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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 9 - numero 34 - Divisão C - out-dez 2012
a representatividade do sistema sucroenergético
índice
a representatividade do sistema sucroenergético Editorial:
8
Eduardo Pereira de Carvalho
Especialista no setor sucroenergético
Ensaio Especial:
80
Rosmary Delboni
28 32 36
Paulo Adalberto Zanetti
Especialistas:
12 16 20 24
Maurílio Biagi Filho Presidente da Maubisa
Igor Montenegro Celestino Otto Diretor executivo do Grupo Scodro
Governo: Sérgio Souza
Senador da República Federativa do Brasil
Magda Maria de Regina Chambriard Diretora-geral da ANP
Consultoria Empresarial:
48
Ana Paula Malvestio
Sócia da PricewaterhouseCoopers
Consultora da Key Associados
Infraestrutura:
Produtores:
38 42
Presidente da Renuka do Brasil
Dario Costa Gaeta
Presidente da Paraíso Bioenergia
Robert Carlos Lyra
Presidente executivo da Delta Sucroenergia
Fornecedores de Cana: Ismael Perina Junior Presidente da Orplana
Sistema Bancário: Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú BBA
44
Adriano José Pires Rodrigues
52 54
Marcos Fava Neves
58
Diretor-geral do CBIE
Economistas: Professor de Planejamento e Estratégia da FEA-USP
Antonio Vicente Golfeto
Diretor Técnico do Instituto de Economia da ACI-RP
Grupos de Estudos: Eliana Aparecida Canevarolo Presidente do Gegis
Consultoria Tributária:
60
Fernando Peixoto D'Antona Diretor do Grupo Personality
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: opinioes@RevistaOpinioes.com.br Diretor de Operações: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br - Gerente Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br - Gerência de Vendas: Marcos Renato da Silva - 16 3965-4661 - MR@revistaopinioes.com.br - Vendas: Beatriz Furukawa - 16 3965-4698 - BF@RevistaOpinioes.com.br • Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Ana Carolina Ortelani - 16 3441-4600 - AC@RevistaOpinioes.com.br - Apoio a Vendas: Fernanda Aparecida da Silva e Silva - FS@Revista Opinioes.com.br • Jéssica Arantes Fernandes - JF@RevistaOpinioes.com.br - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@revistaopinioes.com.br - Editora Assistente: Giovanna Wrubel - 16 3965-4616 - GW@RevistaOpinioes.com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 - boniceli@globo.com - Projetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 16 9777-0508 - juliaBR@revistaopinioes.com.br - Projetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 23042012 - luisaBR@revistaopinioes.com.br - Freelancer da Editoria: Aline Gebrin de Castro Pereira - Consultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha - Correspondente na Europa (Alemanha): Sonia Liepold-Mai - +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de - Desenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - mg@ revistaopinioes.com.br - Expedição: Donizete SouzaMendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Agência de Propaganda: Agência Chat Publicom - Fone: 11 3849-4579 - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Foto da Capa e Índice: Acervo Revista Opiniões - Fotos das Ilustrações: Paulo Altafin Fotografia - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin.com.br e Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - ad@arydiesendruck.com.br - Acervo Revista Opiniões - Fotos dos Articulistas: Acervo Pessoal - Tiragem da Edição: 7.500 exemplares Veiculação: Comprovada por documentos fiscais de pagamento da Gráfica e de Postagem dos Correios - Edição online: Leia online em nosso site a revista original, tal qual como foi impressa. Estão disponíveis todos os artigos de todos os articulistas de todas as edições de todas as divisões desde os seus lançamentos - Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br
Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano
editorial
Opiniões
um diálogo
difícil
Há muito o setor sucroalcooleiro não via crise tão séria como a de hoje. Talvez a dos anos 1970, que originou o Planalsucar, o mais importante programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar do mundo. Ou as crises do petróleo, em 1973 e 1979/82, detonadoras dos Proálcool I e II, pioneiros ao proporcionar e incentivar um uso massivo de biocombustível no globo. Ou a dos anos 1990, cujo resultado foi a transformação do Brasil no maior exportador mundial de açúcar. Ou, ainda, a crise do final dos anos 1990, início dos 2000, deslanchando um mundo novo para o biocombustível originário da cana-de-açúcar, com base nos motores flex-fuel. Como dizem os chineses, as crises são criadoras de oportunidades. Oxalá seja verdade neste caso. Quais os fundamentos da crise atual? Ela nasce na cola da euforia dos meados dos anos 2000, quando assistimos à implantação de 120 novas unidades produtoras e a uma expansão da produção de 300 milhões de toneladas de cana. Nem todos os projetos tinham perfis financeiros adequados aos prazos e taxas de retorno ali previstos. Com a recessão de 2008, interrompem-se os financiamentos esperados. Em alguns casos, faltaram experiência e conhecimento. Houve forte acúmulo da demanda por equipamentos e mão de obra, encarecendo os investimentos. Em vários momentos, os preços de açúcar e etanol estiveram abaixo dos custos de produção. Uma série de incertezas, sobre as quais procuro refletir, existiu em algumas das fronteiras agrícolas: que variedades plantar, sem os testes adequados de adaptação às peculiaridades locais; como prosseguir na indispensável mecanização
"
Tudo bem: como dizia Keynes, no longo prazo, todos estaremos mortos. Mas o grande frustrado, o grande ofendido por essa inaceitável incapacidade dos diferentes atores em dialogar e encontrar os caminhos comuns do benefício maior é o povo, é a nação brasileira. "
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Eduardo Pereira de Carvalho Especialista no setor sucroenergético
da colheita, sem experiências testadas que minorassem a forte queda da produtividade agrícola; como encontrar os parceiros indispensáveis, etc. Destaco, entre todas, uma razão preponderante. A indústria perdeu a capacidade de dialogar com o poder público. Olhando o passado, a saída das crises para novos patamares de produção e inovações ocorreu com intenso debate e interação com o governo. Há claríssimas evidências do quanto as políticas públicas para o desenvolvimento dessas atividades foram fundamentais. Hoje, mais ainda. Como importante produtor de combustível líquido e gerador de energia elétrica, o setor é parte umbilical da matriz energética brasileira.
editorial E, como tal, tem responsabilidades fundamentais e definitivas em seu fornecimento. Reside aí o primeiro e mais claro desentendimento com o governo. Tenho assistido, de ambos os lados do muro, a essa “conversa” de torre de Babel. No passado, muitos dos produtores chegaram mesmo a defender o fim da produção de álcool hidratado, para escapar de sua obrigação em abastecer o mercado. Esse foi um dos grandes divisores d´água, que resultou em forte e conflituosa desunião entre todos. Felizmente, isso é história. Mas o caso aponta para o maior problema da representação empresarial hoje: a forte e positiva mudança em sua estrutura produtiva. Até ontem, havia uma identidade: todos eram produtores, em organizações familiares, de etanol e de açúcar. Uns maiores que outros, alguns mais capitalizados que outros, mas todos guardando, ainda, em seus baús, os ternos de linho branco, usineiros que todos eram. Vencidas as diferenças, era possível associarem-se ao mesmo clube, como, por exemplo, em destilarias autônomas (Sopral) e usinas de açúcar e álcool (AIAA), na nova, então, Unica, e assim assumirem posturas comuns. Foi a época do amplo diálogo. De um lado, os produtores, com voz e ação comuns. De outro, um governo ávido por novos projetos, vendo na indústria importante vetor de desenvolvimento lato sensu. Época de conquistas: o novo motor flex-fuel e sua notável expansão; o fim dos subsídios à exportação do açúcar europeu; o sonho de novos mercados: o Japão, a China, os Estados Unidos e o fim de suas tarifas sobre o etanol; a importante presença do BNDES e a expansão do setor. Linguagem comum, interesses comuns, ações comuns. Coisas nunca antes vistas neste País... Novos e importantes atores; grande consolidação do setor; interesses crescentemente difusos. E um novo estilo em governar. Presença muito mais incisiva do poder público.
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Opiniões Pode o empresário visar ao lucro necessário para sair do imobilismo e enfrentar riscos percebidos por ele como crescentes? Entende o governo que o nível de remuneração do empresário se dá pela concorrência e não depende de um ato de sua vontade? Dificuldades institucionais aparentes, como o problema das propriedades em mãos de estrangeiros, ou das prolongadas discussões sobre o Código Florestal, ou as mudanças nas regras dos leilões de energia alternativa, ou do novo e importante papel da regulamentação da atividade de produção e distribuição de combustíveis. O que dizer da mais absurda e frustrante política de preços de combustíveis, que, além de arrasar o setor, cria dificuldades crescentes para os indispensáveis investimentos da Petrobrás? E o setor segue tentando reencontrar, sem sucesso, um caminho para o indispensável diálogo com o poder público. Quais os pontos comuns dentro da indústria? Quais os que não batem de frente nos crescentes conflitos internos da produção, da distribuição, da comercialização e de sua representação política? Como refundar o clube, como reconstruir a plataforma única, uma vez que o velho já era? A grande questão e o grande drama ultrapassam, em muito, os interesses daqueles diretamente envolvidos. Uns perderão anéis. Outros, seus dedos. Outros, ainda, verão frustrados seus devaneios de riqueza e poder. Tudo bem: como dizia Keynes, no longo prazo, todos estaremos mortos. Mas o grande frustrado, o grande ofendido por essa inaceitável incapacidade dos diferentes atores em dialogar e encontrar os caminhos comuns do benefício maior é o povo, é a nação brasileira. Que vê, nessa paralisia, nesse impasse, nessa absurda queda de braço, o fim do sonho no qual realizaríamos o enorme potencial que nossa natureza e nossa ingenuidade conceberam lá atrás e que, certamente, seria nosso passaporte – digo: de todos nós – para o próspero dia do amanhã.
visão de especialistas
Opiniões
a volta por
cima
Embora muita gente não esteja ligando para o que se passa entre as lavouras de cana e os consumidores de etanol, é preciso registrar que o agronegócio canavieiro vive uma transição histórica decorrente da crise financeira global. Bem ou mal, o crash de 2008 colocou, definitivamente, para dentro do setor novos players, cujo poder de negociação pode dar um novo e amplo status internacional aos biocombustíveis brasileiros. Calcula-se que, nessa transição, iniciada no final do século XX, cerca de um terço da capacidade de processamento da cana passou de grupos usineiros tradicionais para capitais internacionais, alguns atuantes há décadas no mercado brasileiro. Muitos produtores de cana, de açúcar e de álcool ainda não entenderam o que pode significar, no setor, a presença de nomes como ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus. Foi uma mudança natural no âmbito da globalização dos negócios com commodities alimentícias e energéticas. Atuando ao lado das gigantes brasileiras Cosan e Copersucar, essas multinacionais tendem a dar uma nova estatura à mais antiga agroindústria do Brasil. Ademais, não podemos nos esquecer de que o setor canavieiro passou a contar, nos últimos anos, com a participação de um player muito especial.
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No entanto o setor está fechado num silêncio nunca visto anteriormente. Como se tivesse perdido a identidade e esperasse a ascensão de um líder com coragem para esclarecer a opinião pública, apontar os erros cometidos e mostrar o caminho da reestruturação e da expansão a longo prazo. " Maurílio Biagi Filho
Presidente da Maubisa, da Bioenergética Aroeira e da Agrishow
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Antes apenas consumidora de etanol, a Petrobras agora está dentro, associada a vários produtores de peso, o que lhe permite desfrutar de informações estratégicas sobre custos de produção e outras variáveis. Embora tenha determinado à Petrobras que invista em etanol e biodiesel – até para fazer sua parte na política de inclusão social, mediante a compra da produção dos pequenos agricultores familiares –, o governo passou a priorizar a extração de petróleo da camada Pré-sal, descoberta em meados da década passada. É uma decisão econômica que praticamente inibe as perspectivas de melhora imediata da nossa matriz energética – disparada, a mais limpa do planeta, deixando a segunda colocada na poeira. Ainda que os especialistas não se cansem de vaticinar o fim do petróleo, tudo indica que se passarão décadas, talvez mais de um século, até se esgotarem todas as possibilidades dos combustíveis fósseis. Diante do comportamento contraditório do governo, os produtores de combustíveis renováveis estão numa saia justa. Mesmo assim, não faz sentido desanimar ou cair em depressão por causa de todas as recentes mudanças da conjuntura econômica e energética. A situação mudou, mas não é o fim do mundo. Bem ao contrário, a transição que vivemos pode ser o início de uma nova era, bem mais promissora do que a anterior.
visão de especialistas Essa percepção positiva cairia bem não apenas junto aos produtores, mas entre as lideranças setoriais e nas entidades de classe. Como na metáfora que recomenda “fazer do limão uma limonada”, o agronegócio canavieiro precisa transformar a crise numa tábua de salvação, mas sem perder a noção de que os combustíveis renováveis, infelizmente, não estão em primeiro lugar na ordem geral das coisas. Basta prestar atenção no comportamento das autoridades energéticas. Primeiro, a Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP) ampliou seu nome, mas continua voltada exclusivamente para o petróleo. Além disso, é preciso lembrar que o setor sucroenergético perdeu espaço junto ao governo. Se, durante seus oito anos de mandato, o presidente Lula fez do etanol um exemplar cavalo de batalha da diplomacia brasileira, o atual governo, mais de uma vez, já deixou claro que não confia nos usineiros. Em três ocasiões, fui testemunha da insatisfação do Planalto com o setor. Em todas elas, faltou diálogo. O que precisamos ter claro é que pagamos, hoje, por erros crassos que solaparam a credibilidade do setor. Para lembrar apenas um caso, cito o episódio de 1989, quando “faltou” etanol nas bombas de combustível. Na realidade, “faltaram”, porque, nas usinas, o produto estava estocado por ordem do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), que só pensava em combustíveis fósseis. Ora, todo mundo lembra que, naquela época, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) determinava o que cada usina devia produzir, enquanto o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) ditava os volumes de comercialização dos combustíveis. A liberdade de ação das usinas era mínima. Entretanto, até hoje, pouca gente sabe que a “falta” de etanol nos postos, em pleno início de safra no Centro-Sul, foi provocada pelo próprio CNP, ao autorizar a distribuição, naquele mês, da metade do volume do produto consumido normalmente. Essa medida do CNP, tomada para favorecer o consumo de derivados de petróleo, especialmente a novidade chamada metanol, abalou a credibilidade do etanol num momento em que, para atender à demanda, a indústria automobilística fabricava praticamente 100% de carros a álcool.
