SE TOR OLEÍCOLA
A REVISTA PR OFIS SIONAL DO
Pedro Lopes
É com satisfação e orgulho que escrevo estas primeiras palavras no arranque de mais um projeto da OLIVUM - Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, que destaca uma vez mais a importância da comunicação do setor Oleícola. Esta primeira edição reúne informação técnica sobre a riqueza e atualidade dos olivais e lagares, onde tradição e inovação se fundem de forma harmoniosa, destacando o compromisso com práticas sustentáveis, enquanto revisita a história dos 10 anos desta jovem Associação e a dinâmica do seu percurso. Começo por aqui, por este dinamismo que caracteriza a Olivum. É com enorme orgulho que, ao longo destes últimos 20 anos, temos feito parte de uma extraordinária metamorfose do setor oleícola e olivícola. A olivicultura portuguesa não só evoluiu, como se destacou a nível regional, nacional e internacional, tornando-se uma referência global, onde a OLIVUM assumiu uma função crucial como representante e protagonista na defesa dos interesses do setor, promovendo incessantemente a inovação, a sustentabilidade e a excelência na qualidade. Relembrando, em 2014 a OLIVUM foi, formalmente, apresentada e começou por focar a sua atuação na representação de olivais da região sul do país. Em 2020 verticalizou a sua atuação, passando a representar também lagares, e em 2022 alargou a sua abrangência, representando hoje olivais e lagares a nível nacional, com 50 mil hectares e 18 lagares, responsáveis por mais de 70% da produção nacional
de azeite. A OLIVUM tem feito o seu caminho de forma qualificada junto e pelo setor olivícola perante um conjunto de stakeholders-chave e trabalha a valorização e promoção do setor através da organização de eventos, participação e comunicação em conferências, seminários, feiras nacionais e internacionais, tendo já sido premiada pela comunicação do setor!
Lançámos o Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo (PSAA), iniciativa pioneira a nível internacional, que apoia produtores de azeitona e de azeite, na consolidação e melhoria do seu desempenho ambiental, social, económico e cultural.
É neste caminho que se desenvolve o trabalho da OLIVUM, a explorar as conquistas e desafios que moldaram a indústria e entender como podemos continuar a liderar no cenário global.
Quero expressar a minha gratidão a todos os envolvidos neste projeto e que demonstraram desde o primeiro momento interesse e dedicação para mais um projeto enriquecedor, de partilha e de sucesso!
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Presidente da Direção da OLIVUM
ÍNDICE
Pedro Lopes Editorial - Palavras do Presidente 5
Miguel Portela Morais Entrevista - Associado n.º1 9-10
Joaquim Freire de Andrade Entrevista - Primeiro Presidente da Olivum (2014-2016) 11-12
Teresa Teixeira
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Dez anos de Olivum, dez anos na Olivum
Breves - Últimas ações da Olivum 15
Susana Sassetti Entrevista - Nova Diretora Executiva da Olivum 16-17
ML Consultoria Publireportagem - A conservação da biodiversidade em explorações agrícolas e turísticas 18
José Pedro Salema (EDIA)
19-20
23-26
O olival em Alqueva - desafios e estratégias
José Núncio Entrevista - Tecnologia de rega
Álvaro Mendonça e Moura (CAP) Entrevista - Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal
Caderno PSAA 27-38
28-29
30-32
33-35
Gonçalo Moreira Entrevista - Gestor do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo
Raquel Lucas Entrevista - Coordenadora da equipa Universidade de Évora (PSAA)
Machrent
Publireportagem - Construindo uma economia de partilha: o caminho para o sucesso da agricultura
António Relvas Entrevista - Produtor (PSAA) 36-37
Luís Cavaco Entrevista - Produtor (PSAA) 38
Anastasio J. Villanueva e Rubén Granado-Diaz
39-41
43-44
46-49
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Preferências dos consumidores: azeite virgem extra com atributos relacionados com a bioeconomia circular
Juan Vilar Hernández
A revolução da olivicultura mundial - Alentejo como referência máxima do Estudo
Pedro Santos Espaço de Boas Práticas nacionais na Olivicultura - Atualização de Estudo
Luis Alcino Conceição Entrevista - Inovação tecnológica no olival
Jeremias Távora
- Lagares e tecnologia
Bioibérica
Publireportagem - Terra-Sorb radicular SymBiotic (primeiro bioestimulante probiótico) 54
Bagaço de oliveira impulsiona Agricultura Circular Grande Reportagem 55-57
58-62
64-65
66-68
70-73
Rui Ribeiro A qualidade do azeite português
Mariana Matos Comercialização e valorização do azeite
Francesco Montanari
Greenwashing: um quadro legal em evolução
Gonçalo Morais Tristão
Impacto das alterações climáticas na disponibilidade de água para a produção oleícola - desafios, oportunidades e respostas
Francisco Pavão e José Duarte
74-75
Retrato do olival tradicional - Trás-os-Montes e Alto Douro / Baixo Alentejo
21-22
52-53
Entrevista
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“A OLIVEIRA SERIA UMA EXCELENTE JOGADORA DE RUGBY”
Empresário, advogado e antigo jogador de rugby, Miguel Portela Morais é também o primeiro associado da Olivum. O olivicultor fala dos desafios que o setor tem vivido ao longo da última década e da forma como se tem conseguido mostrar que o olival moderno, afinal, é uma cultura amiga do ambiente.
