O manejo integrado de pragas e doenças - OpAA56

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 15 • número 56 • Divisão C • Abr-Jun 2018

o manejo integrado de

pragas e doenças


Opiniões Sucroenergético: cana-de-açúcar, etanol, açúcar e bioeletricidade

Opiniões Florestal: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira

Anuário de Sustentabilidade + Guia de Compras: um para cada setor


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Opiniões


índice

o manejo integrado de pragas e doenças

Editorial:

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Dib Nunes Jr.

Presidente do Grupo Idea

Produtores:

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Ensaio especial: Luis Eduardo Aranha Camargo, Mariana Cicarelli Cia e Raphael Severo Cunha Antunes Faria Respectivamente, Professor, Pós-doutoranda e doutorando do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Esalq-USP

René de Assis Sordi

Assessor de Tecnologia Agronômica no Grupo São Martinho

Márcio Antonio Nono

Diretor Agrícola da Usina Diana

Pragas:

13 15 18 20 22

Newton Macedo

Consultor da Araújo & Macedo Consultoria

Tecila Cristina Ferracino de Souza Engenheira agrônoma de P&D da Stoller

Enrico De Beni Arrigoni

Consultor da Enrico Arrigoni Soluções MIP

Juliano Vilela Fracasso

Pesquisador do Instituto Agronômico - IAC

José Eduardo Marcondes de Almeida

Pesquisador Científico do Instituto Biológico - APTA/SAA-SP

Doenças:

24 26 28 30 32 34 37 39

Álvaro Sanguino

Consultor da Asas - Alvaro Sanguino Assessoria

Modesto Barreto

Consultor da AgroAlerta

C

Roberto Giacomini Chapola

M

Silvana Creste Dias de Souza

Y

Pesquisador da Ridesa-UFSCar

Pesquisadora Científica do Centro de Cana – IAC

Aline Cristine Zavaglia

Pesquisadora e Fitopatologista do CTC

José Otavio Menten

Professor de Fitopatologia da Esalq-USP

Joao Paulo Pivetta

Gerente de Marketing Operacional da Bayer

Antônio Cesar Azenha

Gerente de Marketing de Proteção de Cultivos da Basf

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com nJornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com nTratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues, Careca - LuisCar.rodrigues@gmail.com - 16 98821-3220 n Finalização: Douglas José de Almeira nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais sob a responsabilidade de seus próprios autores nFoto da Capa: Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com nFoto do Índice: Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 98111-8887- paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas nFotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais e comprovantes de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 5.000 exemplares nExpedição Revista eletrônica: 16.821 e-mails cadastrados - Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nAuditoria de Veiculação e de Sistemas de controle: Liberada aos anunciantes a qualquer hora ou dia, sem prévio aviso nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br

South Asia Operation:

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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano

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editorial de abertura

grandes mudanças

e pequenos resultados

Sou do tempo em que a cana era cortada manualmente e queimada, as queixas da sociedade eram sobre o “carvãozinho” que caía nos quintais das casas, o ar que ficava poluído na safra e a proteção de mercado que o governo detinha para o açúcar, que, até então, era considerado importante produto de consumo e de exportação da economia brasileira. No final da década de 1980, as coisas começaram a mudar, quando os promotores públicos, em uma ação integrada, resolveram combater as queimadas de cana e, quase ao mesmo tempo, o então eleito presidente, Fernando Collor de Mello, resolveu liberar o mercado do açúcar, acabando com o IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool, escancarando de vez todo o setor ao livre mercado. As usinas foram, de repente, empurradas para um novo e tumultuado mundo. Até então, toda a carteira de clientes das empresas sucroalcooleiras se resumia a um só cliente: o governo, que, com os marcos regulatórios, controlavam a produção através de cotas. Logo veio a liberação do comércio do etanol: primeiro, o anidro, e, em seguida, o hidratado. O mercado enlouqueceu, tinha gente vendendo etanol em tudo que era esquina e boteco. Esse produto estava tão depreciado que chegou a ser distribuído gratuitamente nas ruas de Ribeirão Preto, num movimento de protesto chefiado por usineiros da região. O setor não estava preparado para o livre mercado e, por isso, se descontrolou, e os preços caíram. Essa, talvez, tenha sido a primeira grande crise do setor, que, sem pai nem mãe, ficou perdido, demorando cerca de uma década para se adaptar à nova realidade.

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Depois disso, já nos anos 2000, o setor passou por muitos altos e baixos, o que obrigou as empresas a se profissionalizarem para sobreviver. O melhor período foi aquele em que o capital estrangeiro resolveu apostar no exuberante e promissor setor, que, então, já era o maior produtor mundial de açúcar e tinha, por detrás de si, um programa estável de combustíveis renováveis, com mercado e distribuição garantidos. Isso gerou um boom no setor, cuja produção de matéria-prima saiu de 255 milhões de toneladas para 620 milhões em apenas 10 anos, um crescimento fantástico de 143,3%. O setor cresceu sem garantias governamentais e sem protecionismo, inserido no livre mercado e nas abundantes terras agricultáveis do País. Juntamente com esse significativo crescimento, vieram as dificuldades para plantio e colheita, pois a área cultivada com cana mais que dobrou. Cerca de 120 novas unidades foram implantadas, principalmente na região Centro-Sul, sendo que a expansão da lavoura ocorreu em direção a terras mais pobres, ambientes inóspitos, muito chuvosos ou muito secos, sujeitos a longas estiagens e a geadas. Enfim, a ordem era plantar cana, ocupar espaços, crescer. Junto com tudo isso, veio a urgência de diminuir a necessidade de mão de obra, cada vez mais escassa e de péssima qualidade. Com a eleição de Lula para a presidência, apesar de, no início, o etanol ser seu preferido, ou se quiserem, massa de manobra do PT para mostrar ao mundo que o Brasil era ecologicamente evoluído, logo que se descobriram as grandes reservas de petróleo no litoral brasileiro – o pré-sal, o etanol foi atirado ao lixo, e políticas extremamente nocivas ao setor foram implementadas. Numa ação sem precedentes, o governo do PT congelou o preço dos combustíveis por quase seis anos, e o etanol, com produção anual de 27 bilhões de litros, se tornou, da noite para o dia, uma enorme fonte de perdas e prejuízos para um setor.


Opiniões Quase de imediato, tanto as empresas como os produtores ficaram endividados e perderam todo o seu poder de realizar investimentos em renovação de lavouras. As empresas produtoras pararam de tratar os canaviais, demitiram funcionários a todo vapor e deixaram de honrar seus compromissos com os donos de terras, fornecedores e bancos. O resultado disso foi que 79 empresas fecharam suas portas e cerca de 80 entraram em recuperação judicial. Era a pior crise da vida contemporânea do setor. Os maiores reflexos disso se sentiram nas lavouras de cana, onde se gastam 70% de todos os recursos financeiros de uma usina. As quedas sucessivas dos preços do açúcar no mercado externo, o congelamento dos preços do etanol no Brasil e o grande endividamento arrebentaram o setor. Na área agrícola, a coisa ficou realmente complicada, porque ainda sofreram com outros dois grandes problemas: a proibição da queima prévia da palha e a rápida transição para a mecanização do plantio e da colheita. Essas atividades mecanizadas prometiam reduzir os custos em até 30%, porém o setor não estava (e grande parte ainda não está) preparado para receber as tecnologias mecanizadas. Não havia experiência anterior e nem especialistas na área, faltavam operadores e mecânicos capacitados, além do que a lavoura não estava sistematizada, incorrendo em perdas enormes de tempos de manobras, aumento de consumo de diesel, perdas de cana, pisoteio e arranquio de touceiras. Reduziu-se, com isso, a vida útil dos canaviais, que começaram a apresentar cada vez mais quedas de produtividades, saindo de quase 90 t/ha para algo ao redor de 75 t/ha, nos últimos anos. Com a proibição das queimadas de cana, as lavouras passaram a receber toda a palha, e, transcorridos mais de 10 anos, temos certeza de que ela se tornou um enorme ônus para os produtores, pois, com a palha, vieram novas pragas, doenças

Sou do tempo em que a cana era cortada manualmente e queimada, as queixas da sociedade eram sobre o 'carvãozinho' que caía nos quintais das casas "

Dib Nunes Jr.

Presidente do Grupo Idea

e plantas daninhas agressivas e de difícil controle. Os gastos aumentaram significativamente, e os canaviais, mesmo plantados com novas variedades, produziram cada vez menos. A palha também contribuiu para a redução na produção de açúcar, pois o ATR da cana crua caiu cerca de 12 quilos em relação à cana queimada. A extração caiu, e os equipamentos industriais sofreram mais desgastes, reduzindo a eficiência e aumentando os custos de manutenção. O teor de impurezas vegetais na matéria-prima subiu de 2% para 10% na cana crua. Hoje, a situação continua complicada, pois temos aproximadamente 50% das áreas de produção com quatro cortes ou mais, isto é, temos uma lavoura velha, necessitando de reformas urgentes. Há quatro anos, a produção está estagnada e não se sabe quando haverá uma retomada. Embora a economia comece a entrar nos eixos, os problemas políticos que afetam o Brasil na atualidade ainda não foram mitigados. Por isso os próprios produtores continuarão a navegar conforme as ondas dos preços do açúcar e do etanol no mercado. Por outro lado, o setor pode ainda ter excelentes auxiliares na melhoria desta situação: o Renovabio, que veio para regularizar e incentivar o mercado do etanol, o atrelamento dos preços dos combustíveis aos preços do petróleo e uma nova onda de consolidação do setor com os grandes grupos engolindo os grupos menores. Talvez a redenção esteja perto. Precisamos acreditar, pois a fase de transição e de interferências políticas no setor parece estar chegando ao fim. n


produtores

manejo integrado

de pragas e doenças

A cultura da cana-de-açúcar no Brasil passa por uma fase de estagnação na sua produtividade agrícola. Muito influenciada pelo clima (deficiência hídrica, geadas, florescimento), que tem se mostrado cada vez mais errático, a cana sofre ainda outros estresses que afetam nossa produção de açúcar, etanol e bioeletricidade. Em situações particulares, esses fatores podem mudar de importância relativa, porém pragas e doenças sempre estão entre os que causam grandes perdas. As mudanças do sistema de produção, preservando a palha no canavial pela colheita de cana crua, e a expansão para novas fronteiras agrícolas, que levou muitos produtores a abdicarem do emprego de viveiro de mudas, propiciaram uma reorganização de todo o ecossistema de pragas, doenças e seus inimigos naturais. Historicamente, as doenças, principalmente as recém-introduzidas no País, sempre impactaram significativamente a cana, sendo, inclusive, uma das principais causas de substituição de variedades. Foi assim, por exemplo, no início da exploração comercial, na década de 1930, com a ocorrência do mosaico afetando as canas nobres; depois, nas décadas de 1950-1960, tivemos o carvão na Co419, doença que, junto com a introdução da ferrugem marrom na década de 1990, causou a substituição da NA56-79, principal variedade da era Proálcool. A mesma ferrugem marrom forçou o abandono de outras variedades, como a SP71-1406, SP71-799 e a própria SP70-1143, importante alternativa na

o setor produtivo sente a falta de pesquisa básica e aplicada que nos auxilie a entender um pouco mais a biologia, a etiologia e, consequentemente, o controle desses agentes que afetam nossa produção "

René de Assis Sordi Assessor de Tecnologia Agronômica do Grupo São Martinho

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expansão que fizemos para solos de menor fertilidade; na década de 1990, tivemos, talvez, o mais drástico prejuízo e a rápida substituição de uma variedade, com a ocorrência do amarelinho na SP71-6163, que praticamente dizimou a produtividade nesse material; mais recentemente, a ferrugem alaranjada, constatada em 2009, inviabilizou o cultivo da SP89-1115 e SP81-3250, essa até então a segunda variedade mais cultivada no País. O método de controle dessas doenças primárias tem sido o uso de variedades mais resistentes, sendo que a prática do roguing, ou retirada de plantas doentes dos viveiros, constitui-se como adicional para a convivência dessas doenças abaixo do nível econômico de dano. Recentemente, tem aumentado entre os produtores o uso de fungicidas para controlar as ferrugens, tentando propiciar, adicionalmente, a sanidade geral das folhas. Com a copa mais sadia, aumenta-se a resposta a outros tratos culturais, como a aplicação foliar de micronutrientes. O acréscimo em produtividade tem sido interessante, até mesmo em solos de baixa fertilidade. Nesse caso, a relação custo/benefício deve ser muito bem dimensionada.


Opiniões Nesse caso, temos o exemplo mais preocupante dessa nova configuração da importância relativa dos estresses bióticos, que é a expansão recente, na região Centro-Sul, do Sphenophorus levis (que de leve não tem nada) e da broca peluda Hyponeuma. O Sphenophorus é uma praga que encontrou na cana crua um ambiente bastante favorável. Restrito por muito tempo na região de Piracicaba, essa praga de solo está hoje em praticamente todo canavial da região de Ribeirão Preto, grande parte de MG, sendo constatado, no último ano, em GO (regiões de Jataí, Rio Verde e Quirinópolis). A eliminação mecânica das soqueiras, por ocasião da reforma, é uma medida imprescindível. Deve ser associada ao emprego de inseticidas no sulco de plantio e no corte das soqueiras recém-brotadas em áreas ou reboleiras de ocorrência. A vistoria dos viveiros, assim como a limpeza de máquinas e de implementos nas mudanças de áreas de operação e a limitação de cargas para evitar quedas de toletes no transporte pós-colheita, é medida auxiliar para evitar que a praga se espalhe. Tem sido utilizado, adicionalmente, o controle biológico, com o fungo Beauveria, em áreas de baixa infestação. Nota-se uma nova interação dessa praga com o uso crescente do sistema de meiosi, onde a “linha-mãe” tem sido um chamariz para os adultos se deslocarem após a eliminação da área intercalar. Isso pode ser considerado como oportunidade de diminuição dos adultos remanescentes, desde que se faça o uso adicional de inseticidas pós-transplantio das “linhas-mãe”. Outra ocorrência importante é o aumento das podridões de colmos, causadas por Colletotrichum falcatum, provavelmente por causa dos novos manejos e ambientes de produção. Essa doença, apesar de antiga e de ocorrência endêmica, tem, ano a ano, afetado a qualidade da matéria-prima, em muitos casos de maneira significativa. Por enquanto, não temos uma causa raiz perfeitamente equacionada, mesmo FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE DA CANA Principais fatores que afetam produtividade da porque cana sua ocorrência tem sido errática e não previsível, assim como não temos verificado resistência varietal ou controle eficiente por fungicida. PRODUTIVIDADE POTENCIAL Todo esse cenário tem nos causado uma preocupação crescente. Apesar de novos métodos de controle, novas técnicas de levantamento e monitoramento (como drones e agricultura digital), novos fungicidas e inseticidas, novos agentes de PRODUTIVIDADE controle biológico e de manejo integrado, temos REAL visto o aparecimento de resistência e ressurgência de algumas pragas e doenças. Pode-se dizer que o setor produtivo sente a falta de pesquisa básica e aplicada que nos auxilie a entender um pouco mais a biologia, a etiologia e, consequentemente, o controle desses agentes que afetam nossa produção. Acreditamos que a recuperação da produtividade passa, obrigatoriamente, pelo fortalecimento da pesquisa no nosso setor. n perdas colheita variedades

Sphenophorus

manejo

ambientes produção

plantas daninhas

broca clima

nutrição

As pragas, não menos importantes, causam prejuízos que poderíamos classificar como endêmicos, ou seja, ocorrem todos os anos, em maior ou em menor grau. Dependendo das condições climáticas, da região e dos ambientes de produção, do tipo de variedade e do manejo empregado, podem ocasionar grandes perdas. Como principal praga da parte aérea, a broca Diatraea continua sendo motivo constante de monitoramento. O controle biológico, feito pela vespinha Cotesia, constitui-se o melhor exemplo clássico de eficiência e a maior área de aplicação desse tipo de controle na agricultura mundial. Porém, notadamente em regiões mais quentes, como GO, Triângulo Mineiro e oeste de SP, é imprescindível que ele seja associado ao uso de inseticidas e a outro parasitoide de ovos, o Trichogramma galloi, constituindo o que comumente chamamos de manejo integrado de pragas-MIP. A cigarrinha das folhas também tem causado grandes danos, notadamente na qualidade da matéria-prima. O seu controle biológico através do fungo Metarhizium anisopliae tem sido praticado com sucesso por muitas unidades produtoras, o que mantém a praga abaixo do nível econômico de dano. Porém, dependendo da região e do ano agrícola, têm-se usado intensivamente inseticidas, o que parece estar causando o aparecimento de resistência da praga a alguns produtos. O MIP deveria ser a melhor estratégia nessa situação. As pragas de solo, embora mais pontuais e localizadas, causam também grandes prejuízos, pelas perdas diretas de colmos produtivos e pela diminuição da longevidade dos canaviais. Muitas delas são de difícil controle, consumindo grande quantidade de inseticidas.

