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BIOENERGÉTICA: cana, milho, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade, CBio, biohidrogênio e SAF
BIOENERGÉTICA: cana, milho, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade, CBio, biohidrogênio e SAF ano 23 • número 86 • Divisão C • Nov25-Jan26
Ensaio especial:
Proálcool: meio século de absoluto sucesso ano 23 • número 86 • Divisão C • Nov25-Jan26




Caio Canaplan

Plinio Nastari Datagro

Raffaella e Landell IAC

Finguerut ITC




“Não é o mais forte das espécies que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Charles Darwin
Na virada do século XX para o século XXI, havia um desenho de tendências globais que trouxeram um processo acelerado de mudanças muito focadas em três eixos globais claros, mas complexos:
1. Unilateralismo: condição de profunda mudança sobre 80 anos de multilateralismo; 2. Bioeconomia: papel crescente e central no século XXI, e 3. Biotecnologia e Inteligência Artificial. Esses eixos globais eram como decorrência do amadurecimento das primeiras ações do chamado Clube de Roma, focado nas questões ambientais; no debate geopolítico sobre a globalização e seus efeitos sociais, carregado com a evolução chinesa e o posicionamento norte-americano; a rápida expansão do desenvolvimento tecnológico da biomassa, da integração de culturas, e, de forma impressionante, a inteligência artificial.

Há toda uma evolução do lado dos biocombustíveis, que exprimem o protagonismo do Brasil no tema.
A dominância da lenha, por séculos, foi suplantada no século XX pelo carvão mineral, chave da Revolução Industrial, de ganhos extraordinários de produtividade e acompanhado de medidas inéditas nas áreas da saúde e infraestrutura. O carvão mineral seguiu forte, mas passou a perder share de mercado de energia para o petróleo, depois para o gás, e o que se viu foi uma evolução impressionante dos combustíveis líquidos, transportes e a febre dos automóveis.
Os 50 anos de Proálcool são uma demonstração de resiliência, de capacidade e de base para o saldo positivo que se verá para os anos vindouros. Para isso, aumentar a competitividade do etanol será crucial. "
Luiz Carlos C. Carvalho, Caio Diretor da Canaplan




O êxito dos derivados do petróleo levou a um forte processo de dependência dos países todos com relação ao Oriente Médio, mas com preços muito competitivos e acomodando todos à estratégia dos países produtores de petróleo. Vieram os choques do petróleo (preços) e o mundo entrou em um novo período de impactos energéticos monumentais. O Brasil foi vítima disso nas décadas de 1970 e 1980, com graves impactos em sua balança comercial.
Os biocombustíveis, que foram o sonho de Henry Ford na virada do século XIX para o século XX, foram florescer no Brasil.
O etanol nos anos das Grandes Guerras e o biodiesel bem mais a frente, nos anos 1990, são o exemplo competitivo e em larga escala da bioenergia no Brasil. Somente nos anos 1980-1990, os EUA investiram pesadamente no etanol de milho, enquanto se assistiu a alguns ensaios de etanol de cereais e biodiesel, principalmente de canola, via Europa, nesse mesmo período.
Somente no final do século XIX, o bagaço da cana era utilizado nas usinas de açúcar como combustível nas caldeiras a vapor. Apenas na década de 1930 (período do início do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool), o bagaço tornou-se a principal fonte térmica nas usinas, que passavam a ser estimuladas por investimentos no etanol por motivos essenciais:
a) para regular os excedentes de produção de açúcar, pela dificuldade do Brasil de competir no mercado internacional;
b) para permitir a substituição de gasolina, toda importada com as dificuldades de interná-la no Brasil na 2ª Grande Guerra.
Esse desenvolvimento, no entanto, foi acontecendo aos soluços, das idas e vindas dos preços internacionais do petróleo, que, no entanto, faziam sangrar as estruturas da energia verde, também com avanços e recuos pelas dificuldades da volatilidade dos preços de energia e pela falta de políticas sensatas e que considerassem as externalidades negativas da gasolina ou mesmo do diesel.
Quem vive nos dias de hoje não imagina que há 100 anos, na Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (futuro Instituto
Nacional de Tecnologia), justamente em 1925, um automóvel com motor de combustão interna, adaptado, funcionava com etanol etílico hidratado! Em 1927, coube à Usina Serra Grande, de Alagoas, a primeira experiência no País a produzir em escala o etanol carburante.
Nesse período, companhias francesas como a Fives-Lille, Sucrerie de l’Agle e outras começaram a fornecer equipamentos essenciais (moendas metálicas, caldeiras, evaporadoras, destilarias e plantas de açúcar e álcool) integrados, que ficaram conhecidas como “Usinas Sucreries” e trariam o conceito de processo contínuo e integração térmica. Ao mesmo tempo, a Dedini nacionalizava e tropicalizava toda a engenharia, em Piracicaba-SP. Durante a 2ª Grande Guerra, a Dedini passou a produzir moendas, caldeiras, turbinas, destilarias, etc. adaptadas, assumindo a liderança industrial no Brasil, com parcerias com produtores agrícolas que posteriormente se tornam industriais de açúcar e álcool.
Desde 1930, a intervenção governamental via IAA se fazia através de medidas no planejamento, desde cotas individuais dos produtores, período de safra, fiscalização e órgão de decisão sobre diferenças entre os produtores de cana e os industriais, além de definir preços e exportações.
Mesmo com todo esse esforço, o Brasil não era competitivo no mercado internacional. Foi na década de 1970 que o setor sucroenergético emergiu com investimentos do Estado e dos produtores, face a alguns fatos essenciais:
a) A crise de 1965, com superprodução e preços deprimidos, de US$ 3 a 5 c/lb (centavos por libra-peso), sem demanda e países como Cuba, Filipinas, Índia, Austrália, e outros ampliando suas exportações;
b) Entre 1972 e 1973, a crise se inverteu e o preço do açúcar saltou de US$ 6c/lb (1972) para US$ 60 c/lb em 1974! O IAA criou um Fundo de Exportação com enormes recursos;
c) Esses recursos geraram dois programas cruciais: o Programa de Modernização da Agroindústria Canavieira e o Planalsucar – Programa de P&D nacional em cana-de-açúcar.
d) Em 1975, os preços do açúcar voltaram a despencar (US$ 10 – 12 c/lb) e tornaram o setor produtivo que teria feito os investimentos nos anos anteriores vulneráveis à nova realidade. Foi quando ocorreu o 1º choque do petróleo (1975) que pegou o governo Geisel sem recursos para a importação do petróleo e as usinas com ociosidade industrial: nasceu o Proálcool, misto importante de diversificação já conhecida pelo setor produtivo em larga escala e que ajudaria muito a reduzir a dependência de gasolina, via substituição, em dois momentos:
1) oferta expandida de canavial para a produção de etanol anidro substituindo o MTBE (derivado tóxico do petróleo) como aditivo da gasolina;
2) outro fato é que era preciso maior substituição. Esforços do governo federal ocorreram junto ao CTA (Centro Técnico Aeroespacial), Petrobras, Cenpes, IAA e às Montadoras de Veículos e Universidades para o lançamento do carro movido a álcool (E100), com testes de campo em 1978 e o lançamento do promeiro carro a álcool em julho de 1979 (FIAT 147).
Vale mencionar o fato que a agropecuária e as cadeias produtivas somaram 29,1% da energia usada no Brasil (2023); na parcela renovável, 60%. Os outros 40% são hidrelétricas: 24,02%; eólicas: 5,24%; solar: 3,46%; lenha de vegetação natural: 6,98%; biogás de resíduos não agrícolas como o lixo doméstico: 0,22%.
A evolução da bioenergia no Brasil desde o início da década de 1970 passou de 6,5 milhões de TEP (ton equivalente de petróleo) para mais de 91 milhões em 2023.
Lenha e carvão vegetal responderam, no início dos anos 1970, por 40% da energia vinda da agropecuária.
BRASIL: PERCENTUAL DE BIOENERGIA DO AGRO SOBRE O TOTAL OFERTADO DE ENERGIA (EM TONELANAS EQUIVALENTE DE PETRÓLEO)
Fonte: GV, Observatório de Bioeconomia, maio 2025
O setor do agro mais que triplicou sua participação na matriz energética brasileira desde a década de 1970.


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De 1988 (Nova Constituição Brasileira) a 2003, houve cinco anos de paralisia para os biocombustíveis, com um novo processo baseado em três eixos:
Biotecnologia:
• Milho (etanol) e resíduos proteicos para alimentação animal
• 2ª geração de etanol (celulose)
• SAF/SMF (aviação, marítimo)
Tecnologias: Inteligência Artificial, produtos (insumos biológicos, irrigação):
• Reduzir os custos de produção
• Aumentar a produtividade agroindustrial
Carbono negativo (emissões sendo reduzidas, com prêmios: CBios)
Essa saga cheia de detalhes e lutas complexas está relatada em livros e despertou o País para a relevância do seu biocombustível.
Vale ressaltar que, em termos políticos, a partir de 1985, houve a redemocratização do modelo brasileiro com a eleição de Tancredo Neves como Presidente da República e a Constituição de 1988, que tinha foco também na não intervenção do Estado na economia do País. Alguns anos após, ocorreu o fechamento do IAA.
Com os encerramentos das atividades do IAA e o afastamento das ações diretas da Petrobras, passou-se a desenhar (grupo político-privado) o que seria o novo modelo setorial, em condições de mercado. O setor privado criou o Consecana, onde os preços da cana eram determinados em formulação que considerava os preços do açúcar e do etanol recebidos pelas usinas, captados pelo Cepea-USP (Esalq).
Juntamente com o Consecana, veio toda uma formulação de políticas ao etanol, na forma de valorização das externalidades positivas do etanol (criada a CIDE, imposto com alíquota sobre a gasolina), regras de comercialização que ajustassem o comércio de etanol entre produtores e distribuidores de combustíveis, e outras medidas (governo FHC).
A partir do 1º governo Lula, uma extensão do governo FHC, veio a onda expressiva do Pré-Sal e petróleo em longa escala no Brasil e os governos de Lula (2º) e Dilma (1º e 2º) foram muito negativos aos biocombustíveis. Nesse período, muitas unidades agroindustriais produtoras de etanol foram fechadas. O auge foram as medidas econômicas heterodoxas do governo Dilma, centradas em questões graves como definir juros baixos em




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fase inflacionária e o congelamento de preços da gasolina, entre outras medidas, que levaram a grave recessão.
Com o impeachment de Dilma Rousseff, assume o governo o presidente Michel Temer, que rapidamente reverteu aquele processo político-econômico desastroso. Em seguida, veio o período do presidente Jair Bolsonaro, com a crise da pandemia mas mantendo as políticas do momento FHC, com as novas, como o RenovaBio (política nacional dos biocombustíveis, como Lei Federal) e posteriormente seguido por ações no Congresso Nacional em novas leis que abraçaram os pilares essenciais ao futuro dos biocombustíveis.
Entre essas novas leis, a do “Combustível do Futuro” junto com a Mover, Paten e outras, buscou estimular toda uma cadeia produtiva, seja da cana-de-açúcar, do milho e dos óleos vegetais, passando pelas montadoras de veículos e os mandatos de biocombustíveis na aviação e no setor marítimo, assim como biogás e biometano (focado na substituição do diesel).
Esta nova fase setorial vem acontecendo em um momento de intensas mudanças geopolíticas, de grave e crescente déficit fiscal no Brasil, pressão de custos e de fundamentais ações até então não trabalhadas (exceto a tributária) nas reformas administrativas políticas e, novamente, a previdenciária.
As principais expectativas ao agro brasileiro estão centradas nas prioritárias agendas da segurança alimentar e da transição energética, em meio às mudanças climáticas.
Os veículos flexíveis vão evoluindo aos híbridos, sob forte pressão dos veículos elétricos, em uma série de análises técnico-econômicas que indicam índices muito melhores dos veículos flexíveis e híbridos em termos de emissões do que os elétricos!
As tecnologias da IA, avassaladoras, requerem um volume assustadoramente maior de energia (data centers), o que faz a lógica da transição energética se tornar “adição energética”. Nisso, os biocombustíveis terão enormes oportunidades, e o Brasil literalmente está anos à frente dos outros países: tem uma matriz energética com 50% de energia renovável e uma matriz elétrica com quase 90% de energia renovável. Os 50 anos de Proálcool são uma demonstração de resiliência, de capacidade e de base para o saldo positivo que se verá para os anos vindouros. Para isso, aumentar a competitividade do etanol será crucial.
Como ocorre em qualquer setor, em qualquer lugar, negócios se desenvolvem à medida em que agentes econômicos buscam maximizar objetivos privados dentro dos limites estabelecidos pelo quadro regulatório definido pelas políticas públicas vigentes. Assim tem ocorrido em toda a história de desenvolvimento do setor sucroenergético brasileiro.
Entre 1931 e 1989, o setor foi regido pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com uma intervenção intensa em praticamente todos os elos da cadeia de produção e comercialização.



O IAA definia cotas de fornecimento de cana dos fornecedores às usinas; cotas de produção de açúcar; cotas de comercialização de açúcar, com penalidades severas àqueles que as descumprissem, pois imediatamente concluída a produção seus responsáveis passavam a ser fiéis depositários dos produtos; e também definia os preços de cana, açúcar e etanol que deveriam ser praticados.
Além disso, o Estado, através do IAA, detinha o monopólio das exportações de açúcar, além de ser também responsável pelo desenvolvimento de tecnologias agrícola e industrial através do Planalsucar, um desdobramento do próprio IAA. Controvérsias entre fornecedores de cana e usinas eram resolvidas pelo Conselho Deliberativo (Condel) do IAA, e não pela justiça comum.
Portanto, dentro desse contexto regulatório, os agentes privados eram meros executores de um planejamento definido pelo governo, com muito limitados graus de liberdade para competir, desenvolver estratégias comerciais,
Com certificação individual capaz de abrir novos mercados e a perspectiva de reduzir ainda mais a sua intensidade de carbono, o setor tem potencial para valorizar ainda mais o negócio do setor sucroenergético, no Brasil e no mundo."
Plinio Nastari
Presidente da Datagro


estabelecer e implementar, de forma autônoma, metas de produção e comercialização, preços dos produtos gerados, e implementar inovações.
Dentro desse contexto é que foi criado o Programa Nacional do Álcool, Proálcool, em novembro de 1975, o primeiro marco do processo de diversificação da produção que iria definir os rumos do setor dali em diante.
O Proálcool teve como meta definir as condições necessárias para que se desenvolvesse a produção e o consumo em larga escala de etanol combustível, com o objetivo de atenuar a grave dependência que o País enfrentava por petróleo e derivados importados, que respondiam à época a 81% da demanda doméstica. A elevação de preços internacionais do petróleo a partir da Primeira Crise de 1973 ameaçava a estabilidade econômica e o próprio abastecimento de combustíveis.
O Governo Federal criou linhas de financiamento para a instalação de destilarias autônomas e anexas às usinas de açúcar; estabeleceu mandato de mistura de etanol anidro à gasolina, inicialmente de 12%, e a partir de janeiro de 1978 elevado para 20% (desde agosto de 2025, a mistura obrigatória é de 30%); incentivou o desenvolvimento do primeiro motor a etanol no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos-SP; e determinou a distribuição de etanol hidratado através de infraestrutura de distribuição antes ocupada pela chamada “gasolina azul”, de octanagem mais elevada.
Como em todo grande processo de transformação, houve resistência tanto do setor produtor como da burocracia administrativa do governo, e foi com muita determinação de lideranças dos dois lados que avançou a instalação de destilarias autônomas, dedicadas exclusivamente à produção de etanol, e de destilarias anexas às usinas tradicionais produtoras de açúcar.
A diversificação na direção do etanol encontrou aceitação popular, e em meados da década de 1980 as vendas de veículos a etanol chegaram a atingir 92% das vendas totais de veículos leves.
Isso trouxe impulso às vendas de etanol hidratado, deslocando como planejado o consumo de gasolina. Em um ambiente de preços controlados, e entre 1985 e 1990 fixados em níveis deliberadamente abaixo do custo e das referências internacionais na tentativa de controlar a inflação, foi inevitável o conflito entre o setor sucroenergético e o setor do petróleo, representado nesse caso pela Petrobras. Ocorreram discussões acaloradas sobre a inclusão do etanol na política geral de fixação de preços, ou a chamada inserção do etanol no “mix de preços de combustíveis”, assim como os limites de expansão do consumo de etanol levando em conta os limites da estrutura de refino de petróleo, que diminuía cada vez mais a proporção de gasolina e aumentava a de óleo diesel.
O controle de preços de combustíveis em níveis abaixo do custo de produção do etanol fez com que a oferta de cana estagnasse entre 1985 e 1990, enquanto a demanda continuava em expansão impulsionada pelas vendas de carros a etanol. Isso levou o setor produtor de açúcar e etanol a importar etanol, inclusive sintético, de origens como Europa, Rússia e África do Sul, e a desenvolver junto com o governo uma mistura ternária de etanol hidratado-metanol-gasolina, que visava complementar a oferta de etanol hidratado puro.
Essas medidas lograram sucesso mas, mesmo assim, em abril de 1989 o Departamento Nacional de Combustíveis (DNC), precursor da ANP (Agência Nacional de Petroleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que controlava a distribuição das cotas de comercialização de etanol dos produtores às empresas distribuidoras, alocou entre essas empresas volume equivalente a apenas metade da demanda projetada para o mês seguinte.
Mesmo havendo estoques suficientes de etanol nas usinas produtoras, como amplamente noticiado e demonstrado pelo setor, de forma intencional foi promovido o desabastecimento pontual de etanol em algumas localidades, com ampla repercussão na imprensa.

Esse episódio levou ao descrédito dos consumidores em relação à capacidade do setor de manter o abastecimento, causando queda significativa na venda de carros a etanol. Em março de 1990, assumiu o governo Fernando Collor de Mello, promovendo modernizações em várias áreas: extinção do IAA e do Instituto Brasileiro do Café, fim do monopólio às exportações de açúcar, impulso à modernização da indústria automotiva e várias outras medidas, algumas delas de impacto e repercussão negativos como o bloqueio de contas correntes da população. Foram extintas com o IAA as cotas de fornecimento de cana e de comercialização de açúcar, mas foram mantidos, entretanto, o controle da comercialização de etanol pelo DNC e o controle dos preços de açúcar e etanol pelo Ministério da Fazenda.
Com o fim do monopólio de exportações de açúcar, o setor passou a ter de aprender a vender açúcar no mercado externo. Passou também a se financiar através dessas exportações, o que levou o setor a expandir a produção, amenizando a dependência em relação ao controle estatal de preços sobre o etanol. O setor investiu em infraestrutura portuária para viabilizar a expansão da produção e exportação de açúcar. Mas a economia e o setor continuaram marcados por inflação elevada e descontrole da intervenção estatal que ainda sobrava.
Ao mesmo tempo, o setor desenvolvia as primeiras iniciativas para a produção de bioeletricidade, com a autorização para que pudesse vender seu excedente para empresas distribuidoras de energia elétrica. Surgia assim a segunda grande diversificação, abrindo espaço e incentivo para a troca de caldeiras que haviam sido projetadas para literalmente incinerar bagaço, quando não havia alternativa para o seu aproveitamento, para caldeiras mais modernas e eficientes, reduzindo o custo e gerando mais uma fonte de receita. Veio o Plano Real, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e na sequência a liberação dos preços de açúcar em 1995, do etanol anidro em maio de 1997, e da cana e do etanol hidratado em fevereiro de 1999. Neste último momento, foi também extinta a mesa de comercialização de etanol administrada pelo governo, fazendo com que o setor tivesse de negociar livremente com as distribuidoras de combustíveis volumes e preços
para o etanol anidro e hidratado. O preço do etanol hidratado, que na época era de R$ 0,4375 por litro, caiu para R$ 0,14 por litro, e o preço do etanol anidro caiu para R$ 0,17 por litro. Uma grave crise se instalou no setor, mais uma vez.
O setor sucroenergético tentou reagir à falta de organização coletiva na comercialização, criando a Brasil Álcool S/A., que teve vida curta e foi a semente para a criação de outras empresas de comercialização por diferentes grupos de usinas. Os baixos preços do etanol estimularam novamente os consumidores a misturar etanol hidratado em proporções acima do autorizado e planejado pela engenharia automotiva dos carros em circulação e sendo vendidos, e como reação foram desenvolvidos pelas montadoras os veículos flex, capazes de utilizar qualquer mistura de etanol puro e gasolina misturada com etanol. Lançados em março de 2003, rapidamente encontraram forte adesão e, em dois anos, passaram a dominar as vendas de veículos leves, abrindo novas perspectivas de expansão para o setor.
Dezenas de novas unidades produtoras foram instaladas em novas regiões de fronteira, repetindo o movimento ocorrido 20 anos antes quando houve a instalação das destilarias autônomas com o Proálcool. O desafio de desenvolver variedades de cana ainda adaptadas às condições edafoclimáticas dessas novas regiões foi multiplicado pelo compromisso de não mais queimar a palhada da cana como atividade pré-colheita para facilitar o corte manual. O Protocolo Agroambiental, assinado em 2007 entre produtores e o governo do Estado de São Paulo e adotado pelos estados na fronteira de expansão da cana, antecipou o cronograma de eliminação da queima. Um novo grande desafio, desta vez principalmente agronômico, se instalou, com as adaptações às práticas agrícolas advindas do corte mecanizado, sistematização do solo, qualificação e treinamento de mão-de-obra, e o resultante aumento de impurezas vegetais e minerais da cana entregue nas usinas, elevando os custos e o desgaste de equipamentos industriais.
Em paralelo, em 2003, o Brasil decidiu questionar na OMC os subsídios europeus à produção e exportação de açúcar, no que recebeu a adesão dos governos da Austrália e da Tailândia.