Como se tornou o primeiro associado da Olivum?
MPM - Foi um processo natural, como consequência da revolução muito positiva a que todos assistimos na agricultura, em particular do olival, na região do Alqueva. Tudo o que estava a acontecer previa uma enorme evolução da cultura do olival na região e uma enorme competência empresarial. Por isso, sentiu-se necessidade de criar uma união entre todos os players, de forma a podermos estar à altura de todos os desafios, obstáculos e oportunidades que surgissem no caminho.
Que balanço faz destes 10 anos de atividade da Olivum?
MPM - Sou suspeito porque faço parte da direção, mas julgo que a Olivum tem sido uma associação com uma enorme pujança e com bastante sucesso na sua atuação. Tem conseguido ultrapassar os diferentes obstáculos, que têm sido vários.
Pode nomear alguns desses obstáculos?
MPM - A questão do bagaço, da apanha noturna e a forma como a sociedade em geral olha para o olival moderno. Há uns anos, este era visto de forma muito cética e até com muita oposição e, com muito
esforço de todos os que estão ligados ao setor, temos conseguido demonstrar que o olival moderno é uma cultura amiga do ambiente.
Pode explicar quais são os dilemas do bagaço e da apanha noturna?
MPM - Infelizmente, em alguns olivais, o que se veio a perceber é que muitos pássaros faziam ali os seus refúgios e que, com a apanha noturna, as aves acabavam por ser apanhadas pelas máquinas, o que levava às suas mortes. Isto foi uma questão, não só em Portugal, mas também em Espanha, que suscitou muita oposição de ambientalistas e defensores dos animais. Mas, embora não houvesse nenhuma lei específica que proibisse a apanha noturna em Portugal, foram os próprios agricultores – e também por iniciativa e coordenação da Olivum - que decidiram suspender este tipo de apanha, até que se consiga criar métodos que não causem qualquer tipo de dano aos pássaros.
E em relação ao problema do bagaço?
MPM - Por um lado, havia uma perceção errada sobre a extração de bagaço, que era vista como sendo uma atividade poluidora, que não o é. Por outro lado, dado as extratoras serem reduzidas em Portugal, em anos de muita azeitona, surgia o problema de se conseguir a venda desse bagaço para as extratoras, que estavam no limite da sua capacidade e isso, por vezes, “entupia” a produção normal do azeite. A Olivum tem trabalhado muito nisso, para conseguir outros métodos de utilização deste subproduto, como a compostagem. O que se pretende é reaproveitar o bagaço juntando outros subprodutos
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Miguel Portela Morais Advogado e empresário Moragri – Sociedade Agrícola SA
agrícolas e fazer um composto orgânico que possa substituir os adubos químicos. Conseguir fazer o ciclo inteiro da atividade olivícola é algo em que a Olivum tem trabalhado bastante.
Como é que um advogado nutre também uma paixão pelo setor agrícola?
MPM - Sou advogado e sempre estive muito ligado ao setor agrícola. Trabalho no escritório FCA Advogados, em que 90% dos clientes tem ligação à agricultura. Paralelamente, a minha família é olivicultora. Temos 600 hectares de olival no Alentejo, na zona de Beja, e temos também lagar.
Além de azeite, a Moragri dedica-se a que outro tipo de produção agrícola?
MPM - Somos produtores de vinho, temos gado, carne alentejana, cortiça, montado, amendoal. É uma atividade agrícola bastante dispersa.
Qual a previsão da produção da Moragri para esta campanha?
MPM - É uma produção que deve rondar as 800, 850 toneladas de azeite.
Quais são os vossos mercados?
MPM - Cá, vendemos para duas marcas de relevo: Oliveira da Serra e Gallo. Também há muita procura no mercado italiano e espanhol e, por vezes, há procura chilena.
Além da paixão pela agricultura e pelo Direito, há também um amor pelo rugby. Depois de ter sido jogador, continua a ser treinador e dirigente?