Sordi, R.A., 2018: Adaptado da Lei do Mínimo de Leibig

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produtores

Opiniões

queimada controlada & doenças e pragas

As regiões canavicultoras foram se adaptando à realidade da colheita de cana crua em diferentes momentos. Regiões tradicionais como Piracicaba e Ribeirão Preto foram as primeiras a enfrentar a situação. Implantaram a colheita mecanizada de cana crua com ênfase e, consequentemente, enfrentaram os problemas de desequilíbrio nutricional e fitossanitários. O ataque das cigarrinhas foi a primeira surpresa! Atualmente, praticamente todas as regiões que estabeleceram a colheita mecanizada de cana crua como procedimento enfrentam os problemas desse desequilíbrio. Tornar esse ambiente equilibrado fitossanitária e biologicamente é o desafio do setor. Considero 3 pilares para o manejo integrado de pragas e doenças como caminho para o sucesso: nutrição, viveiros sadios e equilíbrio ecológico dos canaviais. O manejo integrado de pragas e doenças é um grande desafio, é uma mudança de cultura, quebra de paradigma. A cana era “facilmente” cultivada; plantio em épocas definidas, safra mais curta que a atual, adubação, herbicida e era só. Disse “facilmente” porque, hoje, as coisas se complicaram e, a exemplo dos cereais, temos que ficar atentos a todas as etapas de produção, começando pelo velho e bom planejamento. A cana era 'facilmente' cultivada; plantio em épocas definidas, safra mais curta que a atual, adubação, herbicida e era só. Disse 'facilmente' porque, hoje, as coisas se complicaram "

Márcio Antonio Nono

Diretor Agrícola da Usina Diana

Esse manejo integrado a que me refiro inicia-se na nutrição das plantas. Os solos brasileiros, de maneira geral e principalmente nas áreas de expansão do setor, são pobres nutricionalmente. Nesse caso, temos que trabalhar na correção e no balanço nutricional, buscando não só os macro, como também os micronutrientes, principalmente Mn, Cu, Zn e B. Podemos contar com eles na proteção das plantas.

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É comprovado o efeito na manutenção da integridade das membranas e na formação de compostos fenólicos, a exemplo da lignina e das fitoalexinas. O uso racional de torta de filtro e de vinhaça, que são nossos subprodutos, ou qualquer fonte de adubação orgânica, deve ser implementado (embora nem sempre esses resíduos tenham o equilíbrio nutricional exigido pela cultura e devam ser complementados com os químicos) para incrementar a matéria orgânica que é responsável por estimular a atividade biológica no perfil do solo. A nutrição das plantas é a base para canaviais sadios e produtivos. Outro ponto importante é o planejamento para manter viveiros de mudas, procedimento respeitadíssimo nos anos 1980 e 1990 e esquecido (ou menosprezado) na última década. Temos que voltar a respeitar a resistência genética que a variedade nos traz e montar viveiros com tecnologia suficiente para nos livrar de doenças nessa fase do processo.



produtores As MPB (mudas pré-brotadas) nos ajudaram muito nisso e, apesar do custo unitário alto, podemos abatê-lo montando viveiros estratégicos em áreas de reforma com 2 anos de antecedência (com o bom planejamento), aumentando a taxa de multiplicação dessas mudas do atual 1:8 para 1:70, ou até mais. A garantia de trazermos variedades atuais, com vigor e sanidade, é imprescindível. Além disso, tornam-se novamente importantes os viveiros básicos e primários, optando-se pelo uso de tratamento térmico. Devemos ter o cuidado de treinamento de equipes para a confecção de roguing nos viveiros. O equilíbrio ecológico deve ser restabelecido com o uso racional de defensivos químicos e a introdução dos bioquímicos e naturais. Empresas constataram que o microambiente proporcionado pela palha com a manutenção de umidade torna-se agradável a pragas e a doenças, roubando o ATR/hectare. Essa palha, que se acumula ano após ano, mantém e preserva os ovos e os esporos, e, mesmo com o recolhimento para virar energia elétrica e/ou a colheita da cana integral, o remanescente permanece no terreno. Nesse cenário, acredito que a microbiologia e a fitopatologia devem ajudar os canaviais. Temos que fomentar as instituições e os profissionais de pesquisas nesse cenário (de fungos benéficos; inimigos naturais; bioquímica) – e tem que ser a virada de página. Noto que o esforço e o apelo nessa linguagem dos naturais e dos bioquímicos têm avançado. Muitas empresas estão preocupadas buscando soluções e produtos que nos auxiliam desde a brotação e o enraizamento até o controle efetivo das doenças e das pragas. A bioquímica deve nos ajudar inclusive no combate às doenças fúngicas, que não respeitam a resistência de variedades e estão no nosso convívio. O uso de fungicida passou a ser necessário, mas não deve ser a única solução. Cito de maneira resumida as principais doenças que preocupam o setor e as principais intervenções aplicadas atualmente: • Podridões: doenças fúngicas, talvez com o Colletotrichum falcatum como o principal causador e que atinge praticamente todas as variedades comerciais, que apresenta difícil controle e falta de estudos para conhecimento da fisiologia e modo de ação; há a importância do uso dos 3 pilares que citei acima para maior efetividade no combate e monitoramento para possível antecipação de colheita. • Bactérias, como a estria vermelha na RB 86 7515 e na RB 83 5453; podem-se evitar com o uso de variedades resistentes e manejo dos ambientes de produção. • Doenças de folhas: principalmente a ferrugem alaranjada (Puccinia kuehnii), se restringe às variedades sensíveis, principalmente a SP 81 3250, e

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tem aplicações de fungicida com controle eficiente. Deve-se atentar para o uso racional de variedades tolerantes que atingem notas acima de 3 na escala de nível de dano. • Carvão: pode preocupar novamente; a quantidade de inóculo vem aumentando, e variedades tolerantes acabam apresentando-a. Atenção com as variedades! • Mosaico e a escaldadura são doenças importantes, que, em maior ou menor grau, têm sido controladas pelos programas de melhoramento através da seleção de variedades resistentes. E as principais pragas: • Broca-da-cana: possui métodos de controle eficientes, com o uso de inimigos naturais (cotésia e trichograma) e de inseticidas. Tem aumentado a pressão de ataque pela negligência do setor. Favorece os danos causados pelo Colletotrichum. • Sphenophorus levis: o bicudo-da-cana se apresenta em praticamente todas as áreas canavieiras. Cuidados na avaliação das mudas (para não transportar a praga de uma área a outra) evitam a disseminação. O preparo de solo destruindo as socas para o plantio e o controle químico no corte de soqueiras são medidas de controle que, quando usadas em conjunto, apresentam eficiência. • Migdolus fryanus: com ataques em manchas, devem ser mapeados para efetivo controle na época de preparo de solo e adequar o manejo de colheita precoce para evitar morte das soqueiras. • Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata): deve ser monitorada e controlada preventivamente, de acordo com o histórico da área, por via terrestre, preferencialmente, com maior eficiência no controle químico. Deve-se introduzir e monitorar a presença de Metarizhium anisopliae para incrementar o manejo integrado e aumentar a população desse importante inimigo natural da praga. Tem sido relacionada como potencializadora no ataque do Colletotrichum. Saliento que visitas ao campo por técnicos responsáveis pela produção é importantíssimo. Saber identificar sintomas de doenças, deficiências nutricionais, ataques de pragas e atuar imediatamente são ações que não podem ser deixados de lado. O uso das tecnologias modernas (softwares, apps, tratamento de imagens de satélites, drones) é importante, mas não deve nos tirar do campo. Treinar equipes, retomar procedimentos adequados à produção. Incentivar a tomada de decisão. Planejar e aplicar as técnicas no momento correto e com capricho são diretrizes para se retomar o caminho da produtividade. A avaliação periódica e sistemática dos canaviais deve ser rotina. O momento correto para intervenções no controle de pragas e doenças se tornou fundamental para a cultura. n


pragas

Opiniões

inimigos ocultos Fitonematoides são agentes patogênicos que atacam o sistema radicular da cana-de-açúcar, reduzindo sua capacidade de absorção de água e nutrientes, que podem resultar em perdas significativas da produtividade. Lavouras infectadas por nematoides sofrem mais estresse hídrico, são mais vulneráveis a outras doenças (Colletotrichum falcatum), causam desperdícios de fertilizantes aplicados, sofrem mais com matocompetição, tornando-se incapazes de expressarem seu potencial genético pleno. Perdem, em média, 15,3% de produtividade nos canaviais do País, além de milhões de reais em fertilizantes não aproveitados e custos adicionais com herbicidas e tratos culturais. As espécies mais importantes listadas, considerando-se frequência, populações e agressividade, são: Pratylenchus zeae; Meloidogyne jananica; M. incognita e P. brachiurus. O ataque ao sistema radicular das plantas se dá por juvenis II, a partir de um ciclo que se inicia por ovo, juvenil I (dentro do ovo), juvenil II (infectivo), juvenil III e IV nas raízes e adultos, passando por quatro ecdises, que, ao abandonarem as raízes deixam seus ovos no solo. Eles, conforme as condições presentes (umidade no solo e raízes jovens) iniciam novas infecções imediatamente, resultando em crescimento exponencial da população.

Quando falta alimento, fêmeas se tornam machos, para terem a possibilidade de fecundar fêmeas alimentadas, assegurando a continuidade de seu patrimônio genético. "

Newton Macedo Consultor da Araújo & Macedo Consultoria

Exsudatos radiculares como compostos fenólicos e gás carbônico atuam na capa lipídica que protege o ovo, permitindo a eclosão dos juvenis II, portanto atacam preferencialmente raízes jovens. Condições desfavoráveis permitem que os ovos permaneçam em forma de resistência, no solo, por períodos extremamente longos. Os nematoides entram em latência conforme condições adversas prevalecentes no solo (baixas temperaturas, criobiose; altas temperaturas, termobiose; inundação, anoxobiose; fertilizantes, osmobiose; seca, anidrobiose).

Quando falta alimento, fêmeas se tornam machos, para terem a possibilidade de fecundar fêmeas alimentadas, assegurando a continuidade de seu patrimônio genético. Fatores que mais influenciam as populações de nematoides são: plantas hospedeiras; microrganismos antagonistas (fungos, bactérias, protozoários e nematoides parasitos e predadores); quantidade de matéria orgânica; pH, umidade, textura e temperatura do solo. O recomendado para detectar presença, espécies e níveis de população de fitonematoides é a análise em laboratórios. Contudo há sintomas e algumas indicações de campo que permitem suspeitar da ocorrência desses agentes patogênicos, como presença de reboleiras com plantas de tamanhos desiguais; murchamento precoce de plantas em grandes reboleiras; redução de perfilhamento; baixa resposta à adubação; raízes com deformações típicas e redução na produtividade. O sistema radicular da cana influencia as populações dos nematoides nas raízes e no solo. Os nematoides são seres aquáticos ativos no filme de água disponível entre as partículas sólidas do solo úmido. A cana, por ser uma planta de ciclo longo, está adaptada a suportar déficit hídrico no solo, mas paga um preço por isso. No período do final do outono/inverno/início da primavera, ocorre morte de grande parte das raízes superficiais, e não ocorre a formação de novas raízes.


pragas Permanecem vivas raízes profundas, velhas, escuras, grossas e lignificadas. Nessas condições, os nematoides se mantêm na forma de resistência. Mesmo com eventuais chuvas repondo a água no solo, as menores temperaturas limitam o crescimento de novas raízes. Consequentemente, a população ativa de nematoides é muito baixa. Segundo Montasser (2002), as populações de P. zeae flutuam no solo e nas raízes durante toda a estação de crescimento, variando significativamente em relação ao tipo de solo (silte argiloso ou argiloso) e às oscilações de temperatura do solo. A retomada de novo sistema radicular muda de ano para ano, de região para região, de solo para solo e de variedade para variedade. Uma consequência negativa dessa correlação entre umidade no solo, sistema radicular novo e população ativa de nematoides é uma precária precisão nas análises nematológicas a partir de coletas de amostras (solo e raízes) em cana-de-açúcar, feitas diretamente no campo. Uma forma prática e confiável de eliminar esse problema é remeter aos laboratórios amostras produzidas em sacos plásticos, a partir de amostras compostas de solo coletado na rizosfera da cultura, nos quais são plantadas gemas ou mudas de MPB. O controle pode ser: 1. Varietal: variedades resistentes/tolerantes, método sem aplicabilidade prática porque não há fonte de resistência eficiente para ambos os gêneros de fitomatoides da cana. 2. Cultural: rotação de culturas com leguminosas. Há dados consistentes de diferentes pesquisadores mostrando que certas leguminosas reduzem populações de fitonematoides, refletindo positivamente na produtividade da cana-de-açúcar. Espécies mais utilizadas: Crotalaria spectabilis; C. ochroleuca e Arachis hypogaea. 3. Biológicos: fungos, bactérias, protozoários, vírus e extratos vegetais. Há bionematicidas com ingredientes ativos: Pochonia chlamydosporia, Paecilomyces lilacinus, P. hilarianus Pupuricillium lilacinus, Tricoderma spp., Bacillus amyloliquefaciens, B. subtilis, B. licheniformis, B. firmis, registrados para hortaliças, lavouras de grãos e fibra, via tratamento de sementes. Quando aplicados sobre o solo, folhas ou em água de irrigação, necessitam duas ou mais aplicações no ciclo da cultura. Sendo um mercado muito promissor, explicam-se os altos investimentos financeiro e tecnológico de grandes multinacionais nessa alternativa de controle, tentando estender para a cana-de-açúcar os resultados alcançados até o momento em culturas de ciclo curto. 4. Químico: nematicidas; nematostáticos; antagonistas químicos fisiológicos e bioativadores. O comportamento de moléculas químicas conforme os coeficientes KOW baixo e alto, ação sistêmica alta e baixa, respectivamente; KOC baixo e alto, mobilidade no solo alta e baixa, respectivamente; DL50 baixa e alta toxidez alta e baixa, respectivamente, explicam muito o modo de ação dos produtos sobre os nematoides e seus riscos para o ambiente e ao ser humano.

