Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br
ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, milho, açúcar, etanol, biogás e bioeletricidade ano 17 • número 63 • Divisão C • Fev-Abr 2020
o mapeamento do sistema sucroenergético
BENEFÍCIOS E VANTAGENS - BENEFICIOS Y VENTAJAS - BENEFITS AND ADVANTAGES DOBRA OU TRIPLICA A MASSA DE CANA A SER COLHIDA NUM ÚNICO TRÂNSITO DA COLHEDORA. Duplica o triplica la masa de la caña a ser cosechada en un único tránsito de la cosechadora. It doubles or triples the sugarcane mass of the lane to be harvested in a single run of the harvester. COPIA O RELEVO DO SOLO INDEPENDENTE DA AÇÃO DO OPERADOR. Copia la forma del suelo independiente del operador. It copies the soil´s shape and level independently from the operador inputs. AUXILIA NA ABERTURA DE ACEIROS DE COLHEITA EVITANDO O ESMAGAMENTO DA CANA. Ayuda en la apertura de brechas evitando el aplastamiento de la caña de azúcar. It assists on opening gaps at sugarcane field plant avoiding sugarcane crushing. O TCH LIMITE PARA ADENSAMENTO DEPENDE DA CAPABILIDADE DE SUA COLHEDORA, POIS A MESMA PASSARÁ A ENFRENTAR UM CANAVIAL COM TCH DOBRADO. El TCH limite para adensamiento depiende de la capacidad de su cosechadora, pues la misma pasará a enfrentar un cañaveral con TCH duplicado. Sugarcane field yield limit selection for densification depends on your sugarcane harvester capability, because it should face a double density sugarcane row on track. O USO DE TRATORES COM PILOTO AUTOMÁTICO FACILITARÁ SOBREMANEIRA A OPERAÇÃO EM ÁREAS GEOREFERENCIADAS QUE TENHAM CANAVIAIS CAÍDOS. La operaciõn de adensamiento en áreas georreferenciadas en cañaverales caídos se quedará sobremanera facilitada utilizando tractores con auto-pilot. The georeferenced areas densification with decumbed sugarcane will remain an easy operation using auto-pilot tracking tractors. DISPOSITIVO DE FÁCIL MANUSEIO. Equipaje de manejo fácil. Easy handling equipment.
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o mapeamento do sistema sucroenergético
índice
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Antonio Alberto Stuchi
Consultor especialista em tecnologias do setor sucroenergético
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Luiz Paulo Sant'Anna Diretor-geral da Cevasa
Eletricidade de bagaço e palha: Etanol de sisal:
8
Gonçalo Amarante Guimarães Pereira
Professor do Instituto de Biologia e Coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp
16
Abel de Miranda Uchôa
Diretor-geral da SJC Bioenergia
Guilherme Linares Nolasco
Presidente da UNEM - União Nacional do Etanol de Milho
Zilmar José de Souza
Gerente de Bioeletricidade da Unica
A energia contida na cana:
19
Manoel Regis Lima Verde Leal
Diretor Nacional do Projeto Sucre do LNBR/CNPEM
Cana geneticamente modificada:
Etanol de milho:
10 12
Entidades de produtores:
Etanol de cana-de-açúcar:
Editorial:
21
Silvia Mine Yokoyama
Bernardo Friedrich Theodor Rudorff
Antonio de Padua Rodrigues Diretor Técnico da Unica
Roberto Hollanda Filho Presidente da Biosul
Mário Campos Filho Presidente da Siamig
Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar
Renato Augusto Pontes Cunha
Presidente do Sindaçúcar-PE e da Novabio
Antonio Cesar Salibe
Presidente executivo da Udop
Fornecedores de cana:
Diretora do CTC – Centro de Tecnologia Canavieira
Geotecnologias:
39 41
24 26 28 30 32 34 37
Alexandre Andrade Lima
Presidente da Feplana - Federação dos Plantadores de Cana do Brasil
Diretor Executivo da Agrosatélite Geotecnologia Aplicada
Marcelo Fonseca e Lucíola Alves Magalhães Secretário-exec do CTI e Chefe Adjunta de P&D, do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa Territorial
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com n Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com nTratamento das Imagens: Douglas José de Almeira nFinalização: Douglas José de Almeira nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais sob a responsabilidade de seus próprios autores nFoto da Capa e Índice: Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - 16 99213-2105 n Fotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 98111-8887- paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck. com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - 16 99213-2105 • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas nFotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais e comprovantes de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 4.500 exemplares nExpedição Revista eletrônica: 23.400 e-mails cadastrados - Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nAuditoria de Veiculação e de Sistemas de controle: Liberada aos anunciantes a qualquer hora ou dia, sem prévio aviso nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br n
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Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Ismael Perina Junior • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Julio Maria M. Borges • Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Martinho Seiiti Ono • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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editorial de abertura
aproveitamento do potencial da biomassa É inegável o aumento de produtividade da cana-de-açúcar e consequente crescimento da quantidade de açúcar produzida por hectare nos últimos 50 anos no Brasil. No início do Proálcool, a produtividade de cana era da ordem de 45 t/ha e evoluiu para 75 t/ha, observada atualmente. Porém temos que considerar que o aumento de produtividade de outras commodities, como milho, soja, trigo, foi três vezes maior do que o da cana-de-açúcar no mesmo período, incluindo-se, nesse caso, a beterraba açucareira; sendo assim, a competitividade da cana-de-açúcar diminuiu em relação às outras commodities. O evento da mecanização da colheita, fortemente observado a partir dos anos 2000, atuou como freio, influindo negativamente na evolução da produtividade da cana.
Como o custo agrícola é mandatório no custo final do açúcar e do álcool, podemos constatar facilmente que o custo de produção é, hoje, três vezes maior que o observado no início dos anos 2000, o mesmo não acontecendo com o açúcar de beterraba, por exemplo. Muito esforço vem sendo feito na produção de novas variedades, manejo e melhoria da tecnologia de colheita, mas não há nenhum indicativo para médio prazo que mostre elevação da produtividade no nível das outras commodities agrícolas. Uma alternativa interessante para minimizar o problema, e que já vem sendo usada, é o aproveitamento da palha da cana para produção de energia. Porém a competição com outras fontes de energia renovável, como solar e eólica, está inviabilizando a implantação de novos projetos de cogeração. Os açúcares são responsáveis por 70% da composição da biomassa: os principais são a glicose e a xilose, que formam, respectivamente, os polímeros celulose e m-celulose. Tecnologia vem sendo desenvolvida para possibilitar que esses polímeros fiquem acessíveis e possam ser quebrados até seus monômeros (glicose e xilose). Nasce, assim, a ideia de produzir etanol a partir da biomassa.
Quem sabe, no futuro, os nossos produtos principais estejam ligados à biomassa celulósica e não somente ao açúcar? "
Fernando
Antonio Alberto Stuchi Cerradinho Bionergia Consultor especialista em tecnologias do setor sucroenergético O domínio dessa tecnologia abre um campo enorme para a substituição do petróleo como fonte de matéria-prima para a indústria de combustível e química. A demanda de produtos renováveis só aumenta, e muito se investe para aumentar eficiência e baixar custos na transformação dos açúcares em outros produtos, que começam com as
Opiniões moléculas, que, hoje, custam muito caro pela rota tradicional (petróleo) e devem aumentar à medida que a tecnologia avança. A identificação de microrganismos e o desenvolvimento de microrganismos geneticamente modificados (GMO) avançam muito rapidamente e, hoje, já ocupam um espaço importante na indústria, como o uso de fungos para produzir ácido cítrico e leveduras geneticamente modificadas que podem transformar xilose em etanol. Outra linha de pesquisa envolve tecnologias normalmente utilizadas na indústria do petróleo, como cracking, que podem transformar os açúcares em outros monômeros para uso em produção de polímeros, por exemplo. Dois projetos para transformar biomassa em etanol utilizando esse conceito já são realidade no Brasil, com produção comercial em andamento, com níveis de eficiência bem evoluídos. Obviamente, como em todo projeto com tecnologia nova, há vários desenvolvimentos necessários para o atingimento do ponto de viabilidade econômica. Podemos dividir esse processo em três etapas básicas: pré-tratamento da biomassa, hidrólise enzimática e fermentação. Inicialmente, a grande preocupação eram as etapas de hidrólise e fermentação; a primeira, por possíveis problemas da ação de inibidores e custo da enzima, e a segunda, pelo desenvolvimento de levedura geneticamente modificada para processar a xilose. Na hidrólise, os primeiros problemas foram superados, colocando o processo bem próximo aos consumos originalmente esperados. O custo da enzima continua alto, mas podemos acreditar que, com o aumento da escala de produção, da competição e da evolução da tecnologia, o custo da enzima deve diminuir. Na fermentação, já existem leveduras desenvolvidas que têm eficiência dentro das primeiras projeções; temos, ainda, que melhorar os projetos dos equipamentos e dos procedimentos, considerando as características dos novos microrganismos. O grande problema encontrado foi no pré-tratamento, onde a condição agressiva do processo somada à qualidade da matéria-prima, principalmente pela presença de contaminantes minerais, causou enormes problemas que demandaram mudanças no projeto e adequação de equipamentos. Considerando que a tecnologia é nova e que começamos a descobrir e a entender os problemas, existe uma enorme oportunidade de evolução. Com o crescimento da produção, o interesse de fornecedores de equipamento e tecnologias deve aumentar, aparecendo, assim, soluções para os problemas e oportunidades de melhoria nos projetos. Vinhaça e torta de filtro podem ser também fontes de biomassa a serem consideradas, com uma concentração de sólidos voláteis que pode variar entre 20.000 e 60.000 miligramas por litro
e pode ser transformada em metano (CH4), via digestão anaeróbica. O gás produzido normalmente é uma mistura de 50% de metano e 50% de dióxido de carbono, que pode ser utilizado diretamente em motores de combustão interna, ou turbinas a gás para produção de energia elétrica. Alternativamente, o metano pode ser separado do dióxido de carbono e utilizado como combustível para frota, injetado na rede de distribuição de gás natural, ou utilizado na indústria para gerar hidrogênio e outros químicos renováveis. Essa já é uma tecnologia consagrada, mas, evidentemente, necessita de adaptação para cada matéria-prima; já existe planta produzindo biometano a partir de vinhaça e torta de filtro no Brasil, e, pelo menos, dois projetos em escala comercial estão em andamento. A biomassa pode ser uma alternativa real para o aumento de produtos por hectare que poderiam diluir os custos totais e aumentar a competitividade do setor. Importante mencionar que, depois do fim das queimadas, a palha remanescente após a colheita tem função importante na proteção contra erosão, perda de um idade e aumento de fertilidade do solo, mas introduziu também problemas, como falhas de brotamento da cana, risco de incêndio e aparecimento de pragas que aproveitam o meio ambiente criado pela cobertura da palha, sendo necessário introdução de operação de enleiramento e aplicação de inseticidas, que, obviamente, aumentam os custos da operação. Alguns estudos iniciais mostraram que podemos considerar um potencial de 7 toneladas de palha por hectare (base seca), livre para recolhimento. O potencial de etanol, a partir dessa palha remanescente, é estimado em 1.700 litros por hectare, o que representaria um incremento de 25% na produção observada hoje. Obviamente, os custos de investimento e operação dessa nova atividade deverão ser competitivos. A sinergia entre a planta de 1G e 2G é vital para tornar este negócio viável, considera-se, nesse caso, a produção compulsória de biomassa e o custo evitado no manuseio dela, aproveitamento econômico dos resíduos da produção (vinhaça 2G) e sinergia na indústria. Em resumo, a viabilização econômica do uso da biomassa nas suas várias formas pode abrir muitas oportunidades para otimização da produção sucroalcooleira. A cana-de-açúcar é muito competitiva na produção de biomassa, e novas iniciativas, como cana energia, por exemplo, podem incrementar muito a produtividade, nesse caso com a vantagem de não ser preciso mudar o modelo industrial vigente. Quem sabe, no futuro, os nossos produtos principais estejam ligados à biomassa celulósica e não somente ao açúcar? n
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produção de etanol com sisal
sisal: biomassa para o sertão e para o futuro Vivemos, hoje, uma grande controvérsia com relação às mudanças climáticas. Em vista de a atmosfera ser um bem compartilhado, todos têm uma opinião e, frequentemente, um interesse a defender. Para tratar do assunto de forma racional, temos que analisar os dados. Temos, hoje, informações da concentração de CO2 de cerca de 1 milhão de anos, obtidas nas profundidades das calotas polares do gelo eterno (pelo menos até agora). A análise dessas informações nos mostra – sem precisar de se emitir qualquer opinião – que a concentração de CO2 correspondeu a cerca de 0,025 a 0,030% dos gases da atmosfera nesse longo período (250 a 300 ppm). Entretanto a história do nosso planeta começa há cerca de 4,5 bilhões de anos, com praticamente 100% de CO2 na atmosfera, que foi sendo paulatinamente reduzido a partir do surgimento da fotossíntese e da morte e do sepultamento dos diversos organismos, que foram convertidos nas atuais reservas fósseis de carbono. Elas, ao serem utilizadas, estão nos trazendo de volta a uma atmosfera primitiva, algo que o planeta já experimentou (temos, atualmente, uma
concentração de 410 ppm). Ou seja, o planeta está acostumado com concentrações muito mais altas de CO2 do que as atuais e ele não vai acabar. Portanto qual a preocupação com o CO2? A primeira é que o homem habita o planeta há cerca de apenas 150 a 200 mil anos. Portanto desenvolvemos a nossa civilização em um ambiente com concentração de CO2 bastante estável. Nunca enfrentamos as altas concentrações desses gases e elas podem ter consequências catastróficas. A razão é que o CO2 faz parte da categoria dos chamados gases de efeito estufa, cujo aumento de concentração tem um grande potencial de mudança no aquecimento dos oceanos e de várias áreas do planeta, o que pode alterar o regime de ventos e, consequentemente, o de chuvas e as temperaturas. O resultado é a possibilidade de alteração das nossas zonas climáticas, nas quais desenvolvemos uma série de atividades econômicas, em particular aquelas relacionadas com a agropecuária. Assim, as mudanças climáticas deverão levar à mudança na forma de vida das pessoas e à migração dos atingidos para zonas menos afetadas. Esses são ingredientes explosivos para a nossa civilização que temos que desarmar a partir de políticas públicas, como os esforços internacionais (por exemplo, as COPs organizadas pela ONU), para evitar o uso de combustíveis fósseis, e do desenvolvimento científico e tecnológico. Temos que ser capazes de produzir, de forma sustentável e eficiente, alimentos e biocombustíveis, mesmo nas mais inóspitas condições do nosso planeta: tanto nas já existentes, como naquelas que possivelmente virão. Trazendo essa reflexão para o nosso país, e pensando no presente, temos, na nossa geografia, a belíssima região do Sertão, um ecossistema único, com 750 mil km² (o dobro da área da Alemanha) e povoado por muitos milhões de compatriotas.
a planta de sisal pode levar a uma produção de biomassa muito elevada sob condições que o senso comum, acostumado com a agricultura irrigada e amplamente adubada, consideraria impossível. "
Gonçalo Amarante Guimarães Pereira Professor do Instituto de Biologia e Coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp
Opiniões Essa região, embora extraordinária, sofre com o problema da irregularidade das chuvas, o que tem provocado, ao longo de nossa história, frequentes ondas de migração da população local para o sul do País, com graves consequências para todos. A solução para esse problema não é simples e envolve diversas frentes. É fundamental que sejam desenvolvidas atividades econômicas de alto desempenho para trazer a riqueza para a região, evitando que ela dependa de ações mitigadoras. Pensando nisso, uma das soluções poderia ser o desenvolvimento das culturas de sisal, plantas do gênero Agave, que têm enorme flexibilidade fisiológica. De forma semelhante à nossa cana, em que temos espécimes que cobrem um largo espectro de composição fibra/açúcar solúvel (desde a cana-energia até a cana-de-açúcar), existem diferentes variedades de sisal, desde o sisal-fibra (Agave sisalana), cujo maior produtor mundial é o Brasil, até o sisal-açucareiro (Agave tequilana e Agave americana), empregado no México para a produção da tequila e ainda não cultivado no Brasil. Como sabemos, a fotossíntese é a conversão de moléculas de CO2 + H2O em glicose, utilizando, para isso, um pequeno espectro da luz solar e liberando oxigênio como subproduto. As plantas são normalmente classificadas em C3 (ex. arroz e cevada) ou C4 (ex. milho e cana), de acordo com sua eficiência em capturar o CO2 e evitar o processo de fotorrespiração. No caso do sisal, foi “evoluído” um tipo de metabolismo fotossintético especial, denominado CAM, que é uma estratégia para lidar com climas secos. Nesse caso, os estômatos dessas plantas (espécie de “boquinhas” das folhas) ficam fechados durante o dia, evitando, assim, que o vapor d’água saia da planta (para cada molécula de CO2 capturada, a planta libera cerca de 400 moléculas de água; 95% da água é utilizada na evapotranspiração). À noite, sob menores temperaturas e maior umidade do ar, essas “boquinhas” são abertas, capturando o CO2 e o fixando sob a forma de um ácido. Durante o dia, esse ácido libera fluxos de CO2 concentrado, que são, então, empregados na produção de açúcar.