MPM - Joguei 63 vezes pela Seleção e joguei no Mundial de 2007 e tenho ainda a sorte de os
meus filhos jogarem rugby, e de jogarem no clube onde sempre joguei. Tive a sorte de ver o meu filho Jerónimo a representar Portugal no Mundial de 2023, que foi um sucesso e que culminou com uma vitória histórica sobre as Ilhas Fiji. Ser dirigente e treinador, neste caso do meu clube [Clube Desportivo de Direito], é uma forma de agradecer ao rugby tudo aquilo que me deu enquanto jogador. Faço-o de uma forma voluntária, com uma enorme paixão e enorme sentimento de agradecimento.
Que ensinamento do rugby lhe tem sido útil enquanto empresário e advogado?
MPM - O rugby tem características próprias: em cada treino, em cada jogo, tem que se superar a dor, tem que se batalhar, tem que haver confronto físico com o adversário, mas simultaneamente tem que se contar com o espírito de equipa porque sozinho não se vai a lado nenhum. O sentido de respeito pelo adversário não pode falhar. Se estou contra uma equipa e jogo de forma desonesta, arrisco a que depois me façam o mesmo. As pessoas têm de saber estar sem magoar e sem violar as regras e o espírito do jogo.
Pode dizer-se que o rugby lhe ensinou a resiliência?
MPM - Muito. O rugby é resiliência do primeiro ao último minuto.
A oliveira também pode representar a resiliência?
MPM - A oliveira seria uma excelente jogadora de rugby.
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“A OLIVUM TER-SE TORNADO UMA REFERÊNCIA A NÍVEL MUNDIAL DEIXA-NOS A TODOS ORGULHOSOS”
ENTREVISTA
Joaquim Freire de Andrade
Oprimeiro Presidente da Olivum lembra com entusiasmo a forma como a associação – que começou “sem um tostão” – evoluiu ao longo de dez anos, tornando-se representante da maioria dos produtores nacionais de azeite.
Joaquim Freire de Andrade destaca como projeto de referência o Programa de Sustentabilidade para o Azeite do Alentejo
O que esteve na base de criação da Olivum, em 2014?
JFA - Sentimos a necessidade de criar um apoio para o mercado da azeitona porque este estava a crescer muito e nós, olivicultores, precisávamos de falar a uma só voz. Acreditámos que, para tal acontecer, seria por intermédio de uma associação.
Até para a voz ter maior peso…
JFA - Apesar de não termos o peso político que queremos - aliás, que não só queremos, como merecemos, por causa dos 600/700 milhões de euros com que contribuímos para a balança comercial alimentar -, começámos a ter uma grande representação e não temos a que queremos, mas estamos no caminho. Começámos sem um tostão e, hoje, temos o orgulho de representar 70 a 80% da produção nacional de azeite. É um trabalho meritório e a associação tornou-se uma referência a nível mundial. Estamos a criar o primeiro Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo a nível mundial e isso deixa-nos um orgulho brutal. A mim deixa-me um orgulho brutal.
O que foi mais difícil na criação da associação?
JFA - Acreditarem em nós, sermos levados a sério. Éramos uns miúdos, tínhamos pouca experiência, pouco conhecimento. Tivemos a sorte de escolher o Armando Sevinate Pinto para Presidente da Assem-
bleia Geral da Olivum, que era uma pessoa acima de qualquer suspeita, antigo ministro da Agricultura, uma pessoa seríssima, motivadora, angariadora, e que nos ajudou muito a credibilizar a associação.
Porque deixou a presidência da Olivum?
JFA - Fui o primeiro presidente e sócio-fundador da Olivum. A associação tinha pernas para andar, mas precisava de dar um passo muito grande e achei que não era a pessoa indicada para dar esse passo. Acho que fui a pessoa certa – eu e todas as pessoas que trabalharam na associação - até àquela fase. Depois, entendi que devia ser outra pessoa, com outro perfil, a dar seguimento à Olivum e coloquei o lugar à disposição.
Está satisfeito com o rumo que a Olivum tem tomado?
JFA - Com certeza. Em 10 anos, a Olivum ter-se tornado uma referência a nível mundial, com o plano de sustentabilidade, deixa-nos a todos – os que ajudaram a trabalhar e a montar a Olivum – orgulhosos.
Como perspetiva o crescimento da Olivum nos próximos dez anos?
JFA - Gostaria que representasse o país. O meu objetivo era que fosse a associação de olivicultores e lagares de Portugal.
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Co-CEO da Sinvepart e ex-Presidente da Olivum (2014 a 2016)
A Sinvepart vem de uma longa história familiar. Falamos de quantas gerações de agricultores?
JFA - A Sinvepart é o espelho de uma família de agricultores com seis gerações e que, ao longo dos tempos, se vem adaptando às circunstâncias do setor e do mercado. O meu filho, de 15 anos, é o quinto Joaquim da família.
Quantos trabalhadores possuem a tempo inteiro, nas explorações agrícolas?
