida, escalada e treinada, seja imbatível. Mas, saindo das chamadas quatro linhas e indo para o campo da energia elétrica renovável, como estamos? Quando o assunto é energia elétrica renovável, atualmente, dentre os grandes produtores e consumidores desse recurso (acima de 80 TWh/ano), somos derrotados apenas pela Noruega, que possui uma matriz elétrica mais limpa do que a nossa, com 96,5% de renováveis contra 87,1% da brasileira, segundo informações disponibilizadas pelo Banco Mundial em 2011.
Isso porque apenas cerca de 30% das usinas e destilarias produzem e comercializam energia elétrica excedente. Utilizando tecnologias convencionais e apenas o bagaço, que resulta após o processamento da cana, teríamos condição de chegar a quase 9% do consumo nacional de energia elétrica e desligar muitas das térmicas fósseis atualmente em operação. E mais, temos um outro jogador no banco que ainda não foi ao embate. A palha de cana, que, com a eliminação da queimada que antecedia o corte e a crescente utilização da colheita mecânica, acaba sendo deixada nos canaviais sem qualquer uso econômico. É bem verdade que, em algumas regiões, a manutenção da palha sobre o solo ajuda a manter umidade e nutrientes benéficos à planta cana-de-açúcar, mas as quantidades são enormes, e a
Olhar para a palha de cana apenas como um simples reserva para entrar no segundo tempo poderá fazer com que fiquemos bem atrás no placar e pagar um preço muito alto para apenas assistir ao jogo. "
Marcelo Pierossi e Francisco Linero Especialistas de Tecnologia Agrícola do CTC
O mais preocupante é que outros países vêm se aproximando do nosso, ou melhor, nós mesmos estamos relaxando e, ano a ano, observamos nosso índice ser reduzido em função de uma maior participação das usinas térmicas a gás, a óleo e até a carvão. Atualmente, a Venezuela é a terceira da lista. Temos abundância de recursos renováveis que poderiam elevar nosso índice para enfrentar, em igualdade de condições, a Noruega ou qualquer outro país. Atualmente, o setor sucroenergético disponibiliza para a rede apenas cerca de 3% do total da energia elétrica consumida no País.
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manutenção de apenas uma parcela do total de palha disponível já seria suficiente para os benefícios agronômicos. A palha representa 1/3 do total da energia da planta cana-de-açúcar. Uma terça parte dessa energia está na sacarose, que é convertida em etanol ou açúcar, e a outra terça parte está contida no bagaço de cana, que é utilizado internamente nas usinas para geração de energia térmica, mecânica e elétrica no processo de fabricação e ainda é suficiente para gerar os excedentes de energia elétrica aqui comentados.
Opiniões Apenas na região Centro-Sul do Brasil, considerando-se o esmagamento de 600 milhões de toneladas de cana, teríamos disponíveis no solo, após a colheita, cerca de 35 milhões de toneladas de palha (já descontada a parcela que fica no campo). Todo esse material, se recolhido adequadamente e processado, poderia gerar outros 24 TWh de energia elétrica por ano, ou aproximadamente 5% do consumo nacional. A capacidade anual prevista para a hidroelétrica de Belo Monte é de 40 TWh. Toda essa palha representa, em peso, mais do que toda a cana da Austrália, portanto o seu aproveitamento deve ser encarado como uma nova colheita. Os números são significativos. Prover os canaviais de equipamentos adequados para colher e transportar a palha, removendo a quantidade correta, sem causar impactos à sustentabilidade da produção de cana-de-açúcar, e instalar, nas unidades industriais, os sistemas que processem essa enorme quantidade de palha, coordenando uma cadeia produtiva com viabilidade econômica, é imprescindível para bons resultados. Aqui, o jogo não é para amadores. Olhar para a palha de cana apenas como um simples reserva para entrar no segundo tempo poderá fazer com que fiquemos bem atrás no placar e pagar um preço muito alto para apenas assistir ao jogo.