O fato é que, nas plantas de sisal, esse mecanismo CAM é extremamente eficiente e pode levar a uma produção de biomassa muito elevada sob condições que o senso comum, acostumado com a agricultura irrigada e amplamente adubada, consideraria impossível. Plantas de sisal açucareiro podem chegar a pesar, após 5 anos, 150-200 kg, utilizando 30% da água que seria necessária para a cana. Os plantios comerciais, no México, têm 5.000 plantas por hectare, o que perfaz cerca de 880 t/ha. Se anualizarmos, isso daria 176 t/ha (massa seca variando entre 10 a 25%), capazes de gerar 140 t de açúcar ou cerca de 66.000 litros de etanol. É importante mencionar que o açúcar aqui produzido é um polímero de frutose, que não serve para a produção do açúcar de mesa. Entretanto é absolutamente adequado para a produção de etanol. Nesse cenário, podemos começar a juntar as peças. Temos, hoje, no Nordeste, cerca de 70 usinas, a sua maioria no litoral, todas com dificuldade para obter cana. Isso faz com que as usinas operem abaixo da sua capacidade e que a região não produza etanol suficiente nem mesmo para o abastecimento da frota local, o que acarreta a vergonhosa importação do produto. Por outro lado, essas usinas são muito próximas do sertão e poderiam, com pouco esforço tecnológico, utilizar o sisal açucareiro para a produção de etanol, gerando emprego e renda e resolvendo os mais diferentes problemas da região a partir de uma atividade perene e previsível. Isso não é sonho, é projeto. Em 2005, um agrônomo australiano, o Don Chambers, resolveu investir na ideia. Criou a empresa Ausagave, que selecionou as variedades mais produtivas, desenvolveu novas variedades e criou sistemas para multiplicação de mudas, manejo e colheita da planta. Fundamos, agora, a Sertão Bioenergia, para, em parceria com a Ausagave, promover a cultura no sertão brasileiro e implantar essa inovação para empresários dispostos a assumir o risco e aproveitar o potencial dessas incríveis plantas. Hoje, falamos do sertão, mas sabemos que, com as mudanças climáticas, as zonas de plantio dessas espécies devem se expandir muito para áreas hoje bastante improváveis. Temos que dominar esse futuro. n
produção de etanol com milho
Opiniões
Milho
integrado à planta de cana
A SJC Bioenergia iniciou o processamento de milho em 2016. Foi uma decisão estratégica da empresa e fortemente marcada pelo desafio de crescer de forma consistente e com vistas à sustentabilidade do negócio e ao fortalecimento operacional de médio e longo prazos. Assim, foi dada a partida de uma planta inovadora em vários aspectos, sendo a segunda em todo o mundo com a tecnologia escolhida para ser implantada. Trata-se de um projeto com base na última geração das plantas norte-americanas produtoras de etanol e de proteína de alta concentração destinada para alimentação animal. É também um site integrado, com utilidades produzidas pelo processamento da cana, tanto para safra quanto para a entressafra. É, sem dúvida alguma, um enorme benefício, mas que também traz grandes desafios. Entre os desafios, há os de aspecto operacional, como equacionar a queima do bagaço de cana para geração de energia durante os períodos chuvosos, manter a eficiência e a estabilização da caldeira com baixa produção de vapor. Igual desafio é o de garantir a integração e o aproveitamento da levedura cana/ milho, fazer o reciclo de fermento e manter o balanço de vapor, integrando o milho com o processamento da cana. É preciso considerar ... foram e são desafios que implicam mudanças na cultura operacional, que passa a considerar atividade na área industrial nos 12 meses do ano, ou seja, sem que efetivamente haja uma entressafra. "
Abel de Miranda Uchôa Diretor-geral da SJC Bioenergia
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as ações que vão garantir a correta e adequada secagem de proteína, o aumento da concentração da vinhaça e a manutenção linear para os processos integrados. Foram e são desafios que implicam mudanças na cultura operacional, que passa a considerar atividade na área industrial nos 12 meses do ano, ou seja, sem que efetivamente haja uma entressafra. Tem igual peso, em termos de desafio, o aspecto de ordem mercadológica, pois, desde o início, foi preciso considerar o desenvolvimento do mercado local e regional para os coprodutos originados do processamento do milho. As equipes de marketing e de vendas estão sempre em busca de melhor entender o mercado de proteína animal, pois é preciso convencer os produtores de que a novidade trazida pelos coprodutos vem para agregar valor às práticas e aos outros produtos utilizados tradicionalmente nas propriedades rurais, as pequenas ou as grandes. A SJC atua de forma constante e consistente para favorecer os meios de integração com centros de pesquisa, para dar suporte à abertura de mercado, realizando, para isso, viagens às melhores instituições de pesquisa e de produção em várias partes, em especial na América do Norte. Nessas missões, são realizadas apresentações técnicas sobre o uso dos coprodutos na produção de proteína animal, do aprendizado construído sobre aquisição e estocagem de milho durante os 12 meses do ano e sobre a quebra do ciclo de armazenagem milho/soja.
Engineered for your success No presente, a maior parte da produção de Etanol de Milho dos Estados Unidos passa por centrífugas DECANTER, TRICANTERH, SEDICANTERH da FLOTTWEG. A FLOTTWEG é a marca mais vendida no mundo para a produção de etanol de cereais (... e de outras fontes que não a cana-de-açúcar), e isto se deve a alta eficiência e a confiabilidade comprovadas por centenas de centrífugas em operação, fornecidas a partir da década de 1990. Estamos também presentes no Brasil com importantes referências e parcerias, e com o registro da marca TRICANTERH. O uso de centrífugas FLOTTWEG possui uma série de vantagens sobre as demais marcas e tecnologias. Baseados em questões como ALTA eficiência de clarificação e desaguamento, reduzido espaço requerido, segurança e robustez na operação 24/7 e alto grau de automação com poucos instrumentos, a separação mecânica de sólidos e líquidos por ALTA força centrífuga em equipamentos FLOTTWEG está se tornando cada vez mais relevante e presente na usina moderna, no processamento de WDG, proteínas finas, leveduras, e óleos e gorduras.
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Quando a SJC Bioenergia definiu que a safra 2019/2020 seria denominada de a Safra da Superação, os elementos de planejamento foram realizados para que fosse a melhor safra de todos os tempos da empresa, incluindo o processo de grãos. Estava claro para a toda a equipe e os acionistas que os desafios iniciais de 2016, no começo da operação de processamento de grãos, já haviam sido superados. Os números revelavam os elevados rendimentos acima do inicialmente projetado para etanol, proteína e óleo, o que permitiu consolidar a Unidade de Processamento de Grãos – UPG, instalada no site da Usina São Francisco, em Quirinópolis/GO. Nos quatro anos da operação da UPG, houve tempo suficiente para demonstrar que os seus potenciais operacionais e mercadológicos são muito superiores em relação à visão inicial que fora estimada em 2016. A visão no médio e longo prazo revela tendência de crescimento da demanda de etanol e de coprodutos, uma forte demanda de milho que vai atuar para estabilizar preços e estimular o produtor para a segunda safra. Também está nessa avaliação a redução do emprego do milho para consumo direto, que deve deixar o produto em níveis médios de preço, mas estáveis. Nessas condições, a expectativa é de que, no longo prazo, serão criadas as oportunidades
para estimular o surgimento de um forte mercado para demanda de proteínas com maior valor agregado, polos de novas unidades e desenvolvimento concentrado nos cinturões de produção de milho e com forte crescimento da produção de proteína animal. Nesse cenário, estão postos elementos fundamentais que vão estimular a economia regional e de valorização das terras, causando uma curva forte na inversão da rentabilidade com o distanciamento das unidades de produção, limitando o desenvolvimento em outras regiões, isso considerando que o milho representa, aproximadamente, 80% do custo de produção. Como empresa pioneira nessa atividade, a SJC Bioenergia entende que são promissoras e sempre mais viáveis as oportunidades e a rentabilidade do processamento de etanol do milho em planta anexa ao do processamento da cana. O crescimento e o desenvolvimento estão presentes na visão da empresa e conscientes em cada funcionário, que se orgulha de fazer parte dessa história. A expansão e os novos projetos de ganhos operacionais e mercadológicos fazem parte para o incremento e a margem operacional que estão e serão consolidados no planejamento dos próximos cinco anos. É o resultado de um processo inovador que a SJC colocou em marcha e pelo qual ela se encontra em constante transformação, em busca do melhor desempenho e resultado. n
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produção de etanol com milho
as revoluções estimuladas pelo
etanol de Milho
Uma nova revolução agroindustrial está em curso no Centro-Oeste brasileiro: a tão sonhada verticalização da produção primária, impulsionada pelas usinas de etanol de milho e seus produtos (WDG, DDGs, óleos, energia), que começa a transformar o norte e médio-norte em Mato Grosso. A região está consolidada como o maior centro produtor de etanol de milho do País, com 4 unidades de dedicação exclusiva à produção de etanol de milho, que, juntas, já processam em torno de 3,9 milhões de toneladas de milho, resultando em 1,64 bilhão ao ano de etanol hidratado e anidro. Somadas às outras 8 unidades com produção flex (cana-de-açúcar e milho) entre Mato Grosso e Goiás, as usinas do Centro-Oeste produzirão, em 2020, em torno de 2,8 bilhões de litros de etanol, a partir do processamento de 6,8 milhões de toneladas de milho. Os dados consideram a produção de mais três unidades, que deverão iniciar a produção nos próximos meses. Com crescimento superior a 80% ao ano, o setor se amplia graças à oferta abundante de matéria-prima (milho), resultante da rotação das culturas de soja e milho. A medida garante controle de pragas e cobertura do solo para o plantio direto da oleaginosa, que se inicia em setembro. Com isso, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul têm projeção de colher, até o fim deste primeiro semestre, na segunda safra de milho, 54,5 milhões de toneladas, representando 54% da produção nacional do cereal – conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Fernando
Cerradinho BionergiaEm
2020, a demanda nacional de milho para a produção de etanol deverá girar em torno de 6,8 milhões de toneladas de milho, menos de 7% da produção nacional, estimada em 100 milhões de toneladas. Isso afasta qualquer risco de desabastecimento de milho no mercado doméstico "
Guilherme Linares Nolasco Presidente da UNEM - União Nacional do Etanol de Milho
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Os investimentos nas usinas de etanol de milho criam um novo estímulo à cultura do milho de segunda safra, que, em um passado recente, trazia benefícios principalmente ao aumento de produtividade da cultura da soja, sem, necessariamente, incorporar renda ao produtor – devido a preços históricos que oscilavam entre R$ 10,00 e R$ 20,00 a saca. Em alguns anos, o frete pago ao mercado consumidor do Sul e do Sudeste do País chegou a superar o valor de venda do grão. Atualmente, o mercado do milho, principalmente em Mato Grosso, criou vida própria, e dificilmente teremos novamente cotação abaixo dos R$ 20,00 a saca.
Opiniões O etanol de milho contribui para o aumento da demanda interna e para a valorização da produção por meio de compras estratégicas antecipadas, em patamares que vão dos R$ 20,00 aos R$ 30,00 a saca em alguns momentos. A valorização do milho já motiva o aumento da área plantada e investimentos em variedades mais produtivas, que podem suportar um maior estresse hídrico e, consequentemente, aumentar a janela de plantio da segunda safra, expandindo a área cultivada. Em 2020, a demanda nacional de milho para a produção de etanol deverá girar em torno de 6,8 milhões de toneladas de milho, menos de 7% da produção nacional, estimada em 100 milhões de toneladas. Isso afasta qualquer risco de desabastecimento de milho no mercado doméstico, estimulando o aumento da demanda interna, juntamente com o maior volume exportado, e já repercute nos preços e no aumento da área plantada e dos investimentos no setor. Os números da produção de etanol de milho ainda são modestos se comparados com os dos Estados Unidos, que são o maior produtor de etanol do mundo, transformando 140 milhões de toneladas de milho – algo em torno de 40% da produção total do milho norte-americano, que está no patamar de 360 milhões de toneladas – em etanol e seus coprodutos. A exemplo de Mato Grosso, onde todas as usinas de cana-de-açúcar já estão se transformando em flex, temos ainda grandes oportunidades com reduzido investimento para as usinas de cana-de-açúcar, sobretudo em Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e regiões de São Paulo, que tenham oferta de matéria-prima e/ou facilidades logísticas via corredores ferroviários (Rumo Malha Norte/Paulista; Ferrovia Norte-Sul), ou mesmo através do frete rodoviário de retorno. Atualmente, Mato Grosso e Goiás possuem 13 projetos já licenciados e/ou em construção, além de outros 13 ainda em estudos de viabilidade técnico-econômica. Os números apontam que, certamente, chegaremos a 2024/2025 com uma produção de 5,8 bilhões de litros de etanol de milho, com o processamento de 14,5 milhões de toneladas de milho. Para 2028, projetamos superar os 8 bilhões de litros de etanol, isso se o comportamento do mercado do milho vier a frear os investimentos previstos – já que, hoje, vemos uma conjuntura de nova precificação do grão e muita euforia. Mas a cadeia do etanol de milho não se resume ao etanol. O DDG (farelo de milho com produtividade de até 300 kg por tonelada de milho processada) começa a revolucionar as cadeias de proteína animal (bovinos, suínos, aves e peixes) através de um produto de baixo custo e alto teor proteico, oportunizando o aumento da produção de carnes/ hectare através da intensificação da produção.