JFA - Temos 15 ou 16. Nas alturas de poda e apanha, precisamos de mais 20 ou 30.
Além da olivicultura, dedicam-se a que outras culturas?
JFA - Temos amendoal, cereais, vinha e vacas.
A grande aposta em olival aconteceu quando?
JFA - Começou em 2003, 2004, após Alqueva. A barragem deu-nos água, o que nos permite ter culturas com mais rentabilidade, estabilidade e sem estar à espera que chova. Tínhamos disponibilidade de água e tínhamos o querer fazer. Então, aprendemos a fazer e, hoje, nós, portugueses, somos dos mais profissionais e eficientes e qualquer pessoa no mundo, que queira plantar olival, vem a Portugal aprender. Os espanhóis trouxeram algum know-how e depois os portugueses continuaram.
Era gestor de produto na Triunfo e estava a morar em Lisboa. Até que se cansou da capital e decidiu mudar de vida. Foi uma decisão simples de tomar?
JFA - Não. É difícil vir de Lisboa para Beja. Em 1999 ainda era mais difícil, mas hoje sei que foi o melhor passo que dei. Divido-me entre Lisboa e Beja.
Tirou o curso de jovem agricultor. Ao fim de quanto tempo se sentiu à vontade a trabalhar na agricultura?
JFA - Demorou muitos anos. O curso de jovem agricultor de pouco serve. Tive sorte de apanhar um comboio em andamento, com a família ligada à agricultura. A adaptação não foi fácil, mas dá mais gozo quando não é fácil. Começámos a produzir azeitona e chegámos à conclusão de que não sabíamos produzir azeitona. Então, chamámos, consultores para nos ajudarem a sermos muito mais eficientes.
Quais as variedades que produzem e quais os principais destinos?
JFA - Temos olival em sebe e em copa e produzimos Arbequina e Arbosana. Vendemos principalmente para Portugal e Espanha.
Têm sofrido furtos de azeitona?
JFA - Atinge-nos a todos. É um problema mais grave do que as pessoas pensam porque não é um problema só para o agricultor, que tem prejuízo. Trata-se de um problema de rastreabilidade do próprio azeite. É um problema de segurança alimentar porque não se sabe de onde vem essa azeitona. Não há cadernos de campos, não há controlo se a azeitona levou um produto químico, se há respeito pelos intervalos de segurança.
Nos tempos livres é surfista. É uma paixão que o seu filho herdou?
JFA - O meu filho também é. O surf vem de há 35 anos.
De que forma o surf e a olivicultura se tocam?
JFA - No contacto com a natureza. Em ambas as práticas, há o gosto pela natureza, a preocupação com a conservação.
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Assistente de Direção da OLIVUM
Há 10 anos ganhou forma a que é hoje uma das maiores Associações do setor agrícola nacional, a OLIVUM. Na sua génese, esteve a visão estratégica de profissionais do setor que se juntaram e, de forma dinâmica e proativa, avançaram para um projeto associativo, com vista a representar e defender um setor que estava a viver um processo de evolução a um ritmo tão rápido como eficiente.
Desde este início que acompanho e vivo a OLIVUM num processo de constante aprendizagem, crescimento, proatividade e dinamismo. Com formação base e experiência profissional na área da comunicação, conhecer o funcionamento do setor agrícola, em particular do olival, estudá-lo e ajudar a comunicá-lo tem sido o grande desafio deste trajeto na Olivum.
O dinamismo impulsionado pelo regadio (abertura das comportas de Alqueva) trouxe a oportunidade a uma cultura autóctone de mostrar a sua capacidade de adaptação a novas densidades e a sistemas de modernização que impulsionam o seu potencial produtivo de uma forma tão eficiente quanto sustentável. Uma oportunidade que o setor olivícola tem trabalhado de forma incessante e cujos resultados estão à vista!
Sendo um setor com um enorme potencial, e que o soube aproveitar e consolidar, tem sido acompanhado no seu percurso pela distinção e pela crítica. Foi neste contexto de grandes oportunidades e desafios que a Olivum foi criada, com o objetivo de representar e defender os Olivicultores junto das mais diversas Entidades e stakeholders, com vista à defesa dos interesses e direitos dos seus associados. Um
espírito associativo que a Olivum defendeu desde o início e que a caracteriza hoje de forma reconhecida em representação de um setor forte e unido.
Todas estas linhas de ação e objetivos, que foram tomando forma e voz, são as que têm delineado o percurso desta primeira década da Associação. É gratificante assistir e fazer parte do trabalho de um setor que se tem valorizado de forma exemplar. Mas como em todos os casos de sucesso surgem críticas, de diversas índoles, e este sim tem sido o grande desafio que tem definido os marcos da Olivum – o saber comunicar.