Ponteiro
Folhas verdes Colmo Folhas secas
1 tonelada de cana (COLMOS) 140 kg de açúcar 280 kg de bagaço (50% umidade) 280 kg palha (50% umidade) * TOTAL
Energia (MJ) 2.300 2.100 2.100 6.500
Da mesma forma, a indústria também deve se preparar para esse novo material. Equipamentos específicos para o processamento dessa grande quantidade de material devem ser previstos, assim como seus impactos em equipamentos existentes. Ao contrário do bagaço de cana, que sempre foi considerado um resíduo do processo disponibilizado a custo zero, a palha, para ser trazida à usina, acarretará custos adicionais. O processo de enfardamento da palha no campo e o seu processamento na indústria nos mostram ser mais econômicos quando as quantidades são significativas, e, consequentemente, as distâncias de transporte são longas. Da mesma forma, a adoção de equipamentos de alta eficiência é muito importante para garantir custos adequados de produção. Novas e promissoras tecnologias, como o etanol de segunda geração, certamente, também vão necessitar de palha adicional para ganho de escala de produção. Assim, temos condições, no que se refere à produção de energia elétrica renovável, de também sermos os primeiros do mundo em um curto intervalo de tempo. O setor sucroalcooleiro tem condições de colocar uma grande quantidade das térmicas a gás no banco de reservas. Pode parecer absurdo deixar no banco um jogador tão caro e com tanto potencial, mas a população certamente se beneficiaria, tanto monetária como ambientalmente.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pais Noruega Brasil Venezuela Canadá Suécia Espanha Itália Argentina Turquia Alemanha
EE(TWh) * 126,9 531,8 122,1 636,9 150,2 289,0 300,6 129,6 229,4 602,4
´
% Renovavel 96,5 87,1 68,5 62,3 55,9 29,8 27,6 26,0 25,3 20,4
(*) Energia eletrica consumida em 2011 (TWh)
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ensaio especial
Opiniões
baixa produtividade:
só a quebra de paradigma pode resolver
Na atual crise do setor sucroalcooleiro, há diversos fatores envolvidos, e, neste número da Revista Opiniões, eminentes analistas estão opinando sobre cada um deles, independente de suas grandezas relativas. Uma questão que veio à tona foi a queda de produtividade dos canaviais, algo que potencializou a crise. Uma crise é sempre indutor de reflexões e, geralmente, vetor de mudanças. O setor sucroalcooleiro, secularmente, vem passando por mudanças socioeconômicas e tecnológicas, mas a planta de cana-de-açúcar, intrinsicamente, não mudou: sempre foi explorada como planta produtora de sacarose. E o melhoramento genético trabalhou nos últimos 100 anos com este objetivo: criar variedades com bom teor de sacarose e, contrariamente, com baixo teor de fibra, uma exigência da indústria para facilitar a extração do caldo. Aí é que reside o problema, como se explicará a seguir. O melhoramento genético da cana-de-açúcar através da hibridação iniciou-se há mais de 100 anos, em Java (hoje Indonésia). Naquela época, na maioria dos canaviais do mundo, eram cultivados tipos de Saccharum officinarum L., as canas “nobres”, como foram chamadas, de colmo bastante grosso (3-4 cm de diâmetro), vistoso, macio e bastante açucarado. Mas, depois de mais de 100 anos de cultivo, passaram a apresentar muita queda de produtividade em razão do acúmulo de doenças. Então, os cientistas da antiga colônia holandesa de Java visualizaram a hibridação com espécies selvagens como meio de incorporar genes não só de resistência como também de rusticidade. Porém os clones em F1 (primeira geração) tinham excessivo teor de fibra e baixo teor de sacarose, uma combinação inadequada para o padrão industrial. Houve, então, necessidade de retrocruzamentos – cruzar os filhos com a mãe, depois os netos, e, assim, sucessivamente alguns ciclos, para aumentar a participação do genoma de S. officinarum – e chegar a materiais que tivessem um equilíbrio adequado entre teor de sacarose e teor de fibra, ao mesmo tempo atendendo a todas as demais características agronômicas. A grande dificuldade sempre foi chegar a esse equilíbrio, pois a necessidade de se ter alto teor de sacarose significa ter menor participação do genoma selvagem (S. spontaneum) e, consequentemente, o híbrido, perdendo as características que foram a razão da hibridação – a resistência a doenças e a rusticidade conferida por esse ancestral selvagem.