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Entre outros parâmetros, eles são usados para definir a renovação de registros nos órgãos reguladores, dos atuais e futuros produtos a entrarem no mercado. Os primeiros nematicidas, baseados em moléculas do grupo dos organofosforados e carbamatos, são extremamente tóxicos. Por isso, Aldicarb, Terbuphos, Cadusafos e Carbofuran foram banidos do mercado. Atualmente, produtos com DL50 inferior a 50mg/kg de peso vivo de cobaias praticamente não têm chance de ter registro ou tê-lo renovado. Novas moléculas surgem, gerando formulações de alta performance no controle dos nematoides, muito seguras ao ambiente e ao ser humano, como Benfuracarb, Fluensulfone e Fluopyram. Em se tratando de seres vivos, quando se analisa o potencial dos bionematicidas, tem que se considerar que a rizosfera é uma arena de batalha entre microrganismos antagonistas aos fitonematoides, como bactérias, fungos, protozoários, nematoides, anelídeos e artrópodes, componentes da flora e fauna naturais, abundantes na maioria dos solos. O chamado “efeito tampão biológico” é outro fenômeno observado: muitos organismos de solo encontram-se em um estado de equilíbrio dinâmico, de forma que a adição de um determinado agente de biocontrole poderá ativá-los, resultando em uma rápida redução, ou até mesmo eliminação da população do agente introduzido. Muitos fungos biocontroladores são saprófitas, por isso não necessariamente atacam os fitonematoides. Isso prejudica o parasitismo, conforme a quantidade de matéria orgânica no solo. Dificuldades adicionais observadas nos fungos e nas bactérias são a grande variabilidade na virulência do organismo; devido à variabilidade genética e à dependência de umidade no solo, necessitam várias aplicações no ciclo da cultura, pela menor persistência no campo, além do menor período de conservação das formulações: 2 a 24 meses, versus 2 a 4 anos para os químicos. Seu uso específico em cana-de-açúcar tem um agravante que deve ser considerado, que é o tratamento das mudas com fungicidas, na maioria dos plantios. Os fungicidas com ingredientes ativos como captana; carbendazim; fluazinam e iprodione são extremamente tóxicos a Trichoderma spp. Em tratamento de sementes de soja, Carbendazim, Tiofanato metílico, Fluazinam e Carbendazim+Tiram inibiram os bionematicidas Pochonia chlamydosporia, Paecilomyces lilacinus, Tricoderma asperellume e Bacillus amyloliquefaciens (compatibilidade de microrganismos benéficos com fungicidas utilizados no tratamento de sementes de soja, de Oliveira et al. 2017). Na prática, para cana-de-açúcar, os bionematicidas ainda apresentam limitações que não lhes permitem competir técnica e economicamente com os agentes químicos. Nos nematicidas químicos modernos, do ponto de vista técnico e econômico, repousa a maior segurança, inclusive ao homem e ao meio ambiente, no controle dos fitonematoides em cana-de-açúcar. n


Opiniões

grande vilão invisível Em um contexto mundial e nacional de maior consciência da sociedade sobre cuidados com o meio ambiente, a indústria sucroenergética assume um importante papel no País por fornecer grandes alternativas para o setor de biocombustíveis, com a produção de etanol e seus subprodutos provenientes da cana-de-açúcar. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, mostrando sua importância para a economia do País, e segue com o cenário promissor para produção e exportação de etanol para os próximos anos. Diante desse cenário, o principal desafio está em aumentar a produtividade das áreas já existentes, elevando o rendimento da produção da cultura no Brasil. Para maximizar a produtividade no campo, uma série de procedimentos são importantes no processo do cultivo da cana, sendo parte deles orientados para minimizar os fatores de perdas e obtenção de maiores potenciais produtivos. Um dos principais fatores de perdas no manejo da cultura é a sanidade do canavial, por isso é cada vez mais necessário estar atento à ocorrência e às infestações de organismos que depreciam a produção e a qualidade da cana-de-açúcar, afetando negativamente os produtos finais e o lucro na atividade. Podemos dividir esses organismos em insetos que são mais conhecidos como pragas (broca-da-cana, cigarrinhas-das-raízes, sphenophorus, cupins), os patógenos causadores de doenças, como os fungos, as bactérias e os vírus (mosaico, estrias vermelhas, raquitismo, carvão, ferrugem, podridões) e os parasitas de plantas, denominados nematoides. O primeiro relato de um nematoide parasita de plantas correu por Turbeville Needham, no século XVIII, em trigo.

As perdas anuais causadas por nematoides em solos brasileiros, considerando todas as culturas, contabilizam prejuízos de R$ 35 bilhões, sendo o segundo maior prejuízo encontrado em cana-de-açúcar, girando em torno de R$ 12 bilhões "

Tecila Cristina Ferracino de Souza Engenheira agrônoma de P&D da Stoller

Porém foi no século XIX que a Nematologia passou a se destacar como especialidade, gerando grande volume de publicações, as quais contribuíram para identificação e descrição de inúmeras espécies de nematoides no mundo. No Brasil, foi em 1950 que a especialidade começou a apresentar grande destaque, em especial através das contribuições de Jair Corrêa de Carvalho (Instituto Biológico-SP), Olavo José Boock (Instituto Agronômico de Campinas-SP) e Luiz Gonzaga Engelberg Lordello (Esalq-USP-SP). Além deles, muitos outros cientistas trabalharam para confirmar a nematologia de plantas como uma ciência de grande importância para a agricultura. As perdas anuais causadas por nematoides em solos brasileiros, considerando todas as culturas, contabilizam prejuízos de R$ 35 bilhões, sendo o segundo maior prejuízo encontrado em cana-de-açúcar, girando em torno de R$ 12 bilhões. Considerando o preço atual da tonelada de cana (R$ 63,8) esse valor equivale à produção de 188 milhões de toneladas que são perdidas anualmente. Em cana-de-açúcar, as espécies de nematoides de maior importância e que causam grandes danos são Meloidogyne javanica, M. incognita (mais severo) e Pratylenchus zeae (mais comum), estando essas três espécies presentes em mais de 70% das áreas de cultivo de cana-de-açúcar no País.


pragas

Opiniões

Sabe-se que esses organismos causam perdas de até 50% da produtividade em cana planta e 30% na soqueira, refletindo de forma negativa grave no potencial produtivo das soqueiras subsequentes, afetando diretamente a longevidade do canavial. Nematoides penetram nas raízes das plantas para se alimentarem, e a movimentação nos tecidos vegetais podem causar danos mecânicos, gerando as necroses no sistema radicular. Também existem os danos causados à planta pela ação tóxica das substâncias injetadas pelos nematoides nas plantas, que acabam formando as galhas nas raízes (M. javanica e M. incognita). Todos esses danos são porta de entrada para ataque de outros patógenos, como fungos e bactérias. Além disso, o ataque desses parasitas estressa por demais as plantas, levando-as a produzir etileno, um hormônio que inibe o desenvolvimento do sistema radicular, causando sérios problemas de desequilíbrio hormonal, com as consequências graves conhecidas em plantas colonizadas por nematoides. Os nematoides não possuem distribuição uniforme no campo; dessa forma, os sintomas aparecem em reboleiras de plantas menores e cloróticas, desuniformidade de desenvolvimento das touceiras, com sintomas mais evidentes de deficiências nutricionais, menor resistência aos períodos de seca, resultando na redução significativa de produtividade e de longevidade do canavial. Isso ocorre como reflexo do ataque dos nematoides ao sistema radicular, que é o maior capital da planta devido à sua importância em funções essenciais para o desenvolvimento da cultura no campo. Canaviais com alta infestação de nematoides terão raízes deficientes na absorção de água, de nutrientes e de produção hormonal, afetando diretamente a produtividade final. O controle de nematoides pode ser realizado pela adoção de um manejo integrado com diferentes ferramentas de controle, como o uso de variedades resistentes ou tolerantes, já utilizados em outras culturas. CONTROLE BIOLÓGICO DE PRATYLENCHUS ZEAE EM PLANTIO DE CANA-DE-AÇÚCAR

P. ZEAE (NÚMERO/50 DE RAIZ

10.000

16

9.500

2 MESES APÓS APLICAÇÃO

9.337

4 MESES APÓS APLICAÇÃO

9.000 8.500 8.000 7.500 7.000

7.853

7.693 6.962

6.500 6.000 5.500 5.000

5.270 TESTEMUNHA

QUÍMICO

5.177 POCHONIA CHLAMYDOSPORIA (PC10)

No entanto tais ferramentas ainda são raras para o controle das principais espécies que atacam a cana-de-açúcar; como exceção, temos a IACSP93-3046, que é resistente a M. javanica, contudo é suscetível aos demais nematoides P. zeae e M. incognita, restringindo, assim, o seu uso comercial, uma vez que é muito comum a ocorrência de mais de uma espécie de nematoides na mesma área. Dentro do manejo integrado de nematoides, também se recomenda a melhoria da qualidade química, física e biológica do solo, assim como o uso de cobertura vegetal com crotalária (Crotalaria spectabilis e C. juncea). O uso de torta de filtro no plantio e cultivo de crotalária, nas áreas de reforma em sistema tradicional ou no sistema de Meiosi (Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente), são medidas que auxiliam no melhor desenvolvimento da cana-de-açúcar que será plantada, reduzindo, ao final, as perdas de produtividade. A aplicação de nematicidas químicos vem sendo a principal ferramenta em cana-de-açúcar, com recomendação de aplicação no plantio sobre os toletes e nas soqueiras ao lado ou sobre a linha de cana. Trabalhos do Instituto Agronômico de Campinas mostram que esse controle resulta em ganhos médios de 28 t/ha em cana planta e 16,7 t/ha em soqueira. Para se fazer uso dessa tecnologia, deve-se considerar o nível de infestação na área, a época de aplicação e o potencial produtivo da cultura. Nos últimos anos, o uso de tecnologias biológicas vem assumindo importante papel no controle de nematoides nos canaviais brasileiros, com alta eficiência de controle e estabilidade de respostas em diferentes ambientes de produção. Atualmente, no mercado, como nematicidas biológicos de controle direto, tem-se: fungos parasitas de ovos, fungos predadores (com estruturas para captura de juvenis e adultos móveis) e bactérias formadoras de esporos. Trabalhos da Universidade de Viçosa mostram que o fungo Pochonia chlamydosporia (PC10) apresenta alta virulência aos nematoides, boa permanência no solo em condições adversas, alta capacidade de se reproduzir e estabilidade nos resultados de controle de nematoides, através do parasitismo de ovos e formas juvenis de diferentes espécies desses parasitas. Experimentos conduzidos pela pesquisadora Leila Dinardo Miranda, do Instituto Agronômico de Campinas, com o fungo P. chlamydosporia, aplicado no sulco de plantio sobre os toletes de cana, mostraram eficiência de controle de P. zeae semelhante ao químico, com a vantagem de menor impacto ambiental e na saúde humana. Finalmente, para se ter um adequado uso dessas ferramentas de controle, é relevante fazer a identificação das áreas com problemas de nematoides, através do levantamento da população existente com análises do sistema radicular e do solo, em laboratórios credenciados. n



pragas

problemas atuais e

futuros desafios

Estamos comemorando 32 anos de operação da colheita de cana sem a queima da palha, ou cana crua. Isso ocorreu desde o início dos primeiros experimentos, conduzidos na região de Ribeirão Preto, em 1986, testando e avaliando essa nova forma de colheita, que permitiu introduzir máquinas colhedoras, substituindo a mão de obra que se ocupava do corte dos colmos. Os estudos multidisciplinares foram conduzidos a fim de determinar quais seriam os impactos dessa modalidade de colheita para o setor, nos mais diversos aspectos. Agora, após três décadas, observamos o que foi projetado, o que foi previsto, quanto evoluímos e o que ainda não se conhece. As doenças, de uma maneira geral, não se desenvolveram em ritmo diferente do que ocorria nas áreas de cana queimada, mas houve a introdução e a descoberta de algumas doenças, sendo a mais recente a ferrugem alaranjada, controlada por variedades resistentes ou mediante emprego de fungicidas, que alterou o plantel varietal e a rotina dos produtores que cultivavam variedades suscetíveis.

O aumento na incidência de algumas doenças resultou mais em função do abandono das técnicas corretas de plantio de viveiros de cana-de-açúcar do que pelas alterações no ambiente ou na evolução de agentes patogênicos. "

Enrico De Beni Arrigoni Consultor da Enrico Arrigoni Soluções em Manejo Integrado de Pragas

O aumento na incidência de algumas doenças resultou mais em função do abandono das técnicas corretas de plantio de viveiros de cana-de-açúcar do que pelas alterações no ambiente ou na evolução de agentes patogênicos. Entretanto não há dúvidas de que a manutenção da palha na superfície do solo exerce influência, mas as ações equivocadas do homem são as que mais alteram o equilíbrio, aumentando as perdas e os desperdícios.

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Por outro lado, a técnica de multiplicação de cana, empregando mudas originadas de gemas brotadas, proveniente de plantas indexadas, permitiu evoluir na produção de material sadio e mais vigoroso para dar início ao plantio comercial, com viveiros tradicionais ou Meiosi em maior escala e em menor custo. Essas tecnologias tiveram e terão impacto positivo na redução da ocorrência de importantes doenças da cana. As pragas foram diretamente afetadas pela presença da palha, e a que merece maior destaque é a cigarrinha-das-raízes, que era considerada praga esporádica quando se colhia a cana queimada. Atualmente, pode ser considerada a praga que causa maiores prejuízos à cultura canavieira, apesar de estarem disponíveis eficientes métodos de monitoramento e de controle, incluindo o químico, o microbiano e o cultural. Pode-se dizer que ocorrem problemas de redução de equipes e mau dimensionamento de equipamentos de aplicação, levando a erros no controle da primeira geração de ninfas, o que compromete a eficiência do controle nas demais gerações da praga.