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Opiniões Evidentemente, o plano de substituir o etanol (renovável) pelo metanol (de origem fóssil) fracassou, mas quem pagou o pato junto à opinião pública foi a agroindústria alcooleira, sempre muito deficiente em termos de comunicação de massa. Na realidade, os dirigentes do setor não tiveram coragem de denunciar a manobra do CNP. Embora a Petrobras tenha iniciado a produção de metanol em suas plantas, posteriormente desativadas, até hoje há usineiros achando que, naquela ocasião, não apenas faltou álcool, mas que a culpa cabia ao próprio setor, acusado de “desviar” a matéria-prima para a fabricação de açúcar em detrimento da produção de etanol. Além de pesar até hoje sobre a imagem dos usineiros, esse lamentável episódio jamais esclarecido fez o carro a álcool perder espaço rapidamente no mercado. Queda inexorável. Basta lembrar que a produção do combustível renovável só se recuperou a partir de 2003, graças ao lançamento do carro flex. Depois de tantos erros e acertos, um balanço sumário da situação indica que a agroindústria canavieira ocupa hoje mais de 8 milhões de hectares, produz mais de 20 bilhões de litros de etanol (era para ser mais de 30 bilhões) e tem condições de ir muito além, pois, independentemente do Pré-sal, o horizonte dos combustíveis renováveis é imensurável. No entanto o setor está fechado num silêncio nunca visto anteriormente. Como se tivesse perdido a identidade e esperasse a ascensão de um líder com coragem para esclarecer a opinião pública, apontar os erros cometidos e mostrar o caminho da reestruturação e da expansão a longo prazo. Claro que não se pode deixar de pressionar os responsáveis pela elaboração de um plano energético de verdade, que inclua a solução dos gargalos agrícolas, industriais, logísticos e tecnológicos na área dos combustíveis renováveis. Se as autoridades fizerem a sua parte, o setor tem plenas condições de dar a volta por cima, oferecendo respostas satisfatórias às demandas do mercado brasileiro e até de parcelas do mercado internacional. Basta lembrar que, nos últimos 40 anos, nenhum ramo da economia nacional cresceu tanto e tão continuamente quanto a agroindústria canavieira.
visão de especialistas
Opiniões
é tempo dos
grandes homens e das grandes mulheres “Boa parte da população brasileira sabe que o País exportou muito ouro e diamantes para Portugal. A maioria até mesmo acredita ter sido esse metal e as pedras preciosas os produtos mais importantes da colônia. Não é verdade. De 1500 a 1822, saíram do Brasil mercadorias no valor de 536 milhões de libras esterlinas, de acordo com cálculo de Roberto Simonsen. O ouro e diamantes responderam por 170 milhões de libras esterlinas (32% do total), enquanto as remessas de açúcar chegaram a 300 milhões de libras (56% do total). Ou seja, o Brasil, que tem nome de árvore, na realidade foi feito de açúcar e cana.”
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Naquele momento, o poder público e a iniciativa privada iniciaram um relacionamento desconfiado, que permanece até hoje. O setor privado acha que é totalmente autossuficiente, e o poder público faz de conta que o assunto não é com ele, dando corda para os produtores se enforcarem sozinhos. "
Igor Montenegro Celestino Otto Diretor executivo do Grupo Scodro e Presidente do Conselho Temático de Agronegócios da FIEG
É isso o que nos ensina Rogério Furtado, no livro “Agribusiness Brasileiro - A História”. Sendo um setor produtivo tão importante para a economia nacional, o segmento sucroenergético sempre esteve sob os cuidados especiais do poder central no Brasil. A nossa história aponta uma dependência simbiótica entre o poder público e o setor privado de açúcar e álcool. Será que esses dois ainda dependem um do outro? Nessa pergunta, se encontra a chave para o futuro do setor sucroenergético brasileiro.
visão de especialistas Até o governo Collor, no final do século passado, o setor de açúcar e álcool esteve totalmente tutelado pelo Governo Federal. O fim do IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool, marcou o início da desregulamentação do segmento, um ciclo que somente se completou no governo FHC, quando o governo, abruptamente, deixou de estabelecer os preços dos dois produtos. Aquele momento histórico marcou uma das maiores crises já vividas pelos produtores, que, após cinco séculos de mercado regulado, tiveram que aprender sozinhos, e na marra, a sobreviver no mercado livre. Talvez essa crise tenha deixado marcas de parte a parte, que ainda não desapareceram. Naquele momento, o poder público e a iniciativa privada iniciaram um relacionamento desconfiado, que permanece até hoje. O setor privado acha que é totalmente autossuficiente, e o poder público faz de conta que o assunto não é com ele, dando corda para os produtores se enforcarem sozinhos. A verdade é que o setor sucroenergético é altamente dependente do Governo Federal. Sempre foi no passado e, provavelmente, continuará sendo no futuro. Desconhecer esse fato é um erro fatal. O mercado de etanol anidro é totalmente dependente da caneta do governo, pois o percentual de adição na gasolina é definido por uma legislação pública. O mercado de etanol hidratado também é dependente do governo que estiver de plantão, pois o preço final do produto está umbilicalmente ligado tanto às questões tributárias quanto às decisões políticas sobre o preço da gasolina. Alguém pode dizer: “Mas o preço do açúcar é livre!” Engano. O governo também influencia o preço do açúcar através de sua caixinha de ferramentas, como a tributação no mercado interno e a taxação das exportações. Além disso, como a matéria-prima do etanol e do açúcar é a mesma, o desestímulo à produção de etanol, por exemplo, significa maior destinação de cana para a produção de açúcar, o que, por sua vez, aumenta a oferta do produto, pressionando os preços para baixo. Veja como o equilíbrio desse mercado é tênue e como o setor privado depende muito do governo. Para resolver os problemas sistêmicos do setor sucroenergético, o governo e o setor privado precisam reatar a sua relação. É bem verdade que a nova relação precisa ser fundada em bases sólidas, com valores nobres. Para usar uma expressão moderna, a relação tem que ser sustentável para as empresas, o governo, os consumidores e os stakeholders em geral; enfim, essa relação tem que ser benéfica para o País.
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Opiniões Uma relação forte, produtiva e duradoura precisa começar por uma boa agenda positiva. Então, aí vão algumas sugestões para essa agenda: 01. Reforçar os compromissos mútuos de buscar a sustentabilidade econômica e socioambiental da atividade; 02. Assegurar investimentos públicos e privados que sejam motores de crescimento; 03. Atuar para promover o desenvolvimento econômico da atividade produtiva e do País; 04. Maximizar o impacto positivo sobre as comunidades pobres; 05. Maximizar a criação de empregos de melhores níveis de remuneração; 06. Avançar no uso da tecnologia da informação e na assistência técnica; 07. Desenvolver processos transparentes e de resposta rápida; 08. Maximizar a eficiência e a eficácia produtivas; 09. Maximizar o desenvolvimento do setor privado; 10. Atualizar e expandir políticas públicas de investimentos; 11. Oferecer políticas públicas alternativas; 12. Aprimorar a capacidade de pesquisa e de desenvolvimento; 13. Expandir o fluxo das exportações; 14. Destacar as prioridades de financiamento; 15. Alinhar os recursos com prioridades estratégicas, e 16. Apresentar resultados visíveis. Que tal a agenda? Não fui eu quem a construiu, mas a Agência de Desenvolvimento Econômico do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (Kaplan e Norton). Veja como essa agenda se encaixa como uma luva para nós. É chegada a hora de reconhecer mutuamente a importância, o valor do governo e da iniciativa privada. É tempo dos grandes homens e mulheres se levantarem e cerrarem fileiras juntos para transformar um setor e um País. Os homens e mulheres desse novo tempo certamente vão ser reconhecidos pelas futuras gerações. Como disse Thomas Paine: “Estes são tempos que testam as almas dos homens. O soldado de verão e o patriota do sol brilhante, nesta crise, se omitirão do serviço do seu país; mas aquele que agora se sustenta firme merece o amor e os agradecimentos de homens e mulheres”.
Sujeito a análise cadastral. Imagens meramente ilustrativas.
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visão de governo
Opiniões
é impensável
negligenciar o setor sucroenergético
Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições presidenciais em 2002, havia muitas expectativas em relação ao seu governo. Ao longo dos oito anos de mandato, muitas das promessas de campanhas foram cumpridas, outras, frustradas, ações inovadoras foram empreendidas, porém, certamente, poucos poderiam imaginar que o ex-metalúrgico, ex-líder sindical, já em seu segundo mandato, chamaria os usineiros do setor sucroalcooleiro de heróis nacionais.
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... certamente, poucos poderiam imaginar que o ex-metalúrgico, ex-líder sindical, já em seu segundo mandato, chamaria os usineiros do setor sucroalcooleiro de heróis nacionais. "
Sérgio Souza
Senador da República Federativa do Brasil
Naquela ocasião, no início de 2007, Lula exaltava a atenção que o etanol vinha adquirindo no cenário internacional e destacava o fato de o seu governo possuir uma política séria para o setor. Em verdade, o ex-presidente fez muito mais do que elogiar: além de incentivar a produção nacional de álcool, viajou pelo mundo promovendo o etanol brasileiro e buscando novos mercados para o produto nacional. Em março do mesmo ano, durante a visita do ex-presidente George W. Bush ao País, Lula assinou um acordo de cooperação em etanol com os EUA, o que selou uma parceria estratégica entre os dois países, que detinham mais de 70% da produção mundial do combustível. É forçoso reconhecer que, a partir da segunda metade da década passada, a conjuntura mundial era outra. Havia viabilidade econômica e política para o avanço dos biocombustíveis. O preço do petróleo crescia de forma
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consistente, desde o início do governo Lula, superando o patamar de US$ 40 o barril, em meados de 2004 – preço em que se torna competitivo o etanol brasileiro. Em 2007, o barril salta de US$ 65 no começo do ano para quase US$ 100 em dezembro. Em 11 de julho de 2008, o barril do petróleo Brent atinge US$ 143,95. Além da atratividade financeira, havia também, nos idos de 2007, grande motivação política em favor do etanol, afinal, no mesmo ano, foi apresentado o Quarto Relatório de Avaliação
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, afirmando que o homem é responsável pela elevação da temperatura do planeta. A terceira parte do documento mostrou que é possível deter o aquecimento global se a humanidade reduzir de 50% a 85% as emissões de dióxido de carbono (CO2) até a metade do século. Para tanto, sugeriu o investimento em energias limpas e a diversificação da matriz com fontes renováveis não convencionais, como biomassa, eólica e solar. O IPCC indicou também o uso de veículos mais eficientes como uma maneira de reduzir as emissões no setor de transportes, principalmente se abastecidos com biocombustíveis como o álcool ou o biodiesel. Diante de tantos incentivos, o etanol tornou-se quase unanimidade, e o Brasil passou a ser visto como líder mundial em combustíveis renováveis e exemplo de matriz energética limpa. Falou-se, inclusive, em tornar o etanol uma commodity mundial.
A indústria sucroalcooleira é movida a tecnologias cada vez mais inovadoras. Pioneira na aplicação de redutores planetários para
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visão de governo Com todo esse sucesso, vieram as críticas e os questionamentos promovidos, em grande parte, pelos setores ameaçados pelo avanço do etanol. Primeiramente, acusou-se a indústria sucroalcooleira de promover o desmatamento da Amazônia para plantar cana-de-açúcar. Em seguida, as relações trabalhistas no setor foram questionadas e, por fim, veio a acusação de que a produção de etanol promovia a concorrência entre alimentos e combustíveis. O governo brasileiro trabalhou de forma intensa para responder a cada um dos óbices apresentados ao etanol. Foi elaborado e aprovado o zoneamento agroecológico para a cana-de-açúcar, o qual veta o plantio da cultura nos biomas Amazônia e Pantanal. Foram criadas leis, algumas delas estaduais, definindo prazo para a mecanização integral das lavouras de cana. E ainda foram apresentados números que evidenciaram o equívoco de acusar o etanol brasileiro de competir com a produção de alimentos. Por iniciativa do Presidente Lula, o Brasil se dispõe a organizar, em 2008, uma conferência internacional para tratar dos biocombustíveis. Seria, na avaliação do governo brasileiro, a oportunidade de responder a todos os questionamentos e consolidar a opção dos biocombustíveis como parte da solução contra o aquecimento global. Dessa forma, em novembro de 2008, ocorre, na cidade de São Paulo, a “Conferência Internacional sobre Biocombustíveis: os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável”. Antes, porém, na manhã do dia 15 de
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Opiniões setembro de 2008, o banco de negócios Lehman Brothers, então o quarto maior dos Estados Unidos, surpreendeu o mundo ao anunciar a sua quebra. Iniciava-se a pior crise econômica internacional desde 1929. Com ela, a trajetória recente do etanol e, por consequência, do setor sucroalcooleiro nacional começava a mudar. A fraca repercussão do tão esperado evento de São Paulo já dava mostras do tamanho da crise mundial e do impacto que produziria em todos os setores de energia renovável. O barril do petróleo caiu, em 2009, abaixo dos US$ 50, reduzindo, significativamente, a atratividade do etanol e das demais fontes alternativas de energia. Em seguida, quando a crise econômica dificultou o acesso ao crédito, o setor sucroalcooleiro passou a perder fôlego. No ano passado, a produção de cana, depois de anos subindo a um ritmo de 10,4%, caiu a 550 milhões de toneladas, deixando 150 milhões de toneladas de capacidade ociosa nas usinas. Por mais inusitado que possa parecer, o Brasil passou de exportador a importador de etanol e justamente no momento em que a indústria nacional logrou êxito numa de suas batalhas comerciais mais antigas: o fim das barreiras alfandegárias para a entrada do produto nacional nos EUA. Depois de ter sido considerado o propulsor do etanol no mundo, o Brasil agora vive uma fase de retrocesso no setor. Além das dificuldades externas, o etanol brasileiro tem enfrentado perdas de produtividade, devido aos severos problemas climáticos e aos aumentos acentuados nos custos de produção, sem falar na incapacidade de competir com os preços da gasolina no mercado doméstico. São conhecidos os problemas e são necessárias soluções. É impensável negligenciar um setor em que o País possui tanta capacidade e experiência. Todos os predicados que levaram o etanol a ser visto como opção extraordinária de energia limpa e renovável em 2007 permanecem atuais. Os desafios com o aquecimento global se mantêm. A capacidade de gerar renda em países pobres permanece, e até mesmo o preço do barril de petróleo voltou a atingir valores superiores aos US$ 100. Mais do que isso tudo, o Brasil continua sendo detentor da tecnologia mais avançada existente no setor. A cana-de-açúcar continua sendo o insumo mais vantajoso para a produção de combustíveis renováveis. É capaz de produzir etanol, açúcar e, ainda, com a queima do bagaço, gerar energia elétrica além da necessidade de operação de qualquer usina, tornando-se, inclusive, uma verdadeira alternativa para a nossa matriz energética. É preciso voltar a tratar o etanol de forma estratégica, pensando o setor no médio e longo prazo. Todos os agentes envolvidos devem, o quanto antes, sentar-se à mesa, buscar soluções para os problemas imediatos e planejar o futuro. O Governo Federal deve liderar esse processo, e o setor produtivo deve unificar o seu discurso. Não há espaço, diante da urgência do assunto, para ações isoladas ou para soluções pontuais. A indústria sucroalcooleira do País deve se unir e buscar uma agenda prioritária, comum a todos os produtores, independentemente da sua região. O etanol proporciona ao País ganhos econômicos e sociais e promove, mundialmente, a sustentabilidade ambiental. O Brasil ainda é um dos principais líderes nesse setor. É nossa responsabilidade trabalharmos para continuar assim.
visão de governo
Opiniões
etanol
e o desafio presente Há 100 anos, não havia petróleo no Brasil. Há 20 anos, não se falava em gás natural. Há 10 anos, não conhecíamos a potencialidade do Pré-sal. Mas, por todo esse tempo, mais precisamente desde o século XVI, o Brasil produz cana-de-açúcar. A primeira experiência brasileira de uso de álcool como combustível ocorreu em 1927, mais de uma década antes da descoberta de Lobato (1939), o primeiro campo de petróleo do País.