Uma questão que veio à tona foi a queda de produtividade dos canaviais, algo que potencializou a crise. Uma crise é sempre indutor de reflexões e, geralmente, vetor de mudanças. "
Sizuo Matsuoka Diretor da Vignis
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Esse processo foi basicamente replicado em todos os programas de melhoramento de cana-de-açúcar, que foram, posteriormente, estabelecidos no mundo, e, assim, os híbridos modernos apresentam um equilíbrio tênue entre teor de sacarose e teor de fibra. Isso se constitui grande obstáculo ao avanço: chegou-se a um patamar de produtividade em que ganhos futuros serão limitados, isto é, as novas variedades darão pouca contribuição para o aumento de produtividade. Essa afirmativa pode chocar num primeiro instante, mas uma análise histórica das produtividades de todas as regiões canavieiras do mundo mostra exatamente isto: não tem havido mais ganhos significativos de produtividade nas últimas décadas. A constatação clara é que se chegou a um patamar de produtividade difícil de ser suplantado pelo tradicional “modelo” de variedades. Mas logo viria a pergunta: as variedades tiveram culpa no cartório na atual crise? Afinal, vários fatores são apontados como responsáveis pela crise, e, à primeira vista, parece que as variedades nada tiveram a ver com o fato, que merece uma análise mais criteriosa. As principais causas agronômicas apontadas para a baixa produtividade que vem acontecendo no setor nos últimos três anos, pelo menos, são: a. mudança tecnológica, induzida pela eliminação da colheita de cana queimada; b. falta de renovação de canaviais; c. incidência de doenças e pragas; d. fatores climáticos desfavoráveis. Vejamos, então, resumidamente, a relação de causa e efeito. A necessidade da eliminação da queima prévia à colheita por motivos sociais e ambientais induziu a necessidade da colheita mecanizada, o que, em última instância, resultou numa mudança drástica do ambiente para a planta. E toda mudança requer adaptação. E muitas das variedades se mostraram frágeis nessa adaptação porque não tinham suficiente adaptabilidade e estabilidade, características importantes e necessárias em plantas, especialmente nas cultivadas. Portanto, ainda que indiretamente, elas tiveram relação com o fato: estivessem mais próximas do ancestral selvagem e teriam tolerado mais essa mudança de ambiente. Já a falta de renovação dos canaviais é imputada às dificuldades financeiras dos produtores. Não há dúvida quanto a isso. Mas se há de convir que essa dificuldade vem, em parte, da baixa produtividade
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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 11 • número 40 • Divisão C abr-jun 2014
o etanol, o governo e a nação
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ensaio especial das lavouras e consequente prejuízo financeiro, agravado pela baixa taxa de multiplicação da cana, ainda mais baixa pelo plantio mecânico. A incidência de doenças e pragas é primariamente controlada por variedades resistentes, que foi um dos maiores objetivos dos programas de melhoramento desde o início, e são inúmeros os exemplos de substituição de variedades devido à incidência de doenças por todo o século XX, em praticamente todos os países. Na atual crise, a ferrugem alaranjada foi claramente uma das causas de prejuízo. Passemos, então, ao último fator. Dentre os fatores climáticos desfavoráveis, a seca e também a geada e o excessivo florescimento foram bastante citados como vilões e, sem dúvida o foram, e também as variedades tiveram participação. Elas têm distinta reação à falta d’água e, a partir de certo nível de seca, os prejuízos podem ser substanciais. Isso porque a participação do genoma do ancestral selvagem é pequena pela necessidade de aumentar o genoma da cana nobre para se ter mais açúcar, como foi explicado; se fosse o contrário, a tolerância à seca seria bem maior e, consequentemente, a estabilidade de produção seria maior. A tolerância à geada segue a mesma justificativa porque a cana nobre, sendo tropical, tem baixa tolerância ao frio e, ainda, a deterioração pós-geada é rápida porque o substrato açucarado é um meio de cultura muito favorável aos microrganismos. Essa análise coloca, portanto, as variedades atuais em sua real perspectiva, que não lhes é favorável. Depois de mais de 100 anos de melhoramento genético, o que se constata é que será muito difícil suplantar significativamente o patamar atual, a continuar esse paradigma de alto teor de sacarose e baixo de fibra. É ilusório pensar que se terá ganhos significativos daqui por diante, seja com as variedades obtidas pelo método convencional ou pela glamourosa transgenia. “Caindo na vida”, ou seja, em cultivo continuado na grande lavoura, elas sempre sofrerão o efeito do ambiente, isto é, apresentarão alguma deficiência de desempenho. Elas serão importantes para a manutenção da produtividade, mas não para atingir patamares mais altos. A única forma de se romper o teto e atingir um novo patamar é quebrando o secular paradigma: priorizar o teor de fibra ao invés de sacarose. Certamente, essa é uma ideia controversa, uma grande ruptura em relação ao que se praticou secularmente, e, como tal, pode-se antecipar que terá a repulsa da maioria, pelo menos num primeiro momento, e isso há que ser encarado como natural. Notícia bastante recente revela que o setor sucroalcooleiro não está conseguindo entregar a eletricidade contratada pela Aneel por falta de bagaço para a cogeração. Isso é grave, porque se trata de uma energia “limpa”, que não só contribuiria para contrabalançar a energia “suja” gerada pelas termelétricas como também evitaria o grande dispêndio monetário que o governo está tendo pelo alto custo dessa energia suja. E a falta de bagaço decorre do baixo teor de fibra das variedades convencionais. Se as variedades tivessem teor de fibra mais alto ou produtividade mais alta, não haveria essa falta de bagaço, e o setor sucroalcooleiro poderia contribuir muito para evitar a carência de eletricidade que se prenuncia no País nos anos vindouros. Se a geração de eletricidade com a queima do bagaço é uma das formas de se agregar valor à fibra, muito mais valor pode ser agregado com novas tecnologias, como o etanol de segunda geração (2G), a produção de bio-óleo, de gás, de outros produtos químicos, etc., sem falar em agregados para construção civil, pellets, pasta de celulose, papéis, etc.