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A União Europeia era na época o segundo maior exportador de açúcar depois do Brasil, e esses subsídios, de difícil comprovação, afetavam sobremaneira a renda e a competitividade dos produtores brasileiros. Contra todas as expectativas, e na maior disputa dos anais da OMC até hoje, com três países demandantes (Brasil, Austrália e Tailândia), contra à época 25 Estados-Membros da União Europeia e mais a Comissão Europeia, e 31 países interessados como terceiras partes, a tese defendida pelo Brasil saiu vencedora, levando a UE a reformular completamente o seu programa de açúcar, eliminando a exportação subsidiada. Esta vitória impulsionou ainda mais a produção e a exportação de açúcar do Brasil e se somou ao impulso nas vendas de veículos flex e nas vendas de etanol.
O setor sucroenergético mudou completamente sua escala de produção a partir da cana-de-açúcar. E, a partir de 2013, passou a contar também com a produção de etanol de milho, que na última década cresceu impulsionada pela expansão da produção de milho de segunda safra cultivada após a colheita da soja em estados grandes produtores como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Em 1975/76, a oferta de açúcares totais recuperados (ATR) do setor foi de 7,1 milhões de toneladas. Decorridos 50 anos desde a criação do Proálcool, em 2025/26 essa oferta está projetada pela Datagro em 108,7 milhões de toneladas, sendo 91,4 milhões de toneladas a partir da cana e 17,3 milhões de toneladas a partir do milho.
Em 2017, foi criado e aprovado o Programa Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, um programa de certificação voluntária dos produtores de biocombustíveis com o objetivo de definir, através de uma meta de longo prazo de aumento de eficiência energética e de descarbonização no setor de transportes, um norte para a expansão futura do setor.
O RenovaBio permitiu também a criação de um mecanismo de precificação de carbono em condições de mercado, através da livre negociação em bolsa dos créditos de descarbonização (CBios) relacionados à produção certificada de biocombustíveis, e a recompensa aos produtores pela produção e pelo aumento de eficiência obtidos através de suas notas de eficiência energética-ambiental (NEEA).
Além da materialização da externalidade positiva relacionada à redução de carbono, o RenovaBio criou um sistema de certificação individual da produção, que permite a identificação da intensidade de carbono individual de cada lote, carga ou navio carregado com etanol certificado. Outros países classificam e certificam produtores por rotas (chamadas pathways) que não permitem a identificação individual de cada lote.
Isso é relevante à medida em que surgem novas oportunidades de mercado pelo uso do etanol para a substituição de bunker fuel na navegação marítima, para a produção de SAF (combustível sustentável de aviação) através da tecnologia alcohol-to-jet, para a produção de bioplásticos, e para a produção de hidrogênio verde através da reforma do etanol.
A Datagro estima que, até 2050, esses quatro novos mercados representem uma demanda potencial de 810 milhões de toneladas de etanol, o que equivale a 9,2 vezes da produção mundial de 2024, de 89 milhões de toneladas.
No campo regulatório, o Brasil já se posicionou na vanguarda mundial ao eleger, no RenovaBio, no Programa Mover e na Lei
Combustível do Futuro, a Avaliação do Ciclo de Vida, também conhecida como critério “berço-ao-túmulo”, como métrica para definir o que deve ser considerado sustentável.
A quase totalidade dos demais países ainda utiliza o limitado e parcial critério denominado “tanque-à-roda”, que leva em conta apenas emissões de cano de escape, com resultados limitados e pouco eficazes para o controle do aquecimento global. A adoção geral da avaliação do ciclo de vida poderá ser uma agenda relevante a ser destravada na COP30. Mas, mesmo no Brasil, ainda podemos avançar mais.
Estudos da Embrapa e de centros internacionais de pesquisa mostram que o retorno dos resíduos da cana para o campo, através da vinhaça, torta de filtro, cinzas, as raízes da cana-de-açúcar e a palhada que permanece após a colheita, forma um estoque natural de carbono capaz de capturar e armazenar volumes significativos de CO₂, muitas vezes superiores aos de florestas jovens ou de sistemas de pastagem. Essa reserva subterrânea é uma das maiores forças da agricultura tropical brasileira — mas sua relevância ainda não é




plenamente capturada pelas metodologias oficiais de mensuração de emissões, como a RenovaCalc, que balizam o RenovaBio e o mercado de créditos de descarbonização (CBios). O reconhecimento científico desse carbono é mais do que um ajuste técnico: pode ser uma mudança de paradigma. Ao incorporar o estoque de carbono do solo, o Brasil não apenas poderá demonstrar com maior precisão os ganhos ambientais de seus biocombustíveis, mas fortalecerá a competitividade do etanol e da biomassa frente a outras fontes de energia.
O etanol, a bioeletricidade, o biogás e biometano, a extração de leveduras, a captura de CO2 biogênico para venda à indústria e a produção de combustíveis sintéticos, a produção de etanol de segunda geração e os novos mercados já citados colocam o setor sucroenergético, de cana e de milho, no centro das atenções relacionadas a segurança energética, segurança alimentar e controle do risco climático.
O negócio do setor sucroenergético se sofistica com a diversificação crescente e a busca incessante pelo aproveitamento integral da energia da biomassa. O etanol é a solução ambiental e energética que permite implementação imediata de medidas voltadas à descarbonização, sem a necessidade de mudanças de frota ou de infraestrutura de distribuição de energia. É replicável, pois não apresenta barreira tecnológica de entrada. É escalável ao longo do tempo, com benefícios comprovados à saúde e ao meio ambiente. Permite o aproveitamento econômico de matérias-primas e resíduos orgânicos disponíveis na economia. Permite às montadoras de veículos cumprirem os mais restritivos objetivos de emissões. Alavanca a produção simultânea de energia e alimentos no campo, gerando renda, emprego e desenvolvimento descentralizado.
Não por outro motivo, o modelo de negócio do setor sucroenergético brasileiro tem servido de exemplo para iniciativas em vários outros países, como Índia, Indonésia, Tailândia, Filipinas, Japão, China, Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Guatemala, El Salvador e Nigéria, dentre outros. Com certificação individual capaz de abrir novos mercados e a perspectiva de reduzir ainda mais a sua intensidade de carbono já extremamente baixa, o setor tem um enorme potencial à sua frente, valorizando cada vez mais o negócio do setor sucroenergético, no Brasil e no mundo.


A cana-de-açúcar de 50 anos atrás: aspecto e cultivares
Há cerca de cinquenta anos, nas décadas de 70 e 80, o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil era caracterizado por sistemas de produção de baixa tecnificação, forte dependência de mão de obra e práticas agrícolas rudimentares. Os produtos da cana resumiam-se a açúcar, etanol e cachaça. O bagaço servia para alimentação animal e para queima nas caldeiras produzindo energia para mover a indústria. A queima era uma prática essencial para facilitar a colheita, que era toda realizada manualmente.
A cana era plantada predominantemente de forma manual, com uso limitado de insumos e sem grande preocupação com manejo de solo, conservação ambiental ou sustentabilidade. As cultivares utilizadas, muitas vezes importadas e pouco adaptas às condições locais, apresentavam baixo potencial produtivo, pouca resistência a pragas e doenças e curta longevidade dos canaviais — geralmente entre 3 e 4 cortes. Misturas de cultivares no talhão eram comuns. A longevidade do canavial raramente passava de 4 cortes úteis. Havia pouca preocupação com a qualidade das mudas a serem plantadas.

Hoje a cana passou a ser amiga da natureza e não mais a competir com ela. E como será a cana do futuro? "
Raffaella Rossetto e Marcos
Guimarães de Andrade Landell
Diretora do Nucleo de Jau e Diretor Geral do Instituto Agronômico de Campinas, respectivamente

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As cultivares de cana do passado refletiam o melhoramento genético da época. A cana era mais alta, mais fibrosa e menos uniforme do que as cultivares atuais. Folhas largas e dispostas de forma mais aberta aumentavam a interceptação de luz, mas também o risco de acamamento das plantas.
O sistema radicular era menos profundo, com menor eficiência de absorção de água e nutrientes. As canas tinham colmos mais longos e grossos, e o número de perfilhos por metro era significativamente menor. A taxa de brotação era irregular, e o fechamento do canavial demorava mais, resultando em maior competição com plantas daninhas.
A princípio, na década de 70, as cultivares tinham menor teor de sacarose em comparação com as atuais. A implantação do sistema de pagamento por teor de sacarose (PCTS) modificou radicalmente o interesse do canavicultor, que passou a buscar cultivares com elevados teor de sacarose a partir de 1983. Essa nova demanda obrigou os programas de melhoramento genético do Brasil a modificarem as suas estratégias e metas.
Além dessa característica (maior teor de sacarose), a ampliação da canavicultura para ambientes edafoclimáticos mais restritivos obrigou os melhoristas de cana-de-açúcar a contemplarem com maior valor a tolerância e resiliência de novos varietais a regiões com maior déficit hídrico e solos com maior limite em potencial produtivo. Isso se deu, pois a opção que se fez em condições brasileiras foi por uma canavicultura de “sequeiro”, tornando mais importante a rusticidade dos novos cultivares que seriam gerados.
No Estado de São Paulo, havia a utilização, em 1982, de um grande percentual de variedades brasileiras (CBs e IACs) e uma única variedade estrangeira, a NA56-79, que ocupava 43,7% das áreas cultivadas. As cinco mais cultivadas eram, segundo Nunes Jr. (1987): NA56-79 (43,7%), CB4176 (13,2%), IAC52-150 (9,2%), IAC48-65 (3,7%) e CB47-355 (3,5%).
Essas cultivares foram importantes para o início do Proálcool, a partir de 1975, mas apresentavam limitações de produtividade e restrita adaptação às novas condições onde a cana-de-açúcar passou a ser cultivada.

O Próalcool - Programa Nacional do Álcool foi um divisor de águas, iniciando uma nova fase de modernização do setor sucroenergético. O incentivo à produção de etanol impulsionou investimentos em pesquisa e tecnologia agrícola. Nesse período, surgiram novos programas de melhoramento que se juntaram ao programa desenvolvido pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), como o Programa da Ridesa e o do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que introduziram ganhos significativos de produtividade, manejo e sanidade vegetal.
O que mudou desde então:
A cana dos dias de hoje atende à economia circular. Além de açúcar, etanol e energia, temos uma cadeia de produtos com base na cana-de-açúcar e em seus resíduos, a exemplo do etanol 2G, do biogás da biodigestão da vinhaça e da torta de filtro gerando mais energia, do plástico biodegradável e dos futuros diesel da cana, hidrogênio e tantos outros produtos. As usinas tornaram-se biorefinarias, cujas diretrizes passaram a visar não apenas o aumento da produtividade, mas a maximização da sustentabilidade e a redução das emissões de carbono, dois conceitos que sequer existiam há 50 anos.
As usinas passaram a ser verdadeiras empresas, com visão empresarial (não mais uma propriedade famíliar) e, portanto, com compromissos com os pilares de ESG – Ambiental, Social e de Governança – e várias são signatárias do Pacto Global da Organização das Nações Unidas com contribuições para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Várias usinas têm o compromisso de reduzir emissões e de ser Net Zero até 2035 com o objetivo de contribuir com a matriz energética mais limpa e verde, renovável, do Brasil e do mundo. Muita coisa mudou.
O manejo da cana-de-açúcar: Há 50 anos, a cana tinha um manejo muito diferente dos dias atuais. O plantio era manual, as mudas eram produzidas na própria usina e se resumiam a toletes de cana comercial com 3 ou 4 gemas. A conservação do solo seguia técnicas tradicionais, quando seguia. Praticamente não se reconhecia a importância da rotação com adubos verdes. O preparo do solo seguia as operações tradicionais com aração profunda, arado de disco e aiveca e uso de grade.





Como não existia GPS, o espaçamento era feito através de uma barra acoplada na frente do trator, com uma corrente pendurada que copiava o sulco ao lado do trator. O espaçamento era geralmente de 1 a 1,4m. Solos arenosos tinham espaçamento de 1m para facilitar o fechamento da linha e economizar em herbicidas.
Havia poucos produtos para controle de plantas daninhas, pragas e doenças. O controle biológico despertava grande interesse, e o IAC, a Esalq-USP e o Planalsucar já estudavam o uso de parasitoides como Cotesia flavipes (introduzido oficialmente em 1974–75).
A correção do solo era basicamente feita apenas com calcário. A adubação contava com apenas dois formulados NPK, um para cana planta, cerca de 500 kg de 5-20-20 ou pequenas variações dessa fórmula, e para a cana soca, cerca de 500kg de 20-5-20.
Sofisticações para a época buscavam algumas variações desses formulados, principalmente para as áreas onde se aplicavam resíduos. Não se utilizavam micronutrientes na região Centro-Sul. Os resíduos eram considerados indesejáveis, praticamente uma “penalidade” do processo produtivo, algo com o qual se precisava conviver. Áreas de sacrifício, comuns nos anos 1960, já começavam a ser substituídas pela aspersão da vinhaça nas soqueiras, porém não se tinha grande conhecimento sobre os efeitos da vinhaça no solo e sobre o uso de doses seguras para cada tipo de solo. Nos anos 1980, a vinhaça passou a ser recomendada pelo seu teor de K. A colheita era manual e, portanto, não existiam grandes problemas de compactação do solo.
O que mudou desde então no manejo da cana-de-açúcar
Há 30 anos, com o advento do manejo da cana-crua (cana colhida mecanicamente sem a necessidade do uso do fogo para a redução da palha residual nas áreas de colheita), mudanças substanciais ocorreram em praticamente todas as práticas fitotécnicas da canavicultura.
A presença da palha mudou radicalmente o “pacote fitotécnico” dos nossos canaviais. No caso das variedades, o hábito ereto e com uniformidade de altura de colmos

ganhou grande valor para os produtores, pois reduz significativamente as impurezas vegetal e mineral da matéria-prima colhida, favorecendo a qualidade industrial. Outra característica de grande valor passou a ser a população de colmos por hectare, pois essa característica está associada à produtividade agrícola e à longevidade dos canaviais.
A área de planejamento agrícola foi instituída na usina. O uso de drones, GPS e SIG (sistemas de informação geográfica) para mapear o terreno, curvas de nível, tipo de solo e drenagem passou a ser essencial. A sistematização dos talhões ficou mais sofisticada, avançando também para a área de conservação do solo, introduzindo novas práticas para deixar os talhões longos e lineares, sem comprometer a conservação do solo. Sistemas de terraços passantes e escoamento difuso foram sendo implementados. O plantio da cana-de-açúcar ganhou sistemas mais modernos, introduzindo mudas pré-brotadas (MPB). Este método foi desenvolvido pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e hoje amplamente adotado. Os resíduos passaram a ter maior importância na reciclagem de nutrientes e economia de fertilizantes. Hoje, mais da metade das áreas de aplicação de vinhaça já é feita com a aplicação da vinhaça na linha da cana e não mais por aspersão. Este fato permite que a vinhaça carregue outros nutrientes, como micronutrientes, ou seja enriquecida com N, P, Ca e Mg, promovendo uma adubação completa para a cana-de-açúcar. Permite também que ocorra uma customização da adubação para cada talhão. Assim, a usina que tinha 2 ou 3 variações na adubação nos anos 70 passa a ter inúmeras variações, customizadas para cada talhão.
A irrigação, que era uma prática que nem se cogitava, passou, com as mudanças climáticas, a ser uma prática muito desejada pelas usinas.
A colheita é feita mecanicamente. Atualmente, as colhedoras de duas linhas pretendem deixar a operação mais econômica. As práticas da agricultura de precisão permitem melhor monitoramento das operações. Assim, o mapeamento de produtividade por GPS, o sensoriamento remoto para estimar biomassa e estresse hídrico e as leituras da




condutividade elétrica do solo são exemplos de tecnologias adicionadas ao sistema e que acrescentam pontos positivos na busca pela maior produtividade com sustentabilidade.
Quando todas as boas práticas são realizadas, o canavial tem maior longevidade. O ciclo médio aumentou para 5 a 6 cortes, contra 3 ou 4 nos anos 70. A prática da rotação com soja, amendoim ou adubos verdes é muito importante para proteger o solo no verão chuvoso e/ou acrescentar e reciclar nutrientes, melhorar a estrutura do solo e ajudar no controle de pragas e doenças, além de garantir renda extra no caso de soja e amendoim.
O uso de bioinsumos, enzimas, hormônios ou produtos ou fungos e bactérias com muitas funções como promotores de crescimento, fixadores de N, solubilizadores de P e K, a exemplo de Azospirillum, Bacillus, Trichoderma , apresenta novas oportunidades para a cana regenerativa, que pretende ser menos agressiva ao meio ambiente.
A cana e a questão ambiental
Cana-de-açúcar nos anos 1970 - uma cultura degradadora:
Nos anos 70, especialmente no Brasil e em São Paulo, a cana-de-açúcar tinha grande impacto ambiental negativo por alguns fatores: A queima pré-colheita resultava em grandes emissões de CO₂ e material particulado, além da destruição da cobertura vegetal. A poluição nas cidades próximas dos canaviais devido às queimadas era visível e causava certa revolta na população.
A monocultura ocupava já áreas consideradas extensas para a época, sendo que o plantio vinha após o desmatamento ou a ocupação de áreas da pecuária, do café e dos citrus.
Na reforma havia pouca rotação de culturas; solo ficava exposto e degradado após vários ciclos. O uso de práticas conservacionistas era limitado. Era comum ocorrer desastres de erosão porque o controle não era sistemático.
Os fertilizantes e vinhaça eram aplicados sem boas técnicas de manejo. Como resultado, o solo em geral ficava empobrecido em matéria orgânica. E o pior: Os trabalhadores do campo, conhecidos como “boias-frias” tinham pouco treinamento,



viviam em condições de trabalho indignas. Por todas essas razões, a cana-de-açúcar dos anos 70 era considerada inimiga da natureza. Não existia ainda o conceito de sustentabilidade, que chegou no final dos anos 1980, quando, a partir daí, ecologia e agronomia nunca mais se dissociariam.



Cana-de-açúcar atualmente - cultura conservacionista:
Hoje, a cana é considerada uma cultura conservacionista do solo devido a várias mudanças tecnológicas e práticas de manejo. Talvez a mais impactante tenha sido a colheita mecanizada sem queima, que mantém a palha sobre o solo, formando a cobertura vegetal que protege o solo e reduz erosão, retém umidade e adiciona matéria orgânica.
Outras práticas não menos importantes são: menor preparo do solo, evitando o revolvimento intenso do solo; rotação de culturas promovendo aumento de biodiversidade no sistema, integrando leguminosas e outras culturas entre safras, aumentando a biodiversidade, que garante maior resiliência ao sistema, e a fertilidade dos solos.
O uso dos resíduos como vinhaça, torta e cinzas reduziu a necessidade de fertilizantes químicos, aumentou o teor de matéria orgânica e melhorou a qualidade do solo.
O cumprimento das leis ambientais, com a conservação de 20% de Reserva Legal e a proteção das matas ciliares, tornou o ambiente de produção de cana menos agressivo ao meio ambiente e muito mais bonito.
As certificações de qualidade dos produtos e certificação ambiental, assim como os créditos de descarbonização (Renovabio, Bomsucro), promoveram a sustentabilidade como regra a ser seguida.
Conclusão:
O cultivo atual da cana-de-açúcar integra preocupações ambientais, sociais, econômicas e energéticas, consolidando a cana como uma das bases da bioeconomia e da descarbonização da matriz energética brasileira. A cana passou a ser amiga da natureza e não mais a competir com ela.
E como será a cana do futuro?
Os leitores da Revista Opiniões já sabem que o nosso País é, já há muito tempo, o campeão mundial da substituição de petróleo na mobilidade, especialmente para os motores do Ciclo Otto, aqueles originalmente a gasolina e que hoje podem usar etanol ou gasolina na frota flex.
A história desta substituição e o sucesso do Programa que lhe deu o início, o Proálcool, porém, são menos conhecidos.
O Proálcool começou como um decreto de 1975 que visava, de forma emergencial, responder ao grande Choque do Petróleo de 1973, quando o seu preço aumentou drasticamente e o Brasil importava 75% das suas necessidades deste importante insumo. Houve racionamento, fechamento de postos aos fins de semana, enormes filas, uma situação terrível.

A ideia na época era rapidamente aumentar a produção de etanol (então chamado de álcool) e colocá-lo à disposição dos consumidores, de início com a sua mistura à gasolina e depois com o desenvolvimento acelerado dos “carros a álcool” reabastecidos em todos os postos de combustível do País.
Os planejadores sabiam que a tecnologia da produção do etanol no Brasil a partir de cana já era madura, pois já éramos, na época (como hoje), grandes produtores de açúcar de cana, tendo havido inclusive programas governamentais de modernização das usinas (Funproçúcar). O melaço gerado nesta produção já era aproveitado para fazer etanol e, inclusive, já era misturado de forma não sistemática na gasolina quando havia falhas de fornecimento do combustível importado. Esta prática vinha pelo menos desde os anos 20 do século passado.
Nos 50 anos do Proálcool, aumentamos a produção de 600 milhões de litros de etanol por ano para mais de 30 bilhões, coincidentemente 50 vezes em 50 anos. "
Jaime Finguerut Diretor do ITCInstituto de Tecnologia Canavieira




Mesmo antes do Proálcool, principalmente em Piracicaba-SP, já tínhamos muita pesquisa e formação de pessoal para as usinas na Esalq-USP, sob a liderança do professor Jayme Rocha de Almeida e, posteriormente, dos professores Urgel de Almeida Lima e José Paulo Stupiello, havendo inclusive plantas-piloto para o desenvolvimento do processo de fermentação e destilação desde 1950. Na Escola Politécnica da USP, um pouco depois, o professor Walter Borzani estudou aspectos fundamentais da engenharia dos processos de fermentação e formou uma legião de pesquisadores e engenheiros especializados. Portanto, um dos fatores de sucesso do Proálcool foi incentivar uma tecnologia já bem conhecida e operada em escala real, porém com enorme potencial de evolução.
Há basicamente dois fatores fundamentais para permitir a substituição de um combustível fóssil: escala e preço. A produção em escala só é possível, repito, se o processo já está minimamente maduro, ou seja, se os principais problemas e desafios do processamento já foram equacionados, tais como uma cadeia de fornecimentos (de matérias-primas, insumos, energia, água e destinação de efluentes) que funciona continuamente e a longo-prazo apesar das intempéries, há demanda (e competição) para os produtos e os investimentos em equipamentos e instalações e os custos de produção são compatíveis com os preços de venda.
O fator escala implica também positivamente na viabilidade do empreendimento, pois quanto maior a produção maior será a diluição dos custos fixos e do capital. Menores custos permitem vender mais a menores preços e sustentar o negócio, além de possibilitar a geração de lucro que permite investir na melhoria do processo (na escala real) com melhor conhecimento das causas dos problemas.
O aumento de escala após o Proálcool foi brutal. Nos 50 anos do Proálcool, aumentamos a produção de 600 milhões de litros de etanol por ano para mais de 30 bilhões, coincidentemente 50 vezes em 50 anos.
E ao mesmo tempo que aumentávamos a produção, o custo caía e deixamos de ter qualquer subsídio ou “proteção” governamental logo após o fim do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1990.
Com isso, a produção de etanol, ou melhor o sistema bioenergético de processamento da cana, deixou de ser uma política pública para ser efetivamente um negócio, que evolui como muitos outros. Cito por exemplo eletrodomésticos como geladeiras, TVs, máquinas de lavar ou carros particulares que poucos tinham nos anos 1940 e hoje temos praticamente em todas as famílias; também telefones, hoje celulares, e computadores que ninguém tinha antes dos anos 1990 e agora temos no Brasil mais de um aparelho per capita. Como se explica estes enormes sucessos? Escala e queda de preços, além de competição e a existência de um mercado consumidor.
Implícito no aumento de escala, além das políticas públicas (como o Proálcool e recentemente o RenovaBio), está a existência de uma inteligência que tornou possível enfrentar os desafios da inovação, da engenharia e do crescimento do mercado, ou seja, o aumento do uso dos produtos. Por exemplo, os celulares de início eram apenas para fazer ligações telefônicas e agora são mais poderosos do que qualquer computador de 10-15 anos atrás. Novas funcionalidades, novos consumidores aptos a pagar o preço.
Já citei que o Proálcool previa o uso extensivo do etanol substituindo a gasolina, porém, apesar do início da produção do biocombustível nos anos 20 do século passado e o primeiro mandato em 1931, ainda não existia a produção em escala de motores capazes de usar só etanol, apesar de já se saber que este composto era muito melhor para motores a combustão do que qualquer fração do petróleo. Foram alguns professores e inventores como o professor Urbano Ernesto Stumpf que, no CTA (Centro Técnico Aeroespacial) do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), mostrou a partir de 1973 que era possível desenvolver motores a álcool a partir das bases de produção já instaladas no Brasil e que estes poderiam ter eficiência e durabilidade suficientes para serem produzidos em escala.
Estes estudos permitiram que rapidamente as montadoras lançassem o famoso carro a álcool que foi substituído pelos carros atuais flex Sem consumidores, não haveria como aumentar a escala de produção.
Descrevemos agora como a inteligência no processamento da cana permitiu o aumento de escala e a redução de custos.
Em artigos anteriores publicados na Revista Opiniões , mostrei que, entre 1979 e 2010, o preço do etanol pago aos produtores caiu 3 vezes enquanto a produção aumentou 40 vezes. Isso caracteriza uma típica “curva de aprendizado” (publicada pelo professor José Goldemberg, da USP-SP), de forma semelhante ao que aconteceu com os produtos citados anteriormente com outras soluções energéticas, como captação e energia solar, em que o Brasil tem posição de destaque mundial. Como foi possível esta dramática redução de custos?
Como os leitores sabem, o custo da matéria-prima (cana) é o principal fator de custo dos produtos da Usina (ficando entre 65 e 75%) e, de fato, a produção de açúcar por hectare e por ano na lavoura aumentou no período muito próximo a três vezes, ou seja, um aumento de quase 100% na produtividade da cana (toneladas por hectare e por ano) e aumento de 50% no teor de açúcares da cana.
Como as usinas conseguiram absorver toda esta quantidade de açúcar sem jogar fora todo o esforço de produção no campo? E ainda tendo de aproveitar toda a base instalada de usinas já existentes e toda a base de produção de equipamentos industriais de grande porte com capacidade de entrega para atingir as metas de produção?
Não tivemos de inventar uma nova Rocket Science nem financiar um projeto Manhattan para ganhar a guerra (a bomba atômica) ou um Programa Apollo para colocar o homem na lua, coisa que aliás não teríamos a menor condição de fazer. Mas fizemos a substituição da gasolina muito antes dos americanos e do mundo.
Primeiro, a “boca” que mastiga a cana, a moenda, teve de dobrar de tamanho, ao mesmo tempo em que teve de ficar mais eficiente, tanto em retirar todo o açúcar da cana (que aumentou 50%) como em ter capacidade volumétrica de processar o dobro de cana (gerando o dobro de caldo e o dobro de bagaço) sem exigir mais energia (vapor e eletricidade) do que aquela disponível no bagaço, cuja geração, aliás, também teve de dobrar sua capacidade.
A Inteligência aqui veio em parte do CTC – Centro de Tecnologia Copersucar, entidade privada que chegou a ter 1.600 técnicos, especialistas em todos os aspectos da produção de cana e do seu processamento e que pensavam juntos em soluções para o



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mundo real, soluções para serem implantadas nas usinas, tanto as cooperadas como até as não cooperadas. A execução e implementação dos projetos desenvolvidos às minucias de centenas ou milhares de desenhos e tabelas de cálculo (feitos sem computador) foram feitas pela indústria de equipamentos principalmente a Dedini de Piracicaba-SP e depois por outras empresas de Sertãozinho-SP que se transformou num polo de equipamentos e soluções.
Segundo, o que fazer com o dobro do caldo (e o dobro de bagaço, como já citado)? Primeiro, veio a ideia de juntar sinergicamente a destilaria com a produção de açúcar, ou seja, mandar caldo para a fermentação em conjunto com um mel menos esgotado, facilitando muito a fermentação e aumentando a capacidade da fábrica e a qualidade do açúcar (sem ter de reciclar tanto melaço) e economizando energia para processar a cana. Muitas soluções de tratamento de caldo e de aquecimento, resfriamento, evaporação, filtração, bombeamento e armazenamento foram projetadas, melhoradas na prática e implantadas em escala.
A fermentação praticamente reduziu o tempo de fermentação à metade (lembram, o dobro do açúcar chegando na usina?) e aumentou o teor alcoólico em 50% (lembram, 50% mais açúcar na cana?). As colunas de destilação dobraram a sua capacidade (para um mesmo diâmetro, o dobro da vazão) e reduziram o uso de vapor e de água, permitindo fechar o circuito de reuso da água, reduzindo a captação.
A vazão de vinhaça foi reduzida em no mínimo 50% (devido ao aumento do teor alcoólico) o que viabilizou o seu bombeamento de volta à lavoura com ganhos de produtividade e redução de fertilizantes. A melhoria na qualidade do mosto (mistura de um mel mais rico com caldo de cana) bem como um melhor controle do processo (de temperatura e de centrifugação e tratamento de fermento) permitiram aumento significativo do rendimento fermentativo e, portanto, da Eficiência Industrial, com redução de custos.
Em resumo, menores custos tanto de CAPEX como de OPEX permitiram enormes aumentos de capacidade, possibilitando, principalmente, vender mais etanol (e açúcar e eletricidade) mais baratos e com margens significativas, praticamente em qualquer situação ou conjuntura climática ou econômica pelo que passamos nestes 50 anos.
Se esta foi a evolução até aqui, o que temos pela frente?
Um dos problemas da nossa produção é a sazonalidade, ou seja, as usinas têm de processar a cana fresca (e limpa e madura), e isso só pode ocorrer no período mais seco, onde as máquinas conseguem cortar e transportar a cana.
Isso se dá por 200-240 dias por ano, com a usina ficando sem produção e em manutenção nos outros 120-160 dias. Isso é um grande problema econômico e estratégico, pois o etanol tem de ser vendido de forma competitiva com a gasolina o ano todo.
Uma solução é acoplar à usina de cana um outro processamento, de uma matéria-prima armazenável, como o grão de milho (rico em amido, contendo por quilo muito mais açúcar do que a cana e muito menos fibra).
Como o grão de milho não traz fibra para queimar, a usina de cana que foi otimizada para usar o mínimo possível de bagaço pode fornecer energia o ano todo, para os dois processamentos, reduzindo o custo da produção de etanol de milho e fornecendo etanol (e coprodutos valiosos) o ano todo.
Consigo imaginar ainda outros acoplamentos, disputando o uso do açúcar (ou da biomassa integral) da cana (e do milho) e o uso do excesso de energia.