Opiniões Aplicações aéreas e tratorizadas mal executadas ou em momentos inadequados, atraso nas operações de monitoramento e de controle, equívocos na definição de níveis e de critérios de controle, utilização de produtos e de métodos de aplicação ineficientes são alguns motivos que explicam o problema que enfrentamos hoje. Devemos acrescentar a crescente ocorrência de Colletotrichum falcatum em nossos canaviais, causando secamento das canas e, consequentemente, redução na produtividade. Apesar de não haver consenso entre os especialistas, é possível correlacionar a ocorrência dos danos causados pelo fungo e o ataque das cigarrinhas e de outras pragas nas áreas. O fato é que há necessidade premente de constituir grupos de estudo focados na rápida definição dos principais aspectos relacionados ao problema, com recursos suficientes para agilizar os projetos e entregar respostas e soluções de controle aos produtores que têm sofrido prejuízos a cada safra. Pode-se afirmar que esse é um dos principais desafios na atualidade e que necessita de ações imediatas. Outra espécie beneficiada pela presença da palha é o Sphenophorus levis, conhecido por Sphenophorus, que encontrou no sistema de colheita de cana crua a possibilidade de permanecer abrigado e diretamente em contato com o alimento, com a possibilidade de as fêmeas colocarem seus ovos nas bases de canas, sem maior exposição aos predadores e aos fatores climáticos inadequados. A movimentação de cargas de cana, para plantio e safra, auxiliou na dispersão, e, como consequência, houve aumento de áreas infestadas e dos níveis populacionais da praga. Encontram-se disponíveis métodos químicos, microbianos e culturais para promover a redução dos níveis populacionais, mas pode-se afirmar que a dificuldade encontrada na integração desses métodos e seu correto emprego são fatores que limitam a obtenção de eficiências no controle. O desafio em relação a essa praga está na introdução de novos métodos de controle, como nematoides entomopatogênicos, variedades Bt, métodos mais eficazes de aplicação dos produtos químicos e microbianos, entre outros. A lagarta elasmo, que foi relatada como problema em regiões sujeitas a déficits hídricos prolongados, nos períodos de brotação da cana, passou a ser considerada praga esporádica ou deixou de ser mencionada como praga na maioria das regiões, em função da proteção da palha, maior umidade na camada superficial do solo e pelas fêmeas não serem mais tão atraídas aos canaviais, como o eram na época da queima. Outro desafio, que enfrentamos hoje, é a ocorrência mais frequente de Hyponeuma taltula, ou Hyponeuma ou broca peluda, nas bases de colmos, causando consideráveis danos na produção e na quebra de colmos em sua base. Diferentemente de outras pragas, essa espécie é pouco conhecida e está se tornando uma praga primária na cana. Não se conhecem aspectos básicos de sua biologia e de comportamento no campo, índices

de perdas ou preferência varietal, métodos de controle ou técnicas validadas. Não há produtos eficientes validados e registrados para uso em seu manejo. Há um longo caminho de pesquisa básica e aplicada pela frente, e é evidente a necessidade de destinar recursos para formar grupos de estudo, na busca de respostas e de recomendações de métodos eficientes de controle. Não podemos deixar de mencionar a broca comum da cana, que passou a apresentar índices um pouco mais elevados de intensidade de infestação, quando se estabeleceu a colheita da cana crua. Outros fatores podem estar associados a esse ligeiro aumento, como a menor atuação das equipes de campo, a redução de mão de obra, variedades, etc. O fator chave para controle de populações da broca é a fase de ovo, que apresenta uma série de parasitoides e de predadores. A presença da palha prejudicou a manutenção de espécies de formigas predadoras, e o melhor exemplo foi a redução de ninhos das formigas-lava-pés (Solenopsis invicta) nessas áreas. Os métodos de monitoramento e de controle são conhecidos e adotados por uma parcela significativa de produtores. A recente inovação no controle da broca foi o lançamento de variedade de cana transgênica expressando o gene de uma toxina Bt, abrindo novas oportunidades de controle mediante o uso dessa promissora ferramenta para o setor sucroenergético. As subespécies de broca-gigante (Telchin licus) também foram favorecidas pela presença da palha, que impediu a realização de práticas de controle que eliminavam parte das larvas e das pupas presentes nos tocos após o corte. A pesquisa e a adoção de novos produtos e, principalmente, de métodos de aplicação deverão contribuir para a redução das perdas causadas. É provável que a cana transgênica Bt possa exercer controle também dessa espécie, sendo necessários testes direcionados. A espécie Migdolus fryanus, ou apenas migdolus, é conhecida há décadas, e os métodos de monitoramento e de controle já foram definidos e estão sendo adotados. Entretanto o correto entendimento da sequência de operações e os momentos ideais de aplicação ainda não foram assimilados e apresentam erros na execução. Há necessidade de aprimoramento do controle, visto que inovações a curto prazo não devem ser esperadas. É importante lembrar e enfatizar que o manejo integrado de pragas e sua relação com doenças é um programa repleto de atividades de monitoramento, de análise de dados, de decisões, de aplicação do controle e da avaliação de resultados, com correções de rota, que necessitam de equipes técnicas muito bem treinadas e comprometidas, para que se possam evitar erros, desperdícios de recursos e perdas na produtividade. A utilização dos recursos de informática, em softwares de gestão de MIP é uma evolução que será utilizada em maior escala nos próximos anos e auxiliará na rápida tomada de decisão e na aplicação de técnicas de controle, reduzindo falhas. n

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pragas

Opiniões

falta de critérios

custa caro

Nossa canavicultura está espalhada por vários estados produtores, abrangendo uma área de 8.738,6 milhões de hectares. Nessa situação, nós estamos convivendo com muitas pragas de interesse econômico, entre elas, podemos destacar a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.), a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), Sphenophorus levis, entre outras; podemos também, nesse contexto, citar os problemas com nematoides, que podem reduzir a produtividade em até 30% quando em altas populações. O manejo das pragas na cana-de-açúcar, nos dias atuais, é uma prática indispensável, visto os grandes danos que podemos observar ao longo do ciclo dos canaviais. Os problemas relacionados com as pragas vão desde a redução da produtividade e da qualidade da matéria-prima levada à indústria até a diminuição da longevidade do canavial, problemas esses que podem se agravar com o

O controle de pragas em cana-de-açúcar exige uma disciplina na aplicação das ferramentas do manejo integrado para que realmente seja possível ampliar o efeito dos métodos de controle. "

Juliano Vilela Fracasso

Pesquisador do Instituto Agronômico - IAC

passar dos ciclos da cultura, gerando enormes perdas, e que, muitas vezes, só podem ser bem manejadas na reforma do canavial, com um custo muito maior, se comparado a um manejo previamente definido. Para um bom manejo integrado das pragas, é preciso conhecer não só a eficiência dos métodos de controle, mas também os locais onde esses métodos devem ser aplicados, informações que podem ser conseguidas por meio dos levantamentos populacionais ou por amostragens.

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Nos últimos anos, o setor está passando por uma fase crítica no que diz respeito ao controle de pragas, devido ao corte de custos muito forte, especialmente no que diz respeito à mão de obra. A diminuição das equipes de campo tem um reflexo muito grande nas tomadas de decisões quando o assunto é manejo de pragas: não é possível tomarmos uma decisão coerente diante de uma falta de informação; isso é um tiro no escuro. É verdade que os métodos de levantamento de pragas utilizados hoje em dia exigem um número razoável de pessoas para sua execução, e seria muito importante conduzir mais trabalhos, visando obter métodos de amostragens de execução mais rápida e fácil, mas que fornecesse informação confiável. Porém, enquanto não há tais métodos, é imprescindível continuar a usar os que estão disponíveis no momento.


Os trabalhos científicos são geralmente conduzidos em áreas comercias que apresentam o problema com a praga em questão; sendo assim, conseguimos focar o manejo em áreas que correspondem exatamente ao tipo de problema com o qual o setor está convivendo. Para o desenvolvimento desses trabalhos, precisamos, certamente, avaliar as populações da praga em questão para que nossa base de comparação entre os tratamentos tenha uma referência confiável, e é justamente nesse foco que está um dos maiores problemas do manejo de pragas no setor: a falta de informações amostrais que nos sirvam de base para o manejo. Sem as informações bem definidas, o manejo de pragas está sendo muito comprometido, ou seja, essas informações inconsistentes, muitas vezes, têm levado a tomadas de decisões incoerentes e possivelmente a graves erros de controle; em última análise, em muitos casos, se está jogando dinheiro fora. Como exemplo de erro grave no controle de pragas, podemos citar o caso envolvendo a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.). Devido à falta de bons levantamentos populacionais (amostragens), fez-se, em muitos locais, aplicação indiscriminada de inseticidas, muitas vezes

de forma “preventiva”; por causa disso, populações dessa praga, em várias regiões, estão com diferentes níveis de resistência para os inseticidas. Certamente, o programa de manejo de pragas tem um custo de implantação. Para que seja tomada uma decisão de controle tecnicamente embasada, precisamos de informações sobre as populações da praga, que são obtidas por meio de amostragem, que permite definir qual a melhor estratégia de manejo para determinada praga em determinada situação; sem essas informações preliminares, não é possível garantir que o manejo tenha sucesso. O controle de pragas em cana-de-açúcar exige uma disciplina na aplicação das ferramentas do manejo integrado para que realmente seja possível ampliar o efeito dos métodos de controle. Para tal, sempre será necessária uma base confiável de consistência ao programa de manejo implantado. Diante de tantos dilemas enfrentados pelo setor, essa é uma questão de grande importância, que o desafia a inovar e a otimizar as equipes de amostragem de pragas; as dúvidas podem ser um incentivo para uma busca racional de novas formas de amostragem, que utilizem cada vez menos trabalho braçal, com uma oferta de informações mais confiáveis. n

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pragas

controle biológico de pragas Por causa da sua grande importância econômica, o controle de pragas da cana deve ser considerado durante todo o ciclo de desenvolvimento, pois as principais pragas podem causar prejuízos na produtividade da ordem de 30% ou mais. O controle biológico é uma das mais importantes ferramentas para o manejo de pragas da cana-de-açúcar, por isso essa cultura suporta os maiores programas de controle biológico em termos de área aplicada e de quantidade de bioinseticidas utilizados, ou mesmo com liberação de parasitoides, como a Cotesia flavipes e Trichogramma galloi. A broca-da-cana, Diatraea saccharalis, é a mais importante da América Latina, sendo a mais amplamente distribuída em todo o País, causando grandes danos econômicos inclusive a outras culturas. As mariposas dessa espécie depositam os ovos em grupos, e, quando eclodem, as lagartas iniciam a alimentação nas folhas da cana por dois instares e migram para a região do colmo, onde perfuram e fazem uma galeria de onde se alimentam até a fase de pupa, causando danos físicos e permitindo a entrada de fungos que contaminam o colmo, diminuindo a produção de açúcar. A broca-da-cana tem sido mantida sob controle através da liberação da vespinha Cotesia flavipes. Nos últimos anos, esse parasitoide reduziu perdas de até US$ 100 milhões por ano, sendo US$ 20 milhões em São Paulo, reduzindo a infestação da praga de 10% para 2%. A legislação tornou-se um desafio para o desenvolvimento de bioinseticidas à base de entomopatógenos, principalmente no Brasil, por causa da inexistência de uma legislação própria, tanto na parte de registros como no que se refere ao uso de isolados desses agentes entomopatogênicos "

José Eduardo Marcondes de Almeida

Pesquisador Científico do Instituto Biológico - APTA/SAA-SP

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O parasitoide de ovos Trichogramma galloi também tem sido usado no controle da broca, podendo chegar a 60% de controle quando associado à C. flavipes. Nas áreas de expansão da lavoura de cana, o fungo Beauveria bassiana pode ser utilizado para o controle de lagartas da broca-da-cana no primeiro instar, devendo ser pulverizado na dosagem de 6x1012 conídios/hectare pelo menos. As cigarrinhas-da-raiz da cana, Mahanarva spp., tornaram-se um sério problema para a cultura da cana-de-açúcar em todo o Brasil, onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente, pois, não havendo queima da palhada, ocorre um acúmulo desse material no solo e um aumento da umidade, facilitando, assim, o crescimento e a disseminação da cigarrinha-da-raiz da cana. E, considerando que, com a nova legislação ambiental, em São Paulo, que proibiu a queimada da cana, ocorreu um aumento significativo na população de M. fimbriolata, causando sérios prejuízos para as usinas e fornecedores, além do aumento de custos para o controle dessa praga. As cigarrinhas-da-raiz possuem ninfas especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais ou raízes adventícias inferiores das gramíneas hospedeiras. Sugam a seiva segundo a sua idade, envolvendo-se numa espuma branca, espessa e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, ficando escondidos dentro das olhaduras ou no enviés das folhas durante o dia.


Opiniões O dano mais importante que as cigarrinhas causam é a “queima da cana”, sendo consequência direta ao ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva da cigarrinha, além de diminuir o teor de sacarose. Causam também a redução no tamanho e na grossura dos entrenós da cana grande e a morte de rebentos jovens, chegando a causar prejuízos de até 60% em grandes infestações. A estratégia de controle das cigarrinhas-da-raiz inicia-se com o monitoramento da praga, que deverá ser realizado no início do período chuvoso e durante todo o período de infestação, para que se possa acompanhar a evolução ou o controle da praga. O monitoramento é imprescindível para decidir sobre a estratégia de controle da praga, sendo que a detecção da primeira geração permite um controle mais eficiente, principalmente através do fungo Metarhizium anisopliae. A aplicação do fungo M. anisopliae tem sido realizada, no estado de São Paulo, em aproximadamente 400.000 ha, com eficiência média de 60% de controle, permitindo que os produtores de cana possam conviver com a praga. No Brasil, essa área chega a 1,5 milhão de hectare. A recomendação de aplicação desse fungo é de 5x1012 conídios/ha, sendo lavado e a suspensão, pulverizada na proximidade das raízes da cana, com vazão de 300 L/ha ou por via aérea com vazão de 30 L/ha. Sphenophorus levis já é considerada uma das mais importantes pragas dos canaviais. As larvas desse inseto destroem o rizoma da planta, causando prejuízos da ordem de 30 toneladas de cana por hectare, além de reduzir a longevidade do canavial. Esse inseto encontra-se espalhado por praticamente todas as áreas de cana-de-açúcar, principalmente em São Paulo, causando prejuízos de até 60% de perdas em toneladas de cana por hectare, causando a morte de perfilho. Os danos são causados pelas larvas, que se abrigam no interior do rizoma e danificam os tecidos. Com isso, pode ocorrer a morte da planta e falhas nas brotações das soqueiras, com perdas de até 30 toneladas de cana/ha/ano. Os seguidos ataques nas áreas de soqueiras e a consequente redução do stand da cultura ocasionam perdas cumulativas nos cortes, obrigando a reformas precoces do canavial, que, muitas vezes, não passam do segundo corte. O controle dessa praga ainda é complicado, pois necessita de várias práticas que permitam que se consiga um equilíbrio da população da praga, visto que não será mais possível eliminar esse inseto da lavoura. Portanto a prevenção, através de vistoria das mudas de cana antes do plantio, bem como o conhecimento da procedência dessas mudas, de uma área não infestada, é fundamental para se evitar a propagação desse inseto. Os principais métodos de controle, assim que se tem conhecimento da praga na lavoura, são: destruição de soqueiras, controle biológico e controle químico com iscas tóxicas.

A reflexão que podemos fazer sobre a aplicação contínua de inseticidas químicos, sendo que, basicamente, são três moléculas tóxicas que se têm usado para o controle desses insetos, é que, além de causar contaminações ambientais e ao homem, gera populações das pragas resistentes a essas moléculas, causando prejuízos ainda maiores. Por outro lado, o uso de técnicas biológicas depende de produtos disponíveis no mercado em condições de atender a essa demanda. Atualmente, são 55 empresas que produzem fungos entomopatogênicos e aproximadamente 20 empresas que produzem parasitoides para a cana, sendo necessário mais. Porém é preciso que as empresas e o governo estimulem inovações nessa área, tanto para pesquisa como para comercialização e aplicação. Novas moléculas químicas e outros sistemas de controle também são importantes para a sustentabilidade da produção de cana-de-açúcar em São Paulo e no Brasil. O controle microbiano na América Latina possui as mesmas necessidades do controle biológico de pragas em geral, pois, apesar da alta biodiversidade, do solo e dos climas favoráveis de modo geral, ainda são necessários estudos de biodiveridade de organismos entomopatogênicos, visando conhecer novas espécies ou mesmo maior variedade de isolados para pesquisas com seleção de isolados virulentos para as pragas da cana-de-açúcar, principalmente Sphenophorus levis e Migdolus fryanus no Brasil. A manutenção de coleções de agentes entomopatógenos é de extrema necessidade para o desenvolvimento de bioinseticidas e é outro desafio nesse processo, pois está envolvido um importante fator legislativo. A maior parte das biofábricas na América Latina são artesanais, pois dependem diretamente de mão de obra nem sempre qualificada, o que encarece o processo, e não usam tecnologias envolvidas em boas práticas de fabricação, tornando-as menos competitivas. As análises qualitativas e quantitativas, relacionadas à concentração, à viabilidade, à pureza e à virulência ou à potência para entompatógenos ainda não estão padronizadas talvez para bactérias entompatogênicas; tem-se algum avanço, mas, para os demais agentes, não se tem conceitos definidos quanto a esses parâmetros. A legislação tornou-se um desafio para o desenvolvimento de bioinseticidas à base de entomopatógenos, principalmente no Brasil, por causa da inexistência de uma legislação própria, tanto na parte de registros como no que se refere ao uso de isolados desses agentes entomopatogênicos, por causa da proteção do patrimônio genético nacional, que regula inclusive a anuência e a repartição de benefícios com os “proprietários” da cepa, como no caso do Brasil, que possui uma legislação específica para o uso de patrimônio genético no País, segundo o Protocolo de Nagoya. n