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Na exploração e na produção de petróleo cru, foram as novas tecnologias que permitiram a identificação e a produção das jazidas no Pré-sal. Precisamos dar esse salto também no etanol combustível e nos perguntar: qual será o 'Pré-sal' do etanol? "
Magda Maria de Regina Chambriard
Diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis
No entanto foram as crises do petróleo da década de 1970 (1973 e 1979) os elementos decisivos para a criação e a consolidação do Proálcool. Afinal, o petróleo escasso e caro tinha tudo para ser substituído. A iniciativa do Brasil nessa direção, à época, foi única no mundo. O seu sucesso pôde ser constatado, quando chegamos a 1985 produzindo 12 milhões de m3 de etanol e contando com 15% do produto em toda a gasolina vendida em território nacional.
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visão de governo De lá para cá, os altos e baixos do etanol puderam ser correlacionados com as variações de preços do petróleo no mercado internacional. O fundo do poço foi entre 2001 e 2003. Em 2003, as vendas de etanol hidratado para as distribuidoras foram de apenas 3,2 milhões de m3, muito provavelmente devido aos baixos preços do petróleo cru durante a década de 1990 (em 1999, o barril do petróleo do tipo Brent chegou a menos de US$ 15). Da mesma forma, o auge do etanol foi em 2008, quando foram produzidos 27,1 milhões de m3, decorrentes da demanda crescente devido à inserção dos carros flex. Nessa época, o preço do mesmo petróleo do tipo Brent rumava para US$ 140/barril. Fica, portanto, bastante claro, que esse produto é, no Brasil, o principal substituto da gasolina. Por isso o que a indústria sucroalcooleira se pergunta, e questiona à ANP, é qual o espaço do etanol combustível na próxima década, quando tudo indica que teremos petróleo em abundância, em função do Pré-sal? Para auxiliar a esclarecer essa questão, a ANP elaborou a previsão de produção e demanda de combustíveis do ciclo Otto (etanol e gasolina). Isso porque a demanda por etanol e por gasolina, hoje, se relaciona tanto pela adição do etanol à gasolina, quanto pela opção dos proprietários de carros flex por um ou outro combustível. A premissa utilizada para o estudo foi a de que nenhuma nova refinaria será construída para produzir gasolina, no Brasil, na próxima década. Os resultados obtidos indicam que é possível que a demanda de gasolina C continue nos patamares em que hoje se encontra, se o etanol hidratado produzido no País for competitivo. Mas, se isso não ocorrer, é possível que cheguemos a 2020 importando cerca de 15 milhões de m3 de gasolina a mais do que hoje. Isso certamente seria bastante difícil de realizar, considerando as possibilidades logísticas. Seria também bastante prejudicial à balança comercial brasileira, além de uma grande vulnerabilidade externa. O quadro favorável ao etanol competitivo pode ser realçado quando colocamos sua contribuição em números: a produção acumulada de etanol combustível, no Brasil, já é equivalente a 10 anos do consumo atual de gasolina, ou quase a produção acumulada de um campo gigante como o de Marlim, o mais produtivo do País até hoje. Em termos de balança comercial, ao custo médio de dezembro de 2011, a substituição das importações de gasolina pelo etanol combustível equivaleria a uma economia de divisas da ordem de US$ 13 bilhões em 2011. Em termos ambientais, os derivados de cana-de-açúcar representam 16% da oferta interna de energia brasileira, uma contribuição que nos permitiu dizer ao mundo que temos uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta (46% da nossa matriz energética é renovável). Além disso, a utilização de etanol combustível, em nosso País, já significou evitar a emissão de quase 1 bilhão de toneladas de CO2 para a atmosfera. Não foi à toa que o Governo Federal se mobilizou e promulgou a Lei 12.490/2011, passando a considerar o etanol um produto energético, regulado e fiscalizado pela ANP desde a sua produção, em vez de um subproduto agrícola. Em prol da previsibilidade da oferta de etanol, a ANP publicou, em 2011, a Resolução nº 67, que garante o compromisso, por meio de contratos, dos produtores de etanol anidro combustível e das distribuidoras com o suprimento
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Opiniões interno e estoques do produto. Com essa resolução e com os contratos já assinados para a safra 2012/2013, garantiu-se o suprimento do produto no início de 2012. E tudo indica que também não teremos problemas com o etanol no início de 2013. Certamente, ainda restam desafios a vencer, para que possamos garantir o crescimento da produção e da demanda do etanol, para os próximos 10 anos, nos níveis que o Brasil merece. E o principal deles é a inserção de novas tecnologias. Precisamos melhorar não apenas a produtividade dos canaviais como também o aproveitamento do produto colhido e a movimentação do produto final. Na exploração e na produção de petróleo cru, foram as novas tecnologias que permitiram a identificação e a produção das jazidas no Pré-sal. Precisamos dar esse salto também no etanol combustível e nos perguntar: qual será o “Pré-sal” do etanol? O principal candidato é o etanol de segunda geração. Mas o que quer que ocorra em benefício do produto, tem que ocorrer rápido, para suprir a demanda de combustíveis do País. Afinal, experiência e desenvolvimento tecnológico com a produção de açúcar e etanol não nos faltam. Até porque cultivamos esse produto há cerca de 500 anos e geramos, com ele, cerca de um quinto de toda a alocação de mão de obra do setor agrícola brasileiro.
visão dos produtores
Opiniões
eu acredito na
palavra
Estamos no meio de uma crise. É verdade, não há como negar. Os reflexos são evidentes demais para serem questionados. De um lado dessa questão, temos o setor sucroenergético e, do outro, o Governo Federal. Entretanto eu acredito que esse problema, como qualquer outro que possamos enfrentar na vida, será resolvido se houver disposição, boa vontade, espírito cooperativo e maleabilidade. Nada resiste a um argumento expresso com bom senso. Essa crise tem seus dias contados. Juntos, o setor sucroenergético e o governo brasileiro são protagonistas de conquistas de grande expressão. É uma história de longa data: de envolvimento, de parceria, de trabalho, de dedicação e de vitórias. Se tomarmos como base o carro a álcool, poderemos delimitar o tempo e contar detalhes dessa relação a partir do Proálcool – um projeto que visava substituir o caríssimo e importado petróleo da época por um produto de base agrícola, que seria produzido, em larga escala, dentro de nossas próprias fazendas, transformando um produto, até então, conhecido apenas nas prateleiras das farmácias, em combustível de veículos, distribuído nas bombas dos “postos de gasolina” de todo o País. Representamos, nós dirigentes do setor, os anseios de muita gente, que depende do nosso sucesso. Tanto acima de nós, como pares e funcionários. Os acionistas esperam o justo e devido lucro pela riqueza que colocam, de uma forma direta, em nossas mãos para administrá-la; nossos pares e empregados, que igualmente colocam, de forma indireta, o sustento de suas famílias. Sem contar a imensa quantidade de gente que depende, por cascata, dos nossos
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Entretanto eu acredito que esse problema, como qualquer outro que possamos enfrentar na vida, será resolvido se houver disposição, boa vontade, espírito cooperativo e maleabilidade. Nada resiste a um argumento expresso com bom senso. Essa crise tem seus dias contados. "
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Paulo Adalberto Zanetti Presidente da Renuka do Brasil
fornecedores de todo material e insumos que utilizamos. Muita gente depende do nosso sucesso. Temos a obrigação de buscá-lo com empenho. Essa não é a primeira crise e nem será a última. E, em todas elas, dependemos do governo, com sua mão de direção, administrando diferenças, combinando os interesses análogos, assemelhados, complementares, quando não conflitantes, atenuando conflitos, ajudando na formação e na estruturação de ideias e de pensamentos, porque o Governo Federal, além de todos nós – dirigentes das usinas brasileiras –, enxerga os anseios de toda a população brasileira e precisa atender a eles. Nosso setor trabalha com um assunto de grande interesse da nação, é assunto de Estado, não de um governo temporário. Nós – dirigentes – sabemos disso, e as pessoas que participam desse governo – quer sejam elas temporárias, quer estejam de longa data trabalhando próximas ao setor – igualmente sabem. Ninguém será maior do que todos juntos. Precisamos reatar nossos laços com os Governos Federal e Estaduais; são eles que irão nos ajudar a formatar nosso futuro. Eles têm competência, sentido, desejo e responsabilidade. A ninguém interessa a derrota e a quebra. Temos que estar disponíveis tão somente para aparar as arestas. O governo sempre nos ajudou, sempre foi nosso parceiro em todos e importantes momentos de nossa história. No meio de uma outra crise, em 1975, portanto há 40 anos, o açúcar estava com os preços muito baixos, praticamente inviabilizando o setor. Nessa mesma época, por uma "feliz" coincidência, o petróleo estava com os preços absurdamente altos, inviabilizando o Balanço de
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visão dos produtores Pagamentos do País. Sob esse cenário, com interesses de ambos os lados, meia dúzia de mentes brilhantes do setor procurou o governo e propôs transformar parte do melaço – resíduo da produção de açúcar – em álcool, para ser utilizado como substituto do petróleo. A ideia deu certo, conquistou a confiança do governo, formou laços de compromissos, trouxe segurança e instigou todo um setor a investir nas modificações necessárias e, depois, no desenvolvimento de nova tecnologia, num projeto inédito no mundo, para a produção, em larga escala, de um combustível renovável para substituir o petróleo. Gente nova se interessou pelo projeto, investindo grande soma de recursos, formando cooperativas de produtores, viabilizando uma das maiores parcerias do mundo. Assim nasceu o Proálcool. Sucesso do setor. Sucesso do governo. Sucesso da parceria. Já no final da década de 1970, com o objetivo de reduzir a importação de petróleo, o governo decidiu ir além do já alcançado e propôs ao setor o investimento em destilarias autônomas – para a produção exclusiva de álcool a partir da garapa. O projeto foi de vento em popa. Novo sucesso dessa parceria assertiva. Na década de 1980, quando a produção do carro a álcool era predominante, o preço do petróleo despencou para US$ 12 o barril. Nova crise. O setor alcooleiro perdeu a importância, mas governo e produtores se uniram na busca de soluções, se aliaram e criaram uma legislação estabelecendo a mistura do etanol anidro à gasolina. O etanol passou a ser utilizado como aditivo na gasolina em substituição ao cancerígeno chumbo tetraetila. O setor ganhou representação, consolidou sua importância no meio ambiente, continuou a gerar emprego e renda. Vitória para ambos os lados. A parceria continuava a dar frutos. Entre o final da década de 1980 e início da década de 1990, uma nova crise se instalou. O setor propôs ao governo o estabelecimento de novas cotas para produção de açúcar – pois, desde 1964, o governo não cedia novas cotas para produção. Quando uma usina desejava aumentar a produção, precisava comprar os direitos de cotas de uma outra usina. O governo aceitou modificar o sistema. A partir de 1992, a produção deixou de ser controlada; assim, cada usina passou a administrar a sua produção e a comercialização do açúcar. Nesse momento, o etanol ainda permanecia com sua produção controlada pelo governo, por ser considerado um produto de segurança nacional. O setor cresceu, gerou riquezas e empregos, aumentou de expressão. No final da década de 1990, o governo resolveu acabar com o controle que exercia sobre o etanol e desregulamentou também a produção e comercialização do álcool, atendendo ao pleito de parte do setor. Nem todas as ações lograram sucesso a curto prazo. Essa foi um exemplo. Mas os benefícios gerados a médio e longo prazos foram excelentes. Uma nova e enorme crise se instalou. Repentinamente, um setor, até então tutelado, produzindo a quantidade que se mandava, vendendo a um preço certo e sabido, teve que, do dia para a noite, aprender a negociar, administrando a produção da maior safra de todos os tempos. No início, foi um desastre. Muita gente quebrou. Mas, aos poucos, o setor foi se profissionalizando e se aliando aos pares, formando centrais de vendas, unindo esforços, conversando, dando a volta por cima e, novamente, quase surgindo das cinzas, se estruturou e se fortaleceu. Novamente, governo e setor se uniram e obtiveram significativas vitórias.
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Opiniões Novo cenário. Vento na vela. Com o mercado mundial do açúcar e do álcool crescentes; com representativos sinais de melhora ainda maior do cenário, como a discussão da queda da barreira do açúcar no mercado europeu; com a sinalização da abertura do potencialíssimo mercado dos Estados Unidos; com o consumo interno aumentando em função da melhora significativa do poder aquisitivo do povo brasileiro; com a consolidação e a ampliação do sistema de cogeração; com a entrada e sucesso do carro flex, e o petróleo a US$ 120 o barril, dentre muitas outras sinalizações positivas reais. Tudo indicava segurança. Nesse cenário, o setor começou a investir pesado na ampliação e instalação de novas usinas e destilarias. Os recursos vieram de seus próprios caixas, da antecipação dos contratos de venda de açúcar e do álcool, bem como de fomento do BNDES. O crédito era farto porque a segurança era sólida. De repente, o quarto maior banco dos Estados Unidos, o Lehman Brothers, quebrou e arrasou com o sistema de crédito mundial e, no rodo, com o brasileiro. Agora, sem crédito, com instalações de novas unidades em construção consumindo enormes recursos, com suas despesas operacionais em andamento, na administração de um caixa sazonal – convém sempre lembrar que o setor tem uma safra em seis meses, que toma 70% dos seus custos anuais, para uma venda nos próximos doze meses. Novamente, uma séria crise se instala. Vendo do lado de fora o tamanho do mercado, a atualizada tecnologia instalada e seguros sinalizadores para médio e longo prazos, chegam os investidores internacionais, quer como sócios, quer assumindo o controle acionário de unidades, às vezes de grupos inteiros, e entram saneando o sistema. Trazem um novo fôlego. As dívidas foram reestruturadas, os bancos tomam o que podem como garantias. De uma forma ou de outra, o governo ajudou. Chegamos à atual crise. Cenário: não há crédito, mercado do etanol reduzido, com seu concorrente – a gasolina – subsidiada pelo governo, numa concorrência desleal com o etanol hidratado, com o preço engessado por longos oito anos; mesmo trazendo imensos prejuízos à Petrobras, o País consumindo gasolina como nunca – elevando a cada dia o tamanho do buraco. Qual é a saída? Novamente o governo. Sempre o governo. Foi sempre o parceiro, por que não seria agora? Ele, com a sua mão poderosa e direcional, zelando pela Nação, com um interesse que transcende os interesses diretos do setor – não o tendo como inimigo, mas como parceiro; enxergando os anseios da grande massa dependente do sistema sucroalcooleiro, e da população brasileira como um todo, o governo pode e tem, certamente, interesse em ajustar os parâmetros dessa parceria. É indispensável nos organizarmos novamente, procurarmos definir com clareza nossas necessidades comuns, definirmos a representação, chamarmos o Congresso Nacional a participar, estabelecermos novos mecanismos de competição, definirmos uma agenda clara, buscarmos o apoio de uma política pública ativa, ajustarmos uma infraestrutura de apoio condizente, dentre uma série de ações que, juntos, podemos buscar definir. Planos, metas, compromissos, responsabilidades e parcerias. É disso que precisamos nesta hora. Todos sabemos como podemos ajudar. Eu acredito na parceria. Eu acredito na palavra.
visão dos produtores
o fim
está próximo
Um setor da economia que sempre foi familiar, fracionado, unido formalmente e desunido na prática está fadado ao desaparecimento. Mas o seu fim está perto, e abaixo detalharei por que assim penso. A história do setor sucroenergético começou com uma importância local e multiplicada por milhares de municípios. Com o passar dos séculos, o primeiro grande movimento de estruturação foi o Proálcool, que permitiu um crescimento planejado e iniciou um programa real de desenvolvimento focado na matriz energética brasileira. O governo sabiamente soube fomentar o setor e, como efeito colateral, atrofiou seus músculos, sem que assim pudesse desenvolver-se sozinho.