O DDG disponibiliza, sobretudo, áreas para o cultivo e a produção de grãos, ou seja, a verticalização da produção do milho é indutora do aumento na produção de grãos, do aumento na produção de carnes, da geração de empregos e renda ao produtor. Isso sem considerarmos a grande possibilidade de que os estados possam elaborar políticas públicas de desoneração da produção primária através de incentivos e arrecadação de impostos apenas sobre produtos industrializados, frente à exportação de grãos que pouco contribui aos cofres públicos. As usinas de dedicação exclusiva de etanol de milho obrigatoriamente dependem da produção de biomassa para geração de vapor e energia. Assim sendo, o estímulo ao investimento em florestas plantadas traz um novo cluster de negócio, principalmente nas terras mais arenosas e com pouca vocação para agricultura e pecuária. Como se não bastasse, o custo da biomassa tem sido minimizado pela cogeração e venda de energia de forma contínua, em razão da produção intermitente dos empreendimentos. A continuidade dos investimentos na cadeia do etanol de milho dependerá de fatores a serem analisados pelo mercado e por cada empreendimento. A farta disponibilidade de biomassa pelas usinas de cana-de-açúcar e a proximidade do mercado consumidor serão grandes atrativos para as usinas de cana-de-açúcar do Centro-Sul se tornarem flex. Em contrapartida, a grande disponibilidade de matéria-prima (milho) sem a necessidade de investimentos em área agrícola, além da grande oferta e possibilidade de armazenamento do milho, vem a ser o trunfo das usinas de dedicação exclusiva no Centro-Oeste. Mas uma coisa é certa: o etanol de milho não tem a pretensão de ser o ator principal nesse mercado tão consolidado, mas sim uma solução de complementaridade aos longos períodos de entressafra das usinas de cana-de-açúcar. Atende também à crescente demanda mundial por energia limpa e estimula o equilíbrio de oferta e o incremento na produção de proteína animal a baixo custo. Por tudo isso, o setor precisa estar organizado e preparado para construir políticas públicas setoriais, visto as particularidades da cadeia do etanol de milho. Uma delas é a viabilização do Corredor Norte para dar logística à produção do Centro-Oeste por modais mais viáveis, dependentes das ferrovias Norte-Sul, Ferrogrão e Fico, o que possibilitará ao etanol de milho do Centro-Oeste trazer competitividade de abastecimento aos estados do Norte e do Nordeste, sem comprometer o mercado do Sul e do Sudeste. n
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produção de etanol com cana-de-açúcar
a Cevasa frente aos desafios do cotidiano operacional Cada vez mais, a atividade agrícola do setor sucroenergético vem aprimorando seus processos, tecnificando e levando o seu foco para as novas tecnologias, a fim de tornar o ambiente de trabalho cada vez mais seguro, sustentável, com máximo de resultados em produtividade e lucratividade. Diante de uma sociedade mais exigente em relação a qualidade de vida e a ações mais sustentáveis em todas as etapas do agronegócio, temos que começar a tomar outros rumos, começando pela parte agrícola, buscando, cada vez mais, os monitoramentos assertivos e confiáveis de todos os seus processos, para as tomadas de decisões mais rápidas. Isso só é possível diante das ferramentas atuais que possibilitam tais ações em tempo real e até mesmo de maneira previsível. Meteorologia: Temos 15 estações meteorológicas instaladas em pontos estratégicos, que representam toda a nossa área de produção de cana. Através da transmissão dos dados on-line, diretamente para uma plataforma de dados para o processamento, a partir daí já temos as informações tanto das coletas de dados de temperatura, umidade relativa do ar, como de velocidade do vento, em todos os dispositivos acessados pelos integrantes da empresa. Imagens de satélite: Atualmente, temos 100% das áreas da unidade cobertas diariamente por imagens de satélite, que, através de uma inteligência artificial, faz uma comparação da imagem atual com as imagens dos últimos 15 dias e, automaticamente, envia um e-mail apontando o aumento ou a queda de biomassa. (Ex: melhor desenvolvimento da cultura, presença de ervas invasoras, ou mesmo uma colheita fora de época). Planejamento agrícola: Desenvolvemos o planejamento agrícola em uma plataforma da Hexagon, em que elaboramos as simulações do PDA (Plano Diretor Agrícola) das próximas 5 safras, estimando produtividades, estágios da lavoura e até mesmo as necessidades de novas expansões, através do iRef. Toda partida de safra ocorre baseada em um plano de colheita traçado no iCol, que simula os melhores cenários, levando Diante de uma sociedade mais exigente em relação a qualidade de vida e a ações mais sustentáveis em todas as etapas do agronegócio, temos que começar a tomar outros rumos. Isso só é possível diante das ferramentas atuais que possibilitam tais ações em tempo real e até mesmo de maneira previsível. "
Luiz Paulo Sant'Anna Diretor-geral da Cevasa
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em consideração diversas variáveis, como época de colheita, variedades de cana, aplicação de vinhaça, raio médio, pragas de solo, reformas de áreas e outros fatores importantes, e, a partir daí, é gerado um plano de colheita que vai ser distribuído para todos os envolvidos, e o mais importante é que o mesmo sistema faz a aderência do cumprimento do plano através da importação dos dados realizados. O despacho de todos os caminhões para o transporte de cana também é realizado por mais um sistema dessa plataforma, o iFrota, que encontra a melhor condição de atendimento das frentes de colheita também considerando inúmeras variáveis e otimizando ao máximo o número de frotas disponíveis, em uma entrega linear ao longo das horas do dia. Logística das frentes de colheita: Recentemente, fechamos uma parceria com a Solinftec e, na safra 2020, teremos 100% das frentes da Cevasa operando com 2 produtos da plataforma, sendo que o FUT2 (fila única de Transbordo, em sua 2ª versão) é uma solução que realiza a melhor distribuição de transbordos para atendimento das colhedoras e, com isso, aumenta as horas efetivas de colheita de cana, o que resultará em maior rendimento das frentes de colheita, através da junção inédita no setor das seguintes tecnologias: M2M, Machine Learning e Inteligência Artificial. E, além do FUT2, que será o nosso maior aliado no aumento de produtividade, otimizando os nossos ativos, teremos também o CDC (Certificado Digital de Cana), que vai substituir o uso das etiquetas de identificação das frotas que, até então, eram feitas de forma manual, ainda no papel, por registros, e até os rastros das máquinas nos talhões que trabalharam na colheita da cana que compõem cada carga. Segurança veicular: A automação através da telemetria na gestão de riscos da frota leve e veículos de apoio é realizada por rastreadores que emitem os pontos de localização on-line para uma base de controle com os registros das velocidades, além do uso das cercas eletrônicas e avisos sonoros nos veículos quando excedem a velocidade para a via atual.
Opiniões o raio médio do canavial até a unidade. Além dessas ações, criamos workshop de produtividade com reuniões bimestrais, atendendo aos variados temas solicitados por esse grupo de fornecedores, e escolhemos os melhores especialistas do mercado para apresentar as melhores práticas de manejo, produção e novas tecnologias, como também levamos grupos dos principais parceiros para visitar outras regiões de altas produtividades que são benchmark no setor. As ações que procuramos alinhar na empresa vem ao encontro da necessidade de apoiar nossos parceiros na busca por alternativas de aumentar sua remuneração da cana e que não seja apenas da indústria pelas negociações de compra e venda, mas sim pelo incremento do seu potencial da “porteira pra dentro”, da sua propriedade com as variedades alocadas segundo seu ambiente de produção, ciclo de maturação e tratos culturais (controles de pragas e doenças, nutrição, uso de corretivos de solo, inibidor de florescimento, pré-maturador, maturadores, otimização do uso dos subprodutos da indústria). A média Centro-Sul de TAH (tonelada de ATR por hectare) dos últimos dez anos foi de 10,8 t, considerando o Consecana puro como base (100%) e incluindo bônus por raio médio (distância da lavoura até a indústria), colheitabilidade (potencial do rendimento de colheita) e melhores práticas (PDA, PDV). O recebível será de até 119,7 kg de ATR por tonelada de cana, enquanto no cenário de incremento de TAH, chegando até 15 t (já deduzindo os custos adicionais para essa conquista de produtividade), obteremos um adicional líquido equivalente de 28,3 kg de ATR por tonelada de cana, que, somados ao padrão anterior, chegará ao valor final de até 148 kg de ATR por tonelada de cana (esse valor representa 23,6% de variação entre os cenários). Incremento de receita pelo aumento da produtividade (TAH) Consecana 100% Bonus Remuneração adicional pelo TAH 160 140 120 100
148,0 119,7
6
23,
28,3
19,7
19,7
100,0
100,0
80 60
ATR (kg)
Manutenção automotiva e rendimentos operacionais: A partir das tecnologias disponíveis nos novos equipamentos da John Deere, fazemos o uso do JD Link para realizar o monitoramento on-line dos alertas de falhas, que são emitidas pela própria máquina e nos auxilia nos diagnósticos e no rápido atendimento de manutenção nesses equipamentos; com isso, estamos realizando as devidas intervenções, evitando que as causas primárias não incorram em maiores danos. Já na plataforma do My Operation, trabalhamos com a agricultura de precisão, através dos controladores de vazão do trator, e podemos tanto incluir as recomendações dos insumos agrícolas com aplicação de taxa variável, como também obter os mapas de aplicação e registros da produção da atividade on-line. Gestão operacional da frota: Utilizamos a tecnologia Dynafleet (Volvo), que já vem embarcada de série em 100% dos caminhões que realizam o transporte de cana e vinhaça. Essa tecnologia coleta os dados a partir dos sensores do caminhão e envia direto para um servidor da própria fabricante e, por meio de um portal, disponibiliza para os usuários da unidade fazerem toda a gestão das frotas. Após um ano de uso dessa ferramenta, conseguimos ótimos resultados na condução segura dos veículos, comprovada com a redução significativa no número de eventos ocorridos, além de redução de combustível e redução nos custos de manutenção dos veículos. Tudo através dos treinamentos com cada motorista, sabendo quais parâmetros deveriam ser melhorados. De forma a garantir as boas práticas agronômicas, industrialização e administração, desenvolvemos, na empresa, alguns projetos de longo prazo, visando sempre aos pilares da segurança, ética e conformidade, excelência nos processos, respeito às pessoas, meritocracia para nossos integrantes/parceiros e resultados sustentáveis. Vamos dar ênfase, aqui, nos trabalhos desenvolvidos junto aos nossos fornecedores de cana, com a estruturação da área de tecnologia para apoiá-los na sistematização, com entrega de projetos para a implantação das lavouras, com detalhamento dos talhões, curvas, carreadores, pátios de transbordamentos, sulcos georreferenciados, sempre visando à conservação das áreas e melhor colheitabilidade. Assessoramos as escolhas das variedades de cana para atender ao ciclo de maturação do canavial, bem como elaboramos o Plano Diretor Agrícola ( PDA ) em conjunto com os fornecedores e plano de colheita de cada safra. Ambos os trabalhos relacionados fazem parte de um pacote de originação sustentável para aquisição de cana de longo prazo, no modelo Consecana/SP com “ATR relativo”, bonificando quando as metas são alcançadas em cada uma das modalidades citadas, incluindo
40 20 0
10,8 TAH CENÁRIOS
15 TAH
Em contrapartida, as operações requerem maiores cuidados quanto ao time de execução e qualidade (perdas, pisoteio, arranquio de soqueiras, impurezas minerais e vegetais). Possuímos também um rigoroso plano de colheita assinado pelas partes antes do início da safra (até março de cada ano), as frotas renovadas com bitola larga, para evitar pisoteio nas linhas, pátio de transbordamentos de cana permanentes, relatório de colheita VIP, que permite aos fornecedores avaliar os serviços prestados e da empresa e avaliar as condições da fazenda e da cana colhida, com único objetivo de tratar os possíveis desvios de ambas as partes, com as notas abaixo de 7, numa escala de 0 a 10. n
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produção de eletricidade com bagaço e palha de cana
quantas Belo Monte há nos canaviais? No dia 13/12/2019, foi publicada no Estadão uma interessante reportagem com o título “Depois de pronta, Belo Monte quer erguer usina térmica para compensar baixa produção de energia”. De acordo com o jornalista André Borges, após gastar R$ 40 bilhões para erguer a usina hidrelétrica (UHE) de Belo Monte (PA), um projeto que, desde o início, teve a sua viabilidade financeira questionada por causa da forte oscilação do nível de água do Rio Xingu, a responsável pela hidrelétrica quer construir usinas térmicas nos arredores da hidrelétrica, para complementar sua geração de energia, o que melhoraria a produtividade da usina, mas poderia afetar os níveis de custo e de emissões globais do empreendimento, a depender da fonte térmica a ser escolhida.