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doenças

Opiniões

atenção com as doenças da

cana-de-açúcar

A maioria das doenças da cultura da cana-de-açúcar tem sido negligenciada pelos produtores, e os motivos dessa conduta podem ser explicados pelo costume adquirido no passado recente, quando as variedades utilizadas possuíam alta resistência genética para as principais doenças, que exigiam mínimos cuidados com as plantas no campo. Além disso, o controle do potencial de inóculo de fungos, bactérias e vírus era e é exercido pelo fogo usado nas colheitas e na queima de restos. O crescimento dos canaviais e das usinas nos mais diferentes locais do território brasileiro, motivado por incentivos ou pelos preços dos produtos da cana-de-açúcar no mercado, foi feito, em sua grande maioria, sem um planejamento adequado dos plantios, principalmente no que se refere à qualidade das mudas. A necessidade de grandes quantidades de mudas para atender aos milhares de hectares de novas áreas a serem plantadas na primeira década do século XXI fez com que canas com até cinco cortes fossem usadas como mudas. Além da baixa qualidade e vigor das gemas, o uso de mudas de canaviais antigos resultou numa grande disseminação de doenças sistêmicas, como o carvão, a escaldadura, o raquitismo da soqueira e o vírus do mosaico. Infelizmente, esse anseio na execução rápida dos trabalhos de plantio, gerou, em sua maioria, canaviais de baixa produtividade e curta longevidade, sem levar em consideração que, na maioria dos

casos, esses canaviais, nos seus primeiros cortes, serviram de fontes de mudas para novas áreas, perpetuando as baixas condições dos canaviais no futuro. Doenças sistêmicas como a escaldadura e o raquitismo-da-soqueira provocam o entupimento dos vasos do xilema nas plantas infectadas e, portanto, interferem na condução de água e de nutrientes das raízes até as folhas, prejudicando a produtividade do canavial. Como essas doenças, na maioria dos casos, não apresentam sintomas externos nas plantas afetadas ou apresentam poucos sintomas, que não são reconhecidos nas observações de campo, o uso de mudas infectadas, associadas à transmissão mecânica pelas colheitadeiras e pelos equipamentos de cultivo, são um rápido meio de disseminação e de introdução dessas doenças em novas áreas. O carvão da cana, doença sistêmica bastante conhecida e responsável no passado por grandes prejuízos na lavoura canavieira, continua sendo negligenciado. Novas variedades, cuja reação ao fungo do carvão pouco ou nada se sabe, têm apresentado reações de suscetibilidade no campo e sido multiplicadas sem nenhum cuidado, como o tratamento térmico ou inspeções de roguing, permitindo que, em alguns locais, o carvão já se encontre em situações de até 3.000 touceiras infectadas por hectare, situação esta só reversível pela erradicação da área, acompanhada de um tempo de pousio e plantio de uma variedade resistente à doença. O vírus do mosaico tem aparecido com frequência em algumas variedades em cultivo, e praticamente nenhuma medida tem sido tomada para sua erradicação ou controle. apesar do potencial produtivo das variedades, não atingiremos os três dígitos na média da produtividade de cana enquanto não se der a devida importância para as doenças da cana-de-açúcar e não houver um planejamento de viveiros de mudas para a produção de gemas viáveis, vigorosas e livres de doenças sistêmicas "

Álvaro Sanguino

Consultor da Asas - Alvaro Sanguino Assessoria e Planejamento


A falta de equipes especializadas em operações de roguing e a não execução dessa operação em áreas reservadas para uso como mudas têm sido o principal motivo para seu aumento. Como o vírus do mosaico ataca os cloroplastos das plantas infectadas, a capacidade fotossintética da planta é reduzida, interferindo diretamente no processo produtivo. Além de ser um vírus sistêmico e disseminado pelas mudas, ele também é disseminado por pulgões, principalmente pelo pulgão do milho. A manutenção de canaviais infestados e próximos de plantações de milho ou sorgo, que também são hospedeiros do vírus e dos pulgões, pode propiciar um rápido aumento de plantas doentes e também favorecer o surgimento de novas variações do vírus do mosaico que poderão atacar variedades que eram resistentes. O uso de mudas de canaviais comerciais infectados por doenças sistêmicas, onde a qualidade e sanidade das gemas são deixadas em segundo plano, poderá resultar em grandes e irrecuperáveis perdas de produtividade dos canaviais. Com o advento da colheita mecânica em canaviais sem queimar, numerosos patógenos secundários tiveram sua manifestação aumentada e, em condições especificas, provocam grandes prejuízos aos canaviais.

Esses patógenos crescem nos restos de cultura mantidos no campo e podem atacar folhas e colmos, provocando grandes perdas se não forem controlados. Doenças como a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, e as estrias vermelhas, causadas pela bactéria Acidovorax avenae, têm provocado, sobre algumas variedades, níveis de 20% a 35% de colmos industrializáveis mortos. Essas duas doenças necessitam de desenvolvimento de tecnologias para o seu controle, que, sem dúvida, envolverão maiores gastos com a lavoura, visando manter melhores produtividades. Não se tem, até o momento, metodologias para o controle dessas doenças de modo eficiente e econômico. Estudos de metodologias de controle com o uso de produtos químicos, agentes biológicos e variedades resistentes devem ser priorizados pela pesquisa e pela indústria, de modo a resolver a questão da concentração de inóculo, que, antigamente, era resolvida pela queima da cana. Na nossa opinião, apesar do potencial produtivo das variedades, não atingiremos os três dígitos na média da produtividade de cana enquanto não se der a devida importância para as doenças da cana-de-açúcar e não houver um planejamento de viveiros de mudas para a produção de gemas viáveis, vigorosas e livres de doenças sistêmicas, associados a um perfeito controle das doenças secundárias. n

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doenças

manejo integrado de

doenças

Na cana-de-açúcar, sempre ocorreram várias doenças, causadas por fungos, bactérias e vírus, como em qualquer outra cultura. Mais de 200 doenças já foram descritas em cana no mundo e, no Brasil, foram relatadas mais de 60. Mas as doenças de cana, até alguns anos atrás, nunca mereceram atenção do setor canavieiro. Por quê? Porque, tradicionalmente, o controle dessas doenças foi feito pelo uso de variedades resistentes, portanto essa responsabilidade era só dos órgãos de melhoramento genético. Por muito tempo, usou-se a dinâmica de, se ocorrer doença, trocar-se a variedade. Esse foi o manejo utilizado durante todo o histórico da cana-de-açúcar em nosso País.

Entretanto, nos anos recentes, o setor sucroalcooleiro experimentou uma grande expansão que ocorreu de forma rápida e desestruturada e, consequentemente, sem os devidos cuidados para prevenção de doenças. Com a expansão, criaram-se condições fundamentais para que haja epidemias não só em cana-de-açúcar, mas em qualquer cultura. Essas condições são representadas pelo que podemos chamar de três continuidades: continuidade espacial, temporal e genética. A continuidade espacial significa grandes áreas cultivadas com a mesma variedade, ou variedades com a mesma suscetibilidade a doenças, o que facilita a disseminação. a sanidade da cana-de-açúcar começa pelo viveiro. Precisamos, urgentemente, voltar a adotar essa prática. Quer seja com tratamento térmico, MPB (de fornecedor idôneo), ou as duas coisas "

Modesto Barreto Consultor da AgroAlerta

Coautora: Érika Auxiliadora Giacheto Scaloppi, Pesquisadora Científica do Instituto Agronômico - IAC

Essa prática começou já nos antigos “engenhos de açúcar”, quando ainda se cultivavam as variedades nobres (Saccharum officinarum). Até 1925, ocorreram epidemias de mosaico que, praticamente, arrasaram o setor canavieiro. O problema foi resolvido importando-se novas variedades (híbridos) de Java, que eram resistentes à doença. Assim foi também com epidemias de carvão, ferrugem marrom, amarelinho, mancha-de-curvularia e, hoje, a tentativa é de fazer o mesmo com ferrugem alaranjada.

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Continuidade temporal é a presença de plantas vegetando o ano todo, o que facilita, em muito, a sobrevivência e a multiplicação dos patógenos. Exemplificando: para interromper essa continuidade, adotou-se o “vazio sanitário” em soja, medida esta que jamais poderá ser adotada em cana-de-açúcar, devido à característica semiperene da cultura. A última continuidade é a genética, e ela é a única que podemos alterar, visto que, quanto mais diversificarmos os materiais genéticos plantados, mais dificultaremos a disseminação de doenças.


Opiniões Também a expansão levou a cultura a locais com climas muito variáveis: regiões de altitude, regiões mais secas, regiões com muita umidade... Como as doenças de plantas são muito influenciadas pelo ambiente, a instalação da cultura em áreas tão distintas proporcionou um novo comportamento das doenças e, consequentemente, da resistência das variedades de cana a essas doenças. Um exemplo é o comportamento da variedade SP81-3250, que, em regiões mais altas e/ou úmidas, se comporta como mais suscetível à ferrugem alaranjada. Além da expansão, as mudanças tecnológicas também influenciaram muito a importância das doenças. Nós convivíamos bem com as doenças num cenário de plantio manual e corte manual de cana queimada. Atualmente, a cultura passou por uma revolução tecnológica que alterou o comportamento da cultura e das doenças, pois alterou todo o microclima dos canaviais que, atualmente, são instalados com toletes de duas gemas, cortados mecanicamente, e a colheita também é feita mecanicamente com a cana crua e, portanto, os restos culturais permanecem na área. Essas mudanças trouxeram muitos benefícios ambientais, mas alteraram a manifestação e a expressão das doenças. Um exemplo da consequência da expansão é a “doença de solo”, chamada podridão abacaxi. Devido ao aumento das áreas, não é mais possível plantar somente nos períodos úmidos e quentes do ano, sendo necessário expandir os plantios para os meses de inverno. Esse procedimento, somado às mudanças tecnológicas na produção de mudas com utilização de toletes menores, fez com que a podridão abacaxi ganhasse novo destaque e se tornasse uma grande preocupação no plantio, sendo necessário, inclusive, o uso de fungicida nessa operação. Outro exemplo de como as mudanças tecnológicas afetaram o comportamento das doenças foi o que ocorreu com o “complexo broca-podridão”. Nesse caso, o fungo Colletotrichum falcatum, causador da podridão vermelha, que normalmente se aproveita das aberturas feitas pela broca (Diatraea saccharalis) para penetrar na planta, atualmente teve uma mudança de comportamento, passando a penetrar diretamente, sem a presença de orifícios de broca ou naturais. Essa mudança foi simultânea ao acúmulo de palha no corte mecanizado, pois é possível que o ambiente esteja mais propício para a variabilidade e o aumento da população do patógeno. Essa “nova forma” de penetração do fungo na planta, sem a presença de aberturas, é muito preocupante, porque não existem, no Brasil, estudos sobre medidas de controle da doença, nem produtos químicos registrados para tal finalidade.

Os danos causados pela podridão vermelha (ou Colletotrichum, como vem sendo chamada) são muito preocupantes: redução na produtividade (TCH) e drástica redução no ATR. Até o momento, as medidas de controle são: uso de variedades resistentes, embora ainda não se tenham estudos determinando quais são elas; antecipação da safra em áreas atacadas, redução de restos de cultura e rigoroso controle de pragas, para evitar a entrada do fungo por orifícios provocados pelos insetos. Também a estria vermelha, que era um problema somente quando se plantavam variedades sensíveis à doença em terras tradicionalmente de alta fertilidade, ocorre de forma mais generalizada, pois, hoje, o preparo do solo é muito mais técnico, e a fertilização do solo, com utilização de fertilizantes orgânicos e minerais, dá condições para a doença causar perdas econômicas em locais onde ela não era comum, sendo muito importante se conhecer a resistência do material genético antes de alocá-lo. Outra grande preocupação advinda da expansão da cultura foi o abandono dos viveiros de produção de mudas pelo setor. Quando se pensa em controle de doenças de plantas, a primeira medida para se tomar é a produção de mudas sadias, e isso só se consegue, no caso da cana-de-açúcar, com a produção de mudas em viveiros. Para isso, é necessário uso de mudas devidamente identificadas por variedade e produzidas com controle fitossanitário, como tratamento térmico e/ou cultura de meristema, como as mudas produzidas em sistema de MPB (Mudas Pré-Brotadas). No campo de produção de mudas dentro de cada unidade, devem se seguir todas as boas práticas para a condução de viveiros, dentre elas o roguing, examinando cuidadosa e constantemente os campos, com o objetivo de remover as plantas doentes e fazendo-se a desinfestação de todo o material de corte utilizado. O uso de viveiro é imprescindível para o controle de raquitismo-da-soqueira, escaldadura, carvão, além de reduzir o inóculo de outras doenças como a podridão vermelha. Para que fique bem clara nossa opinião, a sanidade da cana-de-açúcar começa pelo viveiro. Precisamos, urgentemente, voltar a adotar essa prática. Quer seja com tratamento térmico, MPB (de fornecedor idôneo), ou as duas coisas. Não é necessário ter uma área de viveiro, pode ser cana cultivada em sistema de “meiosi” ou “cantose”, porém tratada como viveiro, especialmente com relação ao roguing e desinfestação de instrumentos de corte. Esses cuidados devem seguir com as áreas de produção, fazendo a desinfestação das máquinas, pelo menos na mudança de talhões. n

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doenças

Opiniões

podridão abacaxi Nas duas últimas décadas, temos observado o avanço da mecanização do plantio e da colheita na cultura da cana-de-açúcar no Brasil e, com isso, o estabelecimento de um novo cenário no que se refere à ocorrência e ao manejo de determinadas doenças, em particular àquelas cuja disseminação ou infecção ocorrem pelo solo. A evolução do plantio mecanizado em escala comercial é justificada pela redução da mão de obra disponível, pelo aumento das áreas de plantio e pela redução dos custos operacionais. Apesar dessas vantagens, a mecanização do plantio tem sido responsável pelo aumento dos danos mecânicos nos rebolos (pedaços de colmos com três a quatro gemas), que podem ocorrer tanto na colheita mecanizada das mudas como na descarga dos rebolos na caçamba das plantadoras mecânicas. Com isso, aumentam-se as portas de entradas para alguns fungos de solo, que podem causar podridões nos rebolos e afetar o processo de brotação da cana. Na região Centro-Sul do Brasil, que é responsável por mais de 90% da produção nacional de cana-de-açúcar, grande parte dos canaviais é plantado entre os meses de setembro e março, quando as condições de altas temperaturas e de maiores volumes de chuvas favorecem a brotação. Porém vem crescendo o número de produtores que fazem o chamado “plantio de inverno”, que é realizado entre abril e agosto.