O setor sempre trabalhou de forma consciente das suas boas práticas e até parece óbvio e fácil transmiti-las, mas nem sempre funciona assim… a par do ritmo e dinamismo do setor também nos deparamos com uma sociedade ávida de explicações, de imediatismo e de informação, que a certo ponto resultou numa catadupa de desinformação onde o bom senso nem sempre imperou. Atenta e aberta ao debate, a Olivum seguiu o seu trabalho, concretizando em factos e dados concretos a realidade do setor, e os seus associados abriram as portas de forma espontânea num convite a conhecer e a observar in loco a realidade dos seus olivais e do seu trabalho, com o objetivo de, em conjunto, esclarecer e construir informação real e fidedigna de forma responsável e transparente.
Foi mais um passo no desenvolvimento e reconhecimento da Associação. Mais um passo num caminho que iniciou com os Olivicultores do Sul, que verticalizou a atuação com a integração de Lagares e que atualmente já tem representação de nível nacional. E continua o ritmo de crescimento. Seguem os projetos… pioneiros e de referência ao nível da sustentabilidade dentro e além-fronteiras; de disseminação de conhecimento, educação e cultura; e de apoio à investigação. A comunicação positiva e construtiva já foi reconhecida em prol do setor e segue o caminho, junto de novos e dos parceiros de sempre, através de apostas dinâmicas, como é exemplo este projeto que têm em mãos.
Todo este percurso tem sido vivido de dentro da Associação de forma dinâmica e profissional, que se reflete em desafios construtivos e de uma aprendizagem tão intensa como interessante.
É assim que caracterizo e que sinto esta Associação e este setor, que foi determinante no meu regresso, que me levou a conhecer o verdadeiro valor da paisagem que me rodeia e que acabou por revelar o quanto esta área poderia (e pode) potenciar a importância da comunicação e da partilha de saberes.
Obrigada, Olivum.
Parabéns! E que venham mais 10!
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OLIVUM, DEZ ANOS NA OLIVUM
DEZ ANOS DE
Teresa Teixeira
BREVES AÇÕES OLIVUM
Azeite Português mereceu destaque na COP28
A Olivum integrou a delegação portuguesa, liderada pelo Secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues, que marcou presença na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023, conhecida por Conferência das Partes (COP28), que se realizou no Dubai.
No âmbito do painel “Gestão da água e produção alimentar sustentável – a produção de azeite e de frutos secos em Portugal”, a Olivum foi convidada a falar da evolução da produtividade do olival português, do reduzido consumo de fatores de produção e do contributo deste setor para a economia nacional.
Olivum promoveu ação de sensibilização “Campo Seguro 2023”
Com o objetivo de combater o recorrente furto de azeitona nos olivais do distrito de Beja e garantir a segurança da campanha 2023/24, a Olivum, em parceria com o Comando Territorial da GNR de Beja, dinamizou a ação de sensibilização “Campo Seguro 2023”. Nesta iniciativa estiveram ainda presentes a Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos e a Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches. Esta ação foi demonstrativa do compromisso comum em assegurar que a campanha decorresse com segurança e tranquilidade.
FAO reuniu com a Olivum para conhecer o setor olivícola português
A Olivum recebeu uma delegação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO), bem como representantes do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (EBRD) e o do setor olivícola de Marrocos.
Assente no Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo, Emmanuel Hidier, Sénior Economist da FAO, enfatizou que “o esforço da Olivum para desenvolver a certificação de um referencial completo de boas práticas de sustentabilidade para o setor do azeite é algo muito inovador e disruptivo” e acrescentou que “a experiência de Portugal é verdadeiramente inspiradora para todos os países mediterrâneos”.
“Produção de Azeite Sustentável” leva escolas a olivais e lagares
Promover o contacto dos estudantes do 1.º e 2.º ciclos com o universo da olivicultura é o objetivo do projeto “Produção de Azeite Sustentável” – que está inserido no Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo. Com esta iniciativa, a Olivum pretende que os alunos percebam como é produzido o azeite, desde a colheita até ao armazenamento e embalamento, bem como as práticas de sustentabilidade usadas na sua produção. As visitas, com duração de três horas, podem ser agendadas durante a campanha da azeitona, que decorre entre Outubro e Dezembro. A visita começa pelo olival, onde os alunos terão contacto com a azeitona, incluindo uma breve explicação sobre a cultura, rega, nutrição das plantas e biodiversidade.
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FAO reuniu com a Olivum para conhecer o setor olivícola português
Produção de Azeite Sustentável ”leva escolas a olivais e lagares”
“UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ NO SETOR OLIVÍCOLA É ESSEN -
CIAL PARA INFORMAR
E EDUCAR OS CONSUMIDORES”
ENTREVISTA
Susana Oliveira Sassetti
Com 27 anos de experiência na área da olivicultura, Susana Oliveira Sassetti é a nova diretora executiva da Olivum.