A usina hidrelétrica Belo Monte está localizada na região Norte do País, no município de Vitória do Xingu, próxima à cidade de Altamira (PA). A usina tem capacidade instalada de 11.233 MW, com previsão de geração de 40 mil GWh ao ano. Em potência instalada, a usina de Belo Monte é a terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás apenas da chinesa Três Gargantas (20.300 MW) e da usina Itaipu (14.000 MW). Trata-se da maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira. Mesmo considerando que o principal potencial da bioeletricidade sucroenergética está no estado de São Paulo, distante mais de 2,5 mil quilômetros da usina Belo Monte, o fato mostrado na reportagem ajuda a identificar como o aproveitamento da bioeletricidade sucroenergética agrega atributos importantes para o Sistema Interligado Nacional (SIN), como tentaremos explicar a seguir. De acordo com a Unica, o valor esperado para o final da safra 2019/2020 é de 590 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas na região produtora Centro-Sul, principal do País. A partir de dados da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, considerando a disponibilidade atual de cana estimada pela Unica e descontando o atendimento energético das usinas no processo de fabricação de açúcar e etanol, podemos calcular o potencial técnico de exportação de bioeletricidade sucroenergética para a rede em 2019 e comparar com a sua geração efetiva. Esse cálculo mostra que, se ocorrer o aproveitamento pleno da biomassa presente no setor sucroenergético (bagaço, palha, vinhaça e torta de filtro) para a geração de energia elétrica à rede, a bioeletricidade tem potencial técnico de 128 mil GWh, mais de seis vezes o volume ofertado estimado em
se retirarmos o que já ofertamos ao SIN (quase 21 TWh), temos quase três usinas do porte de Belo Monte 'adormecidas' nos canaviais, apenas na região Centro-Sul do Brasil. "
Zilmar José de Souza Gerente de Bioeletricidade da Unica
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produção de eletricidade com bagaço e palha de cana 2019 (quase 21 TWh na região Centro-Sul), o que representaria atender a mais de 50% do consumo de energia elétrica da região Sudeste do País. O potencial técnico total da bioeletricidade na região Centro-Sul (128 TWh) é mais de três vezes superior à geração anual prevista na usina Belo Monte (40 TWh), ou seja, respondendo à pergunta no título deste artigo: se retirarmos o que já ofertamos ao SIN (quase 21 TWh), temos quase três usinas do porte de Belo Monte “adormecidas” nos canaviais, apenas na região Centro-Sul do Brasil. O interessante também é que a correlação entre a geração mensal da bioeletricidade da cana com a média das vazões naturais mensais (de 1931 a 2007) na usina Belo Monte é negativa, indicando que, quando a geração da usina Belo Monte diminui ao longo do ano, a geração de bioeletricidade da cana para a rede aumenta, lembrando que a bioeletricidade da cana é considerada no máximo sazonal, mas não uma fonte intermitente, trazendo previsibilidade no suprimento ao SIN, funcionando como “reservatórios virtuais” para as usinas hidrelétricas do País, inclusive Belo Monte. Essa complementaridade com a bioeletricidade da cana no Centro-Sul ocorre porque, na faixa média da bacia do Rio Xingu até o baixo curso, onde fica localizada a usina Belo Monte, o período chuvoso vai de fevereiro a maio, com o período seco ocorrendo principalmente nos meses seguintes (junho a dezembro). Esse perfil é bem parecido com a safra no Centro-Sul, que vai de abril a novembro, quando ocorre a maior parte da geração da bioeletricidade para o SIN. Em 2019, a previsão é que 76% da bioeletricidade da cana para o SIN tenha ocorrido entre junho e dezembro, na “entressafra” da usina Belo Monte. O setor elétrico está passando pelo relevante e bem-vindo “Processo de Modernização do Setor Elétrico Brasileiro”, capitaneado pelo Ministério de Minas e Energia. Nesse processo, será estratégico tratar adequadamente os atributos da bioeletricidade, valorizando externalidades, Potencial técnico e geração estimada da bioeletricidade sucroenergética para a rede elétrica, região Centro-Sul (2019) e geração prevista para a UHE Belo Monte (TWh)
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140 120 100 80 60 40
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20 0
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Geração anual prevista da UHE Belo Monte
Potencial de exportação para a Rede Bioeletricidade Sucroenergética Região Centro-Sul
Geração efetiva para a Rede Bioeletricidade da Cana na Região Centro-Sul
como a complementaridade com a fonte hídrica, a não intermitência de sua geração, as emissões evitadas, os benefícios por ser uma geração distribuída, dentro de uma governança previamente estabelecida pelos agentes públicos. Espera-se, no Processo de Modernização do Setor Elétrico, além de tratar adequadamente os atributos da bioeletricidade, a configuração de diretrizes de médio e longo prazo estimulantes para o setor sucroenergético, dentre elas: • Incentivar uma contratação regular e crescente para a bioeletricidade e o biogás: com preços remuneradores no mercado regulado e incorporando as externalidades da bioeletricidade e as características de cada projeto (retrofit; greenfield; aproveitamento da palha e bagaço; geração de biogás, etc.), além de fortalecer o mercado livre de energia elétrica. Nessa diretriz, uma sugestão interessante é estimular sobretudo o retrofit das usinas sucroenergéticas, replicando a estrutura (inédita até então) dos Leilões de Energia Existente [e Nova] "A-4“ e “A-5" de 2020 (dedicados ao carvão mineral e ao gás natural), para o biogás/biomassa no setor sucroenergético, permitindo comercializar energia advinda de empreendimentos existentes, novos empreendimentos, ampliação de capacidade instalada e modernização de empreendimentos existentes, aumento de combustível e de eficiência energética. • Promover ações transversais no setor elétrico, considerando os efeitos positivos sobre o setor sucroenergético: aumento da integração entre setores elétrico e sucroenergético, de forma semelhante ao esforço louvável de integração setor elétrico e gás natural, observando os impactos positivos de se estimular a bioeletricidade sobre o etanol e a Política Nacional de Biocombustíveis - RenovaBio (e vice-versa). Observa-se que são grandes desafios para os próximos anos. Em 2020, a expectativa é que haja melhora no ambiente de negócios para a bioeletricidade, estimulando uma maior participação nos ambientes regulado e livre, contribuindo para acelerar o desenvolvimento dessa fonte de geração estratégica, fato que certamente ajudará também na criação das condições necessárias para agregarmos novos “reservatórios virtuais” renováveis, sustentáveis e complementares à fonte hídrica para o setor elétrico brasileiro. n
a energia contida na cana-de-açúcar
Opiniões
o que falta melhorar? O setor de cana-de-açúcar no Brasil, considerando sua evolução desde o início do Século XX, encontrou cedo uma forma de diversificação e melhor aproveitamento da matéria-prima: o etanol. Seu uso como combustível automotivo foi reforçado com testes e desenvolvimentos nos anos 1920, levando o Governo Federal a ganhar confiança nesse uso e promulgar uma lei em 1931 tornando obrigatória a mistura de 5% de etanol em toda gasolina importada. Poucos anos depois, a exigência foi estendida a toda gasolina consumida no País. Como é sabido, esse uso do etanol foi reforçado em 1975 com o lançamento do Programa Nacional do Álcool – Proálcool, que acelerou o crescimento da produção de etanol e de cana-de-açúcar. O setor sucroalcooleiro aproveitou esse crescimento e a disponibilidade de recursos para investimentos em expansão, modernização e criação de centros de pesquisa e desenvolvimento, como o Planalsucar e o Centro de Tecnologia Copersucar (CTC), para apoiar os avanços tecnológicos. Melhorias significativas foram conseguidas na área agrícola, em termos de produtividade e qualidade da cana, e na indústria, traduzidas em eficiência dos processos. Quando a crise surgiu, causada pela queda brusca dos preços do petróleo em 1985, seguida da retirada paulatina dos subsídios
Sugerimos o melhor aproveitamento da energia primária da cana, pois simulações feitas recentemente mostraram que estamos longe de sermos eficientes nesse ponto. "
Manoel Regis Lima Verde Leal Diretor Nacional do Projeto SUCRE Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR/CNPEM)
do etanol, o País já se mostrava competitivo no mercado mundial de açúcar. A expansão da produção de cana continuou para acompanhar o aumento da exportação de açúcar, mesmo com a produção de etanol estagnada. O setor energético das usinas passou por melhorias mais lentas, caminhando na direção da autossuficiência energética, atingida de forma plena apenas em meados dos anos 1990. A desregulamentação do setor na mesma década colocou mais pressão para a busca de melhorias progressivas devido à competição mais aberta entre as usinas e à redução drástica das ajudas governamentais. No início do século XXI, ao passo que o açúcar mantinha seu papel relevante nas exportações, um novo aumento brusco dos preços do petróleo reacendeu o interesse pelo biocombustível e estimulou o lançamento da moderna frota de veículos flex-fuel, ação que se traduziu em confiança da população, que passou a comprar veículos bicombustíveis. Em 2002, o governo criou o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), e, em 2004, foi lançado o Novo Marco Regulatório de Setor Elétrico Brasileiro, ambos estimulando e facilitando a venda de excedentes de energia elétrica produzidos pelas usinas.
a energia contida na cana-de-açúcar Essa história foi recontada para lembrar algumas lições aprendidas: (1) as políticas públicas corretas foram os grandes indutores de modernização e ganhos de eficiência no setor; (2) a diversificação da produção nas usinas trouxe ganhos de escala e maior resiliência para enfrentar as crises; (3) os preços de commodities internacionais, como o açúcar e o petróleo, são muito voláteis, e é preciso estar preparado para isso, uma vez que o setor já não conta mais com a tutela do governo. Na última crise de preços do açúcar, na safra 2018/19, o Brasil conseguiu reduzir sua produção de açúcar em mais de 9 milhões de toneladas em relação à safra anterior, transferindo a matéria-prima para a produção de etanol, que cresceu em cerca de 5 bilhões de litros; a relação de cana para açúcar/cana para etanol passou de 46,5%-53,5%, na safra 2017/2018, para 35,2%-64,8%, na safra 2018/2019. Os ganhos globais de eficiências medidos em litros de etanol por hectare cresceram de 2.000 L/ha, em 1975, até 6.800 L/ha, em 2010, mas caindo e chegando a 5.700 L/ha em 2012. O incremento no rendimento de etanol foi possível devido aos ganhos de produtividade e qualidade da cana na área agrícola, assim como aos aumentos significativos nas eficiências industriais. Hoje, na área agrícola, temos que, pelo menos, recuperar os valores médios de produtividade e qualidade existentes antes de 2010, quando o ATR/ha oscilava em torno de 12 t/ha e, depois dessa data, passou a oscilar em torno de 10 t/ha. Na área industrial, as eficiências se mantiveram razoavelmente altas, com um nível de conversão dos açúcares da cana em produtos (açúcar, etanol, melaço, etc.) acima de 85%. Na geração de eletricidade excedente para a venda, com as melhorias no Marco Regulatório do setor elétrico a partir de 2004, houve um crescimento de 9,8 TWh, em 2010, para 21,5 TWh, em 2018. Considerando que o setor vai, no mínimo, recuperar os níveis de produtividade e qualidade da cana existentes antes de 2010 e que pequenos ganhos incrementais serão conseguidos na fábrica, com melhoria no monitoramento e controle dos processos, para onde o setor deveria olhar na busca de melhorias? Sugerimos o melhor aproveitamento da energia primária da cana, pois simulações feitas recentemente mostraram que estamos longe de sermos eficientes nesse ponto. A tabela abaixo mostra uma simulação simplificada. ENERGIA PRIMÁRIA DA CANA E ENERGIA ÚTIL DE SEUS PRODUTOS Energia da Cana
Energia dos Produtos
(Primária)
(Secundária ou Útil)
Componente
kg/tc
MJ/tc
Unidade
Quant
Energia MJ/tc
Sacarose
140
2.268
6
93
Bagaço
135 (bs)
2.430
Palha
140 (bs)
AR
Total (bs) = Base Seca
20
Etanol Bagaço EE
L/tc
85
1900
kg/tc (bs)
13,5
243
kWh/tc
60
216
2.520 7.311
2.359
É possível observar que, mesmo em uma destilaria autônoma bem eficiente, com 85 L/tc de anidro, 10% de sobra de bagaço e 60 kWh/tc de energia excedente gerada, a eficiência energética global é de cerca de 32%, indicando que 68% da energia primária da cana foi gasta e/ou desperdiçada: 90% do bagaço foi consumido pelo processo industrial (vapor e eletricidade) e a palha, muito pouco aproveitada para energia, assim como a vinhaça e a torta de filtro. Segundo a Unica, em 2017 (641 Mtc), o potencial técnico de geração de eletricidade excedente nas usinas brasileiras seria de 146 TWh (sendo a participação do biogás, bagaço e palha correspondente a 21, 48 e 78 TWh, respectivamente; em termos unitários, em relação à cana processada, esse total representa 228 kWh/tc) levando à eficiência energética global para 40%. Isso seria conseguido com otimização do balanço energético nas usinas e uso pleno dos resíduos agroindustriais. Simulações com ganhos de produtividade agrícola para próximo a 90 tc/ha e considerando números da literatura para etanol celulósico indicam eficiências da ordem de 45%, o que poderia ser uma meta a ser perseguida. Essas melhorias teriam impactos positivos no desempenho ambiental das usinas no RenovaBio, com ganhos significativos nos CBIOs produzidos por tonelada de cana processada, e estariam perfeitamente alinhadas com os conceitos de bioeconomia e economia circular, que pregam o uso pleno da matéria-prima. O recolhimento e o uso da palha de forma sustentável, adequando sua qualidade na indústria para torná-la compatível com a queima em caldeiras de bagaço, ainda apresentam desafios que foram identificados e abordados no Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity), desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM), com suporte financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Dados de custos, balanços energéticos e de emissões de gases de efeito estufa (GEE), tecnologias de recolhimento e processamento da palha estão sendo disponibilizados no site do Projeto SUCRE (http://bit.ly/ProjetoSUCRE), para uso pelos interessados em ampliar a geração de eletricidade excedente. n
cana geneticamente modificada
Opiniões
a biotecnologia e a modernização
da cultura da cana-de-açúcar
Atualmente, a biotecnologia é amplamente adotada na atividade agrícola e tem sido comprovado que seu emprego aumentou a produtividade de todas as culturas que a adotaram, em nível global. O Brasil é o segundo maior produtor de culturas GM do mundo, com uma área plantada estimada em 51,8 milhões de hectares na safra 2018/2019. Os índices de adoção da biotecnologia no País estão na ordem de 90% do total da área cultivada com soja e milho, culturas em que se observaram os maiores benefícios desde a introdução da biotecnologia. Em paralelo, o Brasil tem posição de liderança global no cultivo da cultura da cana-de-açúcar, com praticamente 10 milhões de hectares cultivados nas últimas safras. A produção brasileira de cana-de-açúcar ultrapassa 700 milhões de toneladas, mais do que o dobro da Índia, o segundo produtor mundial. No entanto, ao acompanharmos o desempenho da cultura da cana-de-açúcar ao longo das últimas décadas, identificamos o aumento da área cultivada, enquanto o índice de produtividade permaneceu praticamente inalterado no mesmo período. Um dos fatores que impacta fortemente a produtividade da cana-de-açúcar no Brasil é o ataque da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), praga que está presente em praticamente todo o canavial brasileiro. Essa praga é responsável por prejuízos anuais estimados em R$ 5 bilhões. Em algumas regiões mais propícias ao desenvolvimento da broca, ocorrem perdas de produtividade maiores do que 10%. Seria natural, portanto, que as tecnologias já utilizadas com sucesso para o controle de pragas similares em outras culturas fossem também introduzidas na cana-de-açúcar.
O Brasil é o segundo maior produtor de culturas GM do mundo, com uma área plantada estimada em 51,8 milhões de hectares na safra 2018/2019. "
Silvia Mine Yokoyama Diretora do CTC – Centro de Tecnologia Canavieira
A Cana BT A resistência a insetos, conferida pela expressão de proteínas BT (de Bacillus thurigiensis) e já presente em mais de 50% das áreas plantadas com culturas geneticamente modificadas, foi introduzida na cultura da cana-de-açúcar pelo Centro de Tecnologia Canavieira – CTC, para possibilitar o manejo da praga nos canaviais brasileiros. Aprovada em 2017, a variedade CTC20BT, primeira cana GM comercial do mundo, foi introduzida ao final do ano seguinte em mais de 4 mil hectares distribuídos por diferentes usinas da região Centro-Sul, podendo ser considerada a maior introdução de uma cultivar de cana no Brasil no momento.
cana geneticamente modificada Por ser uma cultura adotada em diferentes regiões, ambientes de produção e épocas de colheita, outras variedades foram e serão desenvolvidas pela empresa, dentro da mesma linha de ação, ou seja, proteção contra o ataque da broca-da-cana. A segunda variedade aprovada e disponibilizada para cultivo dos produtores brasileiros foi a CTC9001BT. Juntas, as duas variedades totalizam 20 mil hectares de variedades resistentes a insetos, distribuídas pela região Centro-Sul do País, ao final da Safra 2019/2020. Os benefícios e a sustentabilidade da tecnologia no campo Os principais benefícios dessa tecnologia derivam do menor dano nos colmos da cana provocados pelo ataque da broca. É verificada uma redução do custo de cultivo devido à redução das despesas associadas ao controle da broca. Também são observados benefícios associados à eficiência da produção, devido ao maior conteúdo de sacarose por tonelada de cana, e benefícios associados à qualidade da matéria-prima produzida, devido à redução nos danos nos colmos causados pela broca. Esses fatores associados levam ao aumento da produtividade da cultura e, consequentemente, a melhor resultado econômico, fator determinante de sucesso da tecnologia nos campos. O desempenho da tecnologia vem sendo acompanhado em diferentes regiões onde as variedades BT foram plantadas, por meio de avaliação do percentual dos entrenós brocados em comparação ao ataque de broca observado nas cultivares convencionais. Tem-se observado uma redução significativa no ataque da broca nos colmos da cana em todas as regiões onde as variedades BT foram introduzidas.
