A energia por um fio - OpAA35

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ensaio especial falta de transparência na formação dos preços dos combustíveis. As dificuldades vividas são palpáveis, e as perspectivas, ainda que positivas, são complexas. O aumento dos custos de produção, as limitações impostas aos preços do etanol e da energia gerada a partir de biomassa de cana não trazem nenhum alento. Endividamento e falta de incentivo que não combinam com o momento em que os olhos do futuro estão focados no que fez o Brasil com o etanol e a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana. O caminho para a superação da crise do setor passa pelo desenvolvimento tecnológico. Mas são necessárias políticas públicas de curto prazo, que evidenciem e diferenciem as externalidades positivas das energias limpas, de fontes renováveis. Além, claro, de planejamento de médio e longo prazo, alicerçado em cristalina orientação política sobre a participação do etanol e da energia elétrica de biomassa na matriz energética brasileira. O governo paulista tem manifestado, ao longo do tempo, seu apoio ao setor e confiança nele. Um importante passo foi a desoneração da carga tributária do etanol hidratado nas vendas ao consumidor, reduzindo o ICMS para 12% (nos demais estados da Federação, o índice médio varia de 25 a 28%). Mais recentemente, incentivos fiscais para aquisição de equipamentos para cogeração de energia. Ciente da importância do desenvolvimento tecnológico, somas significativas vêm sendo investidas na reorganização da pesquisa sucroenergética com a criação do Centro Apta Cana IAC, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, em Ribeirão Preto. O Centro é considerado um dos principais polos de excelência tecnológica da fitotecnia sucroenergética. Por meio da Fapesp, tem fomentado a pesquisa desse setor, estimulando a geração de conhecimento nas áreas de bioenergia, fabricação de biocombustíveis, biorrefinarias, aplicações para motores automotivos, impactos socioeconômicos, ambientais e uso da terra. Esses projetos têm sido incentivados pelo programa Bioen, que, até o momento, multiplicou por dez o número de projetos relacionados ao uso da biomassa, destinando mais de R$ 80 milhões aos grupos de pesquisa de instituições públicas como USP, Unicamp, Unesp e institutos vinculados à SAA.

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Opiniões Os resultados atingidos pelo Bioen desencadearam outra ação, que foi o Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, formado pelas três universidades estaduais de São Paulo e que, a partir de 2013, abrigará os projetos da iniciativa. Estão previstos investimentos de cerca de R$ 100 milhões nos próximos anos. Vale mencionar ainda os investimentos que vêm sendo feitos pela iniciativa privada, no desenvolvimento de novas tecnologias de produção de biomassa, e que deverão também estar disponíveis para os produtores em futuro próximo. Todo esse esforço tecnológico deverá levar a ganhos significativos na produtividade da cultura, inclusive em áreas antes restritivas por aspectos edafoclimáticos. Os avanços e o melhoramento dos processos de fabricação do etanol também acenam para saltos quantitativos no rendimento industrial. Tudo isso leva a crer que, em uma década, teremos soluções tecnológicas disponíveis para alcançar produtividades superiores a 12.000 litros de etanol/ha, praticamente o dobro dos bons índices atuais, que giram em torno de 7.000 litros/ha. O governo paulista está ciente da necessidade de recompor essa história vitoriosa e conta com a parceria e com a ação coordenada de todos os elos da cadeia produtiva. É passada a hora de desmistificar o setor, mostrar, explicar, fazer entender a sua real dimensão e importância. É preciso que a sociedade compreenda e valorize esse imenso tesouro que o Brasil e os brasileiros têm nas mãos e que clamem pela oportunidade singular de crescer em bases sustentáveis. Não há desenvolvimento possível sem energia. Guerras sangrentas são travadas ao redor do globo por causa dela, traduzida na forma de petróleo. O Brasil reúne todas as condições, não apenas para gerar toda a energia de que precisará para crescer, mas ainda de fazê-lo de forma limpa e renovável, sem avançar sobre biomas intocados, de forma pacífica, gerando renda e empregos, e sem preterir a produção de alimentos e fibras. Somente o trabalho orquestrado e uma boa estratégia de comunicação trarão os efeitos capazes de devolver o setor sucroenergético à sua ascendente trajetória, construída com competência e merecimento.


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