Enquanto as asas do governo pairaram sobre o setor, a realidade desequilibrada da economia de oferta-demanda sustentou o crescimento ineficiente até o ponto de a oferta não atender à demanda. Quando a asa recolheu-se, as indústrias de etanol sofreram um dos maiores baques de sua história. Não bastasse isso, desde 1999, ainda há usinas acreditando que o governo voltará a estender sua asa protetora. Esse sentimento faz com que algumas usinas ainda ajam negligentemente, fazendo investimentos sem respaldo financeiro sustentável (leia-se investimento de longo prazo com dívida de curto prazo).
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Teremos, sim, uma minoria sobrevivente; usineiros que, à moda antiga, sempre souberam administrar sua produtividade, custo e endividamento. Ainda assim, nesse novo cenário, o fim das usinas como as conhecemos está próximo: para aqueles que gostam de datas, dou um ano a mais que os Maias. "
Dario Costa Gaeta Presidente da Paraíso Bioenergia
Além da falta de apoio real nos últimos 10 anos, a crise de liquidez de 2008 e a série de fatores climáticos nos últimos quatro anos, o setor padece de empatia com o governo. Digo empatia porque os mais de 500 mil empregos e sua importância no PIB brasileiro mais que justificariam um foco específico do governo no setor. O espírito batalhador e corajoso dos líderes é a única coisa que traz a longevidade ao setor, muito além do racional econômico. Parece haver um acerto de contas velado entre as partes, levando as usinas ao raquitismo, e algumas já estão moribundas. A meu ver, claro está que o governo não vai estender a mão ao setor e que a luz que sinalizam não é focada nas usinas e sim na Petrobras, que, por tabela, sofre exponencialmente o desequilíbrio dos ajustes dos preços de combustíveis.
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Opiniões Fico impressionado com os esforços e a criatividade para novas ideias para reforçar o caixa da gigante brasileira, sem que o setor sucroenergético possa se beneficiar indiretamente. Em tempo, toda a história de biocombustível é muito bonita e, de fato, muito importante para nossa matriz energética e indispensável, atualmente, para sustentar nosso crescimento. Infelizmente, falta ao povo brasileiro a consciência dessa importância. É ridícula a regra do 70% da relação de preço entre renovável e fóssil que incentiva o consumo combustível fóssil parcialmente importado em detrimento do tupiniquim por apenas dez reais por tanque (considerando 40 litros e relação etanol/gasolina a 80%). Outro fator que contribui desfavoravelmente à longevidade do setor é a fragmentação excessiva que temos. O maior player brasileiro tem cerca de 10% do mercado. A Tailândia tem um mercado muito mais consolidado que o nosso. Alguém já ouviu alguma família afirmar que tem uma refinaria de petróleo ou uma mineração como temos usinas de açúcar e etanol no Brasil? Sofremos uma aberração econômica do ponto de vista de escala e segurança energética nacional. Mas, como afirmei: os dias estão contados. Deduzo que muitas usinas, a essa altura, já saibam que não têm condições de sobreviver, e muitos bancos já devam ter mandados para venda forçada. Infelizmente, a força e a coragem de muitos donos de usinas que os trouxeram até aqui é a razão para seu definhamento. Seguraram tanto sua manutenção como donos que deixaram chegar a um ponto sem retorno. Os passivos, em muitos casos, são tão grandes que eles agora deveriam pagar para alguém ficar com a usina. Deveremos ter três tipos de destinos às dezenas de unidades que padecem desse mal: 1. Com passivos muito maiores que o valor da empresa: devem fechar as portas ou tentar uma improvável recuperação judicial; 2. Com passivos similares ao valor da empresa: devem disponibilizar-se aos maiores bancos credores para tentar uma venda ainda em tempo; 3. Com passivos inferiores ao valor da empresa e sem estra-
tégia nem capacidade de crescimento: devem ser fagocitadas por empresas maiores através de trocas de ações ou de algum player que queira consolidar seus ativos. Como disse, não acredito num milagre governamental para recuperar o setor. Vejo as leis da economia regendo mais fortemente e forjando o futuro das usinas brasileiras. O destino certo da maioria delas é a consolidação: seja através dos futuros grandes players, que ficarão com mais de 100 milhões de toneladas cada, seja através de uma nova potente variável que será, em minha opinião, a grande transformadora do que conhecemos: as petroleiras. Antes vistas como inimigas no mundo pela concorrência nos combustíveis, a inteligência falou mais alto, transformando o setor num complemento e não num concorrente. A sinergia é muito grande e, do ponto de vista de sustentabilidade para o mundo, faz todo o sentido um biocombustível andando de mãos dadas com o antigo combustível fóssil. Vejo a maioria das usinas sobreviventes, de uma maneira ou de outra, associando-se a uma empresa de petróleo ou a uma usina que tenha uma petroleira como acionista. Árabes e chineses, por cultura, são mais lentos para adquirir confiança e finalizar processos de M&A (fusões e aquisições). Acredito que, quando os virmos entrando, o setor como conhecemos estará no fim. Vimos, recentemente, movimentos importantes da Shell, Petrobrás, BP e deveremos ver outras entrando. As usinas pertencerão às petroleiras, tradings ou às indústrias químicas. Estas, como novos entrantes com seus projetos de matérias-primas renováveis, ou associadas às empresas de biotecnologia, trazendo um mundo completamente novo à economia das usinas. Por falar em empresas de biotecnologias, estas merecem um artigo à parte, pois revolucionarão a economia das usinas, assim como as “ponto-com” revolucionaram a internet nos anos 1990. Teremos, sim, uma minoria sobrevivente; usineiros que, à moda antiga, sempre souberam administrar sua produtividade, custo e endividamento. Ainda assim, nesse novo cenário, o fim das usinas como as conhecemos está próximo: para aqueles que gostam de datas, dou um ano a mais que os Maias.
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visão dos produtores
as empresas querem a retomada do
crescimento
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O setor tem feito, e se dispõe a continuar fazendo, a sua parte na busca de índices cada vez maiores de eficiência e produtividade. Porém carece de uma sinalização governamental ... dando maior segurança para o retorno dos investimentos. " Robert Carlos Lyra
Presidente executivo da Delta Sucroenergia
As necessidades atuais do setor sucroenergético já são mais do que conhecidas, e é urgente que o Governo Federal abra um canal de interlocução com o setor, através de suas instituições, para tomada de decisão que confira maior rentabilidade ao produtor de etanol e preços mais competitivos ao consumidor. Os produtores têm investido para atender à crescente demanda por combustíveis, mas estão perdendo mercado frente à atual política de congelamento de preços da gasolina pelo governo, com redução da rentabilidade dos negócios. Política que não tem sido benéfica a ninguém. Para o setor sucroenergético, tem se mostrado uma grande barreira para novos investimentos e ampliação da produção de etanol; para a Petrobras, tem gerado um enorme prejuízo, já que, para abastecer o aumento da demanda, tem importado gasolina a um preço bem mais alto do que vende no mercado interno. Dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostram o aumento das importações de gasolina de mais de 300% de janeiro a agosto deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. São medidas que desestimulam a produção nacional de etanol, enquanto os produtores estão com capacidade ociosa e têm todas as condições, a curto e médio prazo, para ampliar a produção e atender ao aumento da demanda por combustível, com consequente redução das importações de gasolina.
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Em todos os países, com maior ou menor grau de sucesso, os governos planejam a evolução dos sistemas energéticos e atuam para assegurar o abastecimento do mercado, além de considerar sua articulação com a promoção das atividades produtivas, geração de empregos e, de modo crescente, seu impacto sobre a qualidade ambiental local e global. É necessário, então, que o governo atente para as necessidades urgentes do setor sucroenergético, também com desonerações – a exemplo do que fez com a gasolina – do PIS/Cofins e, numa negociação com os estados, para a redução das alíquotas de ICMS sobre o combustível renovável. As empresas têm feito sua parte, com investimentos pesados nos últimos anos, que resultaram na implantação de 100 novas unidades no País, sendo 23 em Minas Gerais, com um total atual de 40 usinas em produção no estado. O setor continuará buscando índices de eficiência e produtividade agrícola e industrial cada vez maiores, a fim de atender às necessidades do mercado. Porém é preciso uma sinalização governamental com uma política de valorização dos combustíveis renováveis e a eliminação das ações que distorcem as relações de preço no mercado nacional de combustíveis, dando maior segurança para o retorno dos investimentos. A Delta Sucroenergia, nova marca do grupo Caeté, em Minas Gerais, como exemplo, emprega 7,3 mil
Opiniões trabalhadores, tem atendido ao chamado do mercado com o aumento da produção, saltando de uma moagem de cana de 4,2 milhões de toneladas, há 10 anos, para os atuais 9,3 milhões de toneladas – uma alta de 120%. A produção de etanol passou de 67 milhões de litros da safra 2002/2003, para a produção prevista, deste ano, de 237 milhões de litros – um crescimento de quase 250%. Em função de investimentos em novas tecnologias, as unidades Delta e Volta Grande, no Triângulo Mineiro, são consideradas como uma das de maior eficiência de moagem do País. O grupo tem procurado dedicar uma grande atenção, também, à qualificação dos trabalhadores, com investimentos, nos últimos três anos, de R$ 1,3 milhão para as mais diversas funções, com destaque para o atendimento aos ajustes ambientais e sociais, como a introdução da colheita e plantios mecanizados. A colheita mecânica conta com um índice de 75% nas lavouras, com previsão de chegar a 90% em 2013/14 e 100% em 2014. O grupo já atinge 45% de plantio mecânico e, ainda na safra deste ano, deverá atingir 65%, como busca de otimização da mão de obra e minimização dos custos fixos. Para aumentar a eficiência dos processos, criamos um centro de operações agrícolas integradas, como uma ferramenta de gestão para agilizar a tomada de decisão, com a exploração de softwares de monitoramento, telemetria e geoposicionamento da frota. A ideia é a de que, até a safra de 2015/2016, 100% das áreas estejam sistematizadas, 100% do plantio me-
canizado e georreferenciado com piloto automático, além de 100% da frota monitorada e gerenciada, tornando a empresa mais competitiva. Mesmo sofrendo com a crise de 2008 e com os graves problemas climáticos posteriores, assim como todo o setor sucroenergético, o grupo não cessou os investimentos. Recentemente, incorporou a unidade Conquista de Minas, também no Triângulo Mineiro. Mantém-se, ainda, como um dos líderes na venda no varejo de açúcar cristal em Minas Gerais, que representa 25% da produção total estimada, para esta safra, em torno de 3,7 milhões de sacas; além da comercialização de 176.000 MW/h da produção de bioeletricidade a partir do bagaço de cana. Cremos que esses dados confirmam a aposta feita pela Delta Sucroenergia no setor sucroenergético e na produção de um combustível que precisa ser mais valorizado e reconhecido como alternativa para mitigar os efeitos da poluição ambiental e contribuir para um ambiente mais saudável. É importante, juntamente com as lideranças do setor, definir um planejamento para os combustíveis renováveis na matriz energética brasileira. O setor tem feito, e se dispõe a continuar fazendo, a sua parte na busca de índices cada vez maiores de eficiência e produtividade agrícola e industrial. Porém carece de uma sinalização governamental da eliminação das ações que distorcem as relações de preço no mercado nacional de combustíveis, dando maior segurança para o retorno dos investimentos.
visão dos fornecedores de cana
Opiniões
como lidar com a questão da
representatividade
num setor, hoje, tão heterogêneo
Para poder discorrer sobre esse assunto, vou me permitir voltar um pouco ao passado e analisar uma situação que foi vivenciada neste país ao longo de muitos anos. Realmente, apesar das dificuldades, todo processo de representação, de certa forma, era facilitado, pois a interlocução com o governo era quase toda alicerçada na discussão de preços condizentes com os custos de produção. Os preços eram administrados pelo Governo Federal, e cabia aos representantes de toda a cadeia produtiva defender o cumprimento para a elaboração dos preços e levantamentos dos custos realizados por empresas contratadas pelo próprio governo.