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Opiniões
Para assegurar a sustentabilidade da tecnologia BT nos campos, faz-se necessária a adoção de áreas de refúgio, prática que vem sendo recomendada desde a introdução das primeiras mudas de cana BT. Trata-se de plantio de variedade convencional (não BT) em 20% do total da área plantada adjacente às áreas de variedades BT, em uma distância não maior que 800 metros. Essa medida garante que as populações da broca não serão submetidas a uma pressão de seleção extrema e servirá para mitigar o desenvolvimento de populações resistentes à proteína expressa pela variedade BT. O açúcar permanece idêntico O açúcar, por ser constituído basicamente de sacarose, é considerado uma substância altamente purificada. Análises feitas por meio de técnicas analíticas modernas possibilitam afirmar que teores de DNA e proteínas da cana BT não são detectáveis no açúcar pelas metodologias atualmente empregadas. Tal característica possibilitou que a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – qualificasse o açúcar produzido a partir da cana-de-açúcar geneticamente modificada como “substância pura quimicamente definida”. Portanto, dada a sua pureza intrínseca, o açúcar produzido a partir de cana-de-açúcar geneticamente modificada não é classificado como “derivado de OGM” e sim como “substância pura, quimicamente definida”, como definido na Lei 11.105/2005. A deliberação da CTNBio encontra-se no Extrato de Parecer Técnico n. 5837/2018, publicada no Diário Oficial da União, em 28 de março de 2018. n
entidades de produtores
mapeamento do setor sucroenergético: características da produção e do consumo Coautor: Luciano Rodrigues, Gerente de economia e análise setorial da Unica
Na última década, o setor sucroenergético passou por transformações profundas, as quais incorporaram mudanças na área produtiva e, ainda, alterações nos mercados de açúcar e de etanol. Na produção, além do fim do uso do fogo como método de despalha da cana-de- açúcar e do avanço rápido da mecanização nas operações no campo, observamos crescimento da lavoura em regiões de fronteira no Sudeste e no Centro-Oeste. O processamento de cana-de-açúcar, que há 15 anos estava concentrada nos estados de São Paulo (59,8%) e no Paraná (7,5%), se expandiu desde então para outros estados: Goiás, com aumento de 56 milhões de toneladas (+ 399,8%); Minas Gerais, com ampliação de 41,5 milhões de toneladas (+ 192,9%); e Mato Grosso do Sul, com crescimento de 40 milhões de toneladas (+ 422,5%). Como retratado na Figura 1, no mapeamento da última safra, os três estados foram responsáveis por cerca de 30% da moagem nacional, contrapondo a participação de São Paulo, que foi reduzida, mas ainda representa 54% da oferta da matéria-prima no País.
Outra alteração importante na produção refere-se à ampliação da flexibilidade de produção entre açúcar e etanol nas unidades produtoras. Inicialmente, a expansão nas novas regiões foi centrada basicamente em destilarias autônomas. Nos últimos 10 anos, contudo, 34 novas fábricas de açúcar foram incorporadas às destilarias, além da expansão da capacidade nas usinas existentes. A alteração, estimulada especialmente pelo período de controle de preços da gasolina, promoveu uma nova dinâmica entre a fabricação de açúcar e etanol nos diferentes estados. Estados como Goiás e Mato Grosso do Sul, com vocação inicialmente estabelecida para a produção de etanol, já chegaram a direcionar cerca de 30% da matéria-prima para a fabricação de açúcar nas safras em que a relação de preços foi desfavorável ao biocombustível. A maior flexibilidade produtiva nas várias regiões do País resultou em uma alteração significativa da produção de açúcar e etanol nos últimos dois anos.
Em 2019, o consumo de hidratado em São Paulo, Minas Geais, Goiás, Paraná e Mato Grosso representou 86% do volume demandado no País. "
Antonio de Padua Rodrigues Fernando Diretor Técnico da Unica Cerradinho Bionergia
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Opiniões O mix para açúcar, por exemplo, que chegou a atingir cerca de 50% nas safras de 2011 e 2012, deve fechar em cerca de 35% na atual safra 2019/2020. Essa característica confere a possibilidade de melhor gerenciamento de risco de preços pelo produtor e rápida adaptação do sistema produtivo aos estímulos de mercado ou a políticas públicas, garantindo maior competitividade à indústria nacional. Ainda no mapeamento da produção, cabe destacar o ritmo acelerado da produção de etanol de milho, que, nesta safra, deve alcançar cerca de 1,5 bilhão de litros. A indústria, que já se destacava pela possibilidade de fabricar mais de um produto, agora também passa, ainda que de forma restrita em algumas regiões, a utilizar outra matéria-prima para a fabricação do biocombustível. Trata-se de uma característica sem precedentes no mundo, conferindo uma configuração espacial e dinâmica bastante peculiares ao sistema produtivo de etanol e açúcar no Brasil. Saindo da produção e passando para o mercado de etanol, o mapeamento atual retrata uma concentração do consumo em praticamente cinco estados. Em 2019, por exemplo, o consumo de hidratado em São Paulo, Minas Geais, Goiás, Paraná e Mato Grosso representou 86% do volume demandado no País. Nesses estados, a competitividade do biocombustível é intensificada devido à diferenciação dos tributos entre o hidratado e a gasolina. 1. Moagem de cana e produção de açúcar/etanol
Isso se deve a uma visão prospectiva que permitiu a ampliação da produção, da renda e do emprego nas regiões, além dos benefícios ambientais relacionados ao produto em detrimento do seu concorrente fóssil. Os mercados desses estados, além de usualmente absorverem a produção local, também atuam como destino para o etanol fabricado em outras regiões. Ponto que reforça a importância contínua de investimentos em infraestrutura logística no País. Nos próximos anos, os esforços devem ser intensificados para garantir o suprimento regular do produto em todo o mercado nacional diante da expectativa de crescimento do consumo de etanol hidratado para atendimento das metas da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). O breve mapeamento evidencia alguns aspectos importantes da indústria e do mercado nacional, incluindo a capacidade de adaptação e a resposta da produção e do consumo a estímulos de mercado ou de políticas públicas. Assim como ocorreu quando houve o lançamento do veículo flex e, mais recentemente, com as mudanças descritas na estrutura de produção. A capacidade de resposta registrada nas últimas décadas indica que os estímulos que serão criados pelo RenovaBio para buscar maior sustentabilidade da produção devem gerar ganhos de eficiência energético-ambiental e, consequentemente, avanços operacionais, ampliando a competitividade do setor. n 2. Produção e consumo de etanol hidratado
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entidades de produtores
a próxima onda O segundo milênio começou com uma grande promessa para o setor sucroenergético. A “comoditização” do etanol e a geração de bioeletricidade eram dois fortes geradores de investimento. Em 2008, quando a Biosul estava sendo criada, eram setenta e dois projetos de greenfields no MS. O que aconteceu em seguida todos já sabem e não carece comentar, os motivos da crise e – esperemos – suas lições já foram largamente debatidos. Ainda assim, o Mato Grosso do Sul saiu da década muito mais importante para a nossa indústria. Os 14 milhões de toneladas de cana processada na safra 2008/2009 já alcançaram 50 milhões, com a característica marcante de produção de etanol, que direciona sempre mais de 70% da matéria-prima. Somos, hoje, 19 unidades em operação, 3º maior estado produtor de etanol na safra 2018/2019 – com mais de 3 bilhões de litros, 5º maior produtor de açúcar – que é produzido em 11 unidades com 900 mil toneladas; 13 unidades exportam para o Sistema Interligado Nacional 2.700 GWH –
equivalente a 40% de toda a energia consumida no estado, o 2º maior exportador de bioenergia de biomassa de cana do Brasil. Nossos melhores índices: geramos mais de 30.000 empregos diretos, com as melhores médias salariais de agricultura e indústria no MS, com a segunda maior massa salarial entre todo o setor produtivo. Os impactos nos municípios canavieiros do MS são de uma eloquência a toda prova, com a criação de polos de desenvolvimento em todo o estado, mesmo aqueles indicadores que não se relacionam diretamente à atividade. E estamos prontos para olhar para a frente. Na direção do RenovaBio, construímos uma agenda no estado, com o objetivo de aproveitar o bom momento que pode vir, criando o melhor ambiente possível para investimentos, seja de empresas já instaladas, seja de novos entrantes. O Mato Grosso do Sul tem notável potencial de crescimento, com cerca de 8 milhões de hectares disponíveis, já que nossos colegas da pecuária demandam cada vez menos área, o que significa crescer sem desmatar e recuperando áreas subaproveitadas, valorizando a sustentabilidade fundamental para nosso setor. A estrutura fundiária, com disponibilidade de propriedades de maior tamanho, é outro indicador que atrai investimento, facilitando expansão e instalação de áreas para cana-de-açúcar. Há interação constante com o governo estadual, um agente fundamental que, mesmo em um momento difícil para os gestores públicos, tem tomado medidas estratégicas para mostrar que aposta no setor. Um exemplo recente é a diminuição da alíquota de ICMS para etanol, melhorando a competitividade com a gasolina.
O segundo milênio começou com uma grande promessa para o setor sucroenergético... Em 2008, quando a Biosul estava sendo criada, eram setenta e dois projetos de greenfields no MS. "
Roberto Hollanda Filho Presidente da Biosul
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Opiniões Em outro sentido, trabalhamos juntos para desburocratizar nossa operação, tanto em processos de licenciamento quanto no aspecto fiscal. Esperamos avanços também em logística, melhorando tráfego de cana e escoamento de produtos. Qualificação é uma questão que não pode ser gargalo para crescimento, e, nesse sentido, também existe uma agenda permanente com a FIEMS e FAMASUL, respectivamente Federação das Indústrias e Federação de Agricultura do MS. Na mesma direção, entrosamos com a academia, criando espaços para alunos e pesquisa e aproveitando, em regime de rede, todo o esforço de pesquisa possível. No processo de interação com outras representações institucionais e governo, vamos desenvolver uma agenda voltada para esse outro potencial do MS, o etanol produzido a partir de milho, atualizando todo o racional de produção para unidades flex e dedicadas, envolvendo não só a cadeia de produção do milho, mas também de consumo de outros produtos gerados a partir de seu processamento. Não podemos perder de vista o horizonte federal. É imperativo aproveitar a força do setor, que, quando se une, obtém conquistas importantes, a exemplo do RenovaBio, que passou no Congresso em tempo recorde, com votações expressivas nas duas casas. Precisamos acompanhar qualquer passo referente ao programa, bem como as reformas que se avizinham. Para tanto, a atuação do Fórum Nacional Sucroenergético é fundamental e conta com o apoio da Biosul. Uma tecla na qual não canso nunca de bater: comunicação. Nosso esforço enquanto representação institucional é importante e tem dado frutos; no entanto precisamos alcançar a sociedade de forma mais ampla e estruturada. Fora do setor, ainda existem estigmas muito sérios que atrapalham o nosso crescimento. Não faltam bons vetores de comunicação no setor sucroenergético. Nossa produção é sustentável, geramos emprego, usamos tecnologia moderna e brasileira, “tem pra todo gosto”. No entanto ainda corremos atrás do prejuízo para dizer, por exemplo, que o carro elétrico não vai acabar com toda forma de transporte em 2020, nem que vamos plantar cana no Pantanal, para citar um absurdo local que virou notícia. Fora o açúcar, que tem sido vilanizado com reação pouco efetiva por nossa parte. Enfim, se desenha mais um momento de oportunidade para o nosso setor. Precisamos superar as crises recentes e os muitos desafios que se nos apresentam. É hora de olhar para os nossos 500 anos de experiência, todas as nossas crises, derrotas e vitórias para converter esse potencial em realidade. n
entidades de produtores
uma Minas Gerais
cada vez mais sucroenergética
Uma entidade de classe tem como objetivo principal a defesa do interesse setorial e, dentre seu vasto leque de atuação, consideramos como uma das mais importantes a manutenção de um bom ambiente de negócios. Acreditamos que, se o ambiente de negócios fornece uma certa previsibilidade e segurança jurídica, sem dúvida conseguimos traçar uma boa trajetória para o setor. O restante são questões relacionadas ao próprio risco do negócio, mas, nesse quesito, todos os nossos concorrentes também estariam expostos às variações do mercado de commodities agrícolas e de energia. Em Minas Gerais, a agroindústria canavieira alcançou reconhecimento e valorização através da união das empresas em torno de uma entidade forte e atuante, a
Siamig, que mantém um trabalho focado e interlocução em todos os processos decisórios relacionados ao segmento. Minas Gerais sempre foi um estado diferente, alguns dizem que somos a síntese do Brasil, com todas as misturas representadas na sua população e no seu processo de decisão política e econômica. Talvez seja por isso que a atração dos grupos do Nordeste na década de 1990, aliados a vários empresários mineiros e paulistas do setor, juntamente com a cultura das multinacionais que chegaram mais tarde, tenha se transformado em uma união de sucesso que, hoje, se reflete em todo o ambiente de negócios do setor em Minas Gerais. Na safra 2019/2020, Minas Gerais realizou a sua maior moagem de cana-de-açúcar da história. Com a produção de março, é provável que o estado alcance 68 milhões de toneladas. Depois de cinco safras consecutivas de estagnação, ao que tudo indica, o estado entra agora em mais um período de expansão. Na safra 2020/2021, estaremos de forma vibrante comemorando a reativação de duas unidades que foram fechadas durante a crise e, assim, teremos 36 unidades produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade, de forma eficiente para atender ao mercado consumidor. Não resta dúvida de que o bom momento do setor reflete as decisões políticas do eleitor mineiro e brasileiro. As eleições do governador e empresário Romeu Zema, do Partido NoJá há alguns grupos se preparando para investir na produção de etanol de milho e biogás/biometado, todos animados e motivados com o RenovaBio. O setor em Minas continuará crescendo, esse é o nosso compromisso com os mineiros! "
Mário Campos Filho Presidente da Siamig - Sind da Fabricação do Álcool de MG
Opiniões vo, e do presidente Jair Bolsonaro adicionaram uma pitada de ânimo ao setor e tem moldado o bom momento atual, com governos com tendências liberais e desburocratizantes, preocupados com a eficiência e, principalmente, com o fato de não olhar o setor empresarial como inimigo da sociedade, mas, sim, como o motor, a peça fundamental da engrenagem para a retomada do crescimento econômico. Diversas decisões no campo da relação do trabalho, na agilidade nos processos ambientais e na manutenção das diversas conquistas setoriais influenciadoras de mercado, têm elevado a confiança e, dessa forma, o espírito empreendedor, já demonstrado em diversas vezes na história desse setor resiliente e forte. A produção sucroenergética de Minas Gerais está presente em mais de 120 municípios com unidades industriais em 27 deles, gerando, entre empregos diretos e indiretos, mais de 160 mil oportunidades. O setor se desenvolveu com práticas altamente sustentáveis, com a eliminação da queima da palha da cana, a redução do uso da água nos processos e na regularização das propriedades rurais. Atualmente, quatro grupos produtores preservam mais de 27 mil hectares de RPPN no norte de Minas. A maior região produtora é o Triângulo Mineiro, que se tornou uma das principais do setor no País. Essa região sempre foi reconhecida como um grande hub de logística no Brasil, e o crescimento do setor possibilitou diversos outros investimentos. O etanolduto chega a Uberaba, assim como tem a presença do maior terminal rodoferroviário de granéis do Brasil, por onde pode ser escoado o açúcar. Além disso, a divisa com o estado de São Paulo propicia a utilização de uma série de estruturas logísticas já existentes. Também é bom lembrar que a Ferrovia Norte-Sul corta o extremo do Triângulo e poderá também ser uma grande oportunidade de otimização de logística para o setor. Dizem que Minas são muitas, e o setor não está só no Triângulo Mineiro: cerca de 30% da produção está espalhada por outras regiões, com destaque para o noroeste do estado, onde há projetos importantes de produção de cana aliados à irrigação. Minas Gerais é o segundo maior produtor de açúcar do Brasil, com capacidade produtiva que pode chegar a 4,5 milhões de toneladas por safra. Boa parte desse produto é destinado à exportação, contudo o estado conta com uma indústria alimentícia importante, além de ter o açúcar incorporado à sua cultura, dando ao mercado interno grande pujança. Quanto ao etanol, o estado possui a segunda maior frota de veículos do Brasil e, desde 2015, possui o maior diferencial do País entre alíquotas de ICMS do combustível limpo e renovável e a gasolina.