Dentre os pontos positivos do plantio de inverno, podemos citar a possibilidade de se diluir o plantio ao longo do ano; dessa forma, os produtores utilizariam seus maquinários de maneira mais racional. Plantando-se o ano inteiro, ganha-se em eficiência e diminui-se o número de equipamentos necessários para fazer todo o plantio, o que representa um melhor aproveitamento da capacidade operacional dos equipamentos. Outras vantagens atribuídas ao plantio de inverno são os bons níveis de produtividade alcançados e o retorno mais rápido do investimento. Entretanto, durante o período correspondente ao plantio de inverno, predominam condições de temperatura e de disponibilidade hídrica que desfavorecem a brotação; por isso os rebolos ficam mais expostos ao ataque de fungos presentes no solo, dentre os quais podemos destacar a espécie Ceratocystis paradoxa, que causa a doença conhecida como podridão abacaxi. O fungo C. paradoxa ocorre em praticamente todas as regiões de cultivo de cana-de-açúcar e pode causar doenças em outras culturas, como a bananeira, a palmeira, o coqueiro e o abacaxizeiro. No Brasil, é encontrado em áreas de cana-de-açúcar, na maioria das vezes, na sua forma assexuada, Thielaviopsis paradoxa, que produz dois tipos de esporos: microconídios e macroconídios. Com o apodrecimento dos rebolos atacados, esses esporos são liberados no solo, servindo como fonte de inóculo para os próximos plantios.

diante da nova realidade que se mostra com a adoção do plantio mecanizado, aliada ao avanço dos plantios nas épocas menos favoráveis à brotação da cana, espera-se um aumento das áreas afetadas pela podridão abacaxi "

Roberto Giacomini Chapola Pesquisador da Ridesa-UFSCar

Os microconídios germinam rapidamente e são responsáveis pela disseminação da doença, enquanto os macroconídios são importantes para a sobrevivência do fungo, pois podem permanecer viáveis no solo por períodos superiores a 15 meses. Em geral, considera-se que um período de quinze dias com condições favoráveis de temperatura e de umidade no solo seja suficiente para a brotação inicial da cana.


Porém, quando há um atraso nesse processo, os esporos do patógeno presentes no solo, estimulados por exsudatos da planta, germinam e penetram pelas extremidades ou por qualquer ferimento existente nos rebolos. Por outro lado, o fungo não causa danos quando as condições são favoráveis à brotação, pois as plantas conseguem escapar da doença assim que emergem do solo e iniciam os processos fotossintéticos. Portanto se trata de uma corrida contra o tempo entre a gema em crescimento e o fungo causador da podridão abacaxi. Áreas que sofrem com o ataque da doença apresentam falhas de brotação, o que dá ao canavial um aspecto irregular. Em talhões muito afetados, haverá prejuízos em todos os cortes, caso não se faça o replantio nos pontos falhados; entretanto essa é uma prática bastante onerosa. O sintoma típico da doença é a fermentação dos rebolos atacados, que passam a exalar um odor característico de abacaxi. Como os ferimentos existentes nos rebolos são portas de entrada para o fungo, a mecanização do plantio aumenta os riscos de prejuízos associados à podridão abacaxi. Medidas que estimulem a brotação da cana-de-açúcar reduzem os danos causados pela doença. A forma mais simples e eficaz de controle é concentrar o plantio nos períodos mais quentes e chuvosos. Canaviais plantados entre janeiro e março têm um melhor aproveitamento das condições climáticas para o crescimento, o desenvolvimento e a maturação das plantas e, por isso, apresentam maiores produtividades. No entanto, quando se tem grandes extensões de área para plantar,

a distribuição do plantio ao longo do ano facilita o gerenciamento e otimiza a utilização de máquinas e de mão de obra. Outras medidas que auxiliam no manejo da podridão abacaxi são: uso de variedades com rápida brotação; plantio de gemas mais novas, que tendem a brotar mais rapidamente; maior cuidado no manuseio dos rebolos; plantios em densidades maiores, compensando possíveis falhas; preparo adequado do solo, para reduzir sua compactação e eliminar os torrões; e plantio em profundidades adequadas. Caso se faça a opção pelo plantio de inverno, duas medidas são fundamentais: a primeira delas é a aplicação de fungicidas registrados para o controle da podridão abacaxi, visando proteger as extremidades e os ferimentos existentes nos rebolos; e a segunda é o uso de irrigação, com o objetivo de diminuir os efeitos negativos da baixa disponibilidade hídrica no solo durante o processo de brotação. Portanto, diante da nova realidade que se mostra com a adoção do plantio mecanizado, aliada ao avanço dos plantios nas épocas menos favoráveis à brotação da cana, espera-se um aumento das áreas afetadas pela podridão abacaxi. Porém se ressalta que os prejuízos poderão ser diminuídos significativamente, dependendo do nível de adoção das recomendações aqui apresentadas. Para que o manejo da doença se faça de maneira sustentável, destacamos que o ideal não é se apoiar em apenas uma dessas medidas, mas sim associar diferentes métodos de controle. n

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doenças

muda é investimento

e não desembolso

A ocorrência de doenças sempre teve grande impacto na cultura da cana-de-açúcar e foi responsável por nortear os programas de melhoramento genético desde o início da descoberta das hibridizações controladas em 1889. Atualmente, são elas ainda os principais determinantes para a substituição de uma variedade de cana. A literatura cita a ocorrência de cerca de 200 doenças na cultura da cana-de-açúcar, causando prejuízos que variam desde a redução da produtividade até o comprometimento da qualidade da matéria-prima para a indústria. No entanto três doenças apresentam importância relevante na canavicultura nacional: a escaldadura-das-folhas, causada pela bactéria Xanthomonas albilineans; o raquitismo-da-soqueira, causado pela bactéria Leifsonia xyli subsp. Xyli;, e o mosaico da cana, causado pelo vírus do mosaico. Essas doenças são sistêmicas, ou seja, afetam a planta toda e resultam em grandes prejuízos à lavoura de cana. X. albilineans e L. xyli subsp. xyli infectam principalmente

vasos que conduzem seiva bruta, dificultando a absorção de água e nutrientes pela planta, e, consequentemente, comprometem a produtividade. Os danos na produtividade dependem da variedade, da concentração do patógeno na planta, da agressividade do isolado, da disponibilidade hídrica, da idade e do ciclo da cultura. Ambas as doenças são transmitidas mecanicamente, por meio de instrumentos de corte, quando as lâminas das colheitadeiras, dos equipamentos de cultivo ou dos facões cortam uma planta ou suas raizes doentes e, posteriormente, uma planta sadia. Para L. xyli subsp. Xyli, não há sintomas externos característicos. Xanthomonas albilineans, atualmente, é a doença mais problemática, pois, apesar de apresentar uma fase crônica e aguda, em que os sintomas são visíveis, há uma fase latente, em que a bactéria está presente, mas sem sintomas visíveis. Essa fase é a mais frequente nos canaviais de todo o Brasil e tem sido detectada a partir de análises diagnósticas da qualidade de mudas para plantio, no laboratório do Centro de Cana, IAC. O vírus do mosaico da cana é um potyvirus, transmitido por afídeos (Rhopalosiphum maidis e Schizaphis graminum). Tanto os afídeos como o vírus são também capazes de infectar plantas de milho e sorgo.

Acreditamos que é possível alcançar os três dígitos em produtividade na cana; no entanto será necessária uma mudança de postura em relação à muda, o principal insumo tecnológico do agronegócio cana. "

Silvana Creste Dias de Souza Pesquisadora Científica do Centro de Cana - IAC


Opiniões O uso de mudas infectadas e o estabelecimento de viveiros de cana próximos a plantações de milho e sorgo são os principais determinantes na disseminação da doença. Os danos na cultura da cana dependem do genótipo e da estirpe do vírus, podendo acarretar redução na produtividade e no rendimento de açúcar na indústria. É fato que as tecnologias pré-brotadas ganharam popularidade no plantio dos canaviais e têm sido adotadas por usinas, produtores e cooperativas de todo o Brasil. No entanto é necessária uma reavaliação quanto à qualidade da matéria-prima que tem sido usada e/ou comercializada para plantio. Nesse sentido, gostaria de chamar a atenção para dois conceitos básicos, que precisam ser incorporados ao setor de produção de mudas de cana. O primeiro refere-se à produção de mudas sadias, e o segundo, à multiplicação ou à propagação de mudas sadias. A produção de mudas sadias tem valor e potencial de produção de semente, sim: muda-semente de cana, e deve ser a base para fornecimento de material propagativo para os viveiros de muda, garantindo os requisitos fundamentais quanto à pureza genética e à qualidade fitossanitária para as doenças descritas. No laboratório do Centro de Cana, é frequente o recebimento de materiais de 4º a 6º corte, para análise quanto à sanidade para raquitismo e escaldadura, com intenção de uso como mudas. Ou ainda, materiais multiplicados em viveiros e/ou laboratórios, apresentando elevada infecção por mosaico. A cana-de-açúcar é uma cultura de hábito semiperene, o que significa que, uma vez plantada, uma mesma cultivar será colhida por ciclos sucessivos, até ser substituída por outra cultivar. Durante os ciclos de colheita, há acúmulo de doenças sistêmicas, que podem resultar na degenerescência da variedade, fazendo com que os níveis de produtividade caiam a patamares insustentáveis em termos de rentabilidade e de longevidade do canavial. Além disso, por ser uma cultura de propagação vegetativa, faz com que a disseminação de doenças seja direta, ou seja, se a planta-mãe é doente, todas as plantas-filhas também serão. Alguns métodos estão descritos na literatura para eliminação de doenças sistêmicas (também conhecida como limpeza clonal) em cana, como a termoterapia e a limpeza clonal por cultura de tecidos. Em cana-de-açúcar, a termoterapia a 52 ºC por 30 minutos é amplamente difundida e utilizada como rotina para estabelecimento de viveiros e é capaz de controlar o raquitismo-da-soqueira e também infecções de fungos, como o carvão (Sporisorium scitamineum), ou ainda reduzir a concentração de vírus.

No entanto a X. albilineans é termorresistente, e o tratamento térmico não é eficiente para controlar a escaldadura-das-folhas, sendo, por isso, altamente disseminada nos viveiros de cana, o que nos permite denominar essa doença como “doença silenciosa”. O método mais eficiente para limpeza clonal de cana tem sido a cultura de micromeristemas em laboratórios de cultura de tecidos, acompanhados por procedimentos de indexação, baseados em biologia molecular, como PCR (do inglês Polymerase Chain Reaction), RT-PCR (para os vírus do mosaico e do amarelinho), além dos métodos de PCR quantitativos, como TaqmanTM qPCR ou SYBR qPCR. A variação entre os procedimentos de indexação está na sensibilidade e na reprodutibilidade, sendo que o TaqmanTM qPCR mostra-se 10.000 vezes mais sensível do que o PCR na detecção das bactérias alvo. Apesar de muito difundido, o método imunológico Dot blot apresenta baixa sensibilidade para detecção dos patógenos. Por isso não deve ser utilizado na indexação de mudas usadas na produção de plantas sadias oriundas de limpeza clonal, contudo é altamente recomendado para checagem da qualidade de mudas em viveiros de multiplicação. Por meio da cultura de micromeristema, nossa experiência mostra que é possível alcançar êxito na limpeza clonal de todos os genótipos de cana, revelado pelos ensaios de indexação. Uma vez produzidas plantas sadias (cana-semente), elas deverão alimentar ciclos de multiplicação varietal em viveiros de mudas, utilizando-se as tecnologias atualmente disponíveis, como Mudas pré-brotadas (MPB) e suas variações; meiosi ou até mesmo a multiplicação em laboratórios de culturas de tecidos (biofábricas), neste último, cuidando-se para não multiplicar novamente um material que já tenha sido propagado in vitro, com o intuito de evitar problemas de aparecimento de mudas fora de padrão. Os resultados oriundos da multiplicação de mudas a partir de mudas-sementes evidenciam que é possível elevar a produtividade e a longevidade da cana-de-açúcar a patamares ainda não alcançados: viveiros de multiplicação oriundos de muda-semente atingem produtividades de 100 a 120 t/ha aos 7-8 meses e longevidade do canavial projetada para até 12 anos, desde que sejam executados os controles fitossanitários adequados. Acreditamos que é possível alcançar os três dígitos em produtividade na cana; no entanto será necessária uma mudança de postura em relação à muda, o principal insumo tecnológico do agronegócio cana. A exemplo das commodities soja, milho, algodão, muda de cana necessita ser tratada como prioridade e responsabilidade, e sua aquisição não pode ser ditada pelo menor preço, ou ser atribuída a uma decisão do setor de suprimentos. n

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doenças

biotecnologia e o controle integrado de pragas e doenças A cultura da cana-de-açúcar vem sendo expandida para diferentes regiões e condições edafoclimáticas. Os grandes desafios são aumento da produtividade e longevidade dos canaviais nos mais diversos cenários, sendo as pragas e as doenças fatores que influenciam no alcance desses objetivos. Para o controle de pragas e doenças, é de extrema importância a modernização do pensamento, olhar para o futuro, sem esquecer os aprendizados do passado. Nessa linha de raciocínio, convido vocês a refletirem sobre o assunto. O CTC, com o Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-açúcar Convencional (PMGC), dedica grande parte de seus esforços para obter variedades resistentes às principais doenças. Na etapa de hibridização, os genitores são escolhidos levando em consideração critérios de doenças. Onde há broca, há o complexo: a broca, ao formar suas galerias, abre porta para o fungo, e isso causa a inversão de sacarose, que gera perdas significativas nos processos industriais. "

Aline Cristine Zavaglia

Pesquisadora e Fitopatologista do CTC

Nas fases iniciais, antes de ir ao campo, os seedlings são submetidos a uma seleção, na qual são testados para resistência à ferrugem marrom (Puccinia melanocephala) e à ferrugem alaranjada (Puccinia kuehnii); essa seleção é realizada com todo o rigor, em uma casa-de-vegetação com cerca de 1200 m2, com umidade e temperatura controladas, onde é aplicado inóculo infectivo de ambas as ferrugens.

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Anualmente, são inoculadas centenas de milhares de seedlings, avaliados individualmente, a fim de levar para o campo genótipos resistentes. Ao longo das etapas de seleção, a avaliação de doenças é contínua, com critérios rígidos em relação às doenças. Nas fases finais, é realizado um novo ensaio, onde os genótipos são testados para avaliar resistência às doenças carvão (Sporiosorium scitamineum), mosaico (Sugarcane mosaic virus - SCMV e/ou Sorghum mosaic virus - SrMV), escaldadura-das-folhas (Xanthomonas albilineans), amarelinho (Sugarcane yellow leaf virus - ScYLV), mancha-de-curvulária (Curvularia inaequalis) e novamente as ferrugens marrom e alaranjada. Com isso, o PMGC busca desempenhar, da melhor forma possível, o seu papel em disponibilizar variedades produtivas e com resistência genética.


Opiniões

Seedlings a serem inoculados com ferrugens

A resistência genética tem sido uma importante opção para o controle de doenças, mas não deve ser a única, é necessário o controle integrado de doenças e pragas. Além do controle genético, é importante aplicar outras medidas, como controle cultural (Roguing) e uso de mudas sadias. Essas práticas diminuem significativamente a incidência de carvão, mosaico, escaldadura-das-folhas, raquitismo-das-soqueiras (Leifsonia xyli subsp. xyli) e podridão abacaxi (Thielaviopsis paradoxa). O roguing é o controle cultural aplicado em viveiros, onde a função é eliminar plantas indesejadas, como misturas varietais e plantas doentes, diminuindo, assim, a disseminação das doenças, já que carvão, escaldadura e mosaico são importantes doenças sistêmicas disseminadas, também, por mudas contaminadas. O futuro chegou para a cana-de-açúcar. Com a tecnificação da cultura e a colheita mecanizada, tivemos inúmeros ganhos, porém novos problemas: antes, com a queima da cana, era realizada a queima de formas biológicas de pragas e doenças, assim se fazia controle; hoje, enfrentamos sérios problemas com pragas e doenças consideradas menos importantes no passado, como cigarrinha e Colletotrichum falcatum. O fungo Colletotrichum falcatum causa a doença podridão vermelha, também chamada de antracnose da cana-de-açúcar. Conhecida na Índia como “câncer da cana-de-açúcar” (2º maior produtor mundial da cultura), a doença causa grande impacto na produtividade, com secamento completo de colmos e grandes perdas aos produtores. O CTC, em suas diversas frentes, como fitopatologia e comercial, vem acompanhando áreas com relatos da presença do fungo. Em todos os locais, com cerca de 35 usinas visitadas de 2013 a 2018, foi constatado que a presença do fungo estava associada a algum outro fator, como presença de pragas. A associação às pragas, atrelada à palhada remanescente dos

cultivos anteriores (a qual cria um ambiente propício para multiplicação do fungo), favorece o aumento do inóculo em quantidade e em diversidade, o que, somado, está fazendo com que essa doença ganhe importância. A praga com maior associação ao Colletotrichum falcatum é a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), e, juntos, realizam o que denominamos complexo broca-podridão. Estima-se que as perdas por broca sejam de R$ 5 bilhões por safra. Onde há broca, há o complexo: a broca, ao formar suas galerias, abre porta para o fungo, e isso causa a inversão de sacarose, que gera perdas significativas nos processos industriais. Entre as medidas de controle, a biotecnologia é uma grande aliada para a resolução dos problemas no cenário atual. Os transgênicos, conhecidos como OGMs (Organismo Geneticamente Modificado), representam uma solução real da engenharia genética para o controle de pragas. O CTC, pioneiro nessa inovação, lançou a primeira variedade OGM resistente à broca, denominada Bt. Essa medida de controle está sendo introduzida em mais de 50 usinas na safra 2017/2018. Levantamentos iniciais comprovam a eficácia da tecnologia, uma vez que os campos Bt apresentaram 0% de infestação de broca, enquanto as áreas de controles vizinhas apresentaram até 15% de infestação.