Seria possível produzir, além do etanol, açúcar e coprodutos, outros biocombustíveis mais intensivos em energia do que o etanol, como o biocombustível de aviação ou SAF (do inglês: Sustainable Aviation Fuel)
A cana pode ser facilmente “melhorada” para trazer mais fibra (bagaço), com aumentos significativos de produtividade agrícola com variedades mais ricas em fibra e com a mesma tonelagem de açúcares por hectare e por ano.
Embora se gaste mais na moagem, incentivos à produção de SAF, como houve no início do Proálcool, poderão cobrir os custos adicionais até que se ligue a nova curva de aprendizado, e os custos e gastos de energia do SAF cairiam com a maturidade atingida. Para isso, precisaríamos de um “ProSAF” e de muito mais pesquisa aplicada por aqui, coisas que não temos, ainda.
Há ainda a possibilidade de outros acoplamentos como a integração de captação solar com a lavoura de cana, promovendo um sombreamento parcial, que, embora possa reduzir um pouco a produtividade, permitirá mais do que dobrar a eletricidade gerada por hectare e ano, energia essa que pode ser usada na produção dos outros biocombustíveis ou vendida para a rede.
O pequeno sombreamento reduz a necessidade de evapotranspiração e ajuda a manter matéria-orgânica no solo, pela redução de picos de temperatura e aumento de umidade.
As placas são colocadas bem acima do dossel, permitindo todas as operações agrícolas sem obstáculos, e a evaporação da água permite reduzir a temperatura das placas com aumento de eficiência e durabilidade.
A limpeza automática das placas poderá ser considerada como uma irrigação, paga pela geração de eletricidade renovável. Para compensar a possível perda de produtividade, pelo menos em áreas mais próximas da usina, pode-se usar uma fertirrigação complementar com o CO2 da fermentação (FACE – “ Free Air CO2 Enrichment ”), aumentando o teor deste composto nas folhas, o que deve aumentar a taxa de fotossíntese, aumentar as raízes e promover o crescimento da cultura mesmo com o sombreamento.
Finalmente, se pensarmos no novo sistema bionergético com acoplamentos com outras culturas, fontes de energia sustentáveis e com o aproveitamento econômico de todas as frações da cana e os resíduos (para, por exemplo, produção de biogás/biometano para a frota própria), podemos acoplar também a produção

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intensiva de proteína animal usando os coprodutos do milho (DDG ou WDG) e o esterco gerado, passando pelo biodigestor para fornecer energia para a usina e matéria-orgânica estabilizada para a lavoura.
Tenho ainda de citar a implantação acelerada de outra inteligência desta vez “artificial”, ou seja, o uso de máquinas capazes de aprender e agir no mundo real.
Isso já está acontecendo agora com o uso de sensores avançados como os baseados em NIR on-line (infravermelho próximo) capazes de analisar qualquer substância relevante e gerar dados analíticos de alta qualidade e baixo custo, gerando bancos de dados que, em conjunto com os sistemas de monitoramento e controle atuais, permitem a captura e entendimento do processo integral, da lavoura aos produtos e aos reciclos, permitindo controles automáticos avançados com aumentos significativos de eficiência global (mais rendimentos por hectare e por ano) e soluções de processo que ainda nem conseguimos visualizar totalmente.
Com isso, atingiremos uma circularidade economicamente viável, nossa riqueza vinda do Sol e da Terra, com reposição de tudo o que extraímos.


Foi em meio à crise do petróleo que nasceu o Proálcool. O etanol - então chamado simplesmente de álcool - surgiu como a grande alterna�va para reduzir a dependência dos combus�veis derivados do petróleo.
Avanços tecnológicos eram urgentes: os motores precisavam ser reinventados.
Enquanto alguns duvidavam do sucesso do programa, os visionários “enxergavam na curva”.
Acreditaram, geraram empregos, expandiram a produção de cana-deaçúcar e impulsionaram a indústria sucroenergé�ca.
Naquela época, o termo ESG ainda não exis�a, mas os impactos ambientais posi�vos já eram notáveis. As emissões de dióxido de carbono diminuíam, e os veículos tornavam-se cada vez menos poluentes.
O Proálcool marcou para sempre a história energé�ca do nosso país.
Foi nesse cenário de transformação que nasceu a primeira des�laria dos Irmãos Toniello, em Sertãozinho, que mais tarde





receberia o nome de Viralcool. Com o tempo, outras duas unidades se uniriam a essa trajetória: uma em Pitangueiras e outra em Cas�lho. E o grupo não para, con�nua crescendo com metas ousadas para acompanhar as demandas mundiais por açúcar, etanol e energia.
Através do olhar de quem enxerga além do presente e da coragem de quem acredita no futuro, Antonio Eduardo Tonielo, o Toninho, tornou-se também um marco na história do setor sucroenergé�co.
Com dedicação, visão e pioneirismo, par�cipou a�vamente de todas as fases do Programa Proálcool, deixando um legado de contribuições ao setor.
A história de Antonio Eduardo Tonielo consolida-se junto à do Proálcool, símbolo de uma era de inovação, sustentabilidade e progresso.
Com visão estratégica e espírito empreendedor, Toninho foi protagonista desse movimento que mudou o rumo da energia no Brasil e con�nua inspirando novas gerações a seguir adiante, com o mesmo compromisso e paixão pelo futuro.



















Do carro a álcool ao avião a etanol
agradecimentos a todos os Toninhos, Joãozinhos, Luizinhos... os líderes iniciais e suas sucessões,
que tornaram suas usinas familiares regionais em imensos conglomerados internacionais, que formam hoje o sistema bioenergético – que gera milhões de postos de trabalho, e se consolidou como um dos mais sólidos, promissores e benéficos negócios do Planeta.
Temos mais um povo à agradecer: aos fotografos, aos publicitários, aos ghost writers, ao pessoal das áreas de Comunicação das empresas, aos anunciantes , ao nosso próprio time – todo o pessoal que, modo geral, trabalha nos bastidores para que a Revista Opiniões se viabilize e seja tão bonita. Como, por exemplo, a dupla de criadores das artes que abrem e fecham este Ensaio Especial, Vicente e Lucas Corneta da "sp studio", de Sertãozinho-SP, que conseguiram incorporar e integrar na Bandeira do Brasil, a cana vinda da lavoura, o processo industrial, e, num gracioso movimento, transformarem-se em açúcar e etanol. Se fosse hoje a arte ficaria ainda mais rica, com o biogás, a bioeletricidade, o biometano, o biodiesel, o biohidrogêneo, o milho, a macauba, o agave ... A história é realmente longa. Já se passou meio século do Proálcool. Muito foi feito e não temos ideia do que está por vir.






Armene Conde Canassist





Capa e Índice: Mailson Pignata

Henrique Fermentec





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Perticarrari Consultoria
O Melhoramento Genético 4.0 é a parte mais importante da tão falada Agricultura 4.0, que agrega o que existe de melhor em termos das tecnologias disponíveis para a produção agrícola e que tem permitido aos nossos produtores obterem ganhos significativos em produtividade com redução nos custos e, ao mesmo tempo, contribuído para o aumento da sustentabilidade socioambiental.
Para culturas como soja, milho e algodão, o melhoramento 4.0 já é realidade há quase duas décadas, e os resultados foram muito impactantes, um verdadeiro divisor de águas. Particularmente para a cana-de-açúcar, por não ser uma cultura de produção global e por não ser cultivada em regiões temperadas, onde se encontram os grandes investimentos em tecnologia, essa realidade iniciou-se bem mais tarde e em velocidade mais lenta, mas com igual potencial para trazer um salto significativo de ganhos genéticos.
Como relato de evolução dos programas de melhoramento da cana-de-açúcar, podemos dizer que, até meados da década de 1980, o desenvolvimento de novas variedades dependia quase exclusivamente da experiência de campo acumulada por bons melhoristas – agrônomos e técnicos agrícolas renomados. Nos anos seguintes, os programas começaram a utilizar dos conhecimentos em genética quantitativa e de populações e a aplicar os princípios de experimentação agronômica durante as pesquisas, criando assim o chamado “melhoramento 2.0”. Isso trouxe um aumento significativo nos ganhos genéticos e desenvolveu as cultivares que alavancaram o setor sucroenergético atual e que ainda se encontram em área comercial, onde podemos citar cultivares como RB867515, CTC 4, CTC 15, IACSP95555094, RB966928, RB975242, IACSP955094, IAC9110099, entre outras.
As tecnologias de construção gênica também evoluíram de forma que hoje é possível “piramidarmos” em uma única construção genes de tolerância à seca, de resistência a pragas e de tolerância a herbicidas (já pensou?). "
José Antonio Bressiani
Diretor P&D da Nuseed Brasil
No início dos anos 2000, deu-se início ao melhoramento 3.0. Graças aos avanços na bioinformática, houve um aprimoramento nos conhecimentos de genética e dos modelos matemáticos e a informatização dos processos de coleta e gestão de dados com uso de novos delineamentos estatísticos. O melhoramento 3.0 trouxe um salto significativo no ganho genético e contempla a maioria dos lançamentos recentes dos programas de melhoramento, como CTC série 900, como a IACSP015503, IACCTC077207, IACCTC078008, RB127825, RB075322, RB07818, Vertix 12, e os que ainda irão ocorrer nos próximos anos. Embora as ferramentas de biotecnologia venham sendo pesquisadas em cana desde os anos 1990, foi a partir de 2010 que elas ganharam destaque e passaram a ser utilizadas buscando o desenvolvimento de produtos comerciais. Iniciou-se então o Melhoramento 4.0, que teve na transgenia o maior esforço inicial. Em paralelo à transgenia, veio a busca por marcadores moleculares, bastante potencializada com o advento da seleção genômica e, mais recentemente, da edição gênica.

A transgenia é uma técnica de melhoramento genético em que genes exógenos (ou da própria planta) são introduzidos (ou superexpressados) no DNA da planta e a planta passa a expressar as proteínas codificadas por esses genes introduzidos/superexpressados na planta, conferindo-lhe características que antes não existiam. O exemplo de maior sucesso no mercado são os genes Bt, que conferem à planta a resistência ao ataque de insetos da ordem das Lepidópteras, como a broca comum, broca gigante, elasmo e a lagarta desfolhadora.
As primeiras cultivares transgênicas contendo o gene Bt foram lançadas no mercado a partir do final da década de 2020 (CTC 20Bt, CTC9001Bt, entre outras). A expectativa é que essa tecnologia seja adotada por todos os programas de melhoramento no Brasil e que nos próximos 10 anos tenhamos cultivares geneticamente modificadas no mercado conferindo resistência a insetos, não somente à broca, mas também ao bicudo da cana (Sphenophorus levis), principal praga da cana-de-açúcar na atualidade, e a herbicidas, como, por exemplo, o glifosato. Contudo, a transgenia em cana-de-açúcar tem o potencial de ir muito além. Como exemplo de mais aplicações possíveis na área da transgenia, relaciono dois projetos que estamos trabalhando na Nuseed/Nufarm. Um deles é um projeto conjunto com o Centro de Cana do IAC, no âmbito do projeto NPOP, liderado pela Dra. Silvana Creste, que busca aumentar a expressão de genes que já existem na cana, mas com pouca expressão. Resultados em campo mostraram um aumento de produtividade entre 15% e 30% dos eventos transgênicos quando comparado a cultivar não transgênica. É claro que, nesse caso, o que foi observado foi que a cultivar transgênica teve uma maior eficiência no uso da água no solo e na planta que levou a uma menor redução na produtividade potencial. Um outro exemplo de aplicação da transgenia em cana é o projeto que iniciamos em 2024, também em parceria com o Centro de Cana do IAC e outros centros de pesquisa fora do Brasil, que tem como objetivo no médio/longo prazo ter a cana como fonte de matéria-prima para a produção de óleo, além do açúcar e do etanol já existentes. As tecnologias de construção gênica também evoluíram de forma que hoje é possível “piramidarmos” em uma única construção genes de tolerância à seca, de resistência a pragas (broca e bicudo) e de tolerância a herbicidas (já pensou?). E ainda podemos utilizar essa cultivar transgênica como parental no programa de melhoramento e selecionar novas cultivares com as características do transgênico parental.
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Os marcadores moleculares, objeto de desejo dos melhoristas em geral, evoluíram muito nesta última década com o advento da seleção genômica e estão finalmente sendo aplicados de forma regular em alguns dos nossos programas de melhoramento. Seu potencial é enorme, pois nos permite ser muito mais assertivo tanto na seleção dos parentais na ocasião dos cruzamentos, quanto na seleção precoce dos clones promissores permitindo uma redução significativa no tempo de seleção clonal de uma nova cultivar.
Historicamente, o ganho genético anual e linear das nossas cultivares está na ordem de 2% ao ano, o que significa que, para um aumento 20% no potencial produtivo, precisamos de 10 anos de pesquisa. A correta utilização dos marcadores moleculares tem o potencial para duplicar ou até triplicar esse ganho genético, o que corresponde a um potencial de ganho de 40% a 60% em 10 anos de pesquisa.
Por último, e mais recente, temos a ferramenta da edição gênica ou edição genômica que promete revolucionar os programas de melhoramento genético de plantas e animais. Hoje, a edição gênica já é uma realidade no melhoramento genético de microrganismos. Através da edição gênica será possível ativar, silenciar e modificar o DNA alterando as proteínas que serão produzidas quando da sua transcrição.
O pesquisador Dr. Hugo Molinari, da Embrapa, obteve a primeira planta editada de cana no Brasil em 2021. Para validar a tecnologia, ele alterou o DNA da planta sem a inclusão de DNA exógeno, o que provocou o silenciamento do gene, levando à não produção da proteína correspondente durante a transcrição. Um ponto positivo para essa tecnologia é que ela não inclui DNA exógeno na planta e, portanto, a planta obtida não é considerada como transgênica.
Os usos são infinitos. Em tese, é possível ligar e desligar genes simples num primeiro momento e, na medida que o conhecimento evolui, será possível trabalhar para aumentar/diminuir a expressão de rotas metabólicas inteiras como teor de açúcar, produtividade, resistência a seca, a pragas, doenças e por aí vai.
Gostaria de deixar a mensagem de otimismo da contribuição presente e futura dos programas de melhoramento de cana-de-açúcar para com nosso setor. Num momento de custos altos e preços baixos e de aumento na competição por outras matérias-primas, é fundamental que sempre utilizemos as novas cultivares de cana-de-açúcar em plantio comercial. Elas sempre terão o maior potencial produtivo e a maior adaptabilidade ambiental e, certamente, trarão o maior retorno econômico com a maior sustentabilidade.
Indústria 4.0
A Indústria 4.0 avança com vigor no setor sucroenergético, impulsionada pela necessidade de eficiência, integração e uso inteligente dos dados. Mais que uma revolução tecnológica, trata-se de uma transformação cultural que conecta máquinas, pessoas e decisões em tempo real — redefinindo a forma como as usinas operam e se relacionam com o campo.
O desafio da conectividade no campo: Historicamente, o campo sempre representou o elo mais desafiador da cadeia de conectividade. Nos últimos anos, porém, o cenário vem se transformando. A chegada da internet às máquinas agrícolas permitiu avanços expressivos em telemetria, automação e rastreabilidade. Ainda assim, a conectividade rural segue como gargalo, sobretudo em regiões afastadas. Acredito que o campo tenha avançado mais rapidamente na adoção da Indústria 4.0 justamente por partir de uma base mais defasada — mas ainda há longo caminho até que a informação flua com a velocidade exigida pelo processo industrial.

Como apontam Michel-Horta e Giraud-Herrera (2025), a agroindústria da cana-de-açúcar ainda se encontra em estágios iniciais de maturidade digital. Entre as soluções mais promissoras estão os sistemas automatizados de irrigação e os pivôs conectados, que reduzem o impacto das variações climáticas e elevam a produtividade de forma sustentável. Solidificar a conectividade no campo, portanto, é condição indispensável para a consolidação da digitalização. Molin (2024) ressalta que as tecnologias voltadas à mecanização da cana ainda enfrentam restrições de conectividade, cultura e escala.
Integração entre o campo e a indústria: Um dos pilares centrais da Indústria 4.0 é a integração efetiva entre as áreas agrícola e industrial. Quando o fluxo de dados é contínuo, a usina pode se antecipar: conhecer previamente o tipo de cana que será colhida, ajustar as receitas industriais e planejar o processamento com maior precisão.
É essencial que a indústria saiba o que virá do campo antes que o caminhão chegue. Essa sincronia evita perdas de tempo, eleva o rendimento e reduz custos operacionais.
Dados, memória e inteligência industrial: A gestão inteligente dos dados é o coração dessa transformação. A análise e o cruzamento de informações históricas permitem decisões operacionais e estratégicas muito mais assertivas.
O setor sucroenergético brasileiro tem potencial para se tornar referência mundial, desde que consiga unificar suas forças. "
Alexandre de Paula Menezes
Diretor Industrial da Pedra Agroindustrial
Temos hoje um acervo valioso de dados que, muitas vezes, é subutilizado. Problemas já solucionados no passado retornam simplesmente por falta de registro. Essa “memória industrial” é um ativo estratégico: evita reincidência de falhas, aprimora o planejamento e assegura a continuidade dos aprendizados.
Análise histórica inteligente: Muitos problemas atuais, que acontecem dentro da área industrial, já aconteceram no passado e foram corrigidos através do uso de novas tecnologias e novos materiais, e, mesmo assim, às vezes eles voltam a acontecer — muito devido à dificuldade de rastreabilidade e cruzamento dessas informações históricas. A ausência dessa memória analítica nos faz desperdiçar tempo, recursos e conhecimento.
Desafios e condicionantes da transformação digital: Apesar dos avanços, a jornada da digitalização ainda enfrenta obstáculos relevantes. Identifico quatro pilares críticos: infraestrutura, investimento, cultura e mensuração de resultados. Em um cenário de margens comprimidas e preços voláteis, justificar investimentos em tecnologia exige clareza quanto ao retorno. Mesmo que a produção cresça, a rentabilidade pode não acompanhar. A tecnologia, portanto, deixou de ser uma opção para se tornar condição de sobrevivência competitiva.
Além disso, é imprescindível desenvolver uma nova relação das equipes com os dados — aprender a interpretá-los e transformá-los em decisões práticas. O treinamento e a capacitação assumem papel estratégico nesse processo, preparando profissionais para atuar em ambientes altamente digitalizados e analíticos.
O futuro da integração total: Visualizo o futuro da Indústria 4.0 no setor sucroenergético como uma integração total entre dados agrícolas e industriais — uma “usina única”, com decisões em tempo real e fluxos de informação contínuos. Podemos observar um paralelo com a indústria do etanol de milho, que
NÍVEL DE PRONTIDÃO PARA A INDÚSTRIA 4.0
ESTIMATIVA 2024

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opera com maior previsibilidade devido à padronização e ao armazenamento do insumo. O milho pode ser estocado, analisado e processado sob controle rigoroso. Já a cana, por sua natureza perecível e dependente do clima, exige inteligência de dados ainda mais refinada para alcançar o mesmo grau de previsibilidade. As condições climáticas continuam sendo o principal obstáculo à plena digitalização, demandando modelos preditivos capazes de incorporar variáveis como chuva, temperatura e umidade — ainda de difícil antecipação com precisão satisfatória.
Uma reflexão sobre os dados e o olhar de campo: É preciso, contudo, adotar uma postura crítica diante dos dados. Olhar para o passado ajuda a prever o futuro, mas não deve aprisionar a tomada de decisão. O campo muda, o clima muda — e os dados do passado nem sempre revelam toda a verdade. As informações mais valiosas ainda estão no campo, não no escritório. Permanecer próximo da operação, observar o comportamento da cana e dos equipamentos e compreender a realidade in loco continua sendo insubstituível.
Panorama global e posição do Brasil: Em perspectiva global, o setor sucroenergético brasileiro encontra-se em fase de aceleração digital, mas ainda distante da liderança. Com base no estudo do World Economic Forum, o País apresenta nível de prontidão inferior ao da Alemanha e ao da China, embora superior à média dos países de renda média-alta. O Brasil, portanto, avança de forma consistente, mas precisa intensificar sua capacidade de integração e inovação para ocupar posição de vanguarda.
Concluo, finalmente, que a Indústria 4.0 vai muito além de sensores, algoritmos e máquinas conectadas — trata-se de inteligência aplicada ao processo produtivo e da integração harmônica entre pessoas, tecnologia e natureza. O setor sucroenergético brasileiro tem potencial para se tornar referência mundial, desde que consiga unificar suas forças: o conhecimento empírico do campo, a precisão da indústria e a inteligência dos dados. Esse é o verdadeiro desafio — e também a grande oportunidade — da transformação digital que se desenha diante de nós.
Para começar, é bom ressaltar que dificilmente extraímos o máximo das variedades de cana, porém podemos obter muito mais delas, desde que saibamos manejar os fatores que afetam as suas produtividades. Então, vem a pergunta: o que fazer para extrair o máximo do potencial das variedades de cana-de-açúcar?
Para responder a esta questão, deve-se lembrar que a variedade de cana é apenas um dos componentes do sistema produtivo e que é muito comum não apresentar o mesmo desempenho observado nos experimentos conduzidos pelas instituições de pesquisas.
São diversos os motivos que afetam esse comportamento. Em primeiro lugar, destaque-se que as variedades são seres vivos e que não duram para sempre. De acordo com os dados históricos do setor, elas têm prazo de validade em média de 8 a 10 anos de uso. Depois desse tempo, é como se ocorresse uma incompatibilidade com o ambiente em que ela é cultivada (solo, clima, microrganismos do solo, doenças diversas, nematoides, mecanização etc.).
Quando submetidas a condições mais agressivas de produção e a uma expansão por diferentes ambientes de produção, começam a se acentuar seus “defeitos” e apresentar visível declínio. Isto já aconteceu com importantes variedades como a NA56-79, SP70-1143, RB72 454, SP71-6163, SP71-1406, RB85 5156, RB86 7515 e, no momento, está acontecendo com a RB86 6928.
Converse com a cana, pergunte, olhando para ela, o que está precisando ou o que está faltando e corra para fornecer. E depois de tudo disso, caro leitor, me conte o que foi que você descobriu? "
Dib Nunes Jr CEO do Grupo IDEA
Apesar da frequente renovação varietal, se nota que tanto as produtividades agrícolas como o teor médio de sacarose das variedades não têm apresentado uma melhoria substancial nos últimos anos. As médias agrícolas no Centro-sul, onde se cultiva 90% da cana do Brasil, estão girando ao redor de 75 toneladas por hectare, e o teor de sacarose raramente ultrapassa a média de 136 Kg de ATR por tonelada de cana, valores esses que estão estagnados e são totalmente dependentes das condições climáticas.
É importante ressaltar que são muitos os fatores interferentes que contribuíram para derrubar as médias que, há 15 anos, eram bem melhores. Dentre os principais fatores que afetam o desempenho das variedades, está a colheita mecanizada em lavouras não sistematizadas, sulcação sem paralelismo e muito declivosas, onde o arranquio e abalo de touceiras na linha de cana aumentam as falhas e reduzem a população de colmos. Da mesma forma, o plantio mecanizado apressado e sem qualidade deixa muitas falhas no stand dos canaviais.


