Menino Maluquinho - Um Livro, Crianças e Muitas Histórias

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Direção Editorial: Pedro Mainardes Roteiro: Manuel Filho Ilustrações: Ziraldo e João Carvalho Direção de Arte e Diagramação: Nina Zambiassi Pesquisa e Assessoria de imprensa: Jô Ribes Responsável Técnica Linguagem e Audição: Fga. Me. Maria Paula Roberto - CRFa 2-4712

Todos os direitos reservados. Ziraldo Artes Produções, licenciado para Nosso Olhar 2021 www.ziraldoproducoes.com.br contato@ziraldoproducoes.com.br www.nossoolhar.org contato@nossonolhar.org

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CONTRIBUIR PARA A INCLUSÃO TAMBÉM É NOSSO PROPÓSITO. Sentimo-nos muito felizes em contribuir com o nosso trabalho para a elaboração destas cartilhas que irão percorrer o país para demonstrar que entre as diferenças, somos todos iguais. Como diretor editorial deste projeto, abraçado pela ZIRALDO ARTES PRODUÇÕES a pedido do ONG NOSSO OLHAR, foi com muita alegria que iniciamos e concluímos esta série composta de 9 cartilhas, conhecendo um pouco mais estas crianças maravilhosas. Integrar o “CHICO E SUAS MARIAS” à “TURMA DO MENINO MALUQUINHO”, criação fenomenal do talento e criatividade de nosso Ziraldo, foi uma viagem à sua obra percorrendo todo o seu universo imaginário do qual gerações se encantaram ao longo de muitos anos. Em 2020 o “Menino Maluquinho” completou seus 40 anos de existência e de contribuição com a educação brasileira. Neste tempo valorizou a cultura, cuidou do meio ambiente, orientou crianças e adultos para o bem viver. Aqui, neste projeto, nossos Meninos mostram que é possível conviver em harmonia com as diferenças e semelhanças. Mais que isso: conviver e ser feliz. Cada um com suas limitações, com seus sonhos e, em especial, com seu jeito de ser. Nestas páginas, e em toda a série de publicações, o Menino Maluquinho está com o “Chico e suas Marias” vivendo aventuras, convivendo feliz e se divertindo, mas, principalmente, mostrando às crianças e aos adultos do Brasil que os diferentes são aqueles que são capazes de ver diferenças. No fundo, na vida, temos todos algo em comum: precisamos de amor, de carinho e da compreensão de que a vida e a felicidade são para todos.

Pedro Mainardes Diretor de Criação Ziraldo Artes Produções

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Estamos muito felizes com o resultado desse projeto, dessa parceria. Sempre acreditei que a literatura pode transformar vidas. E agora, vendo Chico e suas Marias como personagens da turma do Menino Maluquinho, sinto que estamos no caminho certo. É preciso conscientizar a população sobre empatia, respeito às diferenças, inclusão e solidariedade. Essas sempre foram as bandeiras da ONG Nosso Olhar e de Chico e suas Marias. E se esse caminho for repleto de informação, leveza e muita diversão, melhor ainda. As histórias podem reunir famílias e alunos em sala de aula. Ao final da leitura, das risadas, das conversas, o sentimento será diferente. E mostrará um futuro mais acolhedor.

Thaissa Alvarenga Fundadora da ONG Nosso Olhar Eu gosto muito de trabalhar com temas que tratem da inclusão. Acho que eu aprendi bastante durante esta jornada e acredito que a informação pode ampliar o conhecimento e dirimir o preconceito a respeito de situações que temos como dadas, definitivas. Espero que esta coleção de cartilhas possa colaborar para tornar o mundo um lugar mais humano, onde todas as pessoas possam ser aceitas verdadeiramente.

Manuel Filho Escritor

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APRESENTAÇÃO Nosso planeta é uma beleza. A palavra que frequentemente se usa para designar a riqueza de um local é “diversidade”. Tente contar quantas aves existem, insetos, plantas ou mesmo os sons da natureza. Se algum dia você sobrevoar a Amazônia, verá que o verde tem muitas cores, infinitos tons, possivelmente. Se assim a natureza se apresenta, por que haveria de ser diferente entre os seres humanos? Somos ricos em nossas cores, movimentos, palavras, cultura, música... Mas, sei lá, você pode achar que: ah, eu não tenho dom qualquer, não sei fazer nada, não possuo nada de especial. Será? Você nunca fez alguém feliz, não recebeu um agradecimento sincero, não acariciou um animalzinho, participou de uma festa na qual você tenha compartilhado um momento de alegria? Aposto que sim!