A engenheira agroindustrial considera prioritárias as necessidades dos produtores e ambiciona estabelecer uma forte ligação com o mundo académico, organismos públicos e instituições de investigação, mas também com o consumidor, de modo a promover uma literacia sobre o azeite.
Como e quando é que a olivicultura entrou na sua vida?
SOS - Sempre gostei da árvore que tem o meu nome. A oliveira está presente na minha vida, desde que me lembro de ir passar férias na região das Beiras. Mas foi na minha formação, no Instituto Superior de Agronomia, que bebi da paixão do Professor José Gouveia, porventura a maior referência portuguesa
na área do azeite, com quem tive o privilégio de trabalhar depois do curso, altura em que a olivicultura e o azeite entraram definitivamente e para sempre na minha vida.
Durante sete anos foi secretária-geral da Associação dos Agricultores do Ribatejo (AAR), quais foram os principais desafios e conquistas neste cargo?
SOS - Como Secretária-geral da Associação dos Agricultores do Ribatejo (AAR) alarguei o meu conhecimento sobre o setor agrícola em geral e, fundamentalmente, a nível dos mercados europeus e fontes de financiamento agroindustrial nacional e internacional. Aprendi muito com o contacto direto com os agricultores ribatejanos. Na AAR fui responsável pela sua gestão, mas também pela gestão de projetos e comunicação. A gestão da AAR foi uma função muito desafiante, que gostei muito de desempenhar: gerir
Diretora executiva da Olivum
pessoas com a missão de ter agricultores esclarecidos, apoiados e com a segurança de terem um forte suporte para a resolução de todas as questões extra a produção. Formei uma excelente equipa, com quem tive o privilégio de trabalhar.
De que forma a experiência na AAR vem enriquecer o trabalho da Susana enquanto diretora executiva da Olivum?
SOS - O cargo de Diretor Executivo de uma associação como a Olivum é adequado à minha experiência e conhecimento. E também um desafio que, tenho a certeza, me irá realizar plenamente. Na Olivum tenho a hipótese de contactar diretamente com o olival e o azeite, com produtores, lagares, com organismos públicos, centros de investigação, e pensar projetos, repensar estratégias de comunicação. Para além disso, tenho como ambição fazer mais pelo setor do azeite em Portugal, tanto ao nível da produção, como da transformação, mas também a nível do consumidor e da visão que este tem do azeite. Hoje em dia, com os objetivos impostos a Portugal ao nível da sustentabilidade, esta é uma área na qual gostaria de ter um papel ativo.
Como analisa a evolução da Olivum?
SOS - A Olivum fez 10 anos e sempre acompanhei o seu trabalho. Como houve uma enorme evolução, modernização e atualização nos últimos anos, a Olivum acompanhou essa evolução e cresceu, atualizou-se, e tem uma enorme preocupação em fazer bem feito. Além disso, aprendeu a comunicar dentro do setor e para fora, apesar do muito trabalho que ainda há para fazer. Foi a nível da sustentabilidade que a imagem da Olivum se tornou mais evidente. O Programa de Sustentabilidade dos Azeites do Alentejo (PSAA), cuja 1.ª fase terminou em 2023, é uma enorme mais-valia para o setor nacional do azeite.
Quais serão os maiores desafios no trabalho na Olivum?
SOS - A Olivum representa à volta de 49.000 hectares de olival dos seus associados e, por isso, apresenta variados desafios, ao nível de produção, extração e embalamento. Há muitas questões a desenvolver, tais como o desenvolvimento da agricultura de precisão, o regadio, a competitividade. E também a sustentabilidade social e ambiental, bem como a divulgação e promoção da qualidade do azeite.
Que medidas gostaria de implementar na associação?
SOS - Como um dos desafios da Olivum é comunicar de e para o setor, gostava que aumentasse a sua visibilidade. No desenvolvimento de estratégias para o setor, a Olivum deve ser uma referência na definição da legislação e apoios, uma vez que já representa 70% do azeite produzido em Portugal. Internamente, as questões, desafios e necessidades dos nossos associados são uma das minhas prioridades. Quero perceber os seus problemas e arranjar soluções, estabelecer uma forte ligação a universidades e organismos de investigação.
A comunicação do setor é uma das apostas da Olivum?
SOS - Sem dúvida que sim. Uma comunicação eficaz no setor olivícola é essencial para informar e educar os consumidores, promover a transparência e credibilidade, diferenciar produtos, destacar benefícios para a saúde e promover práticas sustentáveis.
Os consumidores sabem o que é um bom azeite?