Cada 1% de falhas correspondem a uma perda de 0,8t/ha de cana em um canavial de 85t/ha. São também supressores de produtividade das variedades os solos mal preparados, sem a devida correção em profundidade, tratos culturais insuficientes ou aplicados longe das exigências mínimas da cultura.
Tudo isso agravado por: outras operações agrícolas durante os tratos culturais; altas infestações de plantas daninhas que roubam, no mínimo, 5% da produtividade na grande maioria dos produtores; pragas e infecções por doenças foliares e o ataque oculto de nematoides às raízes que reduzem a capacidade de absorção de água e nutrientes, além dos canaviais esgotados com muitos cortes.
O plantio de variedades em ambientes de produção incompatíveis com as exigências varietais e a falta de planejamento para alocação correta de variedades nos blocos de colheita podem derrubar as produtividades. Por outro lado, aqueles cultivares colhidos fora da sua melhor época perdem produtividade e ATR. Ainda podem sofrer interferência de florescimento, isoporização, tombamento excessivo e doenças como a murcha ou a ferrugem alaranjada e causar perdas significativas de produtividade.
Muitas empresas, ao escolher uma variedade para plantio, não levam em conta importantes características varietais como: velocidade de crescimento e sua relação com a época em que o bloco será colhido. No Centro-sul do Brasil, variedades de crescimento lento não devem ser colhidas a partir da segunda quinzena de setembro. Frequentemente, muitas dessas características são negligenciadas ou esquecidas pelo gestor que planeja a formação do canavial. Ao planejar o plantio, um dos segredos do sucesso na escolha das variedades está relacionado com as condições em que será realizada a colheita. Hoje em dia, o que se vê são gestores que, ao escolher a variedade para plantio, se utilizam exclusivamente da tabelinha da Exigência em Ambientes de Produção versus Período Indicado à Melhor Maturação. Essas informações são importantíssimas, porém, para maximizar os resultados, é preciso ir mais além.
Um problema que mascara as informações sobre a performance das variedades são as avaliações muito genéricas e subjetivas e, o pior, na maioria das vezes, sem precisão, pois são médias de médias, uma verdadeira mistura de cachorros com porcos, ou seja, uma
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mistura de tudo: ambientes de produção, estágios de corte, áreas com e sem resíduos, áreas com e sem irrigação, áreas com alto índice de falhas, áreas com pragas etc. Quando não há histórico dos problemas e virtudes das áreas e nem do potencial de produtividade desses ambientes, esses erros se sucedem. Já observamos que nem mesmo os tratos culturais aplicados são considerados na análise e passam por cima de inúmeros outros fatores de produção.
Por exemplo: uma variedade que floresce pode apresentar perdas da ordem de 30% em peso rapidamente quando colhida a partir de agosto. Como evitar que isso aconteça? Ao se escolher uma variedade com possibilidades de florescimento, basta analisar se esta característica é compatível com a data programada de colheita do respectivo bloco.
Uma rigorosa avaliação das performances das variedades precisa ser realizada frequentemente, considerando a TCH, ATR, TAH e as suas Margens de Contribuição.
Enfim, tomem muito cuidado com as comparações que já vêm prontas e com as médias das médias. Montem seus próprios sistemas de avaliação, com o máximo rigor possível, porque, sem boas informações, podemos estar alavancando a expansão de uma variedade ruim e perdendo preciosas informações de outras bem mais lucrativas.
Hoje, muito se fala em práticas regenerativas dos ambientes de produção, uso de bioinsumos, hormônios, aminoácidos, produtos estimulantes de metabolismo, micronutrientes, etc. O uso de matéria orgânica e de resíduos industriais e o aumento do uso de corretivos de solo podem contribuir para melhorar as performances das variedades. Tudo isso, por enquanto, está sendo utilizado em suplementação ao tradicional NPK mais corretivos, em benefício das variedades.
Nenhuma variedade vai produzir bem se estiver pisoteada, falhada, sem proteção contra pragas, doenças e plantas daninhas, sem nutrição adequada, mal alocada e colhida em época errada. Converse com a cana, pergunte, olhando para ela, o que está precisando ou o que está faltando e corra para fornecer. E depois de tudo disso, caro leitor, me conte o que foi que você descobriu?
Como se vê, as variedades sozinhas não fazem milagres, é preciso lhes dar todas as condições ideais de desenvolvimento para se extrair o máximo de suas potencialidades.
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O agronegócio brasileiro sempre foi marcado por sua capacidade de se reinventar e responder com agilidade aos desafios impostos pela natureza, pelo mercado e pela sociedade. Ao longo das últimas cinco décadas, o País se tornou referência mundial na produção de alimentos, fibras e energia renovável, sobretudo pela ciência aplicada ao campo, que viabilizou a tropicalização de cultivos, o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo e o melhoramento genético vegetal e animal.
Entretanto, o que se observa no presente é uma mudança de escala: se antes as inovações demandavam anos, até décadas, para chegar ao mercado, hoje a velocidade das implantações é fator estratégico para a competitividade e para a sustentabilidade da produção.
No centro dessas transformações, a pesquisa científica tem atuado na construção de sementes cada vez mais resilientes, capazes de enfrentar estresses hídricos, pragas e doenças com maior eficiência. O objetivo é duplo: ampliar o potencial produtivo e, ao mesmo tempo, aumentar o valor nutricional, sobretudo proteico, dos alimentos.

Em um mundo onde a demanda por proteínas cresce de forma acelerada, atender a esse desafio é fundamental para garantir segurança alimentar global. O Brasil, como potência agrícola, tem o compromisso de continuar avançando nesse campo, não apenas para manter sua liderança, mas também para contribuir de forma responsável com a alimentação mundial.
Contudo, há um ponto que não pode ser negligenciado: a democratização dessas inovações. Não basta que sementes mais eficientes e produtivas fiquem restritas às grandes propriedades, com maior acesso a recursos tecnológicos e financeiros. A base da produção nacional está nas mãos de milhões de pequenos e médios produtores, homens e mulheres que sustentam o abastecimento interno, garantem diversidade produtiva e movimentam economias locais. São eles que, em larga medida, formam a matriz produtiva do Brasil. Sem incluir esse público no acesso às inovações, cria-se um hiato que compromete tanto a competitividade do setor quanto o equilíbrio social no campo.
O desafio, portanto, é acelerar o ciclo de transferência de tecnologia da pesquisa para a prática cotidiana dos pequenos agricultores.

a construção de ecossistemas de inovação é fundamental para que a tecnologia não fique restrita aos laboratórios ou incubadoras, mas chegue rapidamente às mãos de quem planta e colhe. "
Tirso Meirelles
Presidente do Sistema Faesp/Senar
Isso envolve desde políticas públicas que facilitem o acesso a sementes melhoradas e insumos até programas de capacitação, assistência técnica e extensão rural que ajudem na correta utilização das ferramentas. A inovação não pode ser apenas científica; precisa ser acompanhada de inovação em governança, modelos de financiamento e estratégias de disseminação do conhecimento.
Nesse cenário, as startups do agro, conhecidas como agtechs, ganham protagonismo. Essas empresas emergentes têm desenvolvido soluções tecnológicas escaláveis e acessíveis, pensadas justamente para quebrar as barreiras tradicionais da adoção tecnológica. Sensores de baixo custo, aplicativos de gestão da propriedade, plataformas de rastreabilidade, soluções de irrigação inteligente e bioinsumos adaptados às condições locais são alguns exemplos de como a criatividade empreendedora vem se traduzindo em instrumentos de democratização da inovação. Diferentemente de modelos tradicionais, em que o custo inicial e a complexidade técnica eram impeditivos, as startups têm-se dedicado a oferecer alternativas que qualquer produtor possa utilizar, independentemente do porte da propriedade.
A velocidade das implantações passa, assim, a depender de uma engrenagem tripla: ciência, mercado e inclusão. A ciência gera conhecimento e soluções disruptivas, o mercado estabelece escalabilidade e eficiência econômica, e a inclusão garante que tais soluções cumpram sua função social e ambiental. É nessa convergência que o agro brasileiro tem condições de alcançar um novo patamar, mais competitivo e sustentável.
Um aspecto relevante é que a inovação no agro não ocorre de forma linear, mas em rede. Universidades, centros de pesquisa, cooperativas, associações de produtores e empresas precisam atuar em sinergia para acelerar o tempo de maturação das tecnologias. O caso dos corredores de inovação agropecuária, iniciativas que aproximam ciência, empreendedorismo e campo, mostra que a construção de ecossistemas de inovação é fundamental para que a tecnologia não fique restrita aos laboratórios ou incubadoras, mas chegue rapidamente às mãos de quem planta e colhe.
Em São Paulo, numa iniciativa da Embrapa, com forte apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), foi criado um corredor que conecta São José
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dos Campos a Ribeirão Preto, incluindo institutos, universidades e centros de pesquisas de Campinas, São Carlos e Piracicaba. E, dentro dessa proposta de fomentar as inovações, estão sendo construídos pelo Senar oito centros de excelência: Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em Ribeirão Preto; Inteligência Artificial e Turismo Rural, em São Roque; Agricultura Familiar, no Mirante do Paranapanema; Irrigação, em Jaguariúna; Agroindústria, em Avaré; Cacau e Banana, em Miracatu, no Vale do Ribeira; Cacau e Seringueira e de Genética Bovina, em São José do Rio Preto; e de Agricultura Urbana, na capital.
Vale lembrar que a velocidade de adoção tecnológica também está ligada a fatores culturais. Muitos pequenos produtores ainda têm receio de mudar práticas tradicionais ou enxergam a inovação como algo distante da sua realidade. Nesse sentido, é preciso fortalecer programas de educação e capacitação que mostrem, na prática, como o uso de sementes mais produtivas ou o acesso a plataformas digitais pode significar maior rentabilidade, menor desperdício e maior segurança contra riscos climáticos.
No futuro próximo, o ritmo de implantação de inovações tende a ser ainda mais acelerado, impulsionado pela inteligência artificial, pela biotecnologia avançada e pela agricultura de precisão em larga escala. Mas o êxito desse processo não será medido apenas pela capacidade de gerar soluções tecnológicas, e sim pela capacidade de torná-las inclusivas. Em outras palavras, o avanço do agro brasileiro dependerá menos da inovação em si e mais da velocidade com que essa inovação se torna acessível e aplicável a todos os produtores.
Dessa forma, o Brasil poderá consolidar sua posição como potência agroambiental global, não apenas por volume de produção, mas pela capacidade de produzir de forma sustentável, inovadora e inclusiva. A velocidade das implantações das inovações será, nesse sentido, o diferencial competitivo que separará países que lideram a revolução agroalimentar daqueles que permanecem na retaguarda. No caso brasileiro, a combinação de ciência de ponta, startups visionárias e inclusão dos pequenos produtores tem todos os elementos para transformar o campo em um laboratório vivo de inovação com resultados concretos para a economia, para o meio ambiente e para a sociedade.

Quando em 1892 nos EUA, John Froelich, usando de vários conhecimentos da época, tendências e tecnologias de diversos profissionais, construiu o primeiro trator movido a combustão interna, talvez não imaginasse como seria intenso o uso desta máquina em várias atividades, principalmente na agricultura.
O trator é sem dúvida a base da mecanização, e sua evolução permitiu, entre outros benefícios, o aumento da produtividade e, consequentemente, uma agricultura mais eficiente e lucrativa.

É inadmissível atualmente pensar em produzir alimentos e trabalhar no campo com qualquer lavoura sem o uso intenso de tratores, plantadoras, colheitadeiras e equipamentos agrícolas para todas as operações e etapas da lavoura.
A agricultura canavieira com plena mecanização – cuja origem do termo vem do grego mekhane , que significa máquina, dispositivo ou artifício – envolve o uso intenso de máquinas desde o preparo de solo até a entrega da cana na indústria.
A intensidade na utilização da mecanização alterou positivamente a agricultura canavieira, que por décadas teve forte uso da mão de obra e foi alvo de muitas críticas por órgãos oficiais e entidades, que pouco conheciam o setor, suas dificuldades e, principalmente, a falta de equipamentos para substituição desta mão de obra nas diversas atividades produtivas.

O uso da mecanização em todas as fases da cultura canavieira visa aumentar a produtividade, os rendimentos operacionais, a qualidade dos trabalhos e da matéria-prima e o conforto dos trabalhadores.
A mecanização na cana-de-açúcar representa em média 70% dos custos de produção, quando calculamos todos os itens que a envolvem. Não podemos tratar esta atividade com pouco conhecimento ou amadorismo. "
Luiz Carlos Dalben
Presidente da Agrícola Rio Claro
Somamos a estes itens o custo de produção, que é sem dúvida o alicerce para a sustentabilidade da atividade.
Não menos importante, a constante modernização nas atuais máquinas do campo contribui para a conservação dos bens naturais, como solo e água, e para a mitigação da emissão de gases efeito estufa e outros poluentes. Na última década, com o avanço tecnológico nos equipamentos e sua plena de utilização, vimos o aumento da eficiência e da escala de produção.
O modelo que o setor sucroenergético busca atualmente é o de obter o máximo de produção por hectare, com menores custos, trabalhando as principais ações e características como: alta tecnologia nos equipamentos, uso de inteligência artificial, robotização, GPS, sensores e análises on-line entre outros. Um dos impactos positivos do uso intenso da mecanização é a redução de mão de obra, que sempre representou o maior custo na cadeia produtiva da cana-de-açúcar.
Equipamentos e operações específicas apresentam um melhor uso e aproveitamento dos insumos aplicados nas fases de plantio e tratos culturais. Plantios mais qualificados com redução de custos, otimização de mudas e menor número de horas trabalhadas de máquinas estão presentes e avançando cada vez mais.
O sistema colheita talvez seja uma das pérolas, que chegou para atender às muitas exigências técnicas e operacionais, apresentando atualmente colhedoras e transbordos de altíssima qualidade e com resultados amplamente positivos, quando os usuários fazem um correto planejamento da lavoura e a operação dentro das técnicas exigidas pelas máquinas, lavoura e solo.
Técnicos e gestores do setor sabem muito bem quanto custa cada equipamento e o valor do CAPEX para montar as equipes operacionais para atender às necessidades das atividades da lavoura canavieira. Buscar a melhor seleção de equipamento para cada operação de acordo com as características e logística locais é fundamental para ganhar eficiência e reduzir custos de produção.
Com toda implantação tecnológica atual, há necessidade de qualificação da mão da obra operacional e de gestão do campo para o melhor aproveitamento das qualificações apresentadas pelo mercado.


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O mau uso da mecanização traz consequências desastrosas para a produção, como pisoteio, compactação dos solos, perdas de matéria-prima, desperdícios de insumos por aplicação inadequada ou regulagens incorretas, além de má formação e condução da lavoura.
Sem dúvida, a mecanização incorporou maiores produtividades, qualidade nos produtos, menor impacto ambiental, facilidades e conforto aos empresários e trabalhadores. No setor sucroenergético, o uso intenso da mecanização teve um salto após anos de espera por equipamentos que atendessem melhor a toda a cadeia, mas destacamos dois importantes segmentos: a colheita e plantio mecanizado.
Atualmente, do plantio à colheita praticamente não há mais espaço para o trabalho braçal, a mão de obra passou a estar ligada à operação dos equipamentos e de maneira qualificada. Máquinas e equipamentos com mais tecnologia embarcada, maiores dimensões, buscando otimização, rendimento e redução de custos estão presentes em nosso dia a dia.
A mecanização na cana-de-açúcar representa em média 70% dos custos de produção, quando calculamos todos os itens que a envolvem. Não podemos tratar esta atividade com pouco conhecimento ou amadorismo, assim como a manutenção automotiva que está intimamente ligada às máquinas e que visa manter os equipamentos sempre em boas condições operacionais e prolongar a vida útil com custos satisfatórios.


O planejamento da manutenção automotiva, alicerçado em análises, controles eficientes, programas de manutenção que atendam às necessidades, gestores e mecânicos qualificados e comprometidos, faz parte de sucesso ou fracasso do sistema. Sem dúvida, a mecanização em qualquer cultura traz resultados, segurança alimentar e sustentabilidade à sociedade e aos usuários diretos.
Esta placa usada como adereço representa a chegada, em 1532, de Martin Afonso de Souza nas primeiras viagens de cana-de-açúcar a São Vicente-SP, e em 2014, quando a legislação do estado de São Paulo proibiu a queima da palhada da cana e praticamente eliminou o corte manual da cana-de-açúcar. A estrela do lado esquerdo representa o nascimento, e o sol à direita uma luz que brilhou e viabilizou a mecanização da colheita mecanizada.
A produção de cana-de-açúcar no Brasil vivencia um momento de transição marcado por desafios e oportunidades. Desde os avanços tecnológicos e mudanças nos paradigmas produtivos até as dificuldades financeiras, cada elo desta cadeia desempenha um papel crucial na superação da crise atual. Grandes grupos e pequenos produtores, diante de um mercado cada vez mais competitivo e globalizado, são pressionados a evoluir para garantir a sustentabilidade e a viabilidade do setor.
Ao longo de mais de 20 anos, o setor passou de práticas rudimentares, como o corte manual da cana queimada, para colheitas mecanizadas e, mais recentemente, para a automação e uso de sistemas de inteligência artificial. No entanto, apesar dessas inovações, muitos pequenos produtores, que sustentam parte da produção nacional, enfrentam dificuldades em implementar essas mudanças de forma plena. Com isso, tornam-se vulneráveis à dinâmica do mercado global.

A competitividade crescente do etanol de milho, com grupos atingindo o primeiro e o terceiro lugares na produção nacional, acentuou essa pressão, mas também abriu espaço para que o setor sucroenergético brasileiro busque novas soluções em produtividade, sustentabilidade e eficiência. Este artigo explora as principais estratégias para a valorização da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, abordando desde inovação tecnológica até questões de gestão e regulamentação.
Desenvolvimento de variedades mais resilientes: A base de qualquer desenvolvimento sustentável na produção de cana-de-açúcar está no melhoramento genético. O desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a pragas, doenças e situações climáticas extremas, como secas prolongadas, é fundamental para aumentar a produtividade. Pesquisas realizadas por instituições como a Embrapa e o CTC e diversas universidades brasileiras têm apresentado avanços significativos nesse campo, possibilitando elevações de até 30% na produtividade em determinadas regiões.
Além das variedades tradicionais, a diversificação de cultivares adaptadas a diferentes condições edafoclimáticas diminui os riscos associados à monocultura. Aliado a isso, tecnologias de biotecnologia têm o potencial de agregar características específicas às variedades, ampliando sua resiliência e reduzindo custos relacionados ao uso de insumos químicos.
Produtores, usinas, fornecedores e suas associações precisam caminhar juntos, integrando tecnologias avançadas, promovendo práticas sustentáveis e estabelecendo modelos com foco no resultado financeiro de toda a cadeia produtiva "
Nelson Antunes Junior Diretor da GV Agro
Para os pequenos produtores, que frequentemente possuem menor margem de adaptação, a adoção gradual dessas variedades pode ser uma saída viável para otimizar os resultados agrícolas e garantir maior estabilidade frente às incertezas climáticas.
Mecanização e processos otimizados: Outro pilar indispensável da competitividade do setor é o avanço da mecanização. Ferramentas como tratores inteligentes, sensores de precisão, drones e máquinas de plantio e colheita automatizadas vêm permitindo aos produtores maior eficiência operacional, economia de recursos e precisão nas aplicações, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
Avanços como esses minimizam os tempos de execução de tarefas e ajudam na redução de custos diretos e indiretos. Entretanto, para os pequenos produtores, o alto custo inicial da mecanização pode ser uma barreira. Soluções como condomínios para compartilhamento de máquinas ou subsídios governamentais poderiam reduzir esse gargalo e democratizar a adoção dessas tecnologias.
Sustentabilidade e controle de custos: Uma variável-chave para os produtores é o custo de produção, especialmente diante da alta volatilidade de preços dos insumos agrícolas. A gestão detalhada e o controle preciso de cada etapa do processo produtivo são indispensáveis. Aquelas propriedades que conseguem implementar práticas agroecológicas, como o manejo integrado de pragas (MIP), o uso de bioinsumos e a economia circular – que reaproveita resíduos como o bagaço e a vinhaça para geração de bioenergia – têm obtido vantagens significativas em competitividade.
Novas fronteiras energéticas: A diversificação de fontes energéticas está no horizonte da competitividade brasileira. Além da cana-de-açúcar, biomassas não convencionais, como resíduos agrícolas e orgânicos, oferecem alternativas para reduzir custos e abrir novos nichos de mercado.
A produção de biocombustíveis avançados, como o etanol 2G e o biodiesel, representa uma possibilidade de atender às demandas de mercados internacionais por soluções sustentáveis e de baixa emissão de carbono.
Resiliência agrícola:
O crescente uso de bioinsumos na agricultura consolidou-se como uma das grandes inovações do setor. Produtos como bioestimulantes e bioinoculantes aumentam a eficiência no uso de nutrientes e melhoram a resistência das plantas a adversidades.
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Ainda, biofertilizantes desenvolvidos com base em microrganismos otimizados têm elevado a produtividade em sistemas integrados. Essas práticas, além de ambientalmente positivas, são economicamente viáveis no médio prazo, reduzindo significativamente a dependência de produtos químicos tradicionais.
Gestão avançada: Na era da transformação digital, a modernização da cadeia produtiva é decisiva para a consolidação de qualquer negócio. Ferramentas de informação e plataformas integradas de gestão, como sistemas ERP com inteligência artificial, oferecem aos produtores a capacidade de monitorar todas as etapas do processo produtivo em tempo real.
A qualidade e a veracidade das informações imputadas, bem como a velocidade com que a informação é processada, serão fundamentais para que os sistemas com Inteligência Artificial interpretem os dados, transformando esses dados em relatórios operacionais e enviando esses relatórios operacionais aos gestores para que os mesmos procedam às correções necessárias em tempo real, gerando aumento na qualidade e redução dos custos.
A análise inteligente dos dados permite não apenas a otimização da produtividade, mas também um controle eficiente de custos, o que é essencial para mitigar riscos e maximizar os lucros.
Conclusão: O setor sucroenergético brasileiro, embora construa sua história sobre os pilares na resiliência de seus produtores e transformações tecnológicas profundas, enfrenta uma encruzilhada. A concorrência global, combinada aos desafios impostos por crises econômicas e climáticas, requer um reposicionamento estratégico urgente.
Produtores de cana-de-açúcar, usinas e fornecedores e as suas associações precisam caminhar juntos, integrando tecnologias avançadas, promovendo práticas sustentáveis e estabelecendo modelos de negócios com foco no resultado financeiro de toda a cadeia produtiva. A iniciativa conjunta, com o apoio de políticas públicas inteligentes e investimentos contínuos em produção de fertilizantes, de biotecnologia e mecanização, será o diferencial para garantir a competitividade do setor.
Embora oscilações de mercado sejam inevitáveis, o setor precisa consolidar um modelo com uma visão colaborativa, fundamentada na gestão eficiente e na inovação. Assim, o setor sucroenergético nacional continuará a desempenhar seu papel estratégico no desenvolvimento econômico do Brasil e na construção de soluções energéticas globais sustentáveis.
A irrigação da cana-de-açúcar no Brasil passou, nas últimas décadas, por uma transformação profunda. De uma prática pontual, restrita a alguns nichos, tornou-se um componente estratégico na gestão agrícola, na competitividade e até mesmo na sustentação das usinas. Hoje, irrigar não é mais apenas repor água: é garantir estabilidade produtiva, eficiência no uso de recursos e previsibilidade de safra.
As principais tecnologias de irrigação aplicadas na cultura de cana-de-açúcar são:
Irrigação de salvamento: Irrigação feita após o plantio da cana, com o objetivo de garantir a brotação da muda em condições de longo período sem chuva. Muito comum também na soqueira para garantir boa brotação após o corte;
Irrigação no período crítico: Irrigação feita com diferentes lâminas nas épocas mais críticas do desenvolvimento, para atenuar os