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Todos nós temos um tempo de sorrir, amar, olhar o outro e, principalmente, aprender a aceitar o que não conhecemos. Nossos tempos são diferentes. Tudo que é novo chama nossa atenção ou nos desperta curiosidade, por vezes algum estranhamento, e o desconhecido pode nos surpreender, até nos assustar, entristecer. Contudo, estabelecido o conhecimento e a aprendizagem, abre-se uma chance totalmente nova de compreensão. Crianças brincam, pulam, correm, todas gostam de ouvir histórias. E, a partir de agora, outra vez, você reencontrará um velho amigo e sua turma, o Menino Maluquinho e, tal como você, ele vai fazer novas amizades: com o Chico e Suas Marias. São crianças exatamente como o Maluquinho, a Julieta e o Bocão. O Chico e Suas Marias são irmãos e eu acredito que eles vão adorar os novos amigos, cada um do seu jeito: o Chico, que tem síndrome de Down e é muito atencioso, a Maria Antônia, repleta de independência, e a Maria Clara, cheia de animação. Pronto, todos devidamente apresentados e dispostos a se divertir com muitas maluquices.

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“Que dia quente!”, pensou Maluquinho enquanto subia uma ladeira colocando a língua para fora. Ele tinha combinado de se encontrar com o Bocão, queriam trocar figurinhas, contudo, ficou em casa desenhando mapas, planejando aventuras e, ao resolver prestar atenção no mundo real, viu que bastante tempo havia se passado, então, o jeito era correr. E foi o que fez! 8


Até se esqueceu de beber água e, agora, estava com sede. Bocão não morava tão longe, mas Maluquinho não gostava de se atrasar, afinal, ele sabia como era chato ficar esperando alguém que podia não aparecer... Uma maluquice. A ladeira já estava quase terminando quando, de repente, surgiu no topo dela um menino. Maluquinho cruzou com o garoto e ambos disseram ao mesmo tempo: — Oi.

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Seguiram seus caminhos, porém, como não podia deixar de ser, acharam que havia algo diferente em cada um deles. Maluquinho possuía uma memória fotográfica e, mesmo que não fosse, ele tratava de inventar tudo o que precisasse. Aquele garotinho deveria ser novo por ali ou estar visitando alguém, Maluquinho nunca o tinha visto antes. Então, ele tratou de relembrar como era o garoto:

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1 - Olhos amendoados e orelhas pequenas. 2 - As pernas e os braços eram curtos se comparados com os do Junim, que era mais ou menos do tamanho daquele garotinho. 3 – Nas mãos, os dedinhos pareciam ser curtos. 11


Na verdade, embora essas características tivessem chamado a atenção de Maluquinho, o que mais lhe interessou foram as mãos, pequenas... Quer dizer, isso precisa ser melhorado. Maluquinho viu que, nas mãos do garotinho, havia um livro. Ele não podia ver um livro que ficava curioso. Maluquinho viu a capa bem de relance e não conseguia se recordar que obra seria aquela, apesar de haver centenas de livros na biblioteca do avô dele. 12


Tamanha foi sua curiosidade, que Maluquinho interrompeu o seu caminho e olhou para trás, a fim de avistar o garotinho, no entanto, ele tinha sumido. “Mas, onde foi esse garoto?”, pensou ele. Fosse como fosse, ele não poderia ter ido muito longe, não havia se passado tanto tempo assim desde o encontro. Decidido, Maluquinho desceu a rua quase correndo, afinal, era mais fácil descer do que subir, porém, nem precisou retornar tudo. Olhou para a pracinha e viu que o menino se aproximava de duas garotas.

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Maluquinho apressou o passo e, ao se aproximar, estava certo de que as crianças olhavam para ele. Eles pareciam fazer uma escadinha de tamanho, havia uma menina um pouco maior, a outra, um pouco menor, e, o menino, se encaixava direitinho entre a altura das duas. — Ah! – exclamou uma das garotas quando Maluquinho se aproximou. — Chico, não era dele que você estava falando? O menino apontou para Maluquinho e deu um largo sorriso. 14


Curioso, Maluquinho perguntou: — Por que estavam falando de mim? Chico, como que procurando as palavras, explicou lentamente. — É que eu nunca vi um menino com uma panela na cabeça antes. Chico realmente falou bem devagar até terminar a frase, e, ao completá-la, Maluquinho se divertiu com o comentário. Sempre ficava feliz quando notavam sua panela, que o tornava tão diferente e querido por todos. — Minha panela é muito especial. Aqui, eu guardo meus pensamentos, descubro minhas aventuras e até viajo com ela.

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— Que legal — disse a outra garota. — Tá vendo, Chico? Não tem nada de diferente nele só porque ele tem uma panela na cabeça. Ele é um garoto exatamente como você! Talvez, só mais Maluquinho. — Isso mesmo, isso eu sou, com certeza. Meu nome é Maluquinho. A primeira garota então se apresentou e contou que o nome dela era Maria Clara, a menor era a Maria Antônia e, o menino, era o Chico. De repente, uma nova voz surgiu. — E eu sou o Bocão.