SOS - Infelizmente não. Ainda se escolhe o azeite pela % de acidez, que é como escolher um vinho pelo grau alcoólico, o que não é correto. O azeite que se encontra à venda engarrafado e corretamente rotulado já passou por análises que permitem afirmar que tem uma correta acidez, por isso os nossos critérios deverão ser o nosso próprio gosto. O azeite mais novo é melhor porque o produto vai perdendo características ao longo do tempo. Deve comprar-se diferentes tipos de azeite, diferentes marcas e ir afinando o gosto.
Pode dizer-se que a agricultura circular não é uma ambição futura, mas sim uma necessidade da atualidade?
SOS - A agricultura circular é uma necessidade urgente no mundo atual porque pretende diminuir o desperdício, maximizar a eficiência dos recursos e promover práticas sustentáveis em todas as fases de produção. Perante os desafios globais atuais, a agricultura circular é mais do que uma ambição futura - é uma abordagem essencial e urgente.
SUSTENTABILIDADE
Numa era onde se esgotam recursos naturais e se abismam as diferenças socioeconómicas, a palavra sustentabilidade deixou de ser um conceito e passou a ser uma ordem regulamentada para garan9r que as necessidades do presente não comprometem as gerações futuras.
Num contexto de alterações climá4cas, as boas prá4cas agrícolas preservam e incen4vam a biodiversidade salvaguardando a capacidade destes espaços de con4nuarem a contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países. Quando falamos em projetos agrícolas ou turís4cos (que muitas vezes se cruzam) em áreas protegidas, o parecer do Ins4tuto de Conservação de Natureza e Florestas – ICNF – é incontornável. Os levantamentos dos habitats naturais e espécies (fauna e flora) sob proteção e a avaliação do impacto do projeto sobre os valores naturais existentes são elaborados e acompanhados na sua implementação por empresas especializadas como é o caso da ML Consultoria. A CEO, Helena Cortes Cavaco explica “somos procurados por empresas, ou mesmo par4culares, que querem implementar um projeto num terreno inserido numa área protegida, para os quais é exigido pelo ICNF uma Avaliação de Incidências Ambientais – AIncA. Vamos ao terreno com um biólogo, em alguns casos com um engenheiro do ambiente e, fazemos um levantamento das espécies que lá existem e dos habitats a serem protegidos, fotografamos e cartografamos, contribuindo também para a chamada Transição Digital. Com este levantamento criterioso, elaboramos um relatório onde mostramos como integrar o projeto pretendido, de forma sustentável, naquela área. Em casos mais complexos, onde isso não é possível e os habitats serão inevitavelmente destruídos, a nossa apreciação será no sen4do de propor medidas de compensação, como por exemplo, criar noutras zonas do terreno condições para que esse habitat se desenvolva mantendo o equilíbrio da biodiversidade.”
Em áreas não protegidas este 4po de avaliação tem igual per4nência. Empresas que se preocupam com sustentabilidade e querem mostrar boas pá4cas, preservar e aumentar a biodiversidade na área de inves4mento, já fazem acompanhar os seus projetos por estudos desta natureza que, mesmo não sendo exigidos, favorecem a empresa, nomeadamente na aprovação de financiamento na banca.
ML CONSULTORIA
A ML CONSULTORIA é uma empresa sediada em Beja e desenvolve a sua a=vidade em diversas vertentes da consultoria agrícola por todo o país. Com quase 10 anos de experiência, tem uma corpo técnica competente e jovem à qual se juntaram biólogos, engenheiros do ambiente e agrónomos. A mul=disciplinaridade da equipa permite ter uma visão mais abrangente e integrada de todos os processos inerentes às AIncA para as especificidades dos projetos agrícolas e turís=cos. São também parceiros da Pós-Graduação de Gestão Sustentável do Setor Olivícola
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E TURÍSTICAS
A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS
Hyacinthoides vicen/na, Diplotaxis vicen/na, Plantago almogravensis
O OLIVAL EM ALQUEVADESAFIOS E ESTRATÉGIAS
José Pedro Salema
Osucesso da componente hidroagrícola do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA) está intimamente ligado à cultura do olival regado, moderno, produtivo, rentável, em copa e em sebe, em projetos de origem nacional ou estrangeira.
O olival é a cultura mais importante nas áreas beneficiadas pelo sistema de Alqueva, constituindo, de certa forma, o símbolo da nova agricultura de regadio. É considerado a grande cultura de Alqueva, não só pela área que ocupa atualmente, mas também pelo desenvolvimento tecnológico, económico e social, que trouxe à região.
Antes de Alqueva, a região era sobretudo ocupada por agricul-
tura de sequeiro, incluindo a cultura do olival, mas em sistema extensivo, pouco produtiva e com pouco rendimento.