déficits hídricos nas regiões nos quais os mesmos são mais acentuados;
Irrigação suplementar: Irrigação feita ao longo de todo o ciclo, repondo total ou parcialmente a deficiência hídrica proporcionada pela falta ou insuficiência de chuva.
Quanto aos métodos de irrigação podem ser utilizados os mais diversos, desde a aspersão até a irrigação por gotejamento subsuperficial.
Em termos de evolução dos equipamentos, o Brasil detém o que há de mais moderno, tanto carreteis para irrigação de salvamento, quanto pivôs centrais, lineares e gotejamento para a irrigação suplementar. As principais multinacionais, fabricantes destes equipamentos, têm fábricas no Brasil, e toda evolução tecnológica está presente aqui.
Os principais benefícios da irrigação são: aumento da produtividade e da longevidade das soqueiras. Destacam-se também os benefícios indiretos relacionados às reduções de custos no processo produtivo, proporcionados pelo aumento da produtividade.
Durante muito tempo, um número muito utilizado para resposta da cana à irrigação é a relação de 10 mm efetivamente aplicados para um aumento de 1 tonelada de cana. Esta relação é válida para a irrigação de salvamento e irrigação no período crítico, onde a resposta à água é linear.
Em termos de evolução dos equipamentos, o Brasil detém o que se tem de mais moderno, tanto carreteis para irrigação de salvamento, quanto pivôs centrais, lineares e gotejamento para a irrigação suplementar. "
Sergio Antonio Veronez de Sousa Diretor da Veronez Projetos e Consultoria
Nos últimos anos, temos observado uma resposta melhor, com lâminas de 40 mm respondendo por um aumento de 5 a 6 toneladas. Isto pode ser explicado pelas melhorias tecnológicas dos equipamentos e do manejo, o que tem reflexo direto na maior eficiência no uso da água. No caso da irrigação suplementar esta relação linear não ocorre, sendo mais comum o modelo quadrático de resposta à aplicação de água, e a relação de 10 mm por tonelada nem sempre ocorre.
Outro ponto importante, é que a melhor resposta econômica se dá na irrigação suplementar com déficit, ou seja, apenas uma parte da deficiência hídrica é reposta, com este valor variando de 50 a 75%, em função principalmente do local e da variedade.
Um dos fatores primordiais para a resposta econômica da irrigação suplementar é a escolha das variedades. Observamos também uma evolução, com os programas de melhoramento lançando materiais com maior resposta à irrigação. Também estão buscando materiais específicos para uso em áreas irrigadas, ou seja, a irrigação já está fazendo parte da seleção de novos materiais desde o início do processo.
Destaco que para obter a melhor resposta da irrigação, mesmo no caso de irrigação de salvamento, é fundamental fazer o manejo da irrigação, aplicando lâminas em função do balanço hídrico, e não lâminas fixas.
Outra evolução significativa é que a irrigação da cana entrou definitivamente na era digital. Sistemas modernos contam com telemetria, válvulas automáticas, sensores de solo e estações meteorológicas que ajustam as lâminas de irrigação conforme evapotranspiração e umidade real do solo, facilitando o manejo e permitindo respostas à irrigação bem mais eficientes.
Também na irrigação de salvamento observamos uma evolução no monitoramento e automação. A automação nos carretéis irrigadores tem evoluído significativamente, incorporando controladores eletrônicos que regulam automaticamente a velocidade de recolhimento e, portanto, a lâmina aplicada. Esses controladores podem operar de forma manual, semiautomática ou totalmente automática, ajustando o desempenho conforme o tipo de bocal, diâmetro da mangueira e pressão de entrada.
Hoje, já é possível realizar o acionamento remoto das bombas, abertura de válvulas e partida de motores, sincronizando todo o conjunto hidráulico. Isso reduz a necessidade de mão de obra, otimiza o uso de energia e permite a operação coordenada de diversos equipamentos em diferentes talhões.
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Além disso, a automação associada ao georreferenciamento dos pontos de irrigação garante maior precisão na operação. Cada carretel pode ser vinculado a uma posição GPS específica e monitorado por plataformas de gestão agrícola, permitindo a rastreabilidade das lâminas aplicadas e o histórico de irrigação por talhão.
Os desafios ainda existem. A escassez e a variabilidade da disponibilidade hídrica são hoje um dos principais fatores limitantes da expansão da irrigação na cana. Nesse cenário, o desafio é fazer mais com menos, adotando sistemas e manejos que maximizem a eficiência de aplicação e a produtividade por metro cúbico de água.
Outro grande desafio é a disponibilidade de energia. A disponibilidade de energia elétrica tem-se tornado um dos maiores entraves à expansão sustentável dos sistemas irrigados, quando há água disponível e viabilidade agronômica comprovada.
Também a mão de obra qualificada é uma necessidade. A irrigação moderna exige profissionais capazes de interpretar dados de sensores, operar painéis automatizados, ajustar pressões e vazões e compreender os impactos agronômicos do manejo da água.
Os desafios acima criam gargalos que travam a expansão de novos projetos inviabilizando ou aumentado o custo de implantação e operação. A solução passa por uma abordagem de planejamento integrada, que deve ser prevista no Plano Diretor de Irrigação.
O Plano Diretor de Irrigação (PDI) é o instrumento que integra todos esses fatores — água, energia, solo, topografia, mão de obra e tecnologia em uma visão sistêmica do empreendimento. Ele fornece o mapa estratégico de implantação, expansão e modernização da irrigação, estabelecendo prioridades técnicas, orçamentárias e ambientais.
A evolução dos sistemas e equipamentos de irrigação na cana-de-açúcar é um reflexo do avanço da engenharia brasileira. O que se vê é a consolidação de uma agricultura cada vez mais eficiente, sustentável e inteligente.
A irrigação deixou de ser uma medida emergencial e tornou-se um pilar da produtividade e da competitividade do setor sucroenergético, garantindo colheitas estáveis, melhor uso da terra e maior retorno sobre o investimento, fundamental para manutenção do protagonismo da cana-de-açúcar como matéria prima na produção bioenergética.
Os produtos da bioenergia
Entendendo as Bioenergias
Nas últimas décadas, as fontes de energia que utilizam da biomassa, ou também chamadas de bioenergia, têm sido amplamente utilizadas e incentivadas, em vista do seu menor (ou quase nulo) impacto ambiental e por serem altamente sustentáveis. Biomassa refere-se a toda matéria orgânica de origem vegetal ou animal que pode ser utilizada para a produção de energia, tais como resíduos agrícolas, florestais, animais, urbanos (lixos) e outros.
Entre as bioenergias, existem dois grupos, segmentados conforme finalidade: a. os biocombustíveis: utilizados predominantemente como fonte energética para movimentação de veículos (inclui o etanol, biodiesel, biometano, SAF e hidrogênio), e b. as bioeletricidades: destinadas a alimentar áreas urbanas, indústrias, residências e outros setores (biogás e bioeletricidade da biomassa).
De acordo com dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis – Irena, 82% do consumo energético global advém de fontes não renováveis, ou seja, de combustíveis fósseis, enquanto 18% correspondem às fontes renováveis. Entre as renováveis, os tipos predominantes de fontes são: a biomassa (67%), a hidrelétrica (20%), eólica (5%), solar (5%), geotérmica (2%) e outras (1%).
O Brasil se destaca por ter uma matriz energética mais limpa e sustentável do que quando comparado à realidade global e de países desenvolvidos.

O Brasil utiliza 48% de fontes renováveis e 52% de não renováveis. Entre renováveis, a biomassa é a principal fonte (31,3%), seguida da hidrelétrica (27,0%), lenha e carvão vegetal (18,8%) e outras (22,9%). Outro destaque interessante é o fato de entre 5% a 10% de toda a eletricidade do País ser gerada por meio da biomassa da cana-de-açúcar.
Principais Tipos de Bioenergia em Ascenção
Os sete principais tipos de bioenergias geradas por meio de biomassa estão detalhados a seguir, sendo que as cinco primeiras são utilizadas como biocombustíveis e as duas últimas como bioeletricidade. São elas:
1. Etanol: biocombustível mais produzido no mundo, feito por meio do processo de fermentação de matérias-primas vegetais como a cana-de-açúcar, o milho e a beterraba. Calcula-se que atualmente o etanol é capaz de diminuir entre 60% e 70% as emissões de carbono em relação à gasolina.
2. Biodiesel: tem a soja como principal matéria-prima, mas pode também utilizar gordura animal e outros vegetais. Estudos apontam que o biodiesel é capaz de diminuir entre 70% e 90% as emissões de carbono quando comparado ao diesel.
O Brasil é o 2º maior produtor global de biocombustíveis, com 38 bilhões de litros, somando etanol, biodiesel e diesel renovável), atrás apenas dos Estados Unidos. "
Marcos
Fava
Neves e Vinícius Cambaúva
Professores da Harven Agribusiness School
3. Biometano: produzido por meio do processo de digestão anaeróbia da matéria orgânica, o biometano é gerado após um processo de upgrade que purifica o biogás e eleva a sua concentração de metano para mais de 90%. O biometano é um biocombustível capaz de substituir o gás natural de transporte (GNV) para veículos pesados, mas também possui aplicações na indústria, residências e produção de fertilizantes nitrogenados para a agricultura. É capaz de reduzir em até 95% as emissões.
4. Sustainable Aviation Fuel (SAF): produzido a partir de material orgânico de origem vegetal ou animal, destaca-se pela aptidão no uso de subprodutos, tais como o óleo de cozinha usado, resíduos urbanos, gases residuais, resíduos agrícolas, outros óleos vegetais e o etanol. Estima-se que o SAF possa reduzir em até 80% as emissões de gases para a atmosfera.
5. Hidrogênio Verde: produzido por meio da eletrólise da água. Sua produção acontece por meio da separação de hidrogênio e oxigênio da molécula de H2O, através de correntes elétricas de fontes como a eólica, hídrica ou solar. O hidrogênio verde não emite gases poluentes (100% sustentável) e pode ser facilmente armazenado e transportado.
6. Biogás: produzido por meio da digestão anaeróbia da matéria orgânica, tais como a vinhaça, torta-de-filtro, o bagaço da cana-de-açúcar. Há grande potencial também da utilização de resíduos da produção animal e resíduos sanitários. O potencial de geração no Brasil pode chegar a 44,1 bilhões de metros cúbicos (m3) ou 10,5% da capacidade instalada de eletricidade.
7. Eletricidade da Biomassa: gerada em sua maior parte no setor sucroenergético (80%), a bioeletricidade é produzida em grande escala por meio da utilização do bagaço da cana-de-açúcar e do licor negro, subproduto da indústria de papel e celulose. Outros produtos incluem restos de madeira, carvão vegetal, casca de arroz e plantas forrageiras. O Brasil é um dos principais produtores globais de bioenergias e um dos mercados com maior potencial de crescimento, especialmente atrelado a atividades e cadeias produtivas do agronegócio. Atualmente, o País é o 2º maior produtor global de biocombustíveis (~38 bilhões de litros, somando etanol, biodiesel e diesel renovável), atrás apenas dos Estados Unidos.


Ainda no ramo de biocombustíveis, o Brasil é o país com maior percentual de mistura de etanol (na gasolina) e biodiesel (no diesel) em escala global e tem planos de ampliar ainda mais esses mercados com o “Programa Combustível do Futuro”, política energética do governo federal sancionada em 2024.
Outro programa que merece destaque e é referência global quando o assunto é bioenergias e sustentabilidade é o “Programa Renovabio”.
O RenovaBio é uma política pública brasileira criada em 2017 com o objetivo de expandir a produção e o uso de biocombustíveis na matriz energética nacional, promover a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e contribuir para o cumprimento dos compromissos assumidos pelo País no âmbito internacional do Acordo de Paris.
A Diversificação da Produção de Bioenergias nas Usinas de Cana
Nos últimos anos, as usinas de cana-de-açúcar têm passado por uma grande transformação nos processos produtivos, visando o melhor aproveitamento da matéria-prima (cana), dos subprodutos e, até mesmo, da integração com outras fontes produtoras de bioenergia.
Para melhor entendimento dessas transformações, vamos avaliar o processo produtivo nas usinas. Após a recepção da cana-de-açúcar, a matéria-prima passa pela moagem. Como resultado, temos os seguintes produtos e/ou coprodutos:
1. Caldo líquido: é a principal matéria-prima para a indústria. A partir dele, a usina poderá decidir se irá produzir açúcar ou etanol, em rotas industriais diferentes (chamamos isso de “mix de produção”). No caso do etanol, são fabricados dois tipos, o anidro e o hidratado.
2. Bagaço: o coproduto da extração do caldo da cana-de-açúcar é o bagaço. Ele é utilizado, principalmente, para a produção de bioenergia da biomassa, por meio de sua queima em caldeiras industriais. No entanto, ele pode servir, ainda, para a produção do etanol de 2ª geração (extração de resíduos lignocelulósicos da biomassa) ou ser comercializado como composto para alimentação animal na pecuária.

3. Coprodutos: durante o processo industrial de tratamento do caldo são gerados os seguintes coprodutos:
a. Torta de filtro: pode ser utilizada como biofertilizante, retornando para as lavouras (economia circular), ou servir como insumo para a produção de biometano.
b. Vinhaça: amplamente utilizada como biofertilizante líquido nas lavouras, mas também pode ser utilizada como matéria-prima para biodigestão e fabricação do biometano.
c. Levedura: resultado do processo de fermentação do caldo para produção de etanol. É um valioso coproduto, destinado principalmente para a alimentação animal (ração).
A sustentabilidade da cadeia de cana-de-açúcar, incorporada no sistema de produção e na redução das emissões por meio dos biocombustíveis produzidos, torna possível um produto complementar ao setor, que são os créditos de carbono (CBIOs). Eles são comercializados pelas usinas na bolsa de valores brasileira (B3), como parte do “Programa Renovabio”.
Um aspecto bastante relevante no que se refere ao parque industrial de uma usina de cana-de-açúcar é a possibilidade de integração dos processos/equipamentos com outras cadeias de biocombustíveis, criando um ciclo de economia circular. Isso torna possível a fabricação de outros produtos na mesma planta; a exemplo do etanol de milho, etanol de 2ª geração, biogás, biometano, bioeletricidade, bio-óleo, polietileno verde e outros produtos.
O que antes era uma usina de açúcar (1) e etanol (2), hoje se transforma em um parque que também produz eletricidade da biomassa (3), biogás (4), biometano (5), etanol de 2ª geração (6), etanol de milho (7), combustível de aviação (8) créditos de carbono (9), biofertilizantes (10), bio-óleo (11) e outros produtos.
É claro que algumas dessas tecnologias ainda têm sido integradas aos parques fabris, e outras ainda são tendências em estudo. Ainda assim, demonstram a sustentabilidade (rentável) que cada vez mais é trazida pelo agronegócio brasileiro, fortalecendo nossa matriz energética e contribuindo para um futuro mais “verde”, rentável e de oportunidades aos brasileiros.
Alewijn Broere e Conny Maria de Wit
CEO da MultiCropsPlus e CEO da SBW do Brasil, respecticamente



Um chamado à inovação no setor sucroenergético brasileiro: O setor de cana-de-açúcar no Brasil, um pilar essencial da economia nacional, enfrenta queda na produtividade: de uma média de 80 toneladas por hectare para cerca de 75 toneladas. — redução que compromete tanto a rentabilidade quanto a competitividade internacional. Esse cenário decorre, em grande medida, do envelhecimento do parque varietal brasileiro, onde o prolongado uso de cultivares tradicionais resulta em acúmulo de doenças (especialmente viroses e pragas) e declínio gradual do vigor genético, fenômenos que se amplificam através de propagação vegetativa inadequada de mudas. Essa tendência ameaça simultaneamente produtividade, lucratividade e sustentabilidade. Diante deste contexto, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UDOP) e atores como a Adecoagro — grande conglomerado agrícola que exemplarmente implementou uma biofábrica de mudas meristema com capacidade de 30 milhões de mudas/ ano — demonstram que a recuperação setorial passa pela convergência de duas estratégias complementares: uso de variedades novas com potencial produtivo maior e mudas sadias livres de patógenos. E a melhor notícia é que a produção de mudas de meristema sadias é possível ser realizada em biofábricas 100% automatizadas. Esta solução estruturante é capaz de resolver simultaneamente os gargalos de qualidade genética, sanidade fitossanitária e escala de produção de mudas — fundamentos para a retomada sustentável da produtividade.
Doenças e Pragas: Os Inimigos Silenciosos da Cana: A principal causa da perda de produtividade é a presença disseminada de doenças e pragas que comprometem a vitalidade da cana-de-açúcar. A doença do enfezamento da soqueira (Ratoon Stunting Disease – RSD) apresenta taxa de infecção de até 70%. A queima das folhas afeta até 60% das lavouras. Além disso, a Síndrome da Murcha e o besouro Sphenophorus ameaçam os campos; o Sphenophorus causa cerca de 15% de prejuízo. A Adecoagro demonstra que medidas direcionadas funcionam: com práticas aprimoradas e mudas saudáveis, reduziu a infestação por Sphenophorus de 30% para 1%, provando que a recuperação por meio de implementação de mudas saudáveis e um excelente preparo da nova área a ser implementada é possível.
A Solução: Automação Total e Mudas Saudáveis: A estratégia mais eficaz para reverter o declínio produtivo reside na automação integrada de todas as etapas da produção de mudas, desde a multiplicação inicial até o estabelecimento em campo. Este processo estrutura-se em quatro componentes interdependentes que garantem qualidade sanitária, uniformidade genética e otimização de recursos:
1. Automação laboratorial: A primeira etapa ocorre em laboratórios especializados em cultivo de tecidos, a MultiCropsPlus na cidade de Holambra é a parceira estratégica da Adecoagro neste projeto da Biofábrica. O processo utiliza biorreatores de imersão temporária (TIB), sistema semiautomático que reduz em até 90% o uso de mão de obra na etapa final da produção dos meristemas. A MultiCropsPlus neste momento está desenvolvendo sistemas robóticos de corte dos explantes nas fases anteriores, isto irá assegurar maior eficiência e produtividade nesta etapa.
2. Robotização nos viveiros: os explantes do laboratório são transferidos para
viveiros de aclimatação automatizados, onde recebem progressivamente as condições de campo (luminosidade, umidade e temperatura variável). Nesta fase, robôs automáticos de plantio e seleção garante produção de mudas uniformes e saudáveis. O resultado é um lote homogêneo de mudas robustas, preparadas fisiologicamente para o plantio a campo.
3. Plantadeira automatizado no campo: O plantio ocorre através da plantadeira totalmente automatizada, que implanta mudas com eficiência operacional de 2 hectares por hora e precisão milimétrica. A automação garante: densidade de plantio otimizada, profundidade uniforme, espaçamento preciso e minimização de erros humanos, fatores que impactam diretamente o vigor inicial e a população final de colmos produtivos.
4. Gestão de pegamento no campo com sistema de gotejamento: Simultaneamente ao plantio, sistemas de gotejamento automatizado são instalados, fornecendo água e nutrientes de forma controlada e eficiente durante a fase crítica de estabelecimento das mudas. A irrigação por gotejamento reduz significativamente o desperdício hídrico e permite fertirrigação precisa, ajustável conforme estádios fenológicos. O sistema pode ser temporário e reutilizável, removido após o estabelecimento completo do canavial para a próxima área a ser plantada.
Esta abordagem totalmente integrada assegura que cada etapa reforça as anteriores: mudas saudáveis do laboratório desenvolvem-se uniformemente no viveiro implantam-se com precisão no campo recebem nutrição otimizada nos estádios críticos. Aplicando-se a exemplo do que a Adecoagro vem fazendo, através da implementação destas mudas em uma cantose próxima a área a ser implementada. Com esta estratégia, associada a outras boas praticas de manejo, a Adecoagro conseguiu reduzir sua infestação de Sphenophilos de 30% para apenas 1%, melhoria que seguramente impacta o rendimento da empresa e a coloca no ranking dentre as mais eficientes do mercado.
Redução de Custos e Produção Local de Robôs: Os investimentos iniciais parecem altos, mas os benefícios de longo prazo e a produção local tornam o modelo viável. Um robô holandês avançado para cultivo de tecidos custa cerca de €120.000; com taxas de importação e logística no Brasil, esse valor sobe para cerca de €200.000. A produção local pode fornecer robôs semelhantes por cerca de €50.000, reduzindo significativamente as barreiras de adoção. O retorno sobre o investimento é favorável.
Impacto e Estratégia: Um Futuro Sustentável: Um sistema totalmente automatizado garante a disponibilidade de material genético saudável e de alta qualidade, resultando em lavouras mais robustas e produtivas. Essa abordagem reduz a dependência de produtos químicos e mão de obra, além de aumentar a eficiência do uso da terra. O modelo é escalável e aplicável a outras culturas, como o eucalipto. Economicamente, a eliminação de doenças e a otimização dos processos de plantio podem aumentar a produtividade por hectare em 30 toneladas ou mais, promovendo diretamente a lucratividade e o crescimento sustentável.
Descrição do Modelo: O modelo baseia-se na produção totalmente automatizada de material genético saudável. As plantas são inicialmente cultivadas em sistema de cantose, em parcela da área a ser renovada, ou em área próxima; entre 8 a 9 meses depois, esse material é usado para estabelecer a área de produção comercial utilizando-se as maquinas de plantio automatizada que as usinas já possuem, com um fator de 1 para 5. Para essa fase, está sendo desenvolvida uma metodologia mais eficiente de multiplicação e plantio com uma proporção de 1 para 20.
Conclusão; Investir em automação total e em material genético saudável não é um luxo, além de ser economicamente viável, trata-se de uma etapa necessária para tornar o setor sucroenergético brasileiro resiliente, lucrativo e sustentável.





