Primeira Infancia em primeiro lugar

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Nesse sentido, suas práticas, que se expressam na vida cotidiana, conferem à experiência singular do sujeito em desenvolvimento a condição de membro de uma comunidade. As idéias dos pais sobre criação de filhos e o projeto político-pedagógico do centro de educação infantil, por exemplo, são mecanismos através dos quais a cultura molda a estrutura e a organização de um ambiente como contexto de desenvolvimento. Cabe então indagar: frente às necessidades e circunstâncias que vão constituindo a trama do cotidiano, que valores, concepções e práticas estão sendo construídas pelas famílias e pelas escolas? E mais: existem práticas que são comuns a todas as famílias? Essas práticas se articulam e se apoiam mutuamente? Tais questões apontam para a complexidade da análise necessária à compreensão do tipo de ambiente de desenvolvimento disponível para a criança brasileira. Para tanto é preciso também considerar as mudanças significativas que vêm acontecendo no contexto mais amplo que impactam sobre o modelo de socialização que é posto para as crianças, pela família, escola e comunidade. Estudos e pesquisas como o realizado por Bilac9 evidenciam que o cotidiano e o privado trazem manifestações diversas conforme sejam as situações vivenciadas. Pesquisas sobre como estão sendo exercidas as chamadas “competências familiares na atenção a crianças de 0 a 6 anos” realizadas pela Avante – Educação e Mobilização Social em parceria com o UNICEF em quatro municípios do Estado da Bahia10 comprovam essa diversidade de manifestações, porém também apontam para o fato de que algumas delas já estão sendo exercidas de forma generalizada. Por exemplo, em relação à efetivação de registros de nascimento e de cumprimento do calendário de vacinação, os resultados são muito positivos. Há, entretanto outros aspectos que precisam ser generalizadamente melhorados. Dentre eles destacam-se a utilização de boas práticas de higiene como forma de prevenir doenças e a compreensão da influência da coesão familiar, da interatividade e da realização da estimulação psicossocial, como formas de promover o desenvolvimento da criança, especialmente na faixa etária de 0 a 6 anos. Apesar de algumas dessas práticas estarem sendo constantemente recomendadas pelos órgãos de educação e saúde, os dados colhidos indicam que sua importância parece não ter sido ainda suficientemente difundida e assimilada, especialmente por aquelas famílias socialmente mais vulneráveis. Os problemas de ordem econômica e social têm, assim, diferentes impactos sobre as famílias, conforme seja sua condição de vida. Por exemplo, famílias muito pobres e famílias chefiadas por mulheres jovens e com muitos filhos estão as mais sujeitas à conjuntura. Em se tratando do Brasil observe-se que essa vulnerabilidade se expressa sob vários ângulos11:

1. da sua população de cerca de190 milhões de pessoas, 31% vivem em famílias pobres; 2. entre as crianças, esse número chega a 50% e as negras, por exemplo, têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas;

9 BILAC, E. D. Famílias de trabalhadores: estratégias de sobrevivência. A organização da vida familiar em uma cidade paulista. São Paulo: Edição Símbolo, 1978

10 Informações mais detalhadas sobre os resultados dessas pesquisas estão publicados nos seguintes documentos: Ser Criança – resultados de pesquisa de avaliação de competências familiares na atenção de crianças de 0 a 6 anos nos municípios de Salvador e Lauro de Freitas, Modos de Cuidar – dever de casa, do estado e da sociedade e Criança Pequena – modos de cuidar e educar, realizadas respectivamente em 2007, 2008 e 2009, pela Avante – Educação e Mobilização Social em parceria com o UNICEF, nos municípios de Mata de São João e de Euclides da Cunha.

11 Dados retirados do site http://www.unicef.org/brazil/pt/activities_9381.htm - Infância e Adolescência no Brasil, em 29.04.2010


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