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— Bocão! — espantou-se Maluquinho. — O que é que você está fazendo aqui? — Eu que lhe pergunto. Estava esperando você para trocar figurinhas, mas como você se atrasou, vim ver o que havia acontecido e, aqui estou. Te vi lá de cima. — É que estou fazendo novos amigos. — Eu gostei de você — disse Chico dando imediatamente um abraço no Maluquinho. Subitamente, estava todo mundo se abraçando, ali, na praça. E, esse sempre é o melhor jeito de se iniciar uma nova amizade, com um forte abraço.

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Depois que o abraço terminou, Maluquinho achou que já era hora de matar a curiosidade. — E esse livro aí, de quem é? Maria Clara se adiantou e respondeu: — É nosso, acabamos de nos mudar para cá e, enquanto estão arrumando nossa casa, minha mãe pediu que a gente brincasse na praça. Foi aí que o Chico se lembrou do livro dele, voltou para buscar e já íamos começar a ler juntos. — Pela centésima vez — riu Maria Antônia. — O Chico adora essa história. Vocês querem ler com a gente? Que pergunta!!!! 18


Claro que queriam. E, para sorte do Maluquinho, havia ali uma garrafa de suco e ele tratou logo de beber um copo. Na sequência, todos começaram a ler o livro, a conhecer aquela história que o Chico tanto amava. E, quem lê junto, acaba se divertindo ao mesmo tempo, rindo, chorando e, quem sabe, até tomando um susto. Quem olhasse aquela cena de longe veria com carinho um grupo de crianças, todas tão diferentes, de cabelo comprido, de olhos amendoados, falando rápido, devagar e até com uma panela na cabeça. Mas o principal era que além dessas diferenças, estava o desejo de que pudessem, juntos, dividir uma linda e boa história.

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APRENDENDO COM O MALUQUINHO A gente não consegue ver, mas somos formados por milhões, bilhões, trilhões de células. E, como elas se formam? Começa lá atrásssss, quando o espermatozoide do papai se encontra com o óvulo da mamãe e, então, é formado o zigoto. E o que é o zigoto? É a primeira célula de nosso organismo e toda célula é formada com 23 cromossomos do espermatozoide e 23 do óvulo, assim, temos um total de 46 cromossomos em cada célula.

célula 20

cromossomo


Acontece que, por alguma razão que ninguém sabe ao certo ainda, um dos dois pode trazer 24 cromossomos, ao invés de 23 e, por isso, quando eles se unem, a célula gerada terá 47 cromossomos e não 46. E, como nossas células adoram se dividir, todas elas levarão essa característica daí em diante.

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Assim, se você ficasse contando o momento em que cada cromossomo se encontra, quando chegasse o encontro de número 21, pronto, seria nesse que o cromossomo a mais iria ficar. Então, o par 21, ao invés de ter 2 cromossomos, como todos os outros, fica com 3, um a mais, deixando a célula com os tais dos 47. Essa ocorrência se chama trissomia do 21 e é por causa dela que uma pessoa passa a ter a síndrome de Down. 21


NOSSO OLHAR E CHICO E SUAS MARIAS Chico nasceu com síndrome de Down e sua vinda iniciou um grande trabalho pela inclusão e pelo respeito às diferenças. Sua mãe, Thaissa Alvarenga, criou o portal de conteúdo Chico e suas Marias para compartilhar o dia a dia do garoto e das irmãs Maria Antônia e Maria Clara, divulgando informações sobre a trissomia 21, acolhendo e transformando a realidade das famílias. O segundo passo de Thaissa foi criar a ONG Nosso Olhar (www.nossoolhar.org) com a missão de mobilizar e educar a sociedade para um mundo mais inclusivo. Os projetos idealizados buscam a capacitação, a inserção no mercado de trabalho, a independência financeira e a autonomia das pessoas com deficiência. Também incentiva que

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a inclusão ocorra durante toda a vida, desde a infância até o envelhecimento. Como empreendedora social, Thaissa idealizou o Espaço Rede T21 junto à Mônica Xavier, do Instituto Empathiae. A casa colaborativa abriga duas instituições do terceiro setor, uma equipe terapêutica, aulas de ballet e projetos de acolhimento e inserção social, como o Tatame Inclusivo. Membro da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, Thaissa também é colunista no Portal Papo de Mãe e fundadora e apresentadora do programa Inclua Mundo. Um dos projetos mais recentes é a participação de Chico e suas Marias na turma do Menino Maluquinho, uma parceria com a Ziraldo Artes e Produções.

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