Nas últimas décadas, o Brasil consolidou-se como uma potência global em biocombustíveis, representado pelo etanol de cana-de-açúcar, que hoje responde por aproximadamente 30 bilhões de litros/ano e atende a mais de 70% da frota de veículos leves com tecnologia flexfuel. Essa trajetória, marcada por inovação tecnológica e marcos regulatórios como o Proálcool e, mais recentemente, o RenovaBio, não apenas garantiu segurança energética, mas também posicionou o País como um líder mundial na descarbonização do transporte e na agenda da bioeconomia.
A busca global por soluções de baixo carbono e a necessidade de diversificação da matriz energética e de matérias-primas impulsionaram o setor para além da cana. Os últimos 15 anos testemunharam uma transformação notável, com o surgimento de novas culturas e o desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento de resíduos. Esta evolução, que partiu de um cenário de matérias-primas secundárias com participação quase nula, abre um panorama de oportunidades locais e globais sem precedentes.
com sua capacidade consolidada de produzir mais de 35 bilhões de litros de etanol/ano e estimado para ultrapassar 70 bilhões de litros anuais em 25 anos, o Brasil já se posiciona para ser um dos maiores produtores globais de SAF "
Julio Espírito Santo Consultor de Inovação Industrial


A hegemonia da cana-de-açúcar estabeleceu um modelo de sucesso, mas a necessidade de dobrar a produção de etanol até 2050 estimulou a ascensão de novas fontes de matérias-primas, além do aprimoramento do uso da terra e da criação de valor em diferentes regiões agrícolas.
De 2010 a 2025, a produção de etanol de cana-de-açúcar se manteve estável, em torno de 30 bilhões de litros/ano, experimentando períodos desafiadores, como quebra de safras, políticas públicas desfavoráveis e protecionismos mercadológicos internacionais, dificultando a competitividade, mas com aprimoramento da eficiência industrial e agrícola e foco na sustentabilidade, como a certificação via RenovaBio, gerando bilhões de CBIOs que valorizam o produto.
Para os próximos 15 anos, estima-se que a produção de etanol de cana-de-açúcar alcance 35-40 bilhões de litros/ano, impulsionada pela maior produtividade por hectare com novas variedades, o foco em novas fronteiras agrícolas e o manejo sustentável.
No mesmo cenário, o etanol de milho emergiu de coadjuvante a protagonista, partindo de uma produção irrelevante em 2010 (<100 milhões de litros/ano) para mais de 8 bilhões de litro/ano em 2025, representando mais de 20% da produção nacional, e com uma surpreendente taxa anual de crescimento de 20-30% da capacidade instalada, com destaque no Centro-Oeste.
A produção de DDGS – D ried Distillers Grains (coproduto da produção de etanol a partir de grãos como o milho) – que já supera 5 milhões de toneladas/ano, além de mais de 250 milhões de litros/ano de óleo, agregando valor ao modelo de negócio e garantindo a viabilidade econômica dos projetos.
Com a expansão da safrinha de milho (hoje em mais de 16 milhões de hectares) e novos investimentos, a produção de etanol de milho pode facilmente alcançar 30 bilhões de litros anuais até 2040, consolidando-se como um pilar estratégico da matriz energética, e gerar até 22 milhões de toneladas de DDGS, fortalecendo a cadeia de proteína animal e rações.
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Com o avanço do aprimoramento das tecnologias de moagem de grãos e processamento em etanol, matérias-primas como trigo, sorgo e arroz representam um exemplo de diversificação regional e aproveitamento de resíduos, ao destinarem grãos inadequados para o mercado de alimentação para o processamento em etanol em regiões historicamente sem produção do biocombustível.
Isto permitiu uma descentralização da produção de etanol no Brasil, que passou a ter o Sudeste como maior produtor de etanol de cana, o Centro-Ooeste como o maior de etanol de milho e sorgo e agora coloca o Sul do Brasil no mapa com trigo e arroz.
Enquanto há 15 anos, a utilização do trigo, sorgo e arroz para biocombustíveis era negligível, hoje já existem projetos pilotos e unidades de pequena escala utilizando trigo (especialmente grãos de baixa qualidade), sorgo e arroz (quebrado/descarte).
Ainda que a produção de etanol a partir dessas culturas esteja em poucos milhões de litros anuais, com incentivos e o desenvolvimento de tecnologias específicas o potencial destas culturas pode contribuir com alguns bilhões de litros de etanol anuais, sendo suficientes para atender a demandas locais, além de agregar valor para suas cadeias produtivas já existentes, especialmente em épocas de safra excedente ou para grãos fora de especificação para alimentação.
Vale destacar que o avanço da indústria de etanol de grãos teve apoio da biotecnologia, através das enzimas termotolerantes e leveduras produtoras de gluco-amilases, implementadas em 2018 no Brasil e que revolucionaram o cenário de processamento de grãos, se tornando o padrão no mercado, permitindo ganhos de rendimento de mais de 15% de etanol e quase 20% de óleo por tonelada de matéria-prima, melhorando a atratividade financeira dos projetos.
Representando a nova fronteira da bioenergia, temos no Brasil novas abordagens, como o etanol de agave, uma planta suculenta, originária do México e conhecida pelo seu uso na produção de tequila.
Nos últimos anos, o agave esteve em fase de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, com estudos de viabilidade agronômica e industrial liderados pelo Dr. Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, Professor da Unicamp, em parceria com Shell e Senai. Hoje, projetos-piloto e as primeiras plantações estão emergindo na região da Bahia.
O agave está sendo avaliado para uso em regiões semiáridas, como o nordeste brasileiro, com testes de produtividade indicando potencial de 6.000 a 8.000 litros de etanol/hectare/ano.
Com este potencial e demanda local por biocombustíveis, o agave pode escalar rapidamente para centenas de milhares de hectares plantados, com um consumo de água 50-70% menor que o da cana.
Em um exercício hipotético de cultivo do agave em apenas 1% das áreas subutilizadas existentes hoje no Brasil (157 milhões de hectares – IBGE, 2023), seria possível chegar a um volume de 10 bilhões de litros de etanol/ano (25% da produção atual no país).
Além destas culturas para etanol, temos a oportunidade do uso de seus resíduos para a produção de outros biocombustíveis, trazendo ainda mais valor à cadeia produtiva e fortalecendo o papel do Brasil como um líder no uso de energias sustentáveis na sua matriz econômica.
Até 2010, o uso de resíduos como fonte de energia era incipiente, limitado a queima de biomassas em caldeiras para a produção de eletricidade. O biogás estava em fases iniciais de uso em confinamentos.
O etanol de 2ª Geração (E2G) estava em pesquisa e desenvolvimento intensivo, com muitas empresas no mundo buscando lançar seus primeiros projetos em escala comercial. No Brasil, o Centro de Tecnologia Canavieira, GranBio e Raízen se destacaram, com estas duas últimas lançando plantas em escala comercial nos anos seguintes e se tornando referências globais no tema.
O biometanol, biohidrogênio e SAF eram conceitos de pesquisas em estágio muito embrionário. Hoje, o biogás apresenta crescimento robusto, com a vinhaça (cana e milho) e dejetos de animais produzindo cerca de 3 milhões de Nm³/dia em 2024.
Para o E2G, já existem usinas comerciais no País que produzem centenas de milhões de litros/ano de E2G a partir do bagaço da cana, elevando a produtividade por hectare em até 50%, além de outros projetos em discussão.
Com o SAF, com a regulamentação e investimentos em rotas como Alcohol-to-Jet (ATJ), os primeiros voos comerciais ocorreram a partir da conversão do etanol de cana, embora a produção ainda seja muito pequena (milhares de litros) e fortemente dependente de estímulos.
Olhando para 2040, estima-se que o potencial de produção de biogás possa superar 100 milhões de Nm³/dia (o equivalente a 70-80% do consumo atual de gás natural no Brasil), gerando um mercado bilionário e mitigando milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Já a produção de E2G passa por um período de resistência, devido ao ceticismo do mercado com o fracasso de projetos do passado, mas pode alcançar 5-10 bilhões de litros anuais, integrando-se e otimizando o parque industrial existente.
Ainda, com a gaseificação avançada da biomassa, já dominada em TRL 6-7 por instituições de renome como o IPT em São Paulo, o Brasil pode se tornar um produtor significativo de biometanol e biohidrogênio, com um mercado global estimado em trilhões de dólares, onde temos muitas vantagens competitivas.
Por último, o Brasil, com sua capacidade consolidada de produzir mais de 35 bilhões de litros de etanol/ano e estimado para ultrapassar 70 bilhões de litros anuais em 25 anos, já se posiciona para ser um dos maiores produtores globais de SAF via ATJ, com potencial de atender a uma demanda global de trilhões de dólares até 2050. A trajetória do Brasil nos biocombustíveis, que começou com a liderança na cana-de-açúcar, está se expandindo para uma era de múltiplos feedstocks e bioprodutos de alto valor agregado. A diversificação de matérias-primas, aliada à valorização de resíduos, não é apenas uma questão de produção de energia, mas uma estratégia comercial e ambiental para geração de valor de mercado e redução de emissões de GEE.
A cana-de-açúcar brasileira é um exemplo mundial de eficiência agrícola e de energia limpa. Porém, quando falamos sobre a velocidade com que as inovações chegam ao produtor, ainda há um grande campo para avançar. O Brasil tem tecnologia de ponta disponível — desde o mapeamento via satélite até o uso de inteligência artificial para manejo —, mas nem sempre ela se transforma rapidamente em prática cotidiana no campo.
A questão central, portanto, não é apenas ter acesso à inovação, mas transformá-la em produtividade real. E isso exige algo mais do que boas ideias: requer organização, capacitação e cooperação.
O ritmo das mudanças
Nos últimos 30 anos, o setor sucroenergético evoluiu de forma impressionante. Saímos da queima da palha para a colheita mecanizada, do corte manual para o plantio por GPS, e hoje discutimos carbono, automação e bioinsumos. Mas o ritmo de adoção dessas tecnologias ainda é desigual. Muitas vezes algumas inovações não se traduzem em produtividade no campo, mas em produtividade em custos, ou seja, reduz custos e intensidade de mão de obra.
Mapeie o seu estágio atual. Saber onde está é o primeiro passo para planejar aonde quer chegar. Entenda seu nível de maturidade da empresa e seus processos. "
Há produtores que estão na vanguarda da agricultura digital e outros que ainda lutam para mecanizar totalmente o plantio. Essa diferença mostra que o desafio atual não está mais em provar que as tecnologias funcionam, mas sim em fazer com que elas cheguem a todos os produtores com velocidade e eficiência, ou, simplesmente, tenham condições financeiras de adotar.
José Guilherme A. Nogueira CEO da Orplana


Por que a inovação ainda demora a chegar Existem 4 fatores que explicam essa lentidão:
1. Fragmentação e falta de escala. A maioria dos produtores é de médio ou pequeno porte e nem sempre consegue investir sozinha em soluções caras ou complexas.
2. Deficiência de assistência técnica contínua. Muitas vezes, o produtor recebe a informação, mas não o acompanhamento necessário para aplicar a inovação corretamente.
3. Baixa integração entre pesquisa, associações, cooperativas e campo. A ponte entre o conhecimento técnico e a realidade prática ainda precisa ser fortalecida.
4. Comportamento empreendedor. Produtor tem uma restrição grande em adoção de novas tecnologias e aguarda essa tecnologia se consolidar e ver como caminhou nesse processo.
Esses fatores tornam o processo de modernização mais lento do que o potencial real do setor permite.
Caminhos para acelerar o processo O futuro da canavicultura dependerá da velocidade com que transformamos inovação em rotina. E há formas concretas de acelerar isso:
1. Fortalecer redes de cooperação. O produtor não pode inovar sozinho. É preciso estimular grupos de produtores, cooperativas e associações a fazer compras coletivas, dividir custos de tecnologia e trocar experiências práticas. A inovação compartilhada é mais rápida e mais barata.
2 . Criar ambientes de experimentação. A formação de campos demonstrativos regionais, onde produtores possam ver a tecnologia funcionando antes de investir, é uma das ferramentas mais eficazes de difusão. Ver resultados na vizinhança acelera a confiança e a adoção.
3. Investir em capacitação técnica prática. Não basta treinar o operador de máquina: é preciso formar gestores agrícolas digitais, capazes de usar dados para decidir. A inovação se torna produtiva quando quem está no campo entende como transformar informação em resultado.
4. Usar dados para decidir, não apenas registrar. O uso de plataformas de gestão agrícola, sensores e monitoramento remoto já é acessível. Mas o diferencial está em transformar dados em indicadores e metas que orientem o planejamento do produtor.
5. Fomentar políticas de crédito ligadas à inovação. Linhas de financiamento que priorizem investimentos em tecnologias sustentáveis e digitalização podem ser um grande acelerador.
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O crédito é uma das pontes mais rápidas entre vontade e ação.
6. Medir e divulgar resultados. Mostrar o ganho real de produtividade, economia de insumos e redução de emissões com o uso de novas tecnologias motiva o produtor a aderir. A comunicação técnica bem feita é parte essencial da aceleração.
O papel das Associações e da Orplana
As organizações de produtores têm papel decisivo nesse processo. Elas são o elo entre a tecnologia, a política pública e o produtor na ponta. Na Orplana, temos trabalhado para criar caminhos de aceleração tecnológica, fortalecendo comitês técnicos, parcerias com centros de pesquisa e cooperativas e promovendo ações coletivas de capacitação e difusão.
Acreditamos que a força da coletividade é o motor da inovação no campo. Sozinho, o produtor avança. Mas juntos, os produtores mudam o setor.
O que cada produtor pode fazer agora
• Mapeie o seu estágio atual. Saber onde está é o primeiro passo para planejar aonde quer chegar. Entenda seu nível de maturidade da empresa e seus processos.
• Escolha uma inovação de alto impacto. Foque em algo que traga retorno rápido — um sistema de monitoramento, um novo manejo, um indicador de eficiência, um robô, um bioinsumo.
• Implemente e acompanhe. Teste em parte da área, meça o resultado e amplie gradualmente. Acompanhe atentamente.
• Participe de redes e programas coletivos. O aprendizado compartilhado reduz erros e acelera o ganho, principalmente junto a associações e cooperativas.
A inovação é um processo contínuo, e não um evento isolado. Quanto mais o produtor estiver conectado, mais rapidamente se beneficiará das soluções que surgem todos os dias.
Um setor pronto para o futuro
O mundo observa o Brasil como referência em bioenergia e sustentabilidade. Mas, para manter essa posição, precisamos que a inovação chegue à base produtiva com velocidade e escala.
Isso significa conectar o que está nos laboratórios, startups e universidades com o que acontece nas áreas de plantio e colheita.
A produtividade futura da cana será medida pela capacidade de transformar tecnologia em resultado econômico e ambiental. E esse caminho começa com uma decisão simples: não esperar que a inovação venha até nós, mas ir até ela.
A cadeia de valor da cana-de-açúcar no contexto sucroenergético é um dos principais setores do agronegócio e estratégico para a economia brasileira, integrando do cultivo agrícola aos processos industriais de produção de açúcar, etanol e bioenergia. Desde o lançamento do Proálcool em 1975 – marco na promoção do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis –, o setor passou por uma profunda transformação, evoluindo em escala, eficiência e sustentabilidade.
A modernização do cultivo da cana-de-açúcar, impulsionada pela mecanização, melhoramento genético e tecnologias digitais, tem elevado significativamente a produtividade e a sustentabilidade do setor. A produtividade média, que era cerca de 60 toneladas por hectare nos anos 1990, na safra de 2025/26, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está estimada em 75,4 t/ha, com variações regionais. No campo industrial, as usinas deixaram de ser apenas produtoras de açúcar e etanol para se consolidarem como biorrefinarias multifuncionais, capazes de gerar energia elétrica, biogás e insumos agroquímicos, ampliando sua relevância na matriz energética nacional.
A gestão de riscos no setor sucroenergético tornou-se prioridade diante da crescente complexidade operacional e dos impactos das mudanças climáticas. O gerenciamento dos riscos exige uma abordagem multidimensional, que combine tecnologia e governança.



A governança corporativa através da estruturação de comitês de risco, auditorias internas e políticas de compliance contribui para a transparência, responsabilidade e alinhamento estratégico. Uma governança eficaz pressupõe a definição clara de papéis, implementação de controles internos e monitoramento contínuo por meio de indicadores confiáveis, assegurando decisões alinhadas aos objetivos e em conformidade com normas legais e ambientais. Além disso, fortalece a cultura de prevenção e transparência, consolidando a reputação institucional e a confiança entre stakeholders. No campo, os riscos incluem eventos climáticos extremos – como secas prolongadas, geadas e chuvas intensas – até ameaças fitossanitárias, como pragas e doenças que comprometem a produtividade. Soma-se a isso os riscos operacionais, como falhas na mecanização e na logística de colheita, e os ambientais, como a degradação do solo e a contaminação de recursos hídricos.
A gestão de riscos no setor sucroenergético tornou-se prioridade diante da crescente complexidade operacional e dos impactos das mudanças climáticas. "
Edmilson Monutti e Fabio Pereira
Sócio e Diretor da PwC Brasil, respectivamente
Para enfrentar esses desafios, a adoção de tecnologias inovadoras é fundamental. Usinas têm investido em sensores, drones, imagens de satélite e softwares de georreferenciamento, que permitem diagnósticos precoces e intervenções localizadas com bioinsumos. Sensores de umidade no solo têm otimizado a irrigação, enquanto plataformas digitais integradas cruzam dados meteorológicos, históricos de produtividade e imagens para orientar decisões de plantio e colheita, reduzindo perdas e melhorando o aproveitamento da área cultivada.
Na esfera industrial, os riscos se manifestam em múltiplas dimensões e exigem abordagens integradas para sua mitigação. Os riscos ocupacionais envolvem exposição térmica e química, além de acidentes com máquinas e equipamentos. Os riscos ambientais incluem a emissão de gases de efeito estufa e o manejo inadequado de resíduos como a vinhaça. Já os riscos operacionais estão relacionados a falhas em equipamentos, incêndios e interrupções na linha de produção.
Para enfrentar esses desafios, a adoção de práticas avançadas de gestão é essencial. Tecnologias como o monitoramento em tempo real, automação de processos, manutenção preventiva e protocolos rigorosos de segurança têm-se mostrado eficazes na redução de vulnerabilidades. Um exemplo emblemático é a implementação de sistemas SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) em unidades industriais, que permitem o monitoramento contínuo de variáveis críticas – como temperatura, pressão e vazão – e têm sido fundamentais para evitar falhas graves, como paralisações em caldeiras.
Um dos principais programas de inovação aberta da cadeia de valor da cana-de-açúcar foi realizado via programa For Farmers do PwC Agtech Innovation, que promoveu o acesso a tecnologias digitais através da colaboração com startups e estimulou a transformação cultural e técnica de uma associação de produtores.
Na área de sustentabilidade, o reaproveitamento da vinhaça para fertirrigação reduz o risco ambiental e melhora a eficiência agronômica. Ações como a capacitação contínua das equipes, estruturação de brigadas de incêndio, adesão a programas de responsabilidade ambiental, social e governança (ESG), bem como a participação em iniciativas como o Renovabio e a comercialização de créditos de carbono, fortalecem a resiliência e reputação do setor.
Na esfera das políticas públicas, o Plano ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) incentiva práticas sustentáveis que reduzem riscos ambientais e aumentam a eficiência produtiva, com programas de financiamento rural
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voltados à inovação tecnológica para viabilizar a modernização de equipamentos e a adoção de sistemas inteligentes de gestão.
Apesar dos avanços, a adoção dessas práticas ainda enfrenta obstáculos, como a resistência à mudança cultural, escassez de mão de obra qualificada e altos custos iniciais. Parcerias entre setor público, privado e instituições de pesquisa, bem como a criação de ambientes colaborativos e de troca de experiências e capacitação técnica, são caminhos promissores para superar esses desafios.
Os resultados esperados com a implementação dessas estratégias incluem a redução de perdas causadas por fatores climáticos e biológicos, o aumento da produtividade agrícola e da eficiência industrial, a diminuição de acidentes e impactos ambientais, e a maior previsibilidade financeira e estabilidade operacional.
A perspectiva futura aponta para uma crescente digitalização da cadeia produtiva, com uso intensivo de dados, inteligência artificial e automação. A integração entre campo e indústria deve se tornar cada vez mais fluida, permitindo decisões mais rápidas e precisas. A sustentabilidade, aliada à inovação, será o eixo central da competitividade no setor sucroenergético brasileiro.
Outro aspecto a ser considerando na produção de cana são os riscos associados à pressão para redução de custos para que o etanol de cana possa ser competitivo frente ao etanol de milho, especialmente diante da crescente oferta de grãos na região Centro-Oeste, com a expansão da segunda safra de milho no Brasil, bem como a produção nos Estados Unidos.
Os riscos e oportunidades associados à produção de cana e toda cadeia produtiva, assim como demais riscos estratégicos de uma organização, devem fazer parte da agenda de discussões do Conselho de Administração, observando a mensuração dos riscos pelo potencial impacto que pode ocasionar na organização e a probabilidade de ocorrência ao longo do período de safra, considerando as sazonalidades.
Conclui-se que a gestão de riscos é componente estruturante para a evolução do setor sucroenergético. A integração entre tecnologia, sustentabilidade e capacitação contínua consolida um modelo de negócio mais seguro, eficiente e alinhado às demandas do século XXI. Estabelecer indicadores de sucesso – como redução de perdas por hectare, aumento da eficiência energética, diminuição de acidentes e melhoria na qualidade ambiental – e garantir transparência na divulgação dos resultados são essenciais para fortalecer a confiança de investidores, consumidores e comunidades locais.
A linha do tempo da vida na Terra é impressionante: bactérias surgiram há 4 bilhões de anos, leveduras há 1,5 bilhão, e o Homo sapiens há apenas 300.000 anos. Imagine toda a história da vida na Terra condensada em um único ano. As bactérias apareceriam em Fevereiro, as leveduras em Outubro, e o Homo sapiens só faria sua estreia nos últimos minutos do dia 31 de Dezembro. Essa diferença é colossal — as bactérias nos precedem por mais de 12.600 vezes, e as leveduras por mais de 3.300.
Mas por que essa linha do tempo é tão importante para nós hoje? Ela demonstra que bactérias e leveduras são mestres em adaptação e sobrevivência, tendo bilhões de anos de "experiência" evolutiva sob suas estruturas celulares. Essa vasta história lhes conferiu uma resiliência e capacidades metabólicas inigualáveis. Portanto, quando empregamos a biotecnologia para otimizar processos industriais na produção de biocombustíveis, a abordagem mais inteligente e eficaz não é tentar "redesenhar" esses microrganismos, mas sim observá-los, compreendê-los e alavancar sua inteligência natural dentro de cada processo.
Seleção de leveduras
É justamente essa sabedoria evolutiva que buscamos aproveitar na prática, onde a fermentação com Rendimento Geral da Destilaria (RGD) elevado é muito importante.
a biotecnologia nos permite olhar para o universo das bactérias e leveduras com uma clareza sem precedentes, permitindo que as usinas tomem decisões rápidas para otimizar as fermentações "
Henrique Berbert de Amorim Neto Presidente da Fermentec
A seleção das leveduras torna-se um dos fatores mais determinantes para garantir estabilidade e alto rendimento. Estudos recentes, como os de 121 usinas monitoradas na safra 2024/25, comprovaram que o uso de leveduras selecionadas e personalizadas é uma estratégia técnica altamente eficaz.
A biotecnologia avançada nos permite ir além da simples escolha; ela nos capacita a entender o porquê de certas cepas se destacarem dentre outras. Leveduras como PE-2, CAT-1, FT858L e Fermel destacam-se por características essenciais construídas pela evolução: resistência a tratamentos ácidos, alto rendimento, baixa formação de espuma e a capacidade de inibir bactérias contaminantes.