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Como esses custos de produção já contemplavam algumas características regionais e diferenciais com relação à produtividade, ficava muito fácil articular e ter voz única na defesa dos interesses do setor, quase nunca existindo discordância de seus partícipes. Ou seja, cabia ao setor produtivo brigar para que os preços de açúcar, etanol (álcool à época) e cana-de-açúcar fossem remuneradores. Tudo muito simples e muito eficaz. E todo mundo vivia feliz, apesar de alguns gargalos, devido à alta inflação; às vezes, as correções demoravam a acontecer, mas tínhamos, em cada reajuste de preço, um valor que acabava sendo incorporado
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Mas uma coisa é certa ...: a definição, por parte do Governo Federal, de uma política pública efetiva para a produção de etanol, que passasse pela política de combustíveis como um todo e permitisse simplesmente aos produtores agrícola e industrial terem renda em suas atividades. "
Ismael Perina Junior Presidente da Orplana
aos estoques existentes, inclusive retornando parte para a cana-de-açúcar que já havia sido entregue pelos produtores. Com a desregulamentação de preço, que ocorreu no final da década de 1990, esse entendimento começou a ser dificultado. Lembremo-nos de que se tratava de um setor em que as lideranças, basicamente, dependiam de um bom relacionamento com os representantes do Poder Executivo. À época, os empreendimentos eram quase cem por cento familiares e administrados pelas próprias famílias, com uma carga bastante forte de paternalismo. Logo de saída, formaram-se, tanto do lado dos usineiros como também dos produtores, dois grupos distintos que jamais teriam possibilidade de se articular em defesa de um setor comum, pois um grupo defendia fortemente a
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versatilidade
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visão dos fornercedores de cana manutenção das características anteriores, ou seja, o retorno dos preços administrados pelo governo, e outro grupo defendia realmente o livre mercado. Desse momento em diante, nunca mais o setor conseguiu ter voz única e, com certeza, como um todo, perdeu. Mas entendo que o Brasil ganhou, pois permitiu, após esse período, em curto intervalo de tempo, praticamente dobrar sua produção. Volto a lembrar, porém, que tal fato ocorreu com o sacrifício de muitas empresas e produtores. A busca por ganhos de produtividade passou a fazer parte do nosso cotidiano de uma maneira mais efetiva, com as coisas realmente caminhando para ganhar mercado pela competitividade, fazendo com que a exportação de açúcar crescesse assustadoramente. As empresas começaram, então, a trabalhar com forte visão sobre a necessidade de melhorar a escala de produção como grande agente de redução dos custos. Nessa fase, grandes grupos começaram a se consolidar, e alguns deles já com participação de empresas multinacionais, fazendo com que a representação ficasse ainda mais complexa, pois os interesses passaram a ser mais diversos, dificultando gradativamente a interlocução com o governo. Como o setor é ainda bastante heterogêneo em vários aspectos, creio que o estabelecimento de uma representação para trabalhar os pontos comuns aumentou ainda mais a dificuldade. Temos grandes grupos, basicamente com independência financeira, em que o negócio “cana” representa muito pouco e, na outra ponta, temos médios e pequenos grupos, em que a representatividade é quase total. Temos produtores independentes nas diferentes regiões do País, onde existem produtividades díspares, com diferentes custos de produção por vários motivos, e que, quando chega o momento de se colocar uma proposta na mesa para discussões, os interesses são diversos, causando, certamente, muitas dificuldades. Existe ainda um grande número de pequenos produtores que, principalmente, devido à baixa rentabilidade nessas últimas safras, tiveram a sua produtividade comprometida e enfrentam dificuldades no processo de mecanização. Para outros que já avançaram bastante nesse quesito, certamente, a pauta é muito distinta, sem falar das diferenças enormes da produção nas regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste, que também têm grandes diferenças quanto aos pleitos junto ao Governo Federal. Planejamento, políticas públicas, maior atenção e boa vontade por parte de nossos
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Opiniões governantes seriam fundamentais para as melhorias necessárias. Embora o jogo de interesses esteja muito presente, a política de preços da gasolina foi responsável, certamente, por parte dessa grande tragédia que se anuncia. No momento necessário, o governo deixou de agir e provocou grandes perdas aos produtores, que se irradiaram para um grande número de empresas de produção de equipamentos, serviços e outras tantas que fornecem para a indústria sucroenergética – participantes desse grande setor gerador de emprego e renda no campo e nas cidades do interior do País. Esse setor é responsável pelo abastecimento de açúcar do Brasil e produz enorme excedente exportável que movimenta, por conseguinte, muitos outros setores e gera importantes divisas. É responsável por fabricar um combustível limpo, cuja produção melhora efetivamente as condições sociais e ambientais. E, destaque-se, só não acelerou mais ainda a produção de energia elétrica – consolidando a expressão de “uma Itaipu adormecida” –, por falta de incentivos aos investimentos e de regras claras de comercialização que permitiriam às empresas ter rentabilidade. Sinceramente, da forma como hoje se encontra o setor sucroenergético, é muito difícil tomar qualquer tipo de atitude conjunta que atenda aos interesses de todos. Mesmo que chegássemos ao consenso sobre alguns pontos, dificilmente avançaríamos, pois o número de Ministérios envolvidos com a atividade passa dos dez, e, certamente, as discussões seriam infindáveis. Mas uma coisa é certa e atenderia, talvez, à grande maioria dos envolvidos com o setor: a definição, por parte do Governo Federal de uma política pública efetiva para a produção de etanol, que passasse pela política de combustíveis como um todo e permitisse simplesmente aos produtores agrícola e industrial terem renda em suas atividades. Isso traria enormes benefícios, pois a segurança na produção do etanol permitiria um ajuste na produção de açúcar, equilibrando seus mercados, estimulando novos investimentos e promovendo o desenvolvimento dos municípios do interior e das empresas neles instaladas. Na mesma linha, a Petrobras teria o seu rombo diminuído com uma menor importação de gasolina. Seria criado, assim, um ambiente muito mais favorável aos integrantes de toda a cadeia produtiva, para voltarem a ter interesses comuns, discutir e pleitear de maneira pró-positiva, ajudando, efetivamente, o desenvolvimento deste nosso Brasil.
sistema bancário
não podemos perder mais um
minuto
Todos nós que de alguma forma estamos envolvidos com o setor sucroenergético sentimos, neste momento, uma enorme frustração, que só não é maior porque a enorme crise agrícola e de crescimento pela qual passou o setor nos últimos anos não permitiria, de qualquer forma, maiores saltos. Uma freada de arrumação era até necessária. De um lado, os problemas climáticos e envelhecimento dos canaviais e, de outro, os desafios proporcionados, por exemplo, pela acelerada mecanização de plantio e colheita causaram uma queda brutal dos yields ton/ha e ATR/ton de cana, fazendo com que as médias de ATR/ha no Centro-Sul despencassem de 12 ton/ha para um número abaixo de 9 ton/ha em 2011, implicando enormes aumentos de custo.
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daqui para frente, para que o setor sucroenergético volte a crescer, tem de entrar numa fase completamente diferente da que estamos vivendo hoje, sob pena de que, se nada relevante acontecer, ele irá definhar e voltar a um tamanho muito aquém das suas potencialidades " Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú BBA
Em função disso, toda a energia das empresas foi voltada nos últimos dois anos para retomar, antes de mais nada, os índices normais de produtividade perdidos. Foi prioridade, também, tratar dos problemas causados pelo rápido crescimento que vários grupos tiveram num passado recente, estando essas empresas totalmente focadas em consolidar suas operações e atingir elevados padrões de competitividade, num setor em que produzir com baixo custo é vital para a sobrevivência. Felizmente, os elevados preços do açúcar nos últimos três anos permitiram às empresas que têm alta participação desse produto no mix de produção, geração de caixa suficiente para fazer essa transição de forma sustentável, mantendo alavancagem financeira em níveis razoáveis, já que a produção de etanol tornou-se pouco rentável e até antieconômica.
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A cogeração de biomassa para aqueles grupos que investiram e venderam sua energia em leilões antes de 2008, em contratos de longo prazo, tem sido também uma importante fonte de geração de caixa. Já nos últimos anos, como o governo deu total prioridade à modicidade tarifária, a bioeletricidade se inviabilizou, pois preços em torno de R$ 100,00/Mwh não oferecem retorno aos projetos. Daqui para frente, para que o setor sucroenergético volte a crescer, tem de entrar numa fase completamente diferente da que estamos vivendo hoje, sob pena de que, se nada relevante acontecer, ele irá definhar e voltar a um tamanho muito aquém das suas potencialidades, fazendo com que o Brasil deixe de ocupar o posto de grande produtor de energia renovável a partir dessa planta maravilhosa chamada cana-de-açúcar.
Opiniões O setor privado está correndo atrás do prejuízo, implementando as medidas necessárias para reduzir os custos e produzir da forma mais competitiva possível. Isso envolve aprimoramentos de gestão de toda ordem, adoção de novas tecnologias, melhoramento genético convencional e modificação genética que permitirão a introdução de novas variedades, mais produtivas e adaptadas aos diferentes ambientes de produção, onde hoje a cultura de cana-de-açúcar se desenvolve, etanol celulósico, aproveitamento de palha, maior qualificação de mão de obra, etc. Essas evoluções mostrarão resultados no curto, médio, mas as mais impactantes somente a longo prazo, e temos que ter fôlego para chegar até lá. Esse fôlego, seguramente, dependerá do diálogo sério, responsável, transparente e construtivo das lideranças do setor com o governo, capaz de definir medidas corretas – as chamadas políticas públicas –, que sinalizem de forma definitiva e com um horizonte de longo prazo o lugar do etanol na matriz de combustíveis líquidos e da cogeração de biomassa na matriz energética. Um setor como esse, de capital intensivo, cujos investimentos são de longo prazo de maturação, não pode conviver com insegurança e falta de previsibilidade. Sem dúvida, a demora na sucessão da presidência executiva da Unica, principal entidade do setor, prejudicou bastante o diálogo entre setor e governo, bem como o encaminhamento de soluções. O consolo é que essa demora propiciou encontrar um nome do mais alto nível para o cargo. A dra. Elizabeth Farina, por suas qualidades, é a pessoa certa, no lugar certo, no momento certo. Temos uma grande esperança de que ela saberá lidar da melhor forma possível com todas as dificuldades desse momento extremamente complexo em que vivemos atualmente. Saberá, com sua maestria, achar os pontos convergentes de um quadro de associados da Unica, bem mais heterogêneo que antes, pois, hoje, convivem nessa entidade produtores puros de todos os portes, tradings, petroleiras, etc., com
visões nem sempre comuns sobre alguns assuntos vitais. Saberá, também, graças à sua vivência profissional, com carreira acadêmica brilhante, conhecimento que possui das diversas cadeias do agronegócio e a experiência de governo pelos anos que passou à frente do CADE, ajudar sobremaneira o estabelecimento de um diálogo construtivo entre setor e governo. O momento é agora, não podemos perder mais um minuto, se realmente quisermos que o setor volte a ter uma rota de crescimento vigorosa e sustentável. Se os diálogos tiverem sucesso, continuaremos a ser o principal produtor de açúcar do mundo e responsável por 50% do trading mundial dessa commodity, gerando, só nesse produto, saldo comercial bem superior a US$ 10 bilhões. Teremos o etanol anidro e hidratado com um lugar importante na matriz de combustíveis líquidos no Brasil, além de conseguir exportar volumes expressivos para os EUA e crescentes para Europa e Ásia. Teremos, também, na biomassa de cana-de-açúcar, uma importante fonte alternativa e renovável de energia elétrica, altamente complementar com nossas hidroelétricas a fio d'água. E o que é mais importante: gerar emprego, renda e perspectivas de melhoria de qualidade de vida para um enorme contingente de brasileiros, nos lugares mais longínquos, onde as oportunidades de emprego são escassas, colaborando para interiorizar o desenvolvimento com qualidade. Estão aí para provar isso os greenfields, frutos do último ciclo de crescimento por que passou o setor, que modificaram sobremaneira, e de forma muito positiva, a realidade de dezenas de cidades. Vamos tentar novamente reencontrar o bom caminho em que as empresas do setor retomem a confiança perdida e encontrem as condições para crescer de forma sustentável e em que a Petrobras, nossa mais importante empresa, volte a gerar caixa suficiente para fazer frente ao seu enorme plano de investimentos, com vistas a extrair o petróleo do Pré-sal.
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infraestrutura
Opiniões
o etanol
precisa de definições
O setor de etanol tem sido criticado pelo governo por não ser capaz de suprir a demanda nacional do produto, devido ao baixo crescimento da produtividade. Na realidade, o setor vem sendo punido por uma política de stop-and-go que atrapalha a previsibilidade, inibindo os investimentos e o crescimento da produtividade. Falta um marco regulatório estável que defina uma política de longo prazo.
na mistura com gasolina, possibilitando a redução nas importações do derivado. Com o segundo choque do petróleo (1979-80), o preço do barril de petróleo triplicou em relação ao observado no início da década, fazendo com que as importações de petróleo passassem a representar 46% da pauta de importações brasileiras em 1980. Esse novo estrangulamento nas contas externas brasileiras levou à
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Está na hora de o governo dar previsibilidade ao setor de etanol e compreender que etanol e gasolina não são combustíveis concorrentes, e sim complementares. O Brasil precisa de uma presença bem definida de ambos na matriz de combustíveis para garantir a sua independência energética. "
Adriano José Pires Rodrigues Diretor-geral do CBIE - Centro Brasileiro de Infraestrutura
Após o primeiro choque do petróleo, no início da década de 1970, a alta do preço dos combustíveis no mercado internacional levou o Brasil a uma crise em seu balanço de pagamentos. Como resposta, o governo brasileiro lançou, em 1975, o Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, com o objetivo de estimular a produção do etanol e, dessa forma, diminuir a necessidade de importação de petróleo e derivados. Em sua primeira fase (1975-79), o programa foi orientado para a produção de álcool anidro para a adição
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adoção de um novo conjunto de medidas com o objetivo de incentivar o consumo do álcool. Foi criado o Conselho Nacional do Álcool - CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool - CENAL, para agilizar a expansão do programa, e desenvolveu-se o carro movido puramente a álcool. A proporção de carros a álcool no total de automóveis de ciclo Otto produzidos no País aumentou de 0,46%, em 1979, para 26,8%, em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986.