Complexo podridão: broca X com controle da broca por cana transgênica

O setor requer variedades convencionais com resistência genética, mas também inovações, como os OGMs. A pesquisa é dinâmica e constante, além de outras variedades OGMs com a tecnologia Bt para o controle de broca, que devem ser disponibilizadas ao mercado nas próximas safras. Com isso, aplicando nossos conhecimentos do passado, aliados às inovações do futuro, que já se faz presente, podemos obter, cada vez mais, o controle de pragas e de doenças e garantir a produtividade e a longevidade de nossos canaviais. n

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doenças

Opiniões

ferrugem alaranjada da cana Assim como outras espécies cultivadas, a cana-de-açúcar pode ser hospedeira de diversas doenças causadas por fungos, bactérias, vírus e nematoides. Há mais de 200 patógenos já relatados na cultura, sendo que 60 já foram constatados no Brasil, e 9 têm importância econômica reconhecida. Dentre os importantes economicamente, destaca-se a Puccinia kuehnii, agente causal da ferrugem alaranjada da cana. Essa doença foi relatada no País em 2009, no estado de São Paulo, e, atualmente, está presente em todas as áreas cultivadas com cana do Brasil. Foi a segunda espécie de ferrugem relatada na cana, que, desde 1986, já contava com a presença da Puccinia melanocephala, a ferrugem marrom; em 2008, uma nova espécie de ferrugem de cana foi relatada no sul da África, a Macruropyxis fulva, ainda ausente no Brasil. A ferrugem alaranjada causou sérios prejuízos na Austrália em 2000 (36% de danos); foi detectada na Flórida em 2007 (40% de danos em variedades suscetíveis) e, logo em seguida, foi constatada na América Central.

A ferrugem alaranjada causou sérios prejuízos na Austrália em 2000 (36% de danos); foi detectada na Flórida em 2007 (40% de danos em variedades suscetíveis) e, logo em seguida, foi constatada na América Central. "

José Otavio Menten

Professor de Fitopatologia da Esalq-USP Coautoras: Ticyana Banzato e Thaïs Dias Martins Pongeluppi, Ambas Doutoras em Fitopatologia da Esalq-USP

A infecção causada pelo patógeno evolui causando redução na clorofila das folhas e eficiência de fixação de carbono, condutância dos estômatos, transpiração foliar, e, logo, queda na taxa fotossintética afetando o crescimento das plantas e reduzindo em até 85% a produtividade, principalmente em variedades suscetíveis. Em áreas em que o clima favorece a ocorrência de ferrugem alaranjada, o cultivo de variedades suscetíveis tem sido limitado, pois a agressividade dos sintomas está diretamente relacionada com a suscetibilidade da variedade, as condições de água livre na superfície foliar, superior a 8 horas (principalmente orvalho e neblina), e as temperaturas entre 18-25 °C.

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Os primeiros sintomas (incubação) surgem aos cinco ou sete dias após a inoculação, e as pústulas (latência), após 10 ou 20 dias. A doença se inicia em novembro e dezembro, e as maiores severidades são constatadas de fevereiro a maio. Os sintomas típicos são pústulas (urédias) alaranjadas a castanho alaranjadas no limbo foliar. O patógeno sobrevive em canaviais próximos e é disseminado a longas distâncias, principalmente pelo vento, infectando plantas suscetíveis quando as condições ambientais são favoráveis. Controle de Ferrugem Alaranjada: Assim como as demais doenças de plantas, a ferrugem alaranjada da cana deve ser controlada através do manejo integrado, ou seja, com a utilização de diversas medidas disponíveis. A principal é o cultivo de variedades resistentes, entretanto há necessidade de se explorar o uso de fungicidas e os aspectos culturais, como escolha do local, qualidade das mudas, adubação, estado nutricional da planta, espaçamento, manejo da colheita etc.



doenças Variedades resistentes: É importante conhecer a reação a patógeno das principais variedades cultivadas em cada região de produção de cana. A avaliação da resistência pode ser realizada em campo (infecção natural) ou em laboratório/casa-de-vegetação (inoculação artificial). A quantificação da resistência pode ser feita pela severidade, pela curva do progresso da doença, pelos componentes monocíclicos da doença, pelo período de incubação e pelas latência e frequência da infecção. Avaliações realizadas têm demonstrado que mais de 50% das variedades são resistentes ou altamente resistentes à ferrugem alaranjada da cana. Pesquisa realizada no Brasil mostrou que, entre as 17 principais variedades cultivadas, 9 (53%) foram resistentes ou altamente resistentes, 2 foram intermediárias, 2, moderadamente suscetíveis, e 3, suscetíveis. Outras variedades que apresentam algum nível de suscetibilidade à ferrugem alaranjada são RB956911, SP842025, CV 14, CTC 9, RB935641, CTC 15, RB925345, RB835486, RB855035, RB845197, RB785148, RB966229, RB835036, RB865230 e RB986419. RESISTÊNCIA DE VARIEDADES AO AGENTE DE FERRUGEM ALARANJADA DA CANA

FUNGICIDAS REGISTRADOS PARA O MANEJO QUÍMICO DE FERRUGEM ALARANJADA DA CANA INGREDIENTES ATIVOS (GRUPO QUÍMICO)

PRODUTO COMERCIAL (PC)

DOSE (PC/ha)

Azoxistrobina (estrobilurina) + Benzovindiflupyr (pirazol carboxamida)

Desali Effort Elatus

0,10 – 0,20

Azoxistrobina (estrobilurina) + Ciproconazol (triazol)

Monaris Primo Priori Xtra

0,50

Azoxistrobina (estrobilurina) + Flutriafol (triazol)

Authority Evos

0,50 - 0,60 0,35 - 0,40

Azoxistrobina (estrobilurina) + Mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato))

Unizeb Glory

1,5 – 2,00

Azoxistrobina (estrobilurina) + Tebuconazol (triazol)

Azimut Helmstar Plus

0,75 – 1,00 0,90 – 1,20

Benzovindiflupyr (pirazol carboxamida)+Picoxistrobina (estrobilurina)

Vessarya

0,30 – 0,60

RESISTÊNCIA

VARIEDADES

Suscetível

RB72454, SP792233, SP891115 RB925211, SP813250

Ciproconzol (triazol)+ Picoxistrobina (estrobilurina)

Aproach Prima

0,30 – 0,40

Moderadamente suscetível Intermediária

RB855156, RB92579, SP832847

Epoxiconazol (triazol) + Piraclostrobina (estrobilurina)

Abacus HC Opera

0,40 – 0,50 0,80 – 1,00

Resistente

RB835054, RB935744

Altamente resistente

RB855453, RB855536, RB867515, RB966928, SP80-1842, SP80-3280, SP91-1049

Fluxapiroxade (carboxamida) + Piraclostrobina (estrobilurina)

Orkestra SC

0,30 – 0,40

Oxicloreto de cobre (inorgânico)

Copsuper Difere Status

0,50 – 2,00 0,50 – 2,00 0,50 – 2,00

Tebuconzol (triazol) + Trifloxistrobina (estrobilurina)

Nativo

1,00

Fungicidas: Assim como em outras culturas, a utilização dos fungicidas contribui para a produção sustentável de variedades de cana suscetíveis ou intermediárias; sua utilização de maneira correta e segura tem proporcionado controle satisfatório de ferrugem alaranjada, aumentando a produtividade em variedades suscetíveis ou intermediárias sob pressão da doença e que, em outro momento, teriam sido substituídas por outras variedades com características agronômicas e comerciais menos satisfatórias, mas mais resistentes à infecção. Para o controle químico da ferrugem alaranjada da cana, estão registrados 21 produtos comerciais, sendo 10 misturas de ingredientes ativos, entre eles, estrobilurinas, triazóis, carboxamidas, ditiocarbamato e um cúprico. Para um bom desempenho dos fungicidas, que são aplicados via aérea, há necessidade de seguir rigorosamente as boas práticas e as orientações do rótulo e a bula dos produtos e do receituário agronômico, que indicam a quantidade de óleo mineral que deverá ser usado na calda. É importante que a primeira aplicação seja no início da epidemia (novembro a dezembro), antes do aparecimento de sintomas, e as duas aplicações seguintes, espaçadas 30 dias. Deve-se priorizar o monitoramento da infecção em variedades suscetíveis e moderadamente suscetíveis que atinjam severidade igual ou superior a 5%.

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Escolha da região de cultivo: O zoneamento da favorabilidade climática e o conhecimento do comportamento das variedades em diferentes regiões contribuem para o manejo da ferrugem alaranjada. Existem estudos mostrando regiões mais favoráveis à ocorrência e maior severidade da doença. Há de se considerar as regiões com diferentes níveis de favorabilidade, com base no “índice de favorabilidade climática à ferrugem alaranjada da cana” (IFAC) e sua correlação com as coordenadas geográficas e a altitude. Por meio desse IFAC, percebeu-se que, nas regiões canavieiras a oeste do estado de São Paulo, a favorabilidade para ocorrência da doença é baixa, devido ao clima mais seco e quente; assim como, nas regiões centrais e leste do estado, a favorabilidade é considerada moderado-baixa a alta devido ao clima mais úmido e às temperaturas mais amenas. Deve-se evitar o cultivo de variedades suscetíveis nas regiões mais favoráveis à ferrugem alaranjada. n


fornecedores do sistema

Opiniões

é simples assim? não! Mais proteção e menos perdas. Mesmo com diversas técnicas atuais, modernas, capazes de oferecer ao produtor a situação de desempenho da lavoura a quilômetros de distância, o que ainda conta, e muito, é o bom planejamento para aplicação de insumos, que são capazes de assegurar o vigor das plantas e o valor da produção agrícola. Sem essa parte do processo agroindustrial da produção de cana, a boa execução agronômica com qualidade, como parte da estratégia para uma safra de resultados promissores em produtividade, não haverá bons rendimentos. É simples assim? Não! Isso pelo fato de que o ambiente para se produzir mais e melhor cana mudou; aliás, ele se transformou e não mais se vem transformando, como observamos ao longo dos últimos anos. Chegamos ao futuro que visualizamos em relação ao impacto do aumento de pragas, doenças, plantas que persistem em sobreviver frente a compostos herbicidas, dificuldade em desinfestação da lavoura,

Plantar e colher cana, atualmente, não é a mesma coisa de uma década atrás, e os resultados não estão vindos para produtores que ainda insistem em não experimentar novas tecnologias. "

Joao Paulo Pivetta

Gerente de Marketing Operacional da Bayer Coautor: Paulo Cesar Hidalgo Donadoni, Gerente de Marketing Estratégico Cana-de-Açucar da Bayer

aumento do tráfego de máquinas e equipamentos cruzando lavouras e informações não bem entendidas e que podem surgir como falsas verdades, podendo prejudicar a evolução do campo, que, em alguns casos, só são números agrupados e mal interpretados.

Outra problemática que comentarei mais a frente. O que parece fato é que muitas técnicas que achávamos ser um algo a mais para esperar um nível maior em produtividade, hoje, se tornaram essenciais no campo e servem como alavanca para buscar retorno sobre o investimento na cana. O pacote tecnológico atual de uma lavoura moderna canavieira deve conter protetores mais robustos e ambientalmente mais seguros, que carregam entregas práticas diferentes no campo, possibilitando ao canavicultor investir mais na gestão das operações planejadas. Além da indústria, o agrícola também pode rodar como um “reloginho”, como se diz no âmbito das usinas. Desde que o aspecto clima, o fator soberano para qualquer cultivo, siga contribuindo para resultados superiores. O agrícola é que determina o jogo a ser ganho no negócio cana, fazendo com que todo o planejamento e a execução das boas práticas de cultivo valham a pena. Nesse contexto, o efeito crop efficiency, cada vez mais, se faz necessário, e é outro plano de uso que deve estar na pauta do investimento agrícola.


fornecedores do sistema A partir da premissa de uma gestão inovadora no campo, investir em conceitos e técnicas modernas vem fazendo a diferença nos grupos empresariais do setor que se despontam no quadrante de mais lucro por meio do menor custo de produção da tonelada de cana, frente à produção por hectare obtida. Plantar e colher cana, atualmente, não é a mesma coisa de uma década atrás, e os resultados não estão vindos para produtores que ainda insistem em não experimentar novas tecnologias. Os dados mostram isso. Atualmente, cerca de 8 a 12 kg de ATR são consumidos pelas impurezas do campo à indústria. Estudos mostram que efeitos adversos do clima podem ser manejados com técnicas já existentes, de alto retorno sobre o investimento, como a inibição dos efeitos da isoporização, que tendem a ser recorrentes em 7 de 10 anos observados: danos provocados por manchas foliares que reduzem o potencial de produção de fotoassimilados, a mecanização intensa funcionando com uma espécie de ponte para disseminar riscos à saúde e ao pleno potencial das plantas de cana. Todo esse conjunto de fatores, quando geridos de forma planejada, visando mitigá-los e somados a conceitos novos, buscando incremento da produção agrícola, é o divisor de rentabilidade para o negócio. Não é mais possível o produtor de cana trazer a conta para apenas uma aplicação de inseticida, outra de herbicida, outra de corretivo e macronutirentes minerais, confiança em variedades antigas pela baixa experimentação em materiais mais adaptados à mecanização do plantio e da colheita; todos esses olhares agronômicos de antes não são mais suficientes para obter o desempenho agrícola atual desejado. Não é mais assim que se produz cana de forma rentável e moderna. Observando dados de pesquisas de mercado sobre uso de protetores de plantas, os níveis de investimento nessas tecnologias pelo produtor são maiores do que no pico de expansão da cultura na década passada, mas, atualmente, são concentrados, regionalizados e diferem em termos de constância de adoção, indicando que existe potencial para oferecer ainda mais renda ao PIB do setor, beneficiando toda a cadeia agroindustrial. Outro ponto que gostaria de elevar é a conexão do uso de insumos modernos com práticas de gestão avançadas, como a internet das coisas, presente cada vez mais no campo. O avolumado de dados carregados por ferramentas digitais e que se conectam em tempo real, mesmo em áreas agrícolas remotas em alguns casos, surge como outra tela de análise para tomada de decisão quanto à proteção e ao incremento no campo.