Mais impressionante ainda é o desempenho das leveduras personalizadas, isoladas diretamente do ambiente de cada usina e reintroduzidas. Elas atingiram uma taxa de permanência de 82% ao final da safra 2024/25, contra 22% das leveduras selecionadas.
Essa capacidade de identificar e monitorar as linhagens mais adequadas e adaptadas localmente — evidenciando como a escolha e a adaptação dessas leveduras, com sua história bilionária de resiliência – são fundamentais para o sucesso e a sustentabilidade da produção.
É importante destacar que as ferramentas biotecnológicas citadas são maiores em sistemas de fermentação com reciclo de levedura, como no Brasil, onde a mesma população de leveduras é reutilizada por toda a safra. Nesses casos, manter o monitoramento das linhagens e a viabilidade e vitalidade das leveduras é importante para garantir fermentações rápidas e altos rendimentos.
Além das abordagens de seleção de leveduras já mencionadas, a biotecnologia nos oferece outra ferramenta importante: a evolução adaptativa em laboratório para o desenvolvimento de novas cepas melhoradas. Um exemplo prático demonstra isso: partiu-se de uma levedura robusta (FT2305L), excelente para a produção de álcool com alto teor alcoólico, mas que apresentava um problema: floculava, reduzindo a concentração na centrífuga.
Através de um processo contínuo de resseleção e evolução adaptativa, que simula e acelera a seleção natural em condições controladas, foi possível desenvolver variantes (FT3027L e FT3028L) que mantiveram as qualidades da cepa original, mas perderam completamente a característica indesejável de floculação, tanto durante a fermentação (anaerobiose) quanto durante a multiplicação celular (aerobiose).
Identificação, controle e novos bioprocessos com bactérias
Tradicionalmente, para identificar bactérias, era preciso cultivá-las em laboratório, um processo demorado e que falhava, já que muitas espécies que não crescem em condições artificiais. A metagenômica muda tudo isso. Ela se concentra em estudar o material genético (DNA) coletado diretamente de amostras coletadas no processo – sem a necessidade de isolar ou cultivar cada microrganismo individualmente.
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Imagine um balde de areia da praia: em vez de pegar cada grão e tentar cultivá-lo para ver o que é, a metagenômica pega todo o DNA da areia e o analisa. Isso nos permite entender a diversidade completa e as funções genéticas de comunidades microbianas complexas, incluindo aquelas bactérias que não são cultiváveis em laboratórios pelos métodos tradicionais.
Por que isso é revolucionário para o setor sucroenergético?
Na produção de etanol, a presença de bactérias contaminantes pode ser um grande problema, comprometendo a eficiência da fermentação e reduzindo o rendimento. A metagenômica oferece uma capacidade para rastrear, monitorar e identificar esses microrganismos indesejados.
Um exemplo prático veio em pesquisas realizadas em diversas usinas: embora o caldo da moagem da cana tenha uma vasta gama de microrganismos, o processo de produção de etanol atua como seleção natural, alterando a população microbiana que chega às dornas. Além disso, a água de diluição do fermento ou o melaço adicionado ao mosto podem introduzir microrganismos que prejudicam a fermentação. É precisamente neste cenário que a metagenômica se mostra indispensável, pois permite identificar com exatidão qual bactéria está impactando negativamente a fermentação e rastrear sua origem. Desta forma, é possível saber qual a bactéria é que está prejudicando a fermentação e de onde ela está vindo. Para concluir, a biotecnologia nos permite olhar para o universo das bactérias e leveduras com uma clareza sem precedentes, permitindo que as usinas tomem decisões rápidas para otimizar as fermentações. Mas essa clareza nos abre ainda outras oportunidades: além de identificar as bactérias e saber a melhor forma de combatê-las, a metagenômica revela os produtos, enzimas e vias metabólicas que esses microrganismos possuem e produzem. Isso abre caminho para o desenvolvimento de diferentes processos, a descoberta de novos bioprodutos e, fundamentalmente, para a diversificação da matriz produtiva. Esse horizonte de inovação converge perfeitamente com o momento atual do setor sucroenergético, que busca cada vez mais a sustentabilidade e a produção de produtos e coprodutos de maior valor agregado a partir dos resíduos da produção de etanol, transformando o que antes era descarte em novas fontes de receita e inovação.
A aprovação do Profert – um programa de incentivos fiscais para o desenvolvimento da indústria de fertilizantes no Brasil – é essencial para reduzir a dependência externa e estimular a produção nacional de fertilizantes e bioinsumos, fortalecendo a soberania e a sustentabilidade do agro brasileiro.
O Brasil é uma potência agroalimentar global, mas ainda depende fortemente do mercado externo para manter essa posição. Hoje, importamos cerca de 85% dos fertilizantes utilizados em nossas lavouras – no caso dos nitrogenados, essa dependência chega a 95%. Trata-se de um risco estratégico que vai muito além da economia: é um tema de soberania nacional.
O Brasil depende de dois países envolvidos em tensões geopolíticas: o Irã, de onde importamos cerca de 20% da ureia usada aqui, e a Rússia, responsável por 22% das nossas importações de fósforo, além da China, que fornecia 20% do nosso fósforo e reduziu o volume para 12%, priorizando a própria indústria e agricultura. Ou seja, estamos excessivamente expostos a mercados instáveis e sujeitos a oscilações geopolíticas que podem afetar diretamente o custo e a oferta de alimentos.
Nesse cenário, a aprovação do Projeto de Lei 699/2023, que cria o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes – Profert, é cada vez mais urgente.
estamos excessivamente expostos a mercados instáveis e sujeitos a oscilações geopolíticas que podem afetar diretamente o custo e a oferta de alimentos. "
Jacyr Costa Filho
Presidente do Cosag - Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e Diretor da Agroadvice Consultoria
O projeto, já aprovado no Senado em 2024 e em tramitação na Câmara dos Deputados, oferece incentivos fiscais para atrair investimentos e fortalecer a produção nacional. O objetivo é reduzir a dependência externa, garantir competitividade e fomentar a transição para uma agricultura mais sustentável.
O Profert não se limita aos fertilizantes convencionais. Uma das emendas ao texto incluiu também os biofertilizantes, permitindo que empresas voltadas à produção de insumos biológicos sejam beneficiadas. Essa ampliação é fundamental: segundo estudo do MAPA –Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a substituição parcial de fertilizantes convencionais por bioinsumos pode reduzir a emissão de até 18,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano, especialmente em culturas como arroz, milho e trigo.
Essa substituição faz parte do Plano Nacional de Bioinsumos, que busca diminuir a dependência de fertilizantes químicos e ampliar o uso de alternativas sustentáveis.

Além do impacto ambiental, o ganho econômico é expressivo: o mesmo estudo estima que os biofertilizantes podem gerar economia anual de até US$ 5,1 bilhões para o setor agrícola, graças à maior eficiência nutricional e à menor vulnerabilidade às variações de preços internacionais.
O Profert também estimula a inovação. Projetos como o da Atlas Agro, em Uberaba-MG, que prevê a produção de amônia verde — base dos nitrogenados — a partir de energia renovável, mostram que o País tem tecnologia e capital prontos para avançar. O programa pode viabilizar iniciativas semelhantes em outras regiões, aproveitando o potencial brasileiro em fontes limpas como biogás, biometano e hidrogênio verde.
A demanda por fertilizantes tem crescido ano a ano. Há uma expectativa de que o Brasil registre um novo recorde anual de importações este ano, segundo relatório da StoneX. Até setembro, o volume importado dos principais fertilizantes aumentou 6% em comparação ao mesmo período de 2024. No ano passado, foram utilizados 45 milhões de toneladas de fertilizantes no Brasil (e apenas 8 milhões foram fabricados aqui). De acordo com estimativas da Embrapa, a demanda deve chegar a 58 milhões em 2030 e ultrapassar 76 milhões até 2036, acompanhando a expansão agrícola e a recuperação de pastagens degradadas. Se nada for feito, a dependência externa só vai crescer — e, com ela, nossa vulnerabilidade.
O Plano Nacional de Fertilizantes já definiu metas ambiciosas: reduzir a dependência de importações de 85% para 50% até 2050 e conquistar autonomia tecnológica. Mas isso só será possível com um ambiente regulatório previsível, segurança jurídica e estímulo à produção local. O Profert cria essas condições, desonerando insumos estratégicos, incentivando a compra de equipamentos e atraindo capital privado.
Mais do que uma política setorial, trata-se de uma estratégia de Estado. Fortalecer a indústria nacional de fertilizantes — convencionais e biológicos — é fortalecer a base da segurança alimentar e energética do País. É garantir que o Brasil, que alimenta mais de um bilhão de pessoas no mundo, tenha autonomia para continuar crescendo de forma sustentável, inovadora e competitiva.
Aprovar o Profert é dar um passo decisivo rumo à soberania produtiva, à transição verde e à consolidação do Brasil como potência global em agricultura e energia limpa.
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Os trópicos oferecem um privilégio singular: produzir o ano todo e, em alguns cultivos, realizar múltiplas safras. Mas esse ambiente impõe desafios — pragas, doenças, degradação do solo e perda de nutrientes. Superar essas barreiras e manter a competitividade global é um feito que o agricultor brasileiro conquista com tecnologia e resiliência.
Enquanto países com clima temperado são menos propícios à ocorrência de pragas e doenças e geralmente estão sobre solos mais férteis — e, em alguns casos, contam com suporte estatal —, o Brasil avança pela inovação e crescimento vertical. Entre as transformações mais marcantes, o uso de insumos biológicos, tanto fitossanitários quanto nutricionais, torna-se uma das revoluções mais bem-sucedidas do agronegócio mundial. Nenhum outro país alcançou tamanha escala e diversidade de aplicação.
A cana-de-açúcar é pioneira nesse processo: por mais de 50 safras, os produtores de cana-de-açúcar adotam o uso de biodefensivos em seu manejo — desde clássicos como Metarhizium anisopliae e Cotesia flavipes até formulações modernas com consórcios microbianos para o controle de nematoides e
A mentalidade do produtor brasileiro é hoje uma das mais avançadas do mundo no uso de biológicos. Nenhum outro país combina escala, diversidade e intensidade tecnológica como o Brasil "
Marcos A. Petean Gomes Diretor Executivo da Gênica Inovação Biotecnológica
doenças e melhor aproveitamento de nutrientes. Na última safra, mais de 9 milhões de hectares foram tratados com bioinsumos. Em soja e milho, a adoção chega a 40–50%.
No manejo de nematoides, a transformação é ainda mais expressiva: majoritariamente, o manejo desses patógenos é feito com bioinsumos. Seja em cana-de-açúcar, milho ou soja, mais de 80% dos nematicidas utilizados são biológicos, refletindo a maturidade técnica e a confiança nessas soluções.

No manejo de pragas da cana-de-açúcar, os biológicos também se consolidaram no controle de Diatraea saccharalis, Mahanarva fimbriolata e Sphenophorus levis — desafios intensificados pela mecanização da colheita, mas que encontram nos bioinsumos uma alternativa altamente eficaz, conferindo maior efeito residual e ação complementar aos métodos convencionais.
Entre todos os segmentos, o que mais cresce é o de biofungicidas, hoje peça central no manejo preventivo de doenças foliares. Com crescimento acima de 60% ao ano, o mercado deve ultrapassar US$ 1 bilhão até 2030, impulsionado pela busca por ferramentas eficazes e sustentáveis, que ofereçam maior efeito residual e contribuam para o manejo da resistência de patógenos — um desafio especialmente relevante em regiões tropicais.
O avanço dos biológicos, ao contrário do que muitos pensam, não nasce da agricultura orgânica, mas da agricultura convencional de larga escala, que busca rentabilidade, produtividade e eficiência. São usinas e produtores altamente tecnificados que lideram essa transformação, integrando rotação de culturas, uso de compostos orgânicos e bioinsumos em programas estruturados de manejo. Os resultados são sistemas produtivos mais rentáveis, resilientes e sustentáveis, sustentados por fundamentos econômicos e agronômicos sólidos.
Estamos apenas no início dessa jornada. Os biológicos de primeira geração, baseados em biomassa microbiana, abriram caminho. Agora desponta uma nova era, sustentada por moléculas orgânicas, metabólitos, peptídeos e tecnologias baseadas em RNA, que unem o efeito imediato e a estabilidade da química à seletividade e sustentabilidade dos biológicos. Essa convergência científica cria um horizonte promissor, no qual o Brasil tende a se consolidar como protagonista global. Nos últimos anos, a evolução das formulações e dos organismos adaptados à aplicação em larga escala ampliou a confiança e a praticidade no uso de biológicos. Agora, a fronteira da inovação avança para moléculas orgânicas e metabólitos de alta performance, capazes de expandir o espectro de uso, reduzir limitações operacionais e abrir espaço para a internacionalização da tecnologia brasileira.
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O País já exporta formulações e cepas biológicas, e o futuro passa por produtos ainda mais estáveis e com maior vida útil, consolidando o Brasil como referência global em inovação aplicada à agricultura tropical. Em bionutrição, os avanços também são expressivos. Microrganismos fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fósforo já são amplamente utilizados, e novas abordagens aprofundam o entendimento sobre a ecologia microbiana do solo, permitindo aplicações mais precisas e adaptadas a cada ambiente. Essa frente representa uma das maiores oportunidades de descarbonização do agro, sobretudo pela redução no uso de fertilizantes nitrogenados de base fóssil. Estudos apontam possibilidades de reduções de até 40% no uso de nitrogênio mineral, sem perda de produtividade — um marco em eficiência e sustentabilidade.
Outro ponto estratégico é a redução da dependência de insumos importados, como fertilizantes minerais e defensivos químicos, sujeitos a volatilidades externas. Fortalecer a indústria nacional de biológicos é também fortalecer a soberania e a sustentabilidade do agro, tanto econômica quanto ambiental. Para nós, sustentabilidade vai além do aspecto ecológico: trata-se de sustentabilidade produtiva, que assegura autonomia e competitividade.
As empresas que lideram essa evolução já entenderam que inovação com propósito é o verdadeiro diferencial competitivo. Investir em pesquisa aplicada, compreender as dores reais do campo e transformar ciência em soluções de valor será essencial em um ambiente de crescente concorrência e novos entrantes.
A mentalidade do produtor brasileiro é hoje uma das mais avançadas do mundo no uso de biológicos. Nenhum outro país combina escala, diversidade e intensidade tecnológica como o Brasil — resultado da confiança crescente do setor produtivo nessas soluções.
Produtividade, rentabilidade e segurança sustentam a confiança crescente nos insumos biológicos e fazem do Brasil um protagonista global em inovação agrícola sustentável. E esta é apenas a primeira etapa de uma grande jornada — um caminho em que economia e sustentabilidade avançam juntas para alimentar o mundo, gerar energia e regenerar o planeta.
As obras-primas “Caipira Picando Fumo” (1893) e “American Gothic” (1930), de Almeida Junior e Grant Wood, respectivamente, há muito captam a atenção pela riqueza de detalhes, pela capacidade de representar e alçar atividades e habitantes rurais ao patamar de arte. O conjunto de detalhes em ambos os quadros – o ambiente rústico, a atitude do caipira, a forquilha na mão do homem, o avental da mulher – reforça o trabalho e modos de vidas naturais e simples. Essas obras transcendem o contexto artístico e se tornaram pilares da compreensão de um “tipo” nacional nos seus países.
Uma revolução já não tão silenciosa vem ocorrendo nos últimos anos, novamente alçando atividades e trabalhadores rurais-industriais a um novo patamar de valor e atenção da sociedade. Trata-se do uso e exploração do potencial infinito dos microrga-

nismos, mais especificamente do avanço de leveduras de alto desempenho e seu papel na transformação do meio rural em pilar da segurança energética e exemplo de circularidade econômica. Não surpreende que, ao tratar de OGM (Organismos Geneticamente Modificados), tenhamos de usar a sigla STEAM, do inglês ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática. Esse artigo aborda os recentes avanços em leveduras de alto desempenho e leveduras OGMs para o setor de etanol, tendências e perspectivas futuras no contexto STEAM e mercadológico.
Estima-se que, em 2024, a produção global de bioetanol alcançou 135 bilhões de litros. O recente estudo da Agência Internacional de Energia aponta para um robusto aumento na produção de combustível renovável na próxima década. De acordo com a EPE, a variação da oferta de etanol no Brasil pode alcançar até 18,7 bilhões de litros, com crescimento substancial da proporção de milho como matéria-prima. Mais de 50% do total produzido mundialmente faz uso de tecnologias baseadas em leveduras de alto desempenho e leveduras OGM. E essa proporção apenas tende a crescer. Como explicar essa revolução? Qual pode ser a contribuição futura das leveduras OGM no cenário de crescente demanda?
Os avanços em leveduras OGM de alto desempenho mostram que estamos ainda no começo de um caminho virtuoso, que alinhando tradição com inovação e pioneirismo contribuirá com o legado do etanol para um planeta mais sustentável. "
Marcelo do Amaral
Diretor
Geral da Leaf by Lesaffre
O campo de engenharia genética nasceu em 1973, com a construção de plasmídeos de bactérias biologicamente funcionais. Desde então, um vasto leque de avanços científicos e tecnológicos foram desenvolvidos e permitiram a leitura e desenho de ADN em grande escala, bem como a criação de ferramentas para a mudança complexa a precisa do código genético. O principal organismo modelo utilizado foi a levedura de pão, ou mais precisamente a Saccharomyces cerevisiae.
A levedura acompanha o desenvolvimento e progresso da humanidade e está presente na alimentação humana e animal, em bebidas como cerveja, vinho e mesmo no café, e em remédios biológicos e é parte essencial na valorização de produtos agrícolas como milho, cana-de-açúcar, beterraba, mandioca, arroz e respectivos coprodutos em bioetanol.
Os avanços em leveduras geneticamente modificadas (OGM) revolucionam a produção de etanol com ganhos notáveis de eficiência e rentabilidade.
A ilustração em destaque mostra de forma resumida os principais resultados e benefícios com a adoção de leveduras de alto desempenho, como as linhagens OGM.
A demanda por maior desempenho das leveduras é compatível com a importância presente e futura do setor de etanol. Adicionalmente aos ganhos obtidos em rendimento fermentativo, menor consumo de insumos e maior robustez, a levedura do futuro contribuirá com a redução da intensidade de carbono (CI), conferirá maior liberdade e flexibilidade no uso e combinação de insumos e certamente adicionará maior valor aos coprodutos.
Um verdadeiro arsenal de tecnologias é atualmente empregado no desenvolvimento das novas leveduras.
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Para o desenvolvimento de ‘chassis’ adequados ao ambiente industrial, são necessárias amplas coleções de leveduras diversificadas, posteriormente hibridizadas, selecionadas e testadas com base na matriz de critérios de desempenho para a indústria. O uso de técnicas de adaptação evolutiva em laboratório (ALE – adaptative lab evolution) é cada vez mais necessário para atingir novos níveis de desempenho. O desenho criativo e otimizado de rotas metabólicas ocorre de forma coordenada em modelos computacionais, in-vitro e in-vivo. Verdadeiras fábricas robotizadas com tecnologia e equipamentos de ponta, as BioFoundries são empregadas para o desenho, construção e teste de organismos geneticamente modificados para aplicações em biotecnologia. Ao automatizar e sistematizar processos trabalhosos, a BioFoundry acelera e melhora significativamente a precisão dos ciclos de P&D, desde a engenharia de uma nova cepa de levedura até a produção e verificação do resultado. Mais importante ainda, elas também oferecem a oportunidade de projetar e testar milhares de protótipos microbianos simultaneamente.
Após a criação de variação genética em centenas de milhares de variantes de cepas de levedura e bactérias, todas essas opções podem ser avaliadas simultaneamente usando protocolos automatizados e softwares de análise de dados para selecionar os melhores modelos. O resultado prático: ganho em velocidade e precisão para as futuras leveduras OGM que serão encaminhadas para o processo industrial.

As distintas dimensões STEAM avançam para o desenvolvimento de leveduras OGM. Se inicialmente a ênfase se deu primordialmente em ciência e tecnologia para a concepção, desenvolvimento e aplicação de leveduras com desempenho cada vez mais elevado, atualmente observa-se atenção crescente à Engenharia e Matemática nas fases de downscaling e monitoramento e controle da fermentação industrial. A busca constante por eficiência na produção de etanol torna as novas inovações biotecnológicas incrivelmente sedutoras.
Uma nova cepa de levedura OGM que promete um aumento de rendimento de 5% em ensaios laboratoriais pode dar a impressão que é possível adaptar instalações inteiras de produção. Por vezes, esse é o impulso de escalonar o processo da escala laboratorial para o ambiente fabril, ou simplesmente o scale-up. No entanto, essa opção é quase sempre invalidada devido aos elevados custos para a adaptação de equipamentos e processos em grande escala. O dilema da escalabilidade ou, por vezes, a demora da validação de novas tecnologias acarreta um custo de oportunidade significativo e frequentemente negligenciado.
Nesse contexto, o esforço para adaptar o laboratório à real dinâmica e complexidade da escala industrial recebe redobrada atenção. Face às dificuldades de escolha de fator de escalabilidade (as famosas regras de ouro da engenharia de escalabilidade, combinadas com a intensa variabilidade nas condições operacionais e de matérias-primas), algumas soluções empregam técnicas matemáticas avançadas e desenhos inteligentes de experimento. O objetivo é eliminar os ‘falsos positivos’, resultados a priori promissores e validados em escala laboratorial, mas que poderiam eventualmente introduzir instabilidade sistêmica. Um organismo ou processo que funciona perfeitamente em um laboratório controlado pode se comportar de maneira imprevisível em escala industrial, levando à contaminação, rendimentos inconsistentes ou tempo de inatividade custoso que elimina quaisquer ganhos teóricos. Em paralelo, acelerar os verdadeiros positivos, isto é, resultados que trazem real ganho de eficiência, produção e operação, é o alvo a ser alcançado. A contínua necessidade de ganho operacional e a busca por excelência operacional movem a fermentação industrial em geral e o processo de fermentação de bioetanol especificamente para a adoção de técnicas de monitoramento. Não se trata de apenas um detalhe, mas sim de essencial alavanca para extrair o máximo de valor da tecnologia das leveduras OGM, não impondo estabilidade impraticável de processo e parâmetros de entrada, mas sim buscando respostas adaptativas e conferindo flexibilidade. Entramos na era da fermentação conectada, ou da fermentação digital. O sensoreamento com sondas como de infravermelho próximo (NIR), as técnicas estatísticas de controle de processo e a adoção
de práticas há muito estabelecidas na indústria química como o golden batch são exemplos cada vez mais encontrados em usinas de etanol nas diferentes geografias. Como indicado por Stuchi, essas técnicas se enquadram de forma geral na abordagem heurística que tenta correlacionar via algoritmos os parâmetros de processo e eventualmente dados de laboratório com as variações e problemas operacionais. A abordagem heurística demanda grandes quantidades de dados históricos e traça modelos empíricos que podem servir de recomendação com base em processos pretéritos. Com a popularização de ferramentas de Inteligência Artificial (IA), observa-se um crescente número de aplicações heurísticas no movimento de digitalização de fermentação. Entretanto, essas abordagens possuem a severa inaptidão para o controle e correção em tempo real da fermentação.
Dada a natureza complexa e não-linear do processo de fermentação de etanol, outra limitação é o risco de atuar em problemas reais diferentes daqueles diagnosticados com base em dados passados e não apenas perturbando o processo, mas também não atingindo o objetivo de otimização. Para contornar essa limitação, Stuchi cita como inovação a solução BioCal que emprega modelos fenomenológicos da fermentação de etanol. A solução é capaz de responder à dinâmica da fermentação e respectivas variações atuando em tempo real nos elementos de controle disponíveis nas unidades industriais e dessa forma permitindo a condução de processo mais próximo ao seu ponto ótimo. Ao estar baseado em detalhada modelagem da fermentação, uso de gêmeo digital da instalação industrial e ferramentas avançadas de engenharia e matemática, a solução descreve o processo em tempo real tal qual o mesmo ocorre, e não como hipoteticamente deveria ser ou com base em dados passados.
Existe ainda um fator importante de “arte” na interação STEAM para o desenvolvimento e a aplicação industrial de leveduras OGM, em particular a “arte” de conectar diferentes campos de conhecimento. A conformidade com as exigências regulatórias é um aspecto central na transposição de inovações para o ambiente fabril. Há grande variação entre os diferentes marcos regulatórios nacionais, com maior claridade e abertura às novas tecnologias nos Estados Unidos e no Brasil.
Entretanto, é importante destacar o avanço progressivo em diversos países, como a recente abertura do mercado argentino, o dinamismo observado na Tailandia e ainda a crescente demanda por OGMs na Índia.
Novas tecnologias e descobertas cientificas, como as novas técnicas genéticas (NGT –new genomic techniques no termo em inglês), tornam possível o constante aprimoramento de leveduras para a produção de etanol e ao mesmo momento desafiam a compreensão e classificação de um organismo como OGM. Em 2018, a CTNBio publicou a resolução normativa RN 16, com a definição de TIMP – técnicas inovadoras de melhoramento de precisão – e o reconhecimento de leveduras de alto desempenho como não-OGM.
No mesmo ano, os pareceres 5904 e 5905/2018 avaliam positivamente duas novas leveduras como não-OGM, abrindo o caminho para uma série de inovações que hoje beneficiam o setor de etanol de cana. Na Europa observa-se a crescente demanda pela classificação de microrganismos obtidos com uso de NGT como isentos das obrigações impostos pelo marco regulatório europeu para OGM5. Importa destacar na década de uso de OGM e leveduras de alto desempenho nos mercados de etanol dos EUA e do Brasil a total conformidade regulatória, acompanhada de ampla segurança ambiental, genética e operacional.
Almeida Jr e Wood possuem ainda muito em comum. Ambos tiveram exposição e formação em clássicas escolas francesas. Souberam alinhar tradição com pioneirismo e uma nova forma de observar seu mundo, criando obras que venceram o teste do tempo. Curiosamente, os dois artistas tiveram suas vidas próximas ao que seria o coração do mundo de etanol, Almeida Jr terminando seus dias em Piracicaba e Wood enraizado no estado americano do Iowa, regiões hoje conhecidas como referências mundiais. A arte, a ciência, a tecnologia, a engenharia e a matemática em torno das leveduras OGM possibilitaram um salto quantitativo na eficiência da produção de etanol e se inspiram em Almeida Jr e Wood. Os avanços em leveduras OGM de alto desempenho mostram que estamos ainda no começo de um caminho virtuoso, que alinhando tradição com inovação e pioneirismo contribuirá com o legado do etanol para um planeta mais sustentável.


A introdução de tecnologias avançadas no sistema de produção dependerá da utilização de boas práticas nas operações do preparo de solo à colheita para obtenção de bons resultados.
O setor canavieiro há alguns anos não está tendo a produtividade esperada devido ao clima adverso e ao impacto da mecanização. Este artigo cita de maneira técnica e prática procedimentos operacionais que devem merecer mais atenção dos gestores para que os insumos, variedades e tecnologias novas apresentem o ganho esperado.
Tais procedimentos têm foco na instalação da lavoura e preservação das soqueiras pela eliminação da compactação e do pisoteio.
Base Física: As linhas de sulcação, carreadores, estradas e sistema conservacionista devem ser projetados, procurando-se usar todo o comprimento de campo das áreas.