O setor possui, em expansão, um parque produtivo desse produto, e, atualmente, a capacidade de produção já supera 3,6 bilhões de litros por safra. Em 2019, o consumo de etanol hidratado no estado alcançou mais de 3,1 bilhões de litros, recorde absoluto, consolidando o mercado de biocombustíveis em Minas Gerais. O estado possui 853 municípios e praticamente em 800 deles há bomba de etanol nos postos revendedores, mostrando a capilaridade e o potencial de crescimento do consumo desse produto. Apesar do recorde, cerca de 40% do consumo do ciclo Otto em 2019 foi relacionado ao hidratado, ou seja, ainda há espaço para crescimento. Nos últimos anos, as unidades mineiras priorizaram, além da melhoria agrícola, o investimento da capacidade de flexibilidade das fábricas, podendo, dessa forma, realizar a melhor escolha de mix entre etanol e açúcar, otimizando suas receitas. Cabe destacar os investimentos realizados na produção de bioeletricidade, sendo que, atualmente, 23 unidades exportam energia para o sistema. Em 2019, mais de 3,1 milhões de MWh foram exportados, um crescimento de mais de 8% sobre 2018. Em alguns meses de safra, a exportação do setor chega a representar 15% de toda a energia gerada no estado. Todos esses números não seriam possíveis se não tivéssemos empresas e produtores rurais com capacidade de realizar, no campo, uma produção de cana eficiente, entregando produtividade agrícola com ATR. Em recente ranking divulgado, Minas Gerais compareceu com 4 das 10 primeiras colocações entre as unidades mais produtivas do Brasil. Algumas regiões são procuradas por interessados em aprender o que é feito no estado. Destaque para tecnologias de ponta que visam à aplicação de práticas mais ecológicas na produção e que servem de exemplo para o País. Na logística, as empresas do setor foram responsáveis pela pavimentação de mais de 300 quilômetros de rodovia nos últimos anos, em parceria com o governo do estado. Agora, o setor entra em um novo momento, até 2032 há um plano ousado de investimento de mais de R$ 500 milhões em melhorias de trechos e obras de arte, pavimentação e trevos, que possibilitarão mais segurança e eficiência no transporte de cana pelas unidades produtoras. Para o futuro, além da continuidade da busca pela melhor eficiência, o setor continuará focado no crescimento e na expansão da flexibilidade e da diversificação da produção. Já há alguns grupos se preparando para investir na produção de etanol de milho e biogás/biometado, todos animados e motivados com o RenovaBio. O setor em Minas continuará crescendo, esse é o nosso compromisso com os mineiros! n
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entidades de produtores
legado: dificuldades e aprendizado O período de profunda crise por que passou o setor sucroenergético nos últimos anos trouxe muitas dificuldades para as indústrias, mas também lições e aprendizados. Agora, no momento em que finalmente avistamos uma luz no final do túnel, percebida por uma mudança governamental e uma visão mais clara do Estado, precisamos estar preparados para aplicar os conhecimentos adquiridos em meio a tantos desafios e saber aproveitar as oportunidades. O ciclo que se apresenta é, sem dúvida, de recuperação para o setor. No entanto não devemos nos preocupar apenas com os nossos produtos mais tradicionais, caso do açúcar e do etanol – esse último em demanda muito aquecida no País. Faz-se necessário perscrutar um horizonte mais amplo, que se apresenta bastante promissor. Antes, vale lembrar que a implementação do RenovaBio, a grande conquista do setor, avança na certificação das usinas, conferindo otimismo entre os investidores. O programa, do qual muito já se falou, é o reconhecimento dos ativos ambientais da atividade sucroenergética por parte da sociedade como um todo. Os indicativos são animadores. Contudo é providencial manter a atenção redobrada.
O período de profunda crise por que passou o setor sucroenergético nos últimos anos trouxe muitas dificuldades para as indústrias, mas também lições e aprendizados. "
Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar
Neste início de 2020, em que se intensificam as discussões acerca de uma inadiável reforma tributária, surgem ruídos de toda parte, inclusive sobre uma possível tributação do açúcar, o que seria extremamente danoso ao segmento, em termos de competitividade. Não podemos permitir que o agronegócio, o carro-chefe da economia e principal vetor do desenvolvimento, venha a ser penalizado
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por algo que terá impacto direto em sua capacidade produtiva e, por extensão, na geração de postos de trabalho. É indispensável que os atores envolvidos nesse processo tenham uma visão mais ampla e detalhada do setor para que sejam evitados possíveis arroubos e distorções. Não se pode levar em conta, apenas, o produto final. Para esses novos tempos, é preciso, como já se afirmou, que estejamos devidamente preparados e fazer a lição de casa, uma vez que nossas perdas foram vultosas durante o período de crise. Ampliar nossa produtividade é urgente, assim como aumentar a eficiência e olhar para a capacidade industrial. Começando pela matéria-prima, temos que buscar variedades mais produtivas, adequadas à colheita mecânica, reduzir os custos de implantação da lavoura e desenvolver parcerias sinérgicas. A propósito de parcerias, uma prática sustentável vem ganhando força em alguns estados, a meiosi, pela qual usinas implementam projetos a quatro mãos, com cooperativas agropecuárias para a reforma de áreas de canaviais a partir do saudável cultivo de soja nas entrelinhas.
Opiniões Em vez de a indústria instalar uma estrutura própria para esse fim, recorre à expertise de produtores especializados, num sistema bem planejado e ágil, em que todas partes envolvidas só têm a ganhar. Todo esforço é necessário. Vemos, de um lado, a China se posicionando a favor do etanol, possivelmente projetando a adição à gasolina e, com isso, reduzir os elevados níveis de poluição nos centros urbanos. Se vai produzir ou importar, isso só o tempo nos dirá, mas é um tema que requer toda a atenção. De outro, ainda em relação ao plano externo, vemos que há espaço para o estímulo à produção e ao consumo de etanol de milho no Sul do Brasil, e, dessa forma, não só abastecer a região, mas ultrapassar fronteiras e conquistar mercados vizinhos, o que serve também, é claro, para o etanol de cana. A exemplo do Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul são importantes produtores do cereal. Nos países do Mercosul, surgindo uma possibilidade de adicionar etanol na gasolina, ou mesmo em se tratando do futuro veículo a célula de combustível, estaremos preparados. A tendência é que isso venha a acontecer, mais cedo ou mais tarde. Tudo isso faz parte de um novo cenário que se vislumbra para o setor e, naturalmente, nós, os brasileiros, temos que continuar sendo protagonistas do desenvolvimento de uma cultura voltada ao
consumo de combustível renovável. Falamos em âmbito de Brasil, Mercosul e da própria América Latina como um todo. A questão ambiental, obviamente, precisa respeitar as particularidades de cada país, mas é inegável que, em resumo, ela traz oportunidades para os produtores brasileiros. Ainda em relação ao etanol de milho, seja em paralelo à produção de etanol de cana, implantando uma indústria flex ou no intervalo oferecido pela entressafra, temos que aproveitar a oportunidade. Por meio de parcerias com cooperativas e empresas cerealistas, há como otimizar a capacidade ociosa e aumentar a eficiência de tempo nas indústrias. Nas plantas paranaenses, é possível incluir o etanol de milho ao portfólio, o DDG (subproduto destinado à alimentação animal) e também o biodiesel. Não podemos abrir mão disso. A maior eficiência tem que ser conquistada, e o ganho de tempo é fundamental. Por fim, outra questão diz respeito à cogeração. Contamos com enorme potencial a ampliar e, no caso do Paraná, estamos abrindo um novo diálogo com a companhia estadual, a Copel, visando expandir e incrementar essa atividade a partir do aumento da capacidade de cada indústria, atendendo, com isso, a uma demanda que se fortalece cada vez mais diante das perspectivas de crescimento do País. n
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entidades de produtores
o mapeamento do setor sucroenergético no NE O negócio da cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil sempre teve a maior parte de seus esforços dedicados à Zona da Mata, onde está a maioria das capitais dos estados e cerca de 230 municípios que produzem renda, empregos, tributos e atividades oriundas da indústria da cana. A geração direta e formal de postos de trabalho é da ordem de mais de 250 mil ou em torno de 1 milhão em todo o cluster de produção. Nas chamadas fronteiras de natureza agrícola, a cultura da cana-de-açúcar é também realidade, inclusive no oeste da nossa região, com exemplo comprovadamente exitoso em Juazeiro, em atividade agroindustrial já bem consolidada na irrigação. A região conta, dentre outros atributos, como veremos à frente, com uma área de 1,554 milhão de quilômetros quadrados, onde vivem cerca de 58 milhões de consumidores, apresentando a terceira maior “economia” da federação. A sua infraestrutura é bastante razoável, envolvendo mais de 59.000 quilômetros de rodovias pavimentadas, favorecendo melhores custos logísticos, contando com litoral recortado, adequado à cabotagem, assim como com terminais de açúcar para exportação e outros de granéis líquidos no Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia. No escoamento do etanol, o que é significativo para as “vendas diretas” do hidratado aos postos, as distâncias são convidativas, já
É necessário um desfecho da nova sistemática de comercialização do 'hidratado' de forma complementar à sistemática atual, que só concede autorização pelo canal da intermediação das 'distribuidoras' − modelo vencido e prejudicial "
Fernando Cerradinho Bionergia Renato Augusto Pontes Cunha Presidente do Sindaçúcar-PE e da Novabio
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que, em Pernambuco e Alagoas, atingem, respectivamente, 89% e 96% com os consumos concentrados em raios de até 102 km das usinas produtoras. Os portos e aeroportos da região estão em processo de célere globalização, notadamente em direção das internacionalizações, com as chegadas de operadores experientes, sediados em outros países. A região expandiu-se mais do que o próprio País nesses últimos anos, com seu PIB - Produto Interno Bruto, atingindo, em 2017, a cifra de mais de R$ 953 bilhões, superior a países como Chile, Singapura e Portugal. As universidades federais de Pernambuco, Ceará e Bahia estão entre as 15 primeiras, formando capital intelectual capacitado para a região. Na nossa órbita “sucroenergetica”, a Novabio, associação que reúne mais de 45 usinas do País, atuando em defesa das teses genuínas da indústria da cana, sem tergiversar com perda de identidade, nas ações em direção das chamadas “verticalizações” dentro da cadeia produtiva, persegue um planejamento mais inclusivo e competitivo para suas associadas, elencando, em seu
Opiniões escopo, iniciativas para 2020 no mínimo relacionadas à estruturação e à consecução de Plano de Irrigação, o que deve fornecer mais eficiência e longevidade aos canaviais, que sempre sofreram com as oscilações climáticas da região, acarretando assimetrias nas produções históricas, razão pela qual existiram safras com altos e baixos em suas produções. Vejamos: •Safra 1986/87: Produção de cana de 71,2 milhões/t •Safra 2011/12: Produção de cana de 65,18 milhões/t •Safra 2018/19: Produção de cana de 47,7 milhões/t •Safra 2019/20: Produção de cana de 53 milhões/t Vale o registro que as estações de melhoramento genético da UFAL e UFRPE, integrantes da rede RIDESA, são bastante atuantes no desenvolvimento de variedades de canas, com parcerias através de convênios, implantadas com as usinas, gerando cultivares cada vez mais tolerantes aos estresses hídricos e a ambientes que foram restritivos e hoje vêm ocupando espaços de sequeiros. Como se sabe, as variedades RBs predominam no País e atingiram, na safra 2017/2018, mais de 66%. Como exemplo de um censo varietal em Pernambuco, dados da colheita 2018/2019, da Estação de canas de Carpina-PE da UFRPE, gerida pelo Prof. Dr. Djalma Euzébio Simões, integrante da equipe coordenada pela Magnífica Reitora, Profa. Dra. Maria José de Sena, mostram predominâncias de variedades que somam, juntas, 40,13% através das RBs 92579 e 867515. Na intenção de plantio para a safra 2019/2020, despontam, ainda, também as RBs 041443 e 92579. O incremento de recursos financeiros destinados às universidades, conjuntamente com medidas de aprimoramento da segurança hídrica, poderia seguramente criar até 400 mil hectares de novas lavouras de cana para o Norte e o Nordeste, com, pelo menos, mais uns 150 a 180 mil novos postos, elevando-se o contingente dos atuais 900 mil ha para cerca de 1,3 milhão, e um total de 350 mil empregos diretos , numa equação favorável à geração de “renda x investimentos”, num horizonte de tempo dos próximos 15 anos . A manutenção da imunidade sobre contribuições sociais nas receitas de exportação do agro é fundamental, afinal não se concebe, no mercado competitivo internacional, a chamada “exportação de tributos”. O disciplinamento racional da lei Kandir em favor das exportações dos produtos do agronegócio é fator imprescindível na competitividade das cadeias produtivas da agropecuária nacional. A manutenção do convênio 100 para os insumos agropecuários afastará o repasse de caráter inflacionário que seguramente ocorreria com a oneração dos insumos. Ainda, acompanhamento dos painéis necessários para eliminações de distorções em subsídios e posturas anticoncorrenciais, presentes nas exportações