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O ponto é saber dosar o tempo investido nessas análises, a agregação de valor que elas podem de fato assumir como investimento bem-feito em tempo e recurso. Em alguns casos, o que é disponibilizado não reduz de fato a visualização in loco na lavoura, não substitui decisões tomadas pelo time agrícola, discutindo alternativas em conjunto e pode até mesmo limitar atalhos valiosos em termos de soluções práticas necessárias e somente percebidas por meio de fóruns de técnicos comprometidos e que carregam o valor do olhar do campo, aquele que se constrói dia a dia, acompanhando desde o plantio até a colheita. Em suma, não se pode colocar toda a solução em algoritmos. Vivenciamos a agronomia como ciência para melhorar os cultivos, e isso envolve uma dinâmica enorme de situações em que nos deparamos quando cultivamos plantas em altíssima escala. Confesso que me sinto entusiasmado em poder observar e participar de todo esse ambiente atual da agricultura canavieira. O momento é intenso em termos de realizações e oportunidades para quem aposta na visão holística da agricultura moderna. Retomando, meu ponto não é colocar em xeque ou deixar de lado as soluções digitais disponíveis, pelo contrário, é incentivar o melhor uso das ferramentas de precisão e de dados, visando aproveitar melhor todo o desempenho que os insumos e manejos modernos podem oferecer. Ser digital na agricultura é ser ainda mais flexível pela forma de conectividade oferecida por essa gama de dados do campo, orientando melhor as escolhas a serem seguidas, monitorando mais áreas, visando reduzir as margens de erros de avaliação agronômica e, claro, reduzir perdas por pragas, doenças e competição de plantas, além de incrementar o yield da cultura. Adotar inovação e ser referência como produtor, buscando melhorar a rentabilidade da produção e construindo uma agricultura canavieira moderna, passaram a ser condição chave para o executivo do campo prosperar no setor sucroenergético em tempos atuais. O cultivo da cana mudou, e o perfil do produtor precisou evoluir para não sair ou entregar o negócio a quem saiba entender o contexto de hoje e o de amanhã. Esperamos que a visão de retorno no longo prazo possa contaminar o desejo de investimento em novas possibilidades para os canaviais do Centro-Sul e do Nordeste, já que as expectativas sobre a energia na forma de alimento, fibra e combustível, ofertada pela cana, se renovam constantemente. Assim como a energia renovável que esse cultivo carrega como essência. Uma ótima safra a todos os envolvidos nos negócios que englobam a cultura da cana. Desfrutem ao máximo do potencial desse cultivo ao longo de toda a safra 2018/2019. n


Opiniões

tecnologia e cocriação Sem dúvida, o Brasil é protagonista no cenário sucroenergético mundial. Pela alta demanda de açúcar e de etanol, esse setor é um dos que mais empregam e é responsável por 5% do PIB brasileiro, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento do País. Quando falamos de exportação de açúcar, o Brasil está na frente no ranking mundial. De acordo com dados da balança comercial, somente em 2017, a receita com a venda desse produto alcançou mais de US$ 9 bilhões, 9,17% a mais que em 2016, tendo como principais destinos a Índia e Bangladesh. O País também é o maior produtor do cultivo, gerando uma receita positiva aos fornecedores de cana. Segundo o último levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2017, a receita bruta para os produtores foi de R$ 71,8 bilhões, atrás apenas das plantações de soja (R$ 116 bilhões). Em um contexto mais macro, o mercado sucroenergético cumpre um papel fundamental para impulsionar a geração de empregos no País. O levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, divulgado pelo Ministério do Trabalho, aponta a criação de 32 mil postos de trabalho no setor em 2017. Apesar do bom desempenho, o setor passou por diferentes transições políticas e econômicas que marcaram uma desaceleração no crescimento. Isso provocou o fechamento de várias unidades e fez com que os fornecedores de cana diminuíssem os investimentos nas plantações. A redução de cuidados, como a renovação de canaviais, a adubação e o controle de pragas, gerou uma consequência negativa em termos de produtividade e de qualidade do cultivo. Hoje, esse cenário representa um dos maiores desafios para a produção de cana-de-açúcar, tanto para o produtor,

Os desafios exigem uma solução cada vez mais assertiva. Dessa forma, torna-se necessário incentivar a cocriação para estimular a criatividade e, assim, identificar novas oportunidades para o setor. "

Antônio Cesar Azenha

Gerente Sênior de Marketing da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf Brasil

que reduziu o investimento nos canaviais, quanto para as empresas e instituições do setor, que estão estudando novas tecnologias para o desenvolvimento sustentável do mercado sucroenergético. Outra questão recente no País é a mecanização do sistema produtivo. Esse ponto mudou totalmente a dinâmica de produção e exigiu dos produtores uma atenção redobrada em relação ao manejo de pragas e de doenças. A palhada, que antes era retirada durante as queimadas, potencializou a incidência do bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), da broca (Diatraea saccharalis) e da broca-gigante (Telchin licus). Além disso, doenças que eram problemas somente em outras culturas também se tornaram relevantes para a cana, pois interferem desde a brotação no plantio até o desenvolvimento vegetativo na pré-colheita. As principais pragas, doenças e plantas daninhas que ocorrem no canavial podem gerar uma perda significativa de produtividade, com destaque para as cigarrinhas Sphenophorus e broca. Por isso é tão alta a importância do investimento em manejo e em soluções que permitam que o canavial expresse todo o seu potencial produtivo. Nesse sentido, os fornecedores de tecnologias do setor têm um papel fundamental para suprir os produtores de ferramentas que possibilitem uma maior rentabilidade ao produtor. As empresas devem se movimentar para a retomada do crescimento do mercado, sem esquecer os diferentes perfis dos produtores.


Quando falamos de perfil, nos referimos ao tamanho da área plantada, da região, da adoção de tecnologia, entre outros fatores que fazem a diferença na tomada de decisão. Mais do que oferecer soluções inovadoras, as empresas devem fornecer informações relevantes, transparentes e de qualidade para que os produtores consigam aumentar a eficiência e a longevidade do seu negócio. Os desafios exigem uma solução cada vez mais assertiva. Dessa forma, torna-se necessário incentivar a cocriação para estimular a criatividade e, assim, identificar novas oportunidades para o setor. As empresas devem investir não somente em projetos próprios, mas também propiciar a troca de informações com instituições, centros de pesquisa e universidades. A Basf incentiva a inovação aberta, compartilhando conhecimento para oferecer melhores práticas e soluções tecnológicas, potencializando o desenvolvimento da cultura, de forma sustentável e rentável. Além disso, temos buscado consolidar e ampliar, a cada safra de cana-de-açúcar, o compartilhamento desse conhecimento técnico, auxiliando o produtor na execução de uma gestão mais efetiva no canavial. Em 2017, por exemplo, investimos aproximadamente €507 milhões globalmente em pesquisa e em desenvolvimento de novas soluções para a proteção de cultivos. Isso equivale a 27% de todo o investimento em pesquisa da empresa.

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Para 2018, já temos planejado alguns lançamentos, dentre eles, destaca-se uma solução disruptiva a ser empregada no plantio de cana. Além de controle de pragas e de doenças, a solução adicionará níveis significativos de produtividade aos canaviais e, por conseguinte, maior rentabilidade aos produtores. Fomos pioneiros na operação de mudas pré-brotadas (MPB). Com a tecnologia AgMusa, é possível a formação de viveiros de mudas que garante sanidade, velocidade e qualidade para a cultura da cana-de-açúcar. O sistema também proporciona uma rentabilidade expressiva com o uso da técnica conhecida como Meiosi. O AgMusa em Meiosi com o cultivo de amendoim, por exemplo, tem proporcionado uma economia de 15% a 20% no processo de reforma do canavial, além do menor risco de ocorrência de pragas e de doenças. Exemplos de tecnologias como essas são possíveis em função da cocriação junto a produtores, a pesquisadores, a instituições de pesquisa e a investimentos da companhia, com o foco em disponibilizar aos produtores soluções que geram valor e contribuem para o desenvolvimento sustentável do setor sucroenergético brasileiro. Vale ressaltar, ainda, a importância de estabelecer políticas públicas estruturadas que vão ao encontro das necessidades dos produtores rurais. Dessa forma, criaremos condições para aumentar a produtividade e a longevidade e nos destacarmos ainda mais no mercado mundial de açúcar e de etanol. n


ensaio especial

Opiniões

o raquitismo-das-soqueiras A cana-de-açúcar é uma cultura que tem passado por transformações significativas nos últimos anos, em decorrência da expansão de seu cultivo para novas áreas, levando a recordes de produção e de exportação de açúcar e álcool. Todavia todo esse cenário pode ser prejudicado se não forem adotadas medidas eficientes de controle para as principais pragas e doenças que afetam a cultura. Dentre as doenças de natureza bacteriana, a escaldadura, causada por Xanthomonas albilineans, e o raquitismo-das-soqueiras, causada por Leifsonia xyli subsp. xyli (Lxx), são as mais importantes. O raquitismo-das-soqueiras é encontrado mundialmente em todas as regiões produtoras. As perdas em biomassa podem chegar a mais de 50% nas variedades mais suscetíveis. Na Austrália, foram relatadas perdas de mais de US$ 10 milhões, ao passo que, nos EUA, essa cifra anual chegou a US$ 30 milhões. No Brasil, considerando apenas a variedade mais plantada, estima-se que as perdas atinjam US$ 1 milhão/ano. Com a adoção cada vez maior da colheita mecanizada e a expansão da cultura para novas fronteiras agrícolas, esse cenário pode tornar-se ainda mais preocupante, uma vez que a doença é mais grave em regiões de menor aptidão agrícola sujeitas a estresse hídrico. Lxx é uma bactéria singular por vários motivos: apresenta exigência nutricional complexa e um crescimento vagaroso em meio de cultivo. Acredita-se que esse comportamento fastidioso resultou de mutações em genes muito importantes para o metabolismo bacteriano que afetaram a funcionalidade desses genes. De fato, a análise de seu genoma mostrou que até 13% dos seus genes sofreram mutações, o que é outra singularidade desse microrganismo.

A implicação disso do ponto de vista prático é que a bactéria passou a ser dependente da cana, fato que explica ela só ser encontrada nessa espécie. Outra curiosidade é que há evidências que indicam que o hospedeiro natural de Lxx não é a cana cultivada (S. officinarum), mas sim S. spontaneum. Ela teria sido introduzida em S. officinarum durante o processo de hibridização artificial entre essas espécies, ocorrido na primeira metade do século passado. A disseminação desses híbridos interespecíficos ao redor do mundo, em decorrência de troca de materiais entre programas de melhoramento, levou também à dispersão de um único clone de Lxx pelo mundo todo, e um fato que decorre disso é que os isolados de Lxx são muito parecidos entre si. Os sintomas do raquitismo são caracterizados por redução no porte da planta, tanto em altura quanto no diâmetro dos colmos, os quais se tornam mais severos após sucessivos cortes. Os danos tornam-se mais intensos quando as plantas são expostas a déficit hídrico. Como esses sintomas são facilmente confundidos com aqueles ocasionados por outros fatores que limitam a produção, como deficiência nutricional, é comum a manutenção de plantas doentes no campo. Internamente, pode-se observar a presença de pontuações avermelhadas na região do nó e de coloração rosada próxima ao meristema apical de plantas jovens.

O raquitismo-das-soqueiras é encontrado mundialmente em todas as regiões produtoras. No Brasil, considerando apenas a variedade mais plantada, estimam-se perdas de US$ 1 milhão/ano. "

Luis Eduardo Aranha Camargo, Mariana Cicarelli Cia e Raphael Severo Cunha Antunes Faria Respectivamente, Professor, Pós-doutoranda e doutorando do Dpto. de Fitopatologia e Nematologia da Esalq-USP

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ensaio especial Algumas variedades, consideradas tolerantes, podem apresentar alta taxa de infecção sem que esses sintomas sejam notados, ao passo que, em outras, consideradas resistentes, a bactéria cresce pouco. Estudos recentes demonstraram que Lxx altera a fisiologia da cana-de-açúcar, reduzindo a atividade fotossintética e alterando seus níveis hormonais. Essas alterações decorrem do entupimento dos vasos do xilema por substância que ainda não se sabe se é de origem vegetal ou bacteriana. Análises moleculares conduzidas em nosso laboratório revelaram também que um aumento da concentração da bactéria nos tecidos da cana leva a uma redução na expressão de genes ligados ao processo da divisão celular, o que explica o menor crescimento de plantas infectadas. A bactéria ainda parece “manipular” a fisiologia da planta, estimulando, por exemplo, a atividade de genes ligados à síntese dos aminoácidos cisteína e metionina, ambos compostos essenciais para o microrganismo. Uma das técnicas mais empregadas para a detecção de Lxx na planta é o dot blot, baseado em reação com anticorpos que reconhecem a bactéria. Esse método, no entanto, não é 100% garantido e pode resultar em falsos negativos, ou seja, o patógeno está presente, mas não é detectado. O uso de técnicas mais sensíveis baseadas na detecção do DNA da bactéria é uma excelente alternativa por serem mais específicas e sensíveis e já foram adotadas por empresas do setor, o que pode alterar as estimativas de incidência da enfermidade nos canaviais nos próximos anos. Como a principal forma de disseminação da doença ocorre através do plantio de material de propagação contaminado, seu controle fundamenta-se no uso de toletes ou mudas livres de patógeno. Atualmente, duas estratégias são adotadas: termoterapia dos toletes e cultura de tecidos. A termoterapia consiste na imersão dos toletes em água por 30 minutos a 52 ºC, ou 2 horas a 50 ºC.

Opiniões A técnica, embora conhecida, é trabalhosa e onerosa e nem sempre é adotada, especialmente em épocas de alta demanda por material para plantio. Além disso, o tratamento não elimina a bactéria dos toletes e pode afetar a viabilidade das gemas. A cultura de tecidos baseia-se na regeneração in vitro de plantas a partir de células do meristema apical, onde ainda há pouca vascularização dos tecidos e menor concentração de Lxx. As plantas regeneradas podem servir de material inicial para a geração de mudas pré-brotadas (MPB), resultando em plantas de alta qualidade fitossanitária. Outra forma de controle seria o uso de variedades resistentes. Embora uma ação de longo prazo, o melhoramento para resistência ao raquitismo é possível e altamente desejável, pois é o método mais eficiente e menos oneroso de controle, que deve ser usado em conjunto com os outros métodos dentro da filosofia do manejo integrado. Todavia, devido à dificuldade de identificação dos sintomas e ao crescimento lento da bactéria na planta, a busca por variedades resistentes tem sido negligenciada pelos programas de melhoramento, não só no Brasil. Dessa forma, pesquisas devem ser voltadas para o desenvolvimento de técnicas que permitam distinguir plantas resistentes de suscetíveis logo no início do programa de seleção, de forma rápida e, de preferência, no estádio de plântulas. As estratégias adotadas devem incluir a seleção assistida por marcadores do DNA (alterações no DNA da planta) ou ainda por marcadores metabólicos (compostos do metabolismo da planta). Embora a doença seja onipresente, ela ainda é pouco compreendida, o que leva à negligência de sua importância. Para piorar, as dificuldades na identificação dos sintomas e as falhas nos métodos de detecção passam a falsa impressão de que a doença está sob controle. Esse pressuposto desestimula a busca por variedades resistentes e estudos que mostrem as perdas atuais ocasionadas pela doença. Assim, são necessários esforços urgentes para compreender melhor esse problema e adotar estratégias eficientes de identificação da bactéria e de seleção de genótipos resistentes.

Sintomas de raquitismo-da-soqueira: A: Diminuição no porte das plantas: canas à esquerda infectadas com Lxx com sintoma; canas à direita não infectadas sem sintoma, variedade CB49260. B: Sintomas no colmo de cana-de-açúcar: à esquerda, entrenós curtos; à direita, entrenós em comprimento normal.

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