Como todos os equipamentos são de grande porte, devem ser operados com acurácia para não pisotear a cultura e compactar o solo. O projeto tem como objetivo reduzir a quantidade de sulcos para reduzir as manobras dos equipamentos. Cada manobra gasta de 1,5 a 2 minutos de cada equipamento, e isto acarreta valor alto em horas, ao final de cada jornada. Preparo de Solo: A cana tem 3 tipos de raízes, todas com função de absorção de água e nutrientes:
1. raízes aerotróficas que se desenvolvem na superfície e sob a palha;
2. raízes suporte que se desenvolvem a 45º graus dando sustentação aos colmos; 3. raízes denominadas cordão que possuem diâmetro maior e podem aprofundar até 6 m no solo com função princi pal de absorção de água. Abaixo de 1,5 m, a maior parte dos solos possui umidade
Este artigo cita de maneira técnica e prática procedimentos operacionais que devem merecer mais atenção dos gestores para que os insumos, variedades e tecnologias novas apresentem o ganho esperado. "
Armene José Conde
Consultor da Canassist – Assessoria para sistematização para a cana-de-açúcar
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mesmo no período mais seco do ano, e, como raízes cordão não desenvolvem quando o solo está compactado, isso passa a ser uma restrição severa no período de seca.
Pode-se estimar que canaviais após o 1º corte produzem em torno de 10 t de matéria seca de raiz/ha até 1 m de profundidade no perfil do solo, quando livres de compactação.
Considerando que a compactação dos canaviais atinge sempre profundidades de 40 cm no perfil do solo (Figura 1), para eliminar esta camada com eficácia deve-se mobilizar o solo a uma profundidade de 50 cm e, para isto, a potência do trator necessária será de 1 hp/haste/cm de profundidade no solo, quando o implemento é subsolador.
Os subsoladores mais usados têm de 5 a 7 hastes, exigindo uma potência de 250 a 350 hp no trator respectivamente. Implementos canteirizadores possuem 2 hastes com aletas que trabalham a 60 cm de profundidade, exigindo potência no trator de 2 a 2,5 hp/haste/cm de profundidade.
O uso de arado de disco ou aiveca requer maior potência do trator, devendo-se considerar uma faixa de 60 a 70 hp para cada órgão ativo destes implementos.
É comum produtores incorrerem em erros de avaliação pós-aração, onde se mede 40 a 50 cm de solo mobilizado, mas na verdade foi mobilizado de 20 a 25 cm, e os valores maiores são devido ao empolamento de solo (aumento do volume de solo). Após a aração, sempre encontramos camadas compactadas com espessura de 10 a 20 cm.
Preparo Reduzido ou Conservacionista: Consiste em dessecar a soqueira e/ou usar o eliminador mecânico e posteriormente subsolar, para depois entrar com as plantadoras de cana. A camada de palha deixada sobre a superfície do
solo pela cultura anterior mantém umidade no solo (temperatura do solo não ultrapassa 30º Celsius), protege o solo do impacto da gota de chuva e, com isto, possibilita também diminuição ou eliminação de terraços, para favorecer as operações mecânicas.
Pode ser usado no sistema de rotação de culturas com plantio de cereais.
Após a colheita de cereais, deve-se avaliar a compactação, normalmente após cobertura com Crotalária sp e cultivo de soja não ocorre, mas após cultivo de amendoim o solo apresenta compactação.
Tanto os canteirizadores quanto os subsoladores devem ter disco cortante na frente de cada haste subsoladora. Estes implementos também foram desenvolvidos para áreas que apresentam praga de solos, com aplicação de inseticidas em profundidade.
Preparo Canteirizado: É o preparo que mobiliza somente a área onde será feito o sulco de plantio da cana (uma faixa em torno de 80 cm para o espaçamento simples de 1,5 m de entrelinha, ou ainda uma faixa de 2,30 m para colhedoras de 2 linhas).
Preparo em Faixas: Feito por implemento subsolador tradicional com hastes posicionadas para mobilizar solo somente onde serão abertos os sulcos de plantio (Figura 2).
Plantio: Somente as plantadoras de cana e “plantadoras de composto” poderão entrar para fazer o plantio. Todo abastecimento de insumos deve ser feito nos carreadores ou em pátios. Nos preparos em faixa e canteirizado as entrelinhas ficarão compactadas facilitando o rolamento das plantadoras e de todos os equipamentos das operações subsequentes. A geometria dos eixos dos tratores deve acompanhar a das plantadoras para não trafegar sobre a área onde será plantada a cana.
A sulcação não deve ter sinuosidades por aumentarem a chance de os equipamentos pisotearem as linhas de cana. O paralelismo entre sulcos é fundamental para possibilitar tráfego ideal.

Colheita: É a operação de maior custo do sistema de produção a cada ano, com alto número de equipamentos grandes e pesados. Colhedoras que variam de 19 a 40 t de peso e conjuntos tratores/transbordos que variam de 25 a 50 t transitam dentro da lavoura, e as manobras devem ser feitas em carreadores.
Diversos estudos ao longo de mais de 30 anos realizados pelo Centro de Tecnologia Canavieira mostraram que a compactação abaixo da linha de cana e o pisoteio reduzem a produtividade e longevidade dos canaviais de forma significativa. Pisoteios após colheita com umidade já foram avaliados e mostraram reduções de 30 a 60% na produtividade do corte subsequente por esmagar o tecido vegetal de rizomas das soqueiras.
Pisoteio com solo seco apresenta redução de 10 a 20%. A compactação em cana ocorrerá ao longo dos cortes pelo tráfego dos equipamentos de colheita, mesmo com solo seco e muito mais com solo úmido, mas deve-se direcioná-la para a entrelinha somente, e esta prática é denominada de “canteirização na colheita” (Figuras 3 e 4).
Tratos de Soqueira: Com a utilização de vinhaça enriquecida e localizada, equipamentos aplicadores foram desenvolvidos e hoje são bastante utilizados.
Estes equipamentos possuem tanque com capacidade para 35 m 3 , tendo peso total de equipamento mais o trator em torno de 50 t. É recomendável que estes equipamentos (trator+tanque) tenham eixos com geometria adequada para que os rodados só pisem na entrelinha e as manobras sejam feitas fora da lavoura. Os abastecimentos não devem ser feitos dentro da lavoura.
Capacitação de pessoas: Todos os itens citados não têm valor se as pessoas que formam a empresa não os executarem.
A formação de pessoas capacitadas é essencial, considerando que os equipamentos são de alta tecnologia e o cultivo de cana possui alto investimento e depende da produtividade e longevidade para que isto retorne de forma positiva.
Por que a produtividade da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil não evolui e/ou se mantém estagnada, se cada vez mais são liberados novas variedades e novos materiais genéticos?
A cana-de-açúcar é uma cultura semiperene, de clima quente e úmido, dispondo de manejos específicos para atingir seu pleno desenvolvimento e, consequentemente, o retorno esperado. Dessa forma, entendemos que práticas alheias aos padrões adequados irão fatalmente refletir em seus resultados, inclusive em sua produtividade.
Nos últimos anos, temos convivido com uma acentuada queda e/ou estagnação das produtividades nas usinas. Com exceção de uma minoria, todas tiveram uma redução de TCH (toneladas de colmos por hectare) nas últimas safras. Tal redução em relação às safras anteriores ocorre mesmo que, nas fases de seleção e estudo para a liberação da variedade, os clones

sejam submetidos invariavelmente em competição com as principais variedades comerciais exploradas pelo setor, onde estas variedades são utilizadas como padrões/testemunhas nos ensaios dos órgãos de pesquisa. Após as diversas fases de competição, seleção, condições edafoclimáticas e anos de avaliação a que esses materiais são submetidos, os melhores que superaram as variedades comerciais são liberados para o plantio comercial. Obviamente, são os clones que se mostraram superiores nos diversos indicadores de desempenho avaliados, como: produtividade em cana planta e soqueiras, riqueza, sanidade (doenças e pragas), colheitabilidade, isoporização etc., ou seja, os que tiveram uma performance superior às variedades comerciais cultivadas pelas usinas. Além desse processo, temos nos deparado ainda com a incógnita de não estarmos obtendo o incremento esperado na produtividade, ou melhor, somente um pequeno aumento no TCH ou uma manutenção linear com pequenas oscilações nas produtividades obtidas em safras anteriores.
Sabemos que o Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo e o segundo maior produtor de etanol. Nas últimas décadas, o crescimento desta commodity foi gigantesco, e, para atender à demanda, fez-se necessário a expansão das áreas de cultivo de cana. Assim, diante dessa necessidade, uma conjunção de diversos fatores acabou inevitavelmente impactando esse cenário de estancamento das produtividades, a saber:
Temos de aceitar e comprar a ideia de que não conseguiremos o aumento da produtividade se não investirmos num manejo racional para alcançamos tal objetivo. "
Diretor da Consulcana –Soluções Aplicadas a Cana-de-Açúcar
1. Expansão da área de cana em áreas até então não cultivadas com cana-de-açúcar (pastagens, eucaliptos, citrus), ou seja, não somente nas áreas mais férteis;
2. Problemas com nutrição e manejo, alta dos preços – agravado com as últimas crises políticas e econômicas (interna e externa) –, pandemia da Covid-19 e guerras entre países fornecedores de fertilizantes ao Brasil;
3. Diminuição das áreas de reforma e consequente aumento do número médio de corte (historicamente, a taxa média de renovação do canavial era de 17%; atualmente está próxima de 14%);
4. Antecipação do início das safras e postergação do final das safras. Há um tempo não muito distante, as safras começavam em maio e encerravam em outubro/novembro. Hoje, porém, é muito comum iniciarem em março e terminarem em dezembro – há, inclusive, algumas unidades que moem cana praticamente o ano todo;
5. Idade média de corte;
6 . Plantio de cana de ano, cana de inverno e, em algumas usinas, plantio o ano inteiro;
7 . Concomitantemente aos eventos elencados acima, atualmente a quase totalidade da colheita é mecanizada e a cana sem queimar. Anteriormente, o cenário era de uma área representativa de colheita manual e de cana queimada, onde se ateava fogo nos canaviais a serem colhidos, o que era positivo em termos de produtividade e menos perdas de matéria-prima.
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Enfim, mudanças importantes que ocorreram nos últimos anos no manejo tradicional até então aplicado e que, certamente, contribuíram para a redução da produtividade e/ou um range aproximado entre as últimas safras.
É evidente que, em virtude dos diferentes “anos agrícolas” que atravessaram esses canaviais, houve também influências de clima, temperatura, chuvas e outras variáveis. De todo modo, o que gostaria de pontuar é que, nos últimos anos, mesmo com o avanço de tecnologias que vêm sendo aplicadas no melhoramento genético e o desenvolvimento de novas variedades de cana, os fatores elencados interferem direta e substancialmente na redução ou manutenção da produtividade, reagindo de uma forma inversa ao acréscimo esperado da produtividade dos novos materiais liberados e ao seu manejo.
Outra variável também muito importante são as alterações constantes e reposições no elenco varietal, onde, se não fossem esse dinamismo no desenvolvimento e a liberação de novos materiais genéticos promissores e variedades com características superiores às já existentes, o cenário, indubitavelmente, estaria ainda pior e muito mais desafiador. Não há dúvidas do grande serviço que órgãos de pesquisa como CTC, IAC, Ridesa e algumas universidades prestam para o setor no desenvolvimento e liberação de novas variedades de cana-de-açúcar. Trata-se de uma árdua e importante tarefa que não tem fim, pois é uma busca permanente por novos clones superiores e futuras variedades que atendam à necessidade incessante do setor.

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O que podemos fazer para alavancarmos a produtividade além das liberações de novas variedades?
Sabe-se que a cana-de-açúcar é uma cultura altamente responsiva à água, fazendo com que esse insumo por si só já traga um enorme resultado positivo na busca pela produtividade, aliado ao clima quente e a horas de luz adequada. Esses elementos (água, temperatura e luz) talvez expliquem ou justifiquem por que o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar e seus derivados do mundo.
Não obstante aos fatores citados como impactantes na dificuldade em alcançarmos produtividades outrora obtidas, assim como alavancarmos as produtividades atuais, podemos relembrar um estudo realizado pelo fisiologista Paul H. Moore (2009), do Hawaii Agricultural Research Center (Centro de Pesquisa Agrícola do Havaí), onde aponta o potencial teórico máximo da cana-de-açúcar em 472 t/ha. Logo, por ser uma planta altamente responsiva à água, não podemos deixar de citar que a irrigação na cana é fundamental para o incremento de sua performance em produtividade, sendo uma das principais iniciativas numa busca por uma evolução nas toneladas de colmos por hectare.
Nota-se também, nos últimos anos, uma troca significativa no plantel de variedades, onde materiais que ocupavam e/ou eram cultivados comercialmente em grandes áreas foram cedendo espaço para novos materiais promissores aliando: riqueza, sanidade, colheitabilidade, diversidade quanto aos ambientes de produção (solos) e longevidade.
O maior desafio para nós, profissionais que trabalhamos no setor, é utilizar as tecnologias disponíveis no mercado e as novas variedades, adequar o manejo e buscar alcançar, nas áreas com potencial, os três dígitos de TCH (tonelada de colmo por hectare) ou próximo disto, sem contudo, não esquecer do ATR (açúcar total recuperável), pois entendemos também que não podemos só focar na produtividade e esquecer o ganho e a evolução que obtivemos nos últimos anos na qualidade tecnológica da matéria-prima.
É importante ressaltar que a alocação correta das variedades não traz nenhum custo adicional, pois o custo da operação sendo realizada da forma correta ou errada será o mesmo. Sendo assim, fazer a escolha da variedade a ser plantada de forma assertiva, equalizando épocas de plantio e colheita (materiais para início, meio e fim de safra), e o plantio sendo realizado no ambiente de produção adequado,
sem dúvida alguma já seria um grande salto na performance e retorno econômico, onde, consequentemente, não haveria a necessidade de conviver com uma decisão equivocada e esperar cinco ou seis cortes (anos) para corrigir um eventual erro cometido na formação do canavial.
Devemos buscar o manejo ótimo, equalizando o elenco varietal de acordo com os ambientes de produção disponíveis na usina, se necessário, investir em mudas de variedades que talvez a usina não tenha, e, insisto, principalmente fazer a alocação nas áreas adequadas, sem deixar a logística e/ou a muda mais próxima serem o fator determinante na tomada de decisão de qual variedade plantar na área a ser reformada, incorrendo num erro que depois custará anos para ser corrigido, ou seja, até a próxima reforma da área.
Vale destacar também alguns outros fatores no manejo que são fundamentais e contribuem para elevação da produtividade:
• Estratégias adequadas de plantio, visando mitigar canavial com falhas;
• Redução de perdas na colheita (trasbordo, pisoteio, transporte);
• Caminhamento coerente de safra;
• Nutrição sem economia de acordo com a análise/necessidade do solo;
• Investir em irrigação visando abranger a maior área possível dos canaviais;
• Fatores redutores de produtividade agrícola sob controle (pragas, doenças e ervas daninhas);
• Ponto ideal de reforma;
• Escolha e alocação correta da variedade no ambiente de produção (solo), ponderando inclusive questões logísticas.
Com estas variáveis sob controle e um mínimo investimento, é factível buscarmos e alcançarmos este incremento na produtividade que tanto é questionado pelo setor nas últimas décadas e que, com certeza, trará o retorno esperado em toneladas de colmo por hectare. Reduzir custos com economia na adubação, com a logística no transporte de mudas de variedades equivocadas somente por estarem mais próximas da área de plantio, não investir na irrigação dos canaviais, assim como outras práticas habitualmente encontradas, são decisões muito comuns, práticas e fáceis de serem tomadas, mas que não são as mais assertivas para quem busca aumento de produtividade. Temos de aceitar e comprar a ideia de que não conseguiremos o aumento da produtividade se não investirmos num manejo racional para alcançamos tal objetivo.


Ary Diesendruck
O paradoxo do dado abundante:
O setor agrícola do sistema sucroenergético brasileiro tem sido um campo fértil para a inovação tecnológica. Há mais de uma década, o avanço da digitalização permitiu a coleta de uma quantidade de dados sem precedentes sobre solo, planta, clima e operações mecanizadas. No entanto, o setor se depara com um paradoxo estrutural: apesar da abundância de sensores e registros, grande parte desse potencial de inteligência permanece subutilizada ou isolada.
A realidade atual demonstra que o volume de dados gerados supera em muito a capacidade de transformá-los em conhecimento aplicável e, sobretudo, em valor econômico tangível. Proponho neste artigo uma análise cirúrgica desse cenário.
Iremos, primeiramente, descrever o robusto arsenal tecnológico disponível e, em seguida, discutir os principais gargalos enfrentados na gestão e uso efetivo desses dados. Por fim, proporemos caminhos práticos e ações estruturais para superar a fragmentação e consolidar a agricultura de precisão em um modelo verdadeiramente orientado por dados (data-driven).
Tecnologias e o cenário atual da coleta:


A cultura da cana-de-açúcar brasileira vive, desde o início do século XXI, uma profunda transformação. O campo se converteu em um complexo sistema de produção de informações, onde cada talhão é uma fonte contínua de dados e cada máquina é um centro de telemetria.
O ecossistema tecnológico é amplo e opera em diversas camadas do ciclo produtivo:
Sensoriamento e Mapeamento: No solo, a condutividade elétrica e a resistência à penetração ajudam a mapear variações de textura e compactação. Na planta, índices espectrais como NDVI e NDRE, obtidos por drones (RGB, multiespectral e térmico) ou satélites, revelam vigor vegetativo e estresse hídrico.
o setor se depara com um paradoxo estrutural: apesar da abundância de sensores e registros, grande parte desse potencial de inteligência permanece subutilizada ou isolada. "
José Guilherme Perticarrari Diretor da Perticarrari Consultoria Agrícola
Telemetria e IoT Embarcada: Colhedoras inteligentes, tratores e transbordos transmitem dados em tempo real sobre operação, consumo, velocidade, perdas e rendimento. Grandes fabricantes do setor — como Case IH, John Deere, New Holland, Jacto, DMB, TMA e TT — incorporam sistemas que ampliam a precisão e o controle das operações.
Inteligência de Decisão: Uso de IA, Big Data, Machine Learning e geoprocessamento/ sensoriamento remoto completa a base, focada em gerar modelos de previsão de produtividade (TCH/ATR), otimizar janelas operacionais e auxiliar na aplicação em taxa variável.
Paralelamente, o setor vivenciou um avanço com a abertura de empresas nacionais de alta performance (como Solinftec, Orion, OMD, AgTech) e a adoção de sistemas integrados de gestão por grandes grupos produtores (Raízen, São Martinho, Bunge, Tereos), que investem em Centros de Controle Operacional (COA/COI) para gerir indicadores agrícolas e industriais em tempo real.
Tecnologias habilitadoras e os fatores críticos de sucesso:
1. Tecnologias de Ponta em Aplicação: Padrões de Comunicação: Telemetria e IoT em máquinas agrícolas (colhedoras, tratores e transbordos) integradas a padrões Isobus (ISO 11783) e RTK-GNSS para correção centimétrica.
Análise Preditiva e Prescritiva: Modelos de aprendizado de máquina para previsão de produtividade (TCH/ATR), recomendação de taxa variável e detecção de impurezas minerais/vegetais na colheita.
Otimização Logística: Uso de Gêmeos Digitais (Digital Twins) de frente de colheita para simular gargalos, janelas operacionais e consumo específico de combustível.
Processamento Descentralizado: Edge computing embarcada (ECUs) para processamento local e sincronização assíncrona via 4G/5G/ LoRaWAN, mitigando a dependência de conectividade constante.
Monitoramento em Tempo Real: Sensores de fluxo, esteiras e ventiladores para monitoramento imediato de perdas de colheita, com dashboards operacionais e KPIs.
Estudo de Caso de Superação: O Grupo São Martinho (Pradópolis-SP) serve como um exemplo de superação de gargalos. Eles demonstram o nível de integração necessário utilizando: estrutura robusta de governança de dados agrícolas e industriais; rede 4G privativa
Multilingual Edition

no campo para comunicação contínua entre máquinas e centrais; e um datalake agroindustrial unificando dados de máquinas, clima e ERP (SAP S/4HANA). Esse investimento elimina o principal entrave: a conectividade.
2. Os Gargalos da Implementação: Fatores Críticos
a. Desafios Tecnológicos e de Interoperabilidade: Silos de Dados e Fragmentação: Este é o principal entrave. Há baixa interoperabilidade entre plataformas e sistemas de diferentes fabricantes. A maioria dos sensores e softwares "fala uma língua diferente", exigindo custosos processos de ETL (Extract, Transform, Load) para padronização de metadados. A exceção notável é o Isobus, que padroniza a comunicação entre tratores e implementos.
Conectividade e Latência: Conectividade irregular no campo (sombras de sinal e alta latência) limita a telemetria contínua e a atualização de mapas em tempo real.
b. Desafios Culturais e de Capacitação
Cultura Analítica Deficiente: A tecnologia está disponível, mas as decisões em muitas empresas ainda estão baseadas mais na experiência e intuição do gestor do que nas evidências disponíveis nos dados.
Escassez de Talentos Híbridos: Falta de profissionais que unam o domínio da engenharia agrícola, a análise de dados (analytics) e a gestão, dificultando a interpretação e a tradução dos dashboards em ações.
Velocidade de Decisão: Muitas vezes, as informações chegam tardiamente — depois que a janela de decisão operacional já passou.
c. Desafios de Governança e Retorno (ROI) Governança e Segurança: A gestão de permissões, a adequação à LGPD e o compartilhamento seguro com terceiros tornam-se obstáculos complexos.
Cálculo de ROI: Os custos iniciais de hardware, assinaturas e manutenção exigem um cálculo de payback rigoroso e sensível à escala e maturidade digital da empresa.
Considerações finais: os pilares do destravamento:
Superar o paradoxo do dado abundante exige uma mudança de mentalidade e uma abordagem estruturada. O dado é o novo insumo estratégico. Usá-lo de forma inteligente é o próximo salto de produtividade do setor sucroenergético, um salto que depende menos de novos sensores e mais de integração, análise e ação coordenada.


1. Eixo da Integração: O Repositório Único da Verdade
Arquitetura e Padrões: A arquitetura ideal é um Data Lake com esquema em camadas (bronze/prata/ouro) para organizar os dados. É fundamental adotar protocolos de ingestão modernos (MQTT/OPC-UA) e um plano de interoperabilidade que adote APIs e faça referência a padrões como Isobus/ISO 11783 e ISO 19115 (metadados geoespaciais).
Consolidação: Integrar máquinas, sensores, sistemas corporativos (ERP) e dados meteorológicos em uma base comum.
2. Eixo da Análise: Predição e Prescrição
Modelos Preditivos: É essencial adotar ferramentas de analytics e Machine Learning que permitam interpretar padrões, prever comportamentos e otimizar ações.
KPIs Focados em Ação: A gestão deve se basear em indicadores-chave mínimos e acionáveis, como: TCH, ATR, Perdas (%), Disponibilidade Mecânica (%), Eficiência Logística (h de fila/transbordo), e Conformidade de Prescrição (%).
Trilhas de ROI: Recomenda-se priorizar projetos-piloto de 90 a 120 dias em trilhas de valor claro (ex: (1) perdas na colheita, (2) taxa variável, (3) logística CT&T), com marcos de ROI definidos para validar a tecnologia.
3. Eixo da Cultura: Uso Gerencial e Capacitação
Uso Gerencial: Os dados precisam ser incorporados às rotinas operacionais diárias. Reuniões e planos de desempenho devem se basear em painéis de dados confiáveis.
Data Owner : Cada área deve ter um "dono" para seus indicadores, responsável por acompanhar, validar e propor melhorias.
Capacitação: O investimento em treinamento técnico e analítico é decisivo. Operadores e líderes de frente precisam compreender o significado dos indicadores para agir de forma consistente.
Ao integrar gestão, tecnologia e cultura, o setor pode obter ganhos expressivos de eficiência e competitividade. Experiências mostram reduções de 5% a 10% nos custos logísticos, aumento de até 3 t/ha em produtividade média e melhorias de 2 a 4 pontos percentuais na disponibilidade das colhedoras, comprovando que o futuro da agricultura canavieira será definido por quem interpreta melhor o que já mede todos os dias.








O Anuário de Sustentabilidade do sistema Sucroenergético tem o objetivo de registrar as centenas de ações ambientais e sociais, anualmente realizadas pelas empresas produtora de etanol, açúcar, bioeletricidade, biogás, biometano, biohidrogênio, por todo o Brasil.
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