infraestrutura A partir de 1986, com o contrachoque do petróleo, os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20. Essa nova realidade de preços baixos da gasolina provocou o abandono das políticas públicas que viabilizaram o álcool e pôs fim aos programas de substituição de hidrocarbonetos fósseis. O período do contrachoque do petróleo, com gasolina barata, coincidiu com um período de alta no mercado internacional de açúcar, levando as empresas a priorizarem a produção dessa commodity em detrimento do álcool, ocorrendo um desabastecimento de álcool no mercado doméstico. A submissão da politica pública aos preços baixos do petróleo inviabilizou o programa do álcool, e o carro a álcool praticamente desapareceu do mercado nos anos 1990. Com o crescimento do preço do petróleo a partir da segunda metade dos anos 1990 e a internalização desse aumento de 1998 em diante, através de uma fórmula paramétrica que reajustava o preço dos combustíveis em todo o início de mês, além do crescimento da conscientização ambiental, ressuscitou-se o álcool como combustível, dessa vez batizado de etanol, no início da década de 2000. Como a população ainda tinha em sua memória o desabastecimento, a solução encontrada foi a introdução dos carros flex-fuel. O mercado de etanol voltou a viver uma franca expansão, da entrada do veículo flex-fuel em 2003 até a crise econômica mundial de 2008. Além da crise econômica que levou à falta de crédito, forçando as empresas a escoarem grandes volumes de etanol a preços baixos para se capitalizarem, o governo também anunciou a descoberta da camada Pré-sal. Esses dois eventos – em particular, o anúncio do Pré-sal – levaram o governo a abandonar o projeto Arábia Saudita verde e adotar o Pré-sal como a grande solução para os problemas energéticos brasileiros. A partir daí, o preço da gasolina foi congelado na bomba e se iniciou um processo de competição desigual com o etanol. O volume de investimentos em novas unidades produtoras, que era crescente, entrou em uma trajetória decrescente. Na safra 2005/2006, entraram em operação 9 novas unidades; na safra 2008/2009, auge dos investimentos, foram 30 novas usinas; mas, na safra 2009/2010, esse número diminuiu para 19 – um decréscimo de 36%. Os anos de 2009 e 2010 foram caracterizados por um intenso processo de fusões e aquisições no setor sucroalcooleiro brasileiro. As aquisições foram realizadas, principalmente, por grupos estrangeiros, como Shell, BP, Bunge, motivados pela situação grave de financiamento dos usineiros e acreditando numa retomada do consumo de etanol no mercado interno e no potencial mercado externo. As empresas brasileiras encontravam-se fragilizadas, com alto endividamento, falta de recursos em caixa, safras ruins e falta de liquidez no mercado, o que favoreceu esse processo. Hoje, persiste o problema das usinas que se encontram em processo de recuperação judicial, que não estão conseguindo honrar seus planos de pagamento, por causa da redução da sua capacidade de geração de caixa, já que as margens foram reduzidas pelos custos mais altos. Estima-se que empresas em recuperação judicial controlem, atualmente, 37 unidades industriais, o que equivale a 11% do total de usinas existentes no País. A explicação para as duas crises pelas quais passou e passa
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Opiniões o etanol é a chamada política do stop-and-go. As idas e vindas, em particular os baixos preços da gasolina que estão presentes em ambas as crises, tiram previsibilidade do investidor, gerando custos e inviabilizando o aumento da produtividade. Portanto, se o crescimento do mercado de etanol tivesse sido contínuo, certamente estaríamos em outro patamar de produtividade. Segundo dados da EPE e da EIA, no Brasil, nos últimos 5 anos, a produção de etanol de cana cresceu 29%, enquanto, nos Estados Unidos, o salto foi de 185% no etanol de milho. Em 2000, as usinas americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras, enquanto, em 2011, a produção de etanol norte-americana representou mais que o dobro da brasileira, 230%. Com o baixo crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA na liderança do setor. Qual a receita do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o governo norte-americano se comprometeu, por lei, a comprar 136 bilhões de litros de etanol a um preço mínimo de US$ 1,07, reajustados anualmente. A questão da produtividade do etanol torna-se ainda mais importante quando se observa o crescimento da demanda interna por combustíveis automotivos, que teve crescimento maior do que o do PIB brasileiro. Em 2011, por exemplo, o PIB subiu 2,7% e, o consumo, 5,7%. Um estudo do próprio governo conclui que a elevação da importação de gasolina, nos próximos dez anos, pode chegar a 671%, caso a produção de gasolina e de etanol não cresça no mercado interno. Não adianta cobrar produtividade do setor sem continuidade e política de longo prazo, submetendo o etanol ao comportamento interno e externo do petróleo, e o pior: subsidiando a gasolina no País. Assim, é preciso que o poder público trabalhe para estabelecer mecanismos capazes de incentivar os investimentos e garantir a previsibilidade. Os mecanismos seriam, por exemplo, o estabelecimento de metas de participação do etanol anidro e do hidratado na matriz de combustível, através de política públicas consistentes e que não se alterem quando ocorrerem mudanças de governo. O etanol precisa de uma política de Estado e não de governo. Caso o governo insista em subsidiar a gasolina, uma forma de dar competitividade ao etanol seria a criação de uma Cide regulatória. Essa Cide compensaria o etanol, por meio do pagamento dado ao usineiro, equivalente à diferença entre o preço da gasolina no mercado interno e no externo. Essa compensação teria caráter transitório e desapareceria no momento em que se igualasse o preço interno e o externo. Portanto essa Cide seria zerada, caso a política de preços da Petrobras passasse a seguir o mercado internacional. Mesmo quando a gasolina e o etanol tiverem seus preços seguindo as tendências do mercado, é necessária a criação de uma Cide ambiental, cuja arrecadação seria repassada ao Tesouro Nacional. A gasolina deveria ser taxada por ser um combustível fóssil e poluente, e o imposto ambiental funcionaria como um desincentivo ao seu consumo. Está na hora de o governo dar previsibilidade ao setor de etanol e compreender que etanol e gasolina não são combustíveis concorrentes, e sim complementares. O Brasil precisa de uma presença bem definida de ambos na matriz de combustíveis para garantir a sua independência energética.
consultoria empresarial
Opiniões
sob o olhar de diferentes
desafios e interesses, resta-nos inovar O setor sucroenergético passa, hoje, por mais um de seus momentos delicados na história, daqueles que, certamente, será lembrado quando tudo tiver passado... e, com certeza, passará. Uma situação que começou nos meados da crise financeira mundial em 2009 e se delonga pelos dias de hoje, parecendo não ter uma solução próxima à vista. Iniciado por problemas financeiros advindos da crise, como falta de crédito, associada com alto índice de alavancagem nas usinas, com consequente paralisação dos investimentos, esse ciclo tem mostrado seus efeitos nas safras atuais, nas quais, pela primeira vez em 10 anos, tivemos uma quebra na produção de cana-de-açúcar.
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esse cenário de aparentes divergências e múltiplos interesses, porém, não nos impede de encontrar uma opinião e uma ação comum entre todos os envolvidos nessa empreitada "
Ana Paula Malvestio
Sócia da PricewaterhouseCoopers
Esse fenômeno, causado não só por fatores climáticos, mas, principalmente, pela falta de investimentos voltados ao incremento da produtividade, resultou em aumento dos custos de produção. Aproximamo-nos do fim da safra 2012/2013, e muito se discute o que precisa ser feito para a retomada do crescimento do setor e qual seria a participação de cada stakeholder nesse processo, especialmente, governo, fornecedores de cana e produtores.
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consultoria empresarial O último relatório de safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou um aumento de apenas 4% da produtividade nos canaviais em relação à safra passada. Colhemos, hoje, 70 toneladas de cana por hectare, número bem aquém do considerado razoável por especialistas que apontam 85 toneladas/hectare como uma quantidade plausível. Por outro lado, dados de bancos de investimentos e consultorias apontam uma ligeira retomada de investimentos no setor, especialmente na renovação de canaviais e expansão de área. Atualmente, plantamos cana em 8,5 milhões de hectares, cerca de 200 mil hectares a mais do que na última safra. Vemos, nessa conjuntura, as usinas, gradativamente, fazendo a sua parte, ainda que fatores climáticos continuem interferindo na produtividade. Os fornecedores de cana, assim como parceiros e arrendatários, por sua vez, também demonstram forte engajamento com o setor na busca pelo aumento da produtividade. No âmbito governamental, vimos que a redução da adição de etanol à gasolina, em outubro do ano passado, interferiu não somente na demanda nacional por etanol, mas também na gestão da produção das usinas como um todo, e a demora no anúncio da retomada da proporção dos 25% pode trazer ainda mais dificuldades, vista a necessidade de definição do planejamento da próxima safra. Segundo analistas, a volta do nível de adição do etanol à gasolina, além da tão almejada mudança na política de congelamento de preços do petróleo, estimularia todos os elos envolvidos na cadeia para a retomada do crescimento do setor, que, comprometidos com tal missão de recuperar a confiança e a credibilidade depositada, não mediriam esforços para isso. Uma sinalização dessas, além de garantir o melhor planejamento da produção, fato gerador da estabilidade de preços para os produtos da cana que tanto se é almejada, garantiria a previsibilidade e a estabilidade do ambiente produtivo, abrindo-se as portas para novos investimentos que poderão movimentar o setor, que almeja chegar a 1,2 bilhão de toneladas de cana-de-açúcar em 2020. O fato é que se trata de temas estratégicos, que têm sido colocados no centro de várias discussões entre o setor e o governo e, talvez, tenham se tornado o marco desse ciclo, assim como os temas da desoneração tributária do etanol frente à gasolina e a estabilidade (e viabilidade) de preços, com políticas de incentivos à formação de estoques, leilões diferenciados para energia de biomassa, entre outros. Contudo, ambos os lados encontram dificuldade para lidar com as demandas de seus interessados. De um lado, o setor sucroenergético busca construir uma opinião em comum entre fornecedores de cana, empresas de insumos, associações de trabalhadores, indústria de base e usinas. De outro, o governo tenta encontrar possíveis soluções que atendam ao setor e mantenham a estabilidade política e econômica. Esse cenário de aparentes divergências e múltiplos interesses, porém, não nos impede de encontrar uma opinião e uma ação comum entre todos os envolvidos nessa empreitada, valendo destacar: • Adoção de medidas para equacionar o endividamento, que chega a R$ 42 bilhões, tendo aumentado na última safra para 3,7%, segundo o banco Itaú BBA, se fazem necessárias;
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Opiniões • Resgate do potencial produtivo da indústria de base; • Preparo da indústria de insumos para suprir a demanda de fertilizantes, defensivos e maquinários; e • Busca pela eficiência e produtividade. Para tanto, inovar se faz necessário. Muito já se fala em etanol de segunda geração, plástico de cana e cana transgênica, mas vale a pena destacar outras inovações que as empresas têm em suas mãos. Sob a forma de gestão, podemos inovar na área agrícola, fazendo um efetivo acompanhamento de custos, produtividade, expansão de área. Já na área industrial, a melhoria de processos e a adoção das melhores práticas de governança corporativa garantem confiabilidade no processo, otimização da produção e gestão mais transparente. E, na área comercial, a tão necessária melhoria na logística, no setor de compras e estoques estratégicos, citando aqui os mais relevantes. A inovação pode vir pela formalização de parcerias estratégicas entre os elos dessa cadeia, podendo ser, inclusive, o caminho para atingir os demais desafios mencionados, com a obtenção certa de ganhos mútuos. Essas são apenas algumas reflexões para aqueles que acreditam na indústria da cana-de-açúcar no Brasil e que creem que o crescimento do País está baseado também no crescimento desse setor. Enfim, a palavra de ordem é inovação!
economistas
as insensibilidades
sucroenergéticas
Este artigo tem o objetivo de discutir a grande falta de sensibilidade da sociedade brasileira e, notadamente, do Governo Federal, com os aspectos ligados ao setor sucroenergético. De maneira didática, resumo nossa falta de visão e a consequente perda de grande oportunidade de desenvolvimento econômico, social e ambiental em 11 insensibilidades, descritas a seguir: 1. Insensibilidade econômica: Diferentemente do setor de etanol nos EUA, o etanol no Brasil carece de um plano estratégico feito pelo governo e pelo setor privado, que diga, de maneira simples, que metas devemos atingir em 2020, por exemplo. Um plano que contemple quanto se deseja que a frota flex use de etanol, quanto iremos exportar de açúcar, quanto etanol será adicionado na gasolina, enfim, uma visão de médio e longo prazo que permita previsibilidade ao investidor. O quadro em destaque sintetiza tais metas.
fixadas pelo País nas instituições internacionais. Como as emissões do etanol estão em 10 a 15% das emissões de gasolina, somente no estado de São Paulo, de acordo com o Consema, entre 2009 e 2011, houve um aumento de emissões de 3,4 milhões de toneladas de CO2 pela troca do etanol pela gasolina. Por incrível que possa parecer, as ONGs ambientalistas não abraçam a causa do etanol, criando uma campanha intitulada, “veta Gasolina”, tal como a eficiente campanha “veta tudo Dilma” que orquestraram durante os debates do Código Florestal. Um exemplo dessa falta de sensibilidade do governo na questão ambiental está na recente regulamentação que vai obrigar os postos de combustíveis a divulgar o benefício econômico do etanol. Mas por que não obrigar os postos a divulgarem o benefício ambiental? Isso não está na regulamentação.
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A lacuna de etanol (fará) com que o Brasil importe ... em 2020, US$ 58 bilhões ... de gasolina... Se o Brasil conquistar 60% do crescimento do consumo mundial de açúcar até 2020, poderá trazer, no período, US$ 80 bilhões ao País. Esse é um grave problema da falta de visão do governo brasileiro "
Marcos Fava Neves Professor de Planejamento e Estratégia da FEA-USP
Essas metas poderiam trazer para a produção de cana pelo menos 8 a 10 milhões de hectares de pastagens degradadas, gerando grande desenvolvimento econômico e investimentos por todo o Brasil, notadamente em Minas Gerais, no Centro-Oeste e no semiárido, com irrigação. 2. Insensibilidade social e de exclusão: Fazendo as 100, 120 novas usinas necessárias para o Brasil até 2020, teríamos a geração de 100 a 120 mil postos de trabalho. Com isso, promoveríamos a inclusão e o desenvolvimento social. O governo e parte dos procuradores da República, do Ministério Público, também são insensíveis com os fornecedores de cana, uma vez que fazem exigências a um setor que, nos últimos dez anos, trabalhou de graça para a sociedade brasileira, sem nada ganhar. 3. Insensibilidade ambiental: A falta de etanol para abastecer a crescente frota flex (3 milhões de novos automóveis por ano) e o aumento do consumo de gasolina estão fazendo com que o Brasil deixe de atender às metas ambientais
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4. Insensibilidade em relação ao trabalho e à capacitação: O Brasil tem uma das legislações trabalhistas mais anacrônicas entre os países produtores de cana, e isso aumenta muito os custos de produção no campo e nas usinas, além de incentivar uma criminosa indústria de indenização instalada no setor. O trabalho no Brasil teve grande ganho salarial nos últimos dez anos, mas pouquíssimo ganho de produtividade. Mão de obra, hoje, é desvantagem competitiva no Brasil. 5. Insensibilidade com o setor de bens de capital: O Brasil desenvolveu, ao longo dos últimos 50 anos, uma indústria de bens de capital destinada ao setor sucroenergético, admirada mundialmente, geradora de inovações e de muitos empregos. Hoje, esse setor encontra-se em enorme dificuldade, pois praticamente não se fazem mais usinas novas, devido ao baixo retorno do investimento. Suas vendas caíram e a crise se instalou no setor desde 2008. Isso poderia ter sido evitado.