de açúcar no contexto da OMC - Organização Mundial do Comércio, é garantia de caminho estabilizador das volatilidades dos preços das exportações mundiais de commodities. Além disso, necessidade de aumento das cotas preferenciais de açúcar para o N/NE, previsto em lei, e melhor disciplinamento das importações de etanol subsidiadas no exterior e distorcivas ao equilíbrio do mercado interno da nossa região e outros temas que tenham por objeto a promoção de desenvolvimento socioeconômico nas duas regiões citadas. É necessário um desfecho da nova sistemática de comercialização do “hidratado” de forma complementar à sistemática atual, que só concede autorização pelo canal da intermediação das “distribuidoras” − modelo vencido e prejudicial, com prejuízos para uma melhor competitividade para o produtor e consumidor, que não merecem estar condenados a só participarem da dinâmica dos mercados, por meio de uma única fonte. Aliás, todos os argumentos contrários surgidos não se sustentaram, com explicações sempre inconsistentes, num verdadeiro elenco de obstáculos debilitados, desde questões de ordem logística, de natureza fiscal e até com proposições apenas teóricas e meramente de postergação, para se continuar obstaculizando uma nova opção, como na proposição de criação de “distribuidora ou agente vinculados”, como se corroborássemos que a venda do etanol ao canal final de distribuição fosse um monopólio exclusivo da “distribuidora” e proibido ao produtor, em sua livre iniciativa de comercializar. Há necessidade de um novo “planejamento” para funcionamento de plataformas de produção de bioqav/isobutanol, considerando-se a robusta perspectiva de crescimento desse mercado e a vocação das nossas usinas, no desenho da logística de suprimento da aviação e proximidades com os nossos aeroportos. Também desenvolvimento e potencialização do programa RenovaBio no ambiente de produção da região, caracterizado pela necessidade de promoção da desconcentração de produção no País e consequente fortalecimento da regionalização do abastecimento, oriundo de produtos finais produzidos na própria região. Na medida em que o Brasil dilatar em bases sólidas e estabilizar o seu crescimento, as disparidades e as assimetrias inter-regionais poderão ser mais bem resolvidas pelo Governo Federal, que já sinalizou esse macro-objetivo, sobre o qual, aliás, já iniciamos diálogo com o Ministério da Agricultura e com a nova Sudene, para a implementação, no mínimo, de uma nova atitude para a irrigação agrícola, atividade merecedora de um choque tecnológico de mais qualidade para a região. n
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entidades de produtores
Opiniões
que o canto da sereia não nos iluda novamente Iniciamos nosso artigo ressaltando, uma vez mais, a máxima que há muito é propagada em nosso setor: “Se Deus é brasileiro, seguramente também é produtor de cana-de-açúcar ou executivo do setor”. Falo isso porque, em meio a tantas notícias ruins no mundo moderno, comemoramos, nesta entressafra, pelo menos dois fatos de importância singular que impactarão, com certeza, o presente e o futuro de nosso segmento. O primeiro deles, e talvez o mais importante, é a entrada em vigor do RenovaBio, a Política Nacional dos Biocombustíveis, tão esperada e almejada por décadas por todos aqueles executivos que nos precederam. Afinal, estamos falando da segurança necessária e da previsibilidade tão essencial, para que possamos estruturar nossos investimentos e crescer de forma sustentável. O outro fator, esse mais divino do que humano, são as chuvas que se precipitaram de forma regular e em níveis acima das médias, que podem trazer uma melhora e pujança à nossa principal matéria-prima: a cana-de-açúcar. Mas vamos por partes. Afinal, muita coisa ainda precisa ser feita. No primeiro quesito, o RenovaBio, a notícia de que as emissões de CBIOs têm crescido de forma considerável, com mais de 200 usinas já participando do processo, há de ser comemorada. Mas pergunto: será que estamos tirando todo o proveito da cana para a composição de nossa nota de eficiência energética? A resposta é seguramente não! E faço esse alerta para que não nos acomodemos com os índices hoje observados e deixemos de fazer nossa lição de casa. A equação é simples. Tomemos como exemplo
uma usina com uma nota de eficiência na casa de 60 pontos, que colha, em média, 75 toneladas de cana por hectare. Imagine se, nessa mesma unidade, aumentássemos nossa produtividade para 100 toneladas de cana por hectare, ou seja, um crescimento de 25% a mais na produção. Isso significaria, no mínimo, 25% a mais de CBIOs por litro de etanol produzido, considerando que todos os parâmetros seriam impactados positivamente. E isso é possível? Sim. Não só possível como exequível hoje em algumas usinas, que mantêm suas produções linearmente na casa dos três dígitos, com aplicação de expertises há muito esquecidas por várias unidades. Entendo que o mundo de oportunidades que hoje o RenovaBio nos apresenta é muito maior do que aquele que, de fato, estamos explorando. E vou além, agora com um alerta mais veemente: nosso índice de satisfação não pode, jamais, ficar apenas na quantidade de CO2 que somos capazes de capturar no comparativo com os combustíveis fósseis. Temos que ir além. Explorar de forma consistente os desafios que se apresentam à nossa frente. Temos que nos estimular e ganhar muito mais com uma maior produtividade. Uso como exemplo a experiência exitosa que tivemos nas décadas de 1970 e 1980, quando nossa produtividade crescia a média de 1% ao ano. Algo ocorreu, e paramos de crescer nas décadas seguintes. Ouso dizer, inclusive, que, na década de 2000, qualquer pífio crescimento que tivemos um ano ou outro tenha sido fruto de aspectos exógenos, muito mais alojados em fatores climáticos do que em qualquer ganho real. Resumindo, em condições “normais”, de estresse hídrico, por exemplo, nossa produtividade teria caído ano a ano. E como virar a página e embarcarmos de vez na rota da prosperidade sustentável?
Não nos deixemos ser iludidos, uma vez mais, pelo canto da sereia, com os resultados que, em se mantendo as condições de hoje, veremos no aumento de produtividade média de nossos canaviais neste ano, graças a São Pedro "
Antonio Cesar Salibe Presidente executivo da Udop
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Voltando ao setor, precisamos estimular, sugesNa Udop, só conseguimos enxergar uma saída: tionar e participar, de forma efetiva, no processo de precisamos de pesquisa científica aplicada, com daescolha de pesquisas, no suporte técnico aos pesdos estatísticos. Hoje, algumas usinas arriscam enquisadores, por vezes transformando nossas usinas veredar na área de experimentos, mas o fazem sem em laboratórios ao ar livre, e, por fim, na busca de bases científicas e sem análises estatísticas, levandoresultados aplicáveis, com todas as variáveis possí-se em conta as diferentes variáveis. O resultado é veis e que nos impulsione para uma nova era. sempre o mesmo, ficamos andando em círculo, sem tt.com Pensando nisso, a Udop tem firmado, já há pelo chegar a lugar algum. Para que isso aconteça, (que www.meggittsensing.com tt.com menos 5 anos, sólidas parcerias com universida@meggitt.comexistam pesquisas científicas aplicadas), precisamos Logo Secmil-V2 des dede2018renome, com centros e institutos de pesquide uma aproximação das universidades e institutos segunda-feira, 10 de dezembro 18:10:10 sas, com órgãos governamentais e com a sociedade pesquisa com o setor, a fim de que haja um trade civil, sempre com essa visão de que esta seria balho conjunto unindo a necessidade (demanda) das10/08/2017 17:56:33 uma solução importante para nossos problemas, a usinas com o corpo científico altamente preparado exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, onde para os desafios que se nos apresentam. Hoje, uma as universidades fazem pesquisas dirigidas para as parte das pesquisas que existem vão apenas estampar eggitt.com indústrias. É nossa crença de que, se assim o fizeras páginas de alguma revista científica. Continuamos www.meggittsensing.com eggitt.com mos, poderemos obter não apenas um aumento de fazendo sempre o mesmo e esperando resultados dierica@meggitt.com produtividade de tonelada de cana por hectare, mas ferentes... o que muitos atribuem, erroneamente, ao sim um aumento real de produtividade, saindo dos grande Albert Einstein, no que ele teria chamado de atuais 5 a 7 mil litros de etanol por hectare para 10 insanidade humana. Bem, se a autoria não é do gênio, 10/08/2017 17:56:33 a 12 mil litros por hectare. Não nos deixemos ser o que é muito provável, a mensagem não deixa de iludidos, uma vez mais, pelo canto da sereia, com ser importante. Imaginemos, hipoteticamente, que os resultados que, em se mantendo as condições de todo o conhecimento científico de Einstein tivesse hoje, veremos no aumento de produtividade média sido, apenas, para que ele obtivesse respeito e idolade nossos canaviais neste ano, graças a São Pedro, tria mundiais. Talvez a humanidade estaria um passo mas nos esforcemos, sim, para diminuirmos, cada atrás em seu processo de evolução. Sabemos que seus vez mais, nossas dependências externas e, de forma conhecimentos, por mais complexos que fossem, em concreta, construirmos o futuro a partir de agora! alguns casos, eram e são aplicados até hoje, trazendo Que venham os próximos desafios! n inúmeros benefícios a toda a raça humana.
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entidades de fornecedores de cana
Opiniões
o setor sucroenergético vive um período de esperança O setor sucroenergético brasileiro é o maior do mundo. Ele é uma potência global na produção de açúcar e de etanol. Começa a despontar também na produção nacional de energia através da biomassa da cana. A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, é de que sejam produzidas 642,7 milhões de toneladas de cana nesta safra 2019/2020. Isso representa um acréscimo de 3,6% em relação à anterior. Também cresce a expectativa para a produção de etanol e de açúcar. Devem ser fabricados 33,8 bilhões de litros de etanol e 30,1 milhões de toneladas de açúcar. Em comparação à última safra, corresponde a um acréscimo de 4,6% e 3,8%, respectivamente. A única redução observada pela Conab é na área total de cana plantada no País. Terá 8.481,12 hectares, uma redução de 1,3% diante da safra passada. Apesar dessa queda, houve um crescimento da produtividade. Elevou para 75.783 kg/ha, ante 72.234 kg/ha na safra 2018/2019. Parte considerável dessa superação se deve à aplicação de novas tecnologias (transgenia da cana e o uso de máquinas). As pesquisas e as variedades de cana desenvolvidas pela Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor (Ridesa) são majoritárias nos canaviais do Brasil. A variedades RB966928 e RB867515, por exemplo, foram plantadas em 17% e 16%, respectivamente, dos canaviais em 2017/2018. Nesse período, a RB867515 e a RB 966928 já eram cultivadas em 25% e 12%, respectivamente. Devem ser fabricados 33,8 bilhões de litros de etanol e 30,1 milhões de toneladas de açúcar com as 642,7 milhões de toneladas de cana nesta safra 2019/2020. A única redução observada pela Conab é na área total de cana plantada no País. "
Alexandre Andrade Lima
Presidente da Feplana Federação dos Plantadores de Cana do Brasil
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Embora o setor sucroenergético tenha enfrentado uma das maiores crises nos últimos anos, em função, sobretudo, de políticas equivocadas, levando ao fechamento de usinas e outras dezenas em recuperação judicial, além do encolhimento das plantações, o cenário é de esperança diante da mudança política no Brasil. O momento é de reformas na legislação e o advento de políticas públicas promissoras (o RenovaBio, a reformulação do zoneamento agroecológico da cana, etc.), mas também de iniciativas adotadas pelo setor sucroenergético através do sistema de cooperativa. O RenovaBio, que é o Programa Nacional de Biocombustíveis, a política do Brasil para cumprir com as metas firmadas no Acordo Global de Paris, tende a contribuir para a reestruturação do setor sucroenergético. O programa consiste no estímulo da produção e da comercialização de combustíveis limpos, a exemplo do etanol, reduzindo o gás carbônico na atmosfera. A cadeia produtiva da cana e outras culturas agropecuárias passarão a receber o pagamento de CBIO (crédito de descarbonização). A medida deve estimular o aumento da oferta e da procura pelo etanol.
C
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entidades de fornecedores de cana O Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, com o apoio dos setores que compõem a cadeia produtiva sucroenergética, a exemplo do fornecedor de cana para as usinas, tomou outra decisão política relevante para estimular o aumento da produtividade canavieira. A reformulação do zoneamento agroecológico da cana vai possibilitar que a cultura seja permitida em locais antes proibidos, o que não fazia sentido. Um dos efeitos positivos da ação, em especial, permitirá que, no estado do MT e no entorno, o etanol de cana também possa ser produzido, como já era o de milho. Outro exemplo será no oeste baiano. Haverá aumento de produtividade com a liberação da irrigação e a expansão de novas áreas. O setor sucroenergético vive um período de esperança, embora tenha que enfrentar grandes problemas acumulados com a equivocada política de combustível do passado. Os efeitos podem ser verificados sobre as usinas, mas também nos demais segmentos dessa pujante cadeia produtiva agroindustrial. Os atuais 60 mil fornecedores independentes de cana também enfrentam grandes dificuldades para se manterem. Os pequenos/médios produtores, inclusive agricultores familiares, são ainda mais suscetíveis economicamente para suportarem essas instabilidades. Contudo, apesar dos vários desafios colocados, o segmento canavieiro continua resistindo no Brasil. Os fornecedores independentes de cana mantêm um peso importante na composição da safra brasileira. Foram responsáveis por cerca de 30% dos 642,7 milhões de toneladas de cana na safra atual, sendo, portanto, os responsáveis por um terço de todo o etanol (33,8 bilhões de litros: 10,2 bilhões de anidro – usado na mistura da gasolina – e 23,6 bilhões de hidratado) e açúcar (30,1 milhões de toneladas) fabricados pelas usinas do Brasil. Os números são expressivos. Também é significativa a quantidade de postos de trabalho gerados por esse segmento. O número de trabalhadores diretos e indiretos em todo o Brasil é impressionante. Na região Nordeste, é ainda maior, contribuindo para a esfera socioeconômica naqueles estados. Apesar disso, o setor enfrenta grande transformação. O número de pequenos agricultores vem diminuindo frente à conjuntura colocada. Estima-se que, nos últimos anos, milhares de produtores deixaram a cultura da cana. Ainda assim, a produção canavieira está crescendo no segmento por causa dos grandes fornecedores. Também cresce devido aos canaviais das usinas. Todavia, diante dessa realidade, observa-se que está havendo uma grande concentração dentro do setor. Apesar das políticas públicas direcionadas para o setor sucroenergético na atualidade, o segmento dos fornecedores de cana passa por grandes transformações.