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Opiniões Enfim, com mais fibra, as usinas se transformariam em biorrefinarias, e, para tanto, a fibra seria um produto de muito maior valor do que o açúcar. É um sério olhar para o futuro. Nesse novo olhar, é que se divisa a “cana energia”. E o que vem a ser cana energia? Ela é uma variação da cana convencional em que, contrariamente a esta, tem baixo teor de sacarose e alto teor de fibra. Para se obtê-la, usa-se o mesmo princípio básico da cana (convencional): hibridação entre espécies e gêneros ancestrais. Contudo a grande diferença é o objetivo: sendo a biomassa o fim e não a sacarose, se pratica uma seleção divergente, em sentido contrário, para alto teor de fibra, ou seja, alta produção de biomassa. É, portanto, uma seleção contrária ao que se fez durante mais de 100 anos na cana-de-açúcar convencional, com a vantagem de que, com isso, se mantém uma alta proporção de genes do ancestral selvagem, que, justamente, confere à planta alta resistência a estresses ambientais (solo, clima e manejo) e, adicionalmente, alta capacidade produtiva: em termos de biomassa total, produz de duas a três vezes mais, e, consequentemente, a produção de açúcar por área pode ser até superior à da cana convencional, com a vantagem adicional de três a quatro vezes mais de bagaço. Em outras palavras, plantas mais resistentes à seca, a variações de temperatura, ao manejo agrícola, mais adaptadas a solos pobres, etc. Possui ainda inúmeras outras vantagens, mas aqui serão citadas mais duas: ela tem o dobro de longevidade de socas e, por ter grande número de colmos por metro linear, possibilita uma razão de multiplicação 3 a 5 vezes maior. Com essa rápida caracterização da cana energia, já é possível perceber quantas vantagens ela traz em relação à cana convencional. E, aqui, não se estão discutindo as vantagens ambientais, que são muitas. Mesmo na atual conformação das usinas/destilarias, a cana energia pode dar significativa contribuição. A ampliação do período de safra sempre foi objetivo, e uma safra que, até meados da década de 1970, se iniciava na segunda metade de junho foi ampliada para iniciar primeiro em meados de maio, depois início desse mês, para chegar a abril nos dias de hoje. Variedades de maturação precoce contribuíram muito para isso, mas também a tecnologia de maturadores artificiais e, naturalmente, a fabricação de etanol. Porém aí persistem dois problemas: sacrifica-se muito a produtividade, tanto agrícola como industrial, e o bagaço é insuficiente. Operando-se um a dois meses iniciais da safra com cana energia, haveria grande quantidade de bagaço para uso próprio e para a cogeração, sem sacrificar a produção nominal de etanol, e se otimizaria bastante a produtividade das variedades convencionais. Também se poderia moer a cana energia pelo menos durante um mês no final de safra, o qual seria otimizado, bem como o uso da terra (um outro grande benefício adicional). A cana energia seria plantada nos solos de menor qualidade, e, devido à sua maior produtividade comparativa, mais terras de melhor qualidade seriam liberadas para a cana convencional. Portanto essas inúmeras vantagens podem contribuir para a recuperação financeira daquelas usinas em difícil situação, ou aumentar bem mais a receita de outras. Obviamente que nenhuma mudança tecnológica ocorre sem adaptações, maiores ou menores, ainda mais numa ruptura grande como a desta proposta. Tradicionalmente, há repulsa para variedades com teores de fibra acima de 13 a 15%, o que dizer, então, de teores acima de 17%, como ocorre em cana energia. Mas subentende-se que, em qualquer inovação, esforço em melhoria tecnológica é uma necessidade. Ou se estagna ou se progride. E, para progredir, há que se inovar.
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