Opiniões 6. Insensibilidade com a balança comercial: Aqui, o fato é grave. A lacuna de etanol competitivo no mercado interno faz com que o Brasil importe uma quantidade enorme de gasolina. A estimativa é de que o Brasil gaste, em 2020, US$ 58 bilhões em importações de gasolina, recurso hoje inexistente no escasso saldo comercial do Brasil. Fora isso, poderíamos ter mais etanol para atender a todo o espaço aberto nos EUA para o etanol de cana, além de ter mais açúcar para exportar. Se o Brasil conquistasse 60% do crescimento do consumo mundial de açúcar até 2020, poderia trazer, no período, US$ 80 bilhões ao País. Esse é um grave problema da falta de visão do governo brasileiro, prejudicando a balança comercial. 7. Insensibilidade de logística e abastecimento: Ao zerar a CIDE na gasolina, o governo retirou R$ 7 bilhões que seriam investidos na já combalida infraestrutura logística. Fora isso, ao não planejar adequadamente, estimular a venda de carros novos e não dispor de suficiente estrutura para importação, o governo verá faltar gasolina no Brasil, o que deve prejudicar fortemente sua popularidade. 8. Insensibilidade com a Petrobras: Ao importar gasolina mais caro que o preço vendido aqui dentro do Brasil, o governo força a área de abastecimento da Petrobras a prejuízos imensos, afetando o valor da empresa, a capacidade de investimento e a sua vida econômica. 9. Insensibilidade com a inovação: Diversas empresas estão trazendo inovações que permitem um uso muito maior da cana, como o plástico, o diesel, o querosene, a gasolina de cana e, com a escassez de cana, essas oportunidades não poderão ser aproveitadas na velocidade necessária. 10. Insensibilidade com a comunicação e posicionamento: No exterior só se fala bem, só se elogia a cana e sua capacidade de suprir energia. Aqui, no Brasil, na maioria das vezes, o que se tem são críticas infundadas, o que demonstra, por parte do governo e da sociedade, uma profunda falta de entendimento dos benefícios que todos recebemos por termos a cana instalada no Brasil. 11. Insensibilidade tributária: Por se originar de fontes renováveis e não poluentes, o etanol mereceria um tratamento tributário absolutamente diferente do observado na gasolina e nas outras formas não renováveis de eletricidade. Não é o que se observa. Idem para a bioeletricidade da cana.
Feitas essas ponderações, é fácil se chegar a uma conclusão de que existe, por parte do Governo Federal, principalmente, e também dos governos estaduais, e consequentemente da sociedade brasileira, uma miopia impressionante em relação às potencialidades da cana para contribuir para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Há anos que alerto, via palestras e artigos, sobre todos esses problemas. Contudo, lamentavelmente, a inoperância nessa área é inacreditável, talvez “como nunca antes vista na história deste país”. E qual seria a agenda? Não é possível recuperar esse apagão dos últimos quatro anos, mas é possível, rapidamente, tomar medidas para que os investimentos voltem, como por exemplo: a. aumentar a mistura de anidro na gasolina para 25%, o que consumiria mais de 1 bilhão de litros de etanol, influindo positivamente nos preços do açúcar e nas rentabilidades do setor; b. zerar a cobrança de PIS e Cofins no etanol, reduzindo 12 centavos no custo do litro; c. trabalhar para que os estados reduzam a incidência de ICMS no etanol (em alguns casos, responsável por mais de 55 centavos do preço final); d. permitir um ligeiro aumento do preço da gasolina na bomba, sem impacto inflacionário (10 a 20 centavos por litro); e. encontrar, institucionalmente, maneiras para agilizar os apoios do BNDES (Prorenova, e outros), via cooperativas ou outros mecanismos. Hoje, existe enorme dificuldade em conseguir acesso aos recursos disponibilizados; f. reduzir ou eliminar os impostos sobre equipamentos (bens de capital) dos greenfields ou de expansões, uma vez que esses projetos têm impostos acumulados de quase 25%; g. leilões específicos para a bioeletricidade da cana, com tributação diferenciada, que reflitam seu aspecto renovável e limpo. Com essas medidas, o governo brasileiro promoverá o crescimento do PIB via investimentos, e não via consumo, que hoje representa a maioria das medidas de estímulo tomadas. Investimentos esses que vão gerar produção, impostos, empregos e interiorização de desenvolvimento.
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economistas
Opiniões
que tal começarmos com um
pacto?
A economia brasileira, gradativamente, está passando do regime considerado como capitalismo de Estado para o regime considerado como capitalismo de mercado. Mas essa passagem não está ocorrendo de maneira uniforme, homogênea, em todos os setores. Alguns já estão vivendo o pleno capitalismo de mercado, sem interferência estatal e, também, sem necessidade – para viver – de qualquer apoio do setor público. Outros setores, entretanto, estão atrasados nesse processo de transição. Tudo indica que demorará ainda muito tempo para eles atingirem a plena emancipação do Estado. O setor sucroalcooleiro, por exemplo, é um deles, a começar pela parte agrícola. Falo do setor canavieiro, mas não excluo a parte industrial. No capitalismo de Estado, as repartições públicas têm mais importância do que as empresas privadas. No capitalismo de mercado, ocorre o contrário, isto é, as empresas privadas têm mais importância – e ocupam maior espaço – do que as repartições públicas.
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Primeiro, é preciso pacificar o setor, que vive em estado de guerra contra si mesmo. Depois – se possível –, operacionalizar a ideia, que não pode ser vocalizada por um chefe. Deve sê-lo por um líder. Bom lembrar que chefe é uma pessoa que precisa dos outros. Já líder é uma pessoa de quem os outros precisam. " Antonio Vicente Golfeto Diretor Técnico do Instituto de Economia da ACI-RP
É exatamente por causa dessa realidade – de dependência da boa vontade e dos favores estatais – que as lideranças do setor, tanto as mais experientes quanto as mais jovens, precisam ver a realidade sob o ângulo de quem necessita de pedir, de requerer, de solicitar. Como todo requerimento, ele pode ser deferido ou indeferido. Essa situação de dependência exige o cultivo constante da humildade. “Humildade” é palavra, na língua portuguesa, que vem de humus, do latim. E “húmus” – já transplantado para o português – é a fertilidade da terra, também
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sinônimo de terra dadivosa. Humildade, portanto, é fator de mais produção e, por conseguinte, de melhor produtividade. Inclusive e, principalmente, em termos econômicos. Esse deve ser o estado de alma para que o setor sucroalcooleiro venha, aos poucos – apoiado no Estado –, ganhar maioridade econômica para poder ser transferido do âmbito do capitalismo de Estado para o âmbito do capitalismo de mercado. Enquanto o setor sucroalcooleiro for parte do capitalismo de Estado – isto é, dele depender –, suas lideranças devem saber que é preciso buscar o desenvolvimento econômico, tendo apoio governamental para expansão. É muito diferente do capitalismo de mercado, aquele em que o Estado deve ser apenas e tão somente um redutor de incertezas. Nesse âmbito, as empresas não dependem nada – ou dependem muito pouco – do Estado. Mercado é o local onde neurônios são transformados em dinheiro.
economistas Não são poucas as solicitações que o setor sucroalcooleiro deve fazer ao setor estatal a fim de buscar acelerar a passagem para o capitalismo de mercado. Essa realidade significa andar com as próprias pernas. Uma delas – talvez a primeira, mas nem por isso a mais importante – é incluir o etanol na matriz energética nacional, objetivo que, até hoje, situa-se apenas no âmbito das pretensões. Outra é obter mais financiamentos a fim de que os índices de produtividade – sobretudo na agricultura – sejam melhores e deem mais poder de competição ao açúcar e, sobretudo, ao etanol, tanto o anidro quanto o hidratado. É tradição e público – todos sabem – contarmos com um setor marcadamente dividido. E põe divisão nisso. Ao longo dos tempos, ele tem demonstrado que sabe produzir. Afinal, são mais de trezentos anos que se produz açúcar de cana no Brasil. Mas é tradição, também, identificarmos a existência de uma divisão dentro do próprio setor. O que rapidamente nos leva para o conselho dado por Jesus Cristo, quando diz: “todo reino dividido contra si mesmo será destruído”. A divisão nasce como oposto da humildade. Quanto mais ego, menos humildade. Nós aprendemos que uma empresa é tanto maior quanto menor for a soma dos egos dos seus componentes, sejam donos, sejam empregados. Mas não é só para as empresas que esse postulado vale. Ele se aplica também – como uma luva – para outras áreas do conhecimento humano. Para o setor sucroalcooleiro, também. E, não raro, até mais. O que se nota é que o setor está ficando cada vez menor, exatamente porque o ego dos seus componentes está ficando cada vez maior. Para as pessoas físicas, essa realidade também se aplica. Só que a expressão verbal ocorre de outra maneira. O interesse, que se expressa pelo bolso, tem que ser maior do que a vaidade que mora – como deformação – na alma. Vemos, assim, que, no singular – na pessoa física – ou no plural – na pessoa jurídica –, o ego é sempre nosso maior inimigo. O antídoto para ele é o cultivo da humildade. Que tal começarmos a cultivar pelo menos a modéstia? Que tal também o setor fazer um pacto? “Pacto” é o particípio passado do verbo latino pacere. Pacere quer dizer “fazer a paz”. Portanto pacto é paz feita. Já nem digo acordo, porque acordo tem a interferência do coração. Vamos ficar com pacto apenas. É mais simples. Primeiro, é preciso pacificar o setor, que vive em estado de guerra contra si
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Opiniões mesmo. Depois – se possível –, operacionalizar a ideia, que não pode ser vocalizada por um chefe. Deve sê-lo por um líder. Bom lembrar que chefe é uma pessoa que precisa dos outros. Já líder é uma pessoa de quem os outros precisam. Nos dois casos – chefe e líder –, estimula-se a inveja. Que é o mau hálito da alma. Mas é preciso combatê-la. No caso, o melhor remédio é cultivar o interesse. O interesse de ganhar dinheiro deve ser maior do que a inveja provocada pelo aparente sucesso de alguém. O contrário é, como diz Eça de Queiroz, “estupidez córnea ou má-fé cínica”. Com muito escrúpulo, sugerimos ao setor como um todo – claro que precisamos considerar algumas poucas exceções – que aprenda com exemplos de pessoas bem-sucedidas. Se não for possível, que aprenda com coisas. Por exemplo: as peças de um avião, sozinhas, não voam. Mas, quando interagem, fazem o avião decolar. E atinge seus objetivos. A verdade é que, agindo cada um por si – e não como uma máquina dirigida, uma orquestra –, o sucesso pode vir individualmente. Mas, individualmente, só se consegue crescimento. Prosperidade – nome amplo do desenvolvimento econômico – só pode vir coletivamente. E o coletivo pressupõe trabalho em conjunto, em equipe. Que se torna impossível com o domínio do individualismo, nome que se dá ao egoísmo nas doutrinas econômicas. O egoísmo é mais estudado no âmbito das religiões, sobretudo na teologia. O mercado aceita quase tudo: corrupção, crueldade, injustiça, analfabetismo. Em muitos casos, o mercado aceita até delitos. Afinal, foi Honoré de Balzac quem disse que “atrás de toda grande fortuna existe sempre, pelo menos, um crime”. Mas o mercado rejeita estupidez mental, sinônimo de pouco neurônio. E, com pouco neurônio, o setor corre um sério risco – e faz o País correr também – de, pela ação do presente, construir, para o setor, as bases de um futuro menor do que foi o passado. E aí, o estigma ficará para uma, duas ou até três gerações. Todas dos dias de hoje. É preciso ter em conta que o etanol pode mudar a geopolítica do mundo. Não só ele. O gás natural busca ocupar esse espaço também. Mas energia limpa deve ter primazia sobre as não limpas porque é mais conforme o momento que vivemos e, também, como desejamos que venha a ser o futuro. Para tanto, os membros da orquestra não podem ser muito menores – somados – do que a partitura que deve ser executada.
grupos de estudos em gestão industrial
o setor sucroenergético precisa de
unidade e diálogo
O setor sucroenergético é cíclico. Desde o Proálcool, que abriu efetivamente as válvulas dessa indústria, em meados da década de 1970, até os dias de hoje, muitos foram os altos e baixos desse segmento. Especialmente nas últimas duas décadas, testemunhei de perto as nuances dessa engrenagem responsável por uma fatia estratégica da economia brasileira. Tive a oportunidade de vivenciar o debilitado álcool hidratado dos anos 1990, que abastecia uma frota antiga de veículos movidos apenas pelo biocombustível da cana. Havia demanda de álcool anidro para ser misturado à gasolina, mas isso não era suficiente para
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reerguer o projeto que havia vivido seus melhores momentos na segunda metade dos anos 1980. Mas também vi renascer a esperança dos produtores no começo deste século, mais especificamente em 2003, quando foi lançado o primeiro modelo de carro flex, uma revolução no setor. Pouco tempo depois, o etanol, nova denominação do álcool, passou a abastecer também as pautas de importantes reuniões globais sobre sustentabilidade. Afinal, em um planeta castigado pelos altos índices de emissão de GEE - Gases de Efeito Estufa, o estímulo ao uso de um biocombustível renovável passou a ser de fundamental importância. Concordo com os especialistas que acham o etanol uma realidade irreversível, um combustível limpo, com apelo ambiental, consolidado na matriz ener-
Queremos, sim, um marco regulatório. Afinal, a falta de apoio se reflete na competitividade do produto nacional. Como pode ser tão claro e, ao mesmo tempo, tão difícil alcançar? Quem ganha e quem perde? De quem é a culpa? Certamente de todos os interessados no setor. Por isso defendo o diálogo. A harmonia depende da coerência. " Eliana Aparecida Canevarolo Presidente do Gegis, Grupo de Estudos em Gestão Industrial do Setor Sucroalcooleiro
gética brasileira. Mesmo com a característica cíclica do setor, é indiscutível o fato de que os produtores brasileiros somam pontos positivos para o mundo quando reiteram a aposta no combustível renovável da cana-de-açúcar. Desde 1975, por causa do Proálcool, o País substituiu por etanol pelo menos 2,2 bilhões de barris de gasolina. A cada ano, o Brasil economiza 120 milhões de barris do combustível fóssil usando álcool da cana.