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Também tem se modificado frente às novas exigências do uso das inovações tecnológicas para se manterem competitivos, sobretudo diante do corte da cana crua. Tais aparatos tecnológicos têm demandado a aplicação de grande volume de recursos, o que destoa da realidade econômica do pequeno e médio agricultor. Embora o desafio seja grande, a superação é possível. E a solução está na organização deles mesmos através das suas entidades de classe e também por meio de cooperativas. Sem isso, o fim dos fornecedores de cana é inevitável. No NE do Brasil, onde a previsão da Conab estima acréscimo de 12,6% da safra de cana atual em relação à anterior, a produção deve atingir uns 50 milhões de toneladas. Os fornecedores de cana tiveram papel importante nesse incremento. Como 90% do corte da cana continua manual, em função do relevo acidentado dos canaviais, os pequenos agricultores ainda conseguem se manter. E a expectativa dos preços da cana para a próxima safra é positiva devido à baixa produção de açúcar na Europa, Índia e no Brasil, o qual priorizou o etanol na safra atual. Além disso, o Nordeste tem promovido uma experiência positiva para a manutenção dos fornecedores de cana e de todo o setor sucroenergético. Desde a safra de 2014/2015, mesmo com o fechamento de usinas no País, em função da equivocada política do governo sobre os combustíveis, a Associação dos Fornecedores de Cana de PE (AFCP) e o Sindicato dos Cultivadores de Cana de PE formaram cooperativas para arrendarem e reabrirem usinas fechadas no estado, a exemplo da antiga Pumaty, em Joaquim Nabuco, e Cruangi, em Timbaúba. Ambas continuam abertas e crescendo bastante, superando seus recordes produtivos a cada safra. Por sinal, a Cruangi, administrada pela Cooperativa dos Associados da AFCP (Coaf), liderou a produtividade e o rendimento dentre as usinas de PE na safra 2018/2019. Ela deve esmagar mais de 800 mil toneladas de cana na safra atual. E, neste ano, recebeu uma autorização para instalar três termoelétricas e vender a energia elétrica produzida da queima do bagaço da cana. Uma outra usina deve ser reaberta em PE pelo mesmo modelo de cooperativa na próxima safra. E uma outra usina fechada já foi reaberta também em Alagoas. O setor mostra soluções eficazes. A usina cooperativada, além de pagar o preço justo da cana, contribuindo para que outras usinas valorizem esse segmento, ainda agrega valor à cana fornecida, pois o agricultor passa a receber também pelo etanol, cachaça, açúcar e energia, a exemplo da usina Coaf/Cruangi-PE. n
geotecnologias
Opiniões
o canavial da região Centro-Sul visto do espaço Há quase duas décadas, os canaviais da região Centro-Sul vêm sendo cuidadosamente observados, ano após ano, por meio de imagens adquiridas por satélites que orbitam ao redor do nosso planeta. Desde o início do último ciclo de expansão das lavouras de cana-de-açúcar, essas imagens têm prestado um serviço relevante ao setor sucroenergético, no sentido de dar transparência a questões socioambientais e fornecer subsídios à estimativa da produção de matéria-prima em meio a um processo de intensa ampliação da área cultivada com cana-de-açúcar. Com o início do novo ciclo de produção de etanol, sob a bandeira de redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), houve, inicialmente, uma reação contrária no meio científico, alegando que a mudança de uso da terra provocada pelo cultivo da cana-de-açúcar poderia trazer mais prejuízo do que benefício, em termos de mitigação de GEE, caso estivesse relacionada direta ou indiretamente com a supressão de vegetação nativa. Porém esse argumento caiu por terra mediante uma criteriosa
quantificação realizada por meio de imagens de satélites provando que a conversão direta de cana-de-açúcar para outros usos ocorria majoritariamente sobre pastagens, em menor proporção sobre lavouras temporárias e praticamente nula sobre vegetação nativa. Quanto ao argumento da conversão indireta, alegando que a perda de pastagens em regiões tradicionais de pecuária provocaria a derrubada de florestas na fronteira agrícola, ele foi refutado pela constatação do decréscimo das taxas anuais de desmatamento na Amazônia que despencaram a partir de 2004. Além disso, a pecuária vem passando, desde então, por um processo de intensificação de uso da terra, aumentando o número de cabeças por hectare e diminuindo o tempo de abate. As imagens de satélite também desempenharam um importante papel na avaliação da eficácia do compromisso do setor sucroenergético em eliminar a prática da queima da palha na pré-colheita. Entre 2007 e 2014, o setor conseguiu implantar a colheita mecanizada, em praticamente toda área canavieira, cumprindo de forma voluntária com o acordo estabelecido dentro do prazo estipulado para o estado de São Paulo. Mais recentemente, as imagens de satélite foram utilizadas para estimar a extensão do uso da irrigação e fertirrigação no cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, mostrando que a adoção da irrigação ocorre em regiões de maior deficiência hídrica e, no Centro-Sul, apenas 2,7% dos canaviais recebem irrigação, enquanto a fertirrigação chega a 30% da área cultivada. O plano traçado pelo setor sucroenergético de se tornar um grande produtor de etanol, sem deixar de continuar na liderança mundial de produção de açúcar, exigiu do setor agrícola um grande esforço para atender à crescente demanda de cana-de-açúcar por parte do setor industrial. No entanto, dada a magnitude da demanda, esse esforço esbarrou em diversas limitações que tiveram como consequência a gradativa redução da produtividade agrícola, compensada mediante a continuada ampliação da área canavieira. O município com maior área de cana-de-açúcar é Uberaba, com 107,4 mil hectares que ocupam 23,7% da área do município; em segundo lugar, está Morro Agudo, com 106,5 mil hectares que ocupam 76,7% da área do município. "
Bernardo Friedrich Theodor Rudorff Diretor Executivo da Agrosatélite Geotecnologia Aplicada
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geotecnologias A área cultivada com cana-de-açúcar e disponível para colheita no início de cada safra vem sendo mapeada com elevado grau de assertividade por meio de imagens de satélite ao longo das últimas 17 safras. Com base nessa estimativa de área cultivada e da produção anual de cana-de-açúcar moída pelas unidades industriais, pode-se chegar a uma estimativa precisa da produtividade média anual em toneladas de cana por hectare (TCH). Ao analisarmos o histórico da produção de cana-de-açúcar desde a safra 2003/2004 até a safra a 2019/2020, com base nos dados divulgados pela Unica, notamos que a produção quase dobrou nesse período, passando de 299 para 590 milhões de toneladas de cana. No entanto a área cultivada e disponível para colheita ao longo desses 17 anos aumentou em 140% para compensar a perda de produtividade agrícola, que decresceu no período a uma taxa média de 1,23 tonelada por hectare ao ano – com destaque para o período de sete anos, de 2005/2006 a 2011/2012, quando a perda foi de 3,2 toneladas por hectare ao ano. Ao longo dos últimos 9 anos, a produtividade agrícola tem-se mantido estável, com algumas oscilações, para cima em 2013/2014 e para baixo em 2018/2019. Já na safra 2019/2020, houve uma boa recuperação da produtividade, resultando numa produção que deve Estado SP
Número de municípios
Área cultivada* em mil ha
473
5.907,6
% de área cultivada no Centro-Sul
58,9
GO
92
1.178,8
11,8
MG
106
1.054,0
10,5
MS
40
846,8
8,4
PR
130
677,1
6,8
MG Total
Estado
22
267,5
2,7
863
9.931,8
99,1
Municípios
Área cultivada* em mil ha
% da área total do município
MG
Uberaba
107.385
23,7
SP
Morro Agudo
106.506
76,7
MS
Nova Alvorada Sul
104.537
26,0
MS
Rio Brilhante
103.085
25,9
GO
Quirinópolis
92.634
24,4
SP
Barretos
80.573
51,5
MG
Frutal
77.225
31,8
GO
Mineiros
76.242
8,6
MS
Costa Rica
69.974
13,0
SP
Guaíra
68.496
54,4
GO
Itumbiara
64.022
26,0
GO
Goiatuba
55.638
22,5
*inclui área de reforma, muda e carreadores
40
chegar a 17 milhões de toneladas de cana-de-açúcar acima daquela observada na safra anterior, apesar da redução da área disponível para colheita da ordem de meio milhão de hectares. Essa redução em área se deve principalmente à maior incidência de renovação com cana-de-ano-e-meio e, em menor proporção, à conversão de canaviais para grãos e outros usos da terra. Apenas como curiosidade, foi interessante observar que, antes do início da safra 2019/2020, 23 empresas apresentaram suas estimativas de moagem de cana e somente uma delas estimou a produção acima dos 590 milhões de tonelada observadas à véspera do encerramento da safra. Como o desempenho da produtividade da safra anterior (2018/2019) esteve entre os valores mais baixos da série histórica, as estimativas para a safra seguinte foram bastante cautelosas, mas os canaviais apresentaram um rendimento bem acima do esperado, resultando na maior produtividade observada nos últimos 6 anos. Isso é, sem dúvida, consequência de uma condição climática favorável associada à melhoria de uma porção significativa dos canaviais que vem recebendo investimentos em renovação e adoção de novas tecnologias. As imagens de satélite retratam bem a diversidade da qualidade dos canaviais. Observamos canaviais de excelente aspecto, cuja produtividade certamente está próxima dos três dígitos, mas também observamos canaviais com alta incidência de falhamento e de ervas daninhas, cuja produtividade tende a níveis muito baixos. A extensão da área cultivada com cana-de-açúcar na região Centro-Sul, no início da safra 2019/2020, foi de 9,93 milhões de hectares, e inclui áreas de reforma, muda e carreadores. Os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Mato Grosso representam mais de 99% dessa área, que está distribuída em 863 municípios, sendo que apenas 12 deles representam 10% da área canavieira. O município com maior área de cana-de-açúcar é Uberaba, com 107,4 mil hectares que ocupam 23,7% da área do município; em segundo lugar, está Morro Agudo, com 106,5 mil hectares que ocupam 76,7% da área do município. n
Opiniões
a importância da inteligência
territorial estratégica
A importância nacional do setor canavieiro está expressa na sua longa e tradicional história de ocupação do território e nos números que hoje permeiam a cadeia produtiva: mais de 10 milhões de hectares plantados (praticamente o dobro da Índia, segunda colocada no mundo) e produção de mais de 750 milhões de toneladas que, monetizadas, beiram os R$ 52 bilhões em valores de produção. Geograficamente, as regiões Sudeste e Centro-Oeste respondem por mais de 85% desses agregados, e o restante da participação concentra-se, sobretudo, nas proximidades do litoral da região Nordeste e em pequena porção da região Sul. No estado de São Paulo, a cana-de-açúcar ocupa área significativa (22% do território) e representa quase metade do vultoso valor de produção no contexto dos 20 principais produtos do agronegócio paulista. Os subprodutos da cana, como açúcar, etanol e bioeletricidade, em especial, revelam a riqueza e a versatilidade desse cultivo, que gera renda e empregos. Além deles, há os produtos de menor escala, como a rapadura, o melado e a aguardente de cana-de-açúcar, cuja denominação tipicamente brasileira da marca “cachaça” ganhou recentemente status de Indicação Geográfica. Diversas são as pesquisas relacionadas ao setor, e seus grandes números, inovações tecnológicas e desafios são comunicados em revistas, fóruns e comunidades especializadas. Um dos elementos que podem auxiliar na compreensão do setor e contribuir para a tomada de decisão por dirigentes públicos e privados é o componente territorial. Ele revela uma gama de oportunidades a serem conduzidas por meio de ações efetivas de pesquisa, desenvolvimento, inovação e comunicação.
E é nesse contexto que a Embrapa Territorial atua, viabilizando soluções de PD&I em inteligência, gestão e monitoramento territorial para a sustentabilidade e a competitividade da agricultura brasileira. Um projeto em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp, concluído em 2015, teve como base o Protocolo Agroambiental de cooperação do setor sucroenergético paulista e avaliou o impacto da mecanização, que hoje beira os 100% no Centro-Sul do País, da colheita da cana-de-açúcar nas áreas com declividade acima de 12% em todo o estado de São Paulo (disponível em: www.embrapa.br/gite/ fiesp/index.html). A partir da análise integrada de mapeamentos das áreas de produção, dados topográficos e modelos digitais de elevação do terreno, foi produzido – para cada região administrativa e, posteriormente, para cada município paulista – um diagnóstico da perda potencial de produção considerando o protocolo agroambiental. O diagnóstico da ocupação da cana-de-açúcar em áreas de declives mais acentuados e, por conseguinte, a quantificação e a qualificação da possível regressão da cana-de-açúcar nas áreas de colheita não mecanizável apontaram as regiões com maior perda em termos relativos e absolutos de produção de cana-de-açúcar. O diagnóstico também forneceu subsídios para análises estratégicas de diversificação da produção. Cenários de conversão de usos da terra para essas áreas foram sugeridos, como subsídios para que o setor se preparasse e efetivamente tomasse medidas de gestão territorial para seu parque canavieiro. No estado de São Paulo, a cana-de-açúcar ocupa área significativa (22% do território) e representa quase metade do vultoso valor de produção no contexto dos 20 principais produtos do agronegócio paulista. "
Marcelo Fernando Fonseca e Fernando Lucíola Alves Magalhães
Cerradinho Bionergiado CTI e Chefe Adjunta de P&D, do Grupo Secretário-executivo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa Territorial
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geotecnologias Outro exemplo de como os mapeamentos e outras informações territoriais sobre a produção podem auxiliar na definição de estratégias de comunicação e gestão do setor pode ser encontrado nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). No estado de São Paulo, dos mais de 300 mil imóveis declarados no CAR, afere-se que pouco mais de 1/3 apresente, no perímetro de sua propriedade, cana-de-açúcar, que ocupa espaços rurais em mais de 480 municípios paulistas. Em meio às práticas de sustentabilidade ambiental adequadas que, há anos, vêm sendo implementadas pelos produtores do setor sucroenergético, até mesmo pelo viés da manutenção de sua competitividade em mercados cada vez mais acirrados, identificamos a necessidade de financiamentos do setor produtivo, para desenvolver estudos e mapeamentos mais detalhados da dimensão territorial das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa (áreas de preservação permanente, reserva legal e vegetação excedente) dentro das propriedades nas quais a cana-de-açúcar é mandatária, território esse preservado e mantido por iniciativa do próprio produtor, mesmo já onerado pelos altos custos da produção. Além da dimensão territorial (disponível em: www. embrapa.br/car), outras perspectivas mostram-se necessárias e urgentes, como estudos sobre a dimensão socioeconômica (patrimônio fundiário imobilizado, custo de manutenção, custo de oportunidade, empregos diretos e induzidos) e a dimensão ambiental (estado e natureza da vegetação, estoque de carbono atual e futuro, indicadores de biodiversidade e serviços ambientais). São informações capazes de agregar valor ao setor sucroenergético, comunicando à sociedade a sustentabilidade do setor. Observamos também mudanças tecnológicas e conceituais na expansão das atividades do setor. Além das mais de três centenas de unidades produtivas autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo a fabricar etanol no País,
Opiniões identificamos novos empreendimentos engajados em produzir etanol a partir do milho, o que denota uma inovação, com a superação de antigas discussões acerca do suposto conflito alimento x biocombustível. Já há em funcionamento usinas dessa natureza nos estados de Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Paraná, além de outras em construção e projetos em andamento. Junto a essa ampliação da capacidade produtiva do setor sucroenergético, emergem questões fundamentais de cunho territorial que somente o investimento em pesquisa e conhecimento pode responder: a partir de dados locacionais das usinas, quais são suas áreas de influência direta e indireta, quais são as distâncias econômicas de plantio, como se configura a competição nas áreas de interesse, quais são as relações com a macrologística e micrologística, como distâncias de vias pavimentadas ou de canais de escoamento da produção influenciam a atuação dos agentes econômicos. Mapear esses fatores competitivos é estratégico e pode influenciar diretamente o desempenho do setor, de forma individual ou consorciada. As geotecnologias fornecem meios e instrumentos estratégicos para responder a essas questões. Em síntese, precisamos, cada vez mais, desvendar a natureza espacial e territorial do setor sucroenergético, caracterizado por grandes números, pela relevância nos segmentos de alimentos, bioenergia e meio ambiente, por acolher milhares de produtores e famílias rurais. Mapear as oportunidades é mais que necessário, é imperativo. n
Ortofoto, 2010/2011 - EMPLASA: resolução espacial aproximada de 1 metro e composição colorida, abrangendo o Estado de São Paulo
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