Opiniões Preocupa-me, no entanto, o fato de que, na safra passada, 26 usinas não moeram cana na região Centro-Sul do País. A crise, estimulada por uma série de fatores, entre os quais problemas regulatórios e de clima, só não é maior pela diversificação da produção. Além de etanol, temos o açúcar e a cogeração de energia com palha e bagaço. Hoje, 33% da cana produzida no Brasil são destinados ao açúcar de exportação. O setor sucroenergético brasileiro precisa crescer de forma contínua e, para isso, precisa equalizar seus pontos de apoio. No que diz respeito ao domínio tecnológico, às pesquisas agrícolas e ao envolvimento dos profissionais da cadeia produtiva, estamos bem servidos. Temos uma indústria moderna e uma lavoura desenvolvida; servidos por uma indústria de base criativa e eficiente, além de centros de excelência em pesquisas. No entanto, sinto que precisamos de uma representatividade equilibrada, que contemple os interesses do setor de uma forma estratégica. Porque se trata de um segmento estratégico, mas vive hoje uma realidade desconfortável. Apontar um ou mais responsáveis pela instabilidade atual do setor não seria uma ação inteligente. Mas bater no peito e levantar a bandeira do diálogo, sim. Estrutura, evolução, consolidação e visibilidade são conquistas de quem dialoga. O setor sucroenergético quer ser contemplado com incentivos públicos específicos para o segmento, assim como ocorre com os derivados de petróleo. Queremos, sim, um marco regulatório. Afinal, a falta de apoio se reflete na competitividade do produto nacional. Como pode ser tão claro e, ao mesmo tempo, tão difícil alcançar? Quem ganha e quem perde? De quem é a culpa? Certamente de todos os interessados no setor. Por isso defendo o diálogo. A harmonia depende da coerência. Observe, escute uma orquestra sinfônica de qualidade. Seus inúmeros músicos e instrumentos precisam estar afinados. O maestro, com sua batuta, apenas integra o grupo. Conduz com base no que está escrito, combinado. Um ou mais solistas se destacam, mas dentro do contexto da obra. Faça essa analogia. Presido o Gegis, um grupo de estudos em gestão industrial do setor que se reúne uma vez por mês em Sertãozinho-SP e em Dourados-MS, para promover a integração dos profissionais que vivem o dia a dia das usinas e destilarias. O Gegis foi criado há onze anos, motivado justamente pela dificuldade no intercâmbio de informações entre as unidades industriais. Havia, na ocasião, assim como hoje, a necessidade de uma maior aproximação entre os gestores da área industrial, para que os
problemas e as soluções fossem discutidos, fracassos e sucessos, compartilhados. Já no primeiro encontro, me convenci de que a comunicação entre as empresas era fundamental para uma gestão bem-sucedida. Hoje, promovemos encontros produtivos, com temas atuais, sugeridos pelos participantes que buscam ferramentas para melhorar seus processos. Nos encontros, discutimos os indicadores de desempenho industrial das usinas associadas ao Gegis. Avaliamos, entre outros parâmetros, a eficiência e a disponibilidade da indústria, os índices de impurezas, ATR, o volume de torta produzida e a fibra da cana, a partir de dados fornecidos pelas usinas. Os encontros mensais também contam com palestras de especialistas, das mais variadas fases do processo industrial, que apresentam o que há de mais moderno no mercado, tanto em tecnologia, quanto em pesquisas e novos conceitos. É esse o diálogo que promovemos. É a contribuição que podemos dar para ajudar o setor a caminhar em frente. A indústria canavieira é pujante. Claro, é um setor sensível, como qualquer atividade do agronegócio, mas tem capacidade para crescer muito mais. Estamos à beira da realidade comercial do etanol de segunda geração, o que já está modificando alguns conceitos e despertando a criação de novas tecnologias. Somos criadores de empregos e divisas. Na safra 2011/12, o setor gerou 943 mil empregos diretos e 2,1 milhões indiretos em todo o País. São 70 mil fornecedores de cana, 413 plantas industriais e R$ 50 bilhões de receita. Temos como crescer, tanto em produtividade, quanto em novas áreas, sem invadir biomas essenciais para o Brasil, com respeito à natureza. O Brasil, por vocação, integra com louvor a lista de nações que se preocupam realmente com o meio ambiente. Temos nas mãos um "diamante" potencial, cuja lapidação vem sendo feita aos poucos. No entanto, com sinergia, podemos acelerar esse processo e tornar o setor cada vez mais resistente aos percalços. Mas, para isso, é preciso unidade. Diálogo.
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consultoria tributária
Opiniões
se crise existe no setor, ela é
episódica
O crescimento do setor sucroalcooleiro é uma realidade, porém, se buscarmos associar a ele a classificação de “seguro e contínuo”, outros aspectos devem ser considerados. Nesta safra, a produção de açúcar mostra-se 57% maior que no mesmo período do ano passado. No acumulado, a produção de açúcar atingiu 26,8 milhões de toneladas. Para o etanol, produtores do Centro-Sul somaram 1,0 bilhão de litros na primeira quinzena de outubro, dos quais 175,2 milhões foram para o mercado externo e 835,9 milhões para o mercado interno. Segue havendo crescimento do setor. E o menor crescimento nos últimos seis anos decorre de fatores climáticos e de falta de renovação dos canaviais no momento adequado. Além disso, fatores financeiros, a diminuição de insumos aplicados e a descapitalização dos produtores agravaram a queda da produtividade. A crise econômica internacional refletiu-se no cenário interno, retraindo a instalação de novas usinas e diminuindo a expansão dos canaviais. Destaca-se, ainda, que a queda no ritmo de crescimento da produção e uma maior destinação da cana para a produção de açúcar, e também para a produção de álcool anidro para misturar à gasolina, levaram à redução na oferta de álcool hidratado para ser comercializado diretamente nas
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Temos observado que há falta de concordância no verbo dos empresários do setor. Requer-se líder empresarial que obtenha consenso mínimo para credenciar-se frente ao Governo Federal na busca de convivência pacífica. Fernando Peixoto D'Antona Diretor do Grupo Personality
bombas de combustível. A associação desses fatores elevou os preços e afastou os consumidores, que passaram a optar pela gasolina devido à melhor relação custo x benefício. Surge o primeiro entrave ao crescimento seguro e contínuo do setor. O IBGE monitora cenários e induz atitudes do governo. Não foi outra a razão pela qual o Governo Federal reduziu a proporção de álcool anidro misturado à gasolina, de 25% para 20%. Há notícias na imprensa de que essa participação irá se recompor apenas em meados de 2013.
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Importante não dar motivo a avaliações como essas e adotar posturas que eliminem a desconfiança mútua, que pode evoluir para a beligerância entre o segmento sucroalcooleiro e o governo. O governo do passado foi incapaz de sedimentar e dar continuidade ao programa, e certamente o atual não ficará inerte se senti-lo ameaçado. Participei ativamente da fase de gestação e implantação do programa, nos idos de 1979, dos estudos doutrinários e, de 1980 a 1985, quando da assessoria ministerial na então Seplan - Secretaria de Planejamento da Presidência da República. O programa vingou, expandiu-se a fronteira agrícola, houve a produção, surgiram os motores a álcool. Com pesar vi, anos após, o próprio governo desestimular e desacreditar o programa na indefinição do controle sobre a comercialização do produto. O governo apenas acompanha, uma vez que não deve ingerir na fixação desse mixing, e vê com maus olhos a mudança nos volumes de produção açúcar x álcool induzida pelo benefício para o empresário. Frustra-se a expectativa governamental na oferta do álcool hidratado, principalmente, com quebra de confiança entre governo e empresários do setor, gerando falta de apoio e cobranças públicas, deixando-o em posição desconfortável perante a opinião pública.
consultoria tributária Recomendável celebrar um “acordo de cavalheiros” entre as partes envolvidas. Temos lido na imprensa a cobrança ao governo de previsibilidade, de regras claras do marco regulatório, etc. O governo cobrará dos empresários a mesma previsibilidade e comprometimento com as metas a que se propõe, por necessitar da produção e temer por ela. Outro óbice está nos estabelecidos 30% a menos de diferencial no preço do etanol para induzir seu uso nos motores flex em relação à gasolina. Para não seguir impactando negativamente o preço do álcool na bomba, há consenso nos pleitos do setor para que se libere o preço da gasolina. Mas, será a única solução, ou a mais pertinente frente ao grau de dificuldade no atendimento? O governo será crítico na análise das variáveis envolvidas; a liberação do preço da gasolina, tal como se invoca, não será de fácil obtenção. Só deverá decidir se estiver calçado numa nova realidade de produção da gasolina a nível nacional. A nova tecnologia dos motores a álcool não enseja a revisão desse índice de 30%? O governo rege toda a atividade envolvendo a produção, a comercialização e o preço da gasolina e, a cada momento concede ao usuário final da gasolina benesses e renúncia fiscal. Contudo, tem real interesse na produção de álcool e pode incrementá-la mediante incentivos e suportes logísticos. Por que não pleitear para o preço do álcool igual tratamento, com um preço mínimo que remunere o produtor, sem desestimular o uso desse combustível, tal como faz para a gasolina? Temos observado que há falta de concordância no verbo dos empresários do setor. Requer-se líder empresarial que obtenha consenso mínimo para credenciar-se frente ao Governo Federal na busca de convivência pacífica. Temos acompanhado as notícias de dissensões internas quanto à avaliação que os próprios empresários fazem de seus porta-vozes. Há, aqui, algo que remete à noção de “falcões” e “pombos”, referindo-se a dirigentes das associações de empresários. A cada momento, o setor os rotula: alguém é combativo demais e semeia antagonismos, ou,
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Opiniões por outro lado, alguém é passivo em excesso, pecando por insuficiência de garra na defesa dos interesses da categoria.De um mestre no governo ouvi, certa vez, que “só não tem inimigo quem não tem valor”. Disso decorre que alguém com maior visibilidade sofre maiores avaliações negativas e, assim, nele se procura não o que há de positivo, mas sim o de negativo; critica-se porque ali está alguém se expondo a elas. O trânsito e o diálogo com o governo estarão mais assegurados pelo mérito do assunto em discussão que pela figura do interlocutor. Muitas vezes, o empresário não sabe como colocar seus pleitos junto ao governo de forma produtiva. É usual que despenda esforço extra tentando entender como funciona a máquina, pois está fora de seu habitat. Sem impor demérito à forma de decidir, nem à eficiência do executivo governamental, o empresário privado detém e conjuga o poder de mandar com o de resolver. Já o funcionário público, por mais categorizado que seja, quase sempre se defronta com a limitação do fato de que manda, mas não resolve. Não por sua culpa, mas sim devido ao funcionamento da máquina. No Direito em geral, território onde o empresário atua, tudo o que não é proibido é permitido. Ao contrário do território do administrador público, onde o Direito Administrativo rege que só aquilo que é expressamente previsto é permitido, cerceando a capacidade de decisão do administrador público. Em defesa do setor, a Famasul – Federação de Agricultura e Pecuária do MS, em parceria com a Biosul - Associação dos Produtores de Bionergia do MS, registra o pleito de incentivar o consumo do álcool, e não da gasolina, por razões consideradas convergentes pelos empresários e autoridades. Finalizando, se crise existe no segmento sucroalcooleiro, essa é episódica. A economia não cresce linearmente e, sim, aos saltos; o agronegócio pode não estar, neste momento, ganhando campeonato mundial de salto em altura, mas certamente não está correndo a milha ao nível do solo.
ensaio especial
Opiniões
novos talentos para
novos tempos
A grande vocação do setor sucroenergético sempre esteve ligada à produção agrícola e industrial. Essa é uma questão histórica e significativa quando patrimônio e, depois, tecnologia, eram valores exclusivos. A trajetória da indústria da cana-de-açúcar acompanha o próprio crescimento do País, uma história de evolução contínua em expansão territorial e desenvolvimento tecnológico, marcada por crises cíclicas. No cenário atual, a ausência de fronteiras para o capital financeiro produz uma crise profunda de cultura empresarial aliada à necessidade de transformar vantagens comparativas em vantagens competitivas.
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Para que o setor possa encontrar seu caminho, é preciso reformular, adotar novas abordagens e fazer da sustentabilidade tema inerente às estratégias organizacionais, na forma como se concebe e realiza negócios. Fazer o que sempre foi feito vai conduzir, inevitavelmente, aos mesmos resultados. " Rosmary Delboni Consultora da Key Associados
Esse é um dos primeiros setores econômicos do Brasil; foi pioneiro no desenvolvimento de energia limpa com a produção de etanol e energia a partir da biomassa, quando a questão ambiental ainda não estava em pauta com a força que hoje tem. Mas, lamentavelmente, sempre esteve em notícia pelos aspectos negativos, seja por crise no balanço entre produção de açúcar e álcool e a consequente falta do produto nos postos de abastecimento, no auge de demanda do mercado por álcool, seja por transgressões trabalhistas ou reclamações da população pela queima da palha da cana.
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ensaio especial Não apenas as questões mercadológicas, mas os impactos sociais e ambientais negativos nortearam por anos as matérias que circularam sobre o setor sucroenergético brasileiro. Os problemas da queima da palha da cana-de-açúcar e das condições degradantes do trabalho no corte também tiveram sua cota de contribuição na imagem que se formou de um setor que não soube usar de forma satisfatória seus muitos pontos fortes em favor de construir uma percepção mais favorável. Voltado ao intramuros, o setor não demonstrou preocupação, na medida necessária, com a opinião pública. Tudo indica que a crença generalizada era de que a lição estava feita. Os melhores índices de produtividade do mundo na produção de açúcar e álcool e desenvolvimento tecnológico para produção de energia limpa são, sem qualquer sombra de dúvida, provas incontestáveis de competência. Porém não o bastante para esperar que a sociedade, espontaneamente, reconheça com propriedade todo o valor que o setor tem e nem mesmo para que o governo, voluntariamente, estabeleça regras que contribuam para sua sustentação. Além da percepção social da necessidade de se fazer representar, outro aspecto crítico para o qual, evidentemente, não foi dada a devida atenção é o capital humano: a capacidade de atração, retenção e desenvolvimento do capital humano. Alguns indicadores de que o fator humano não tem sido uma questão estratégica para esse segmento são o fato de não se ter notícias de programas consistentes de trainees ou, ainda, de não se encontrar empresas listadas entre as melhores para se trabalhar, em qualquer um dos rankings de mercado. A formação de uma imagem mais favorável, construída a partir da percepção de que este é um setor que valoriza as pessoas, constituído por empresas admiradas, que se preocupam com a saúde e o bem-estar, qualidade de vida, que investem no desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, contribuiria, e muito, para consolidar a reputação. Reputação é a palavra-chave, a pedra de toque, tanto capaz de engajar os profissionais existentes, quanto de atrair novos talentos; reputação se constitui a base para o encaminhamento de problemas, a identificação de oportunidades que permitam alterar as “regras do jogo”.
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Atualmente, a perenidade de qualquer negócio está muito além da capacidade produtiva, e o setor sucroenergético não é exceção, portanto ser o melhor em produtividade e gerador de energia limpa não é mais suficiente. É preciso investir na construção de uma boa imagem e transformá-la em reputação. A atração de novos talentos é fator crítico, e a possibilidade de solução reside na capacidade de contar com profissionais capazes de fazer uma valoração correta do setor e de contribuir para que ocorra uma comercialização justa de seus produtos. Sobretudo a onda recente de fusões e aquisições aliada à estabilização da economia nacional tem demonstrado, na prática, a necessidade urgente de um redirecionamento na área de recursos humanos do setor. Novas abordagens necessitam de novos formatos de gestão, e novos formatos de gestão requerem novos talentos para manejarem antigos problemas, de produzirem novas soluções propostas por um novo modelo, a fim de manter a competitividade. Inclusive, é importante lembrar que o enorme diferencial competitivo existente foi gerado por talentos humanos que não devem ser negligenciados, mas ampliados em perspectiva e fortalecidos por novas competências, capazes de uma abordagem compatível com as necessidades atuais e futuras. Para tanto, reter e formar novos talentos é um desafio que se impõe. Para que o setor possa encontrar seu caminho, é preciso reformular, adotar novas abordagens e fazer da sustentabilidade tema inerente às estratégias organizacionais, na forma como se concebem e realizam negócios. Fazer o que sempre foi feito vai conduzir, inevitavelmente, aos mesmos resultados. Consolidar a reputação do setor sucroenergético nacional como gerador de riqueza para todas as suas partes interessadas é a opção para que o setor de açúcar, álcool e bioenergia brasileiro se coloque num rumo de crescimento consistente e sustentável. Há uma colocação de Einstein muito apropriada para a fase de transição de modelos que o setor vive atualmente: “Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”.
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