O olival ocupa a maior área do EFMA, a evolução anual desta ocupação tem sido extraordinária, não existindo nenhuma outra cultura com estes resultados. Na campanha de 2023, nas áreas exploradas pela EDIA, o olival continuou a ser a cultura mais representativa, ocupando já 75 748 hectares, sendo que 69 009 hectares ligados às infraestruturas dos perímetros de rega do EFMA e 6 739 hectares regados a partir de captações autorizadas na rede primária do sistema.
Hoje o desafio da sustentabilidade cruza todos os setores de
atividade e também o olival tem de o enfrentar sabendo que só será possível vencê-lo quando o uso que fazemos dos recursos naturais permite satisfazer as necessidades presentes sem pôr em causa a capacidade de as gerações vindouras fazerem o mesmo.
A eficiência no uso de todos os fatores de produção deve nortear as decisões e as práticas, com enfoque em particular relativamente à Água, ao Solo e à Energia.
Relativamente ao uso eficiente da água para rega, o olival é uma cultura perfeitamente adaptada à região de Alqueva, com baixas exigências hídricas e resiliência à irregularidade climática e elevada
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Presidente da EDIA
“Uma tendência global que já está a ser posta em prática pelo setor em Alqueva é o fomento das práticas de economia circular”
rusticidade. A boa resistência a pragas e doenças exige baixas quantidades de fitofármacos.
As baixas dotações de rega praticadas na região atestam a boa adaptabilidade da cultura, a par da aplicação das melhores técnicas e tecnologias do regadio, com o uso exclusivo de rega localizada, a banalização das estações meteorológicas ou das sondas de humidade do solo.
O solo é muito mais do que o simples substrato e suporte, é a fonte de vida, a reserva de água, de nutrientes e de fertilidade para a cultura. Pelo facto de ser uma cultura permanente, conjugado com boas práticas culturais como o enrelvamento nas entrelinhas, o olival pode melhorar a estrutura e aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo.
Uma tendência global que já está a ser posta em prática pelo setor em Alqueva é o fomento das práticas de economia circular. Ao nível da valorização dos resíduos do olival, como os restos das podas ou as folhas recolhidas no processo da colheita, assim como dos lagares, em particular nos bagaços que poderão ser alvo de compostagem. Estas práticas
podem atenuar uma carência crónica de matéria orgânica do Sul do país, melhorando a capacidade de retenção de água no solo, bem como a sua estrutura, aumentando a sua fertilidade e bioatividade e contribuindo para aumento da resistência à erosão e maior adaptação às alterações climáticas.
Ao nível da energia utilizada na exploração agrícola a tendência para a eletrificação é inevitável. Se a tração elétrica tarda em chegar ao mercado com soluções pragmáticas e económicas, tal como já existe abundantemente na mobilidade urbana, as soluções utilizadas para a bombagem da água e distribuição dos nutrientes às plantas não só já são elétricas como, cada vez mais frequentemente, são alimentadas por produção fotovoltaica local. Esta alternativa, para além de contribuir para o esforço global da descarbonização, tem evidentes vantagens económicas.
A Linaria ricardoi é uma pequena planta, endémica do Alentejo, que surge habitualmente nos olivais tradicionais e que está ameaçada pelo desaparecimento do seu ecossistema. A
sua conservação depende não só da salvaguarda de alguns núcleos populacionais mas também de boas práticas (como a não utilização de herbicidas) que permitam a sua convivência com os sistemas modernos de olival regado.
Existe hoje um alargado consenso em torno de um conjunto de medidas de compensação ambiental, por forma a compatibilizar a utilização dos recursos com a necessária rentabilidade económica, concretamente, a instalação de sebes de compartimentação; a reabilitação da vegetação ripária ao longo da rede hidrográfica e sensibilização para a importância da sua manutenção e reabilitação; a instalação de Caixas-abrigo para morcegos; a gestão de áreas com Charcos Temporários Mediterrânicos; a compensação de quercíneas afetadas; a sensibilização para a preservação das quercíneas isoladas; e a implementação de corredores de conectividade ecológica.
O olival de regadio pode ser desenvolvido de uma forma sustentável e ecologicamente positiva, desde que utilizando as práticas culturais adequadas.
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“O OLIVAL SERÁ A CULTURA REGADA MAIS ADAPTADA PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS”
ENTREVISTA
José Núncio
Presidente da FENAREG Federação Nacional dos Regantes
Para o presidente da FENAREG não é possível estabelecer uma estratégia para a agricultura em Portugal sem ter em conta a modernização das infraestruturas de rega existentes, mas também tudo o que conduza a um melhor e mais sustentável regadio no nosso país. José Núncio considera que o armazenamento de água é uma medida urgente.
Como melhorar a gestão dos recursos hídricos (RH) e dos regadios em Portugal?
JN - É necessária uma estratégia a longo prazo para o regadio e para a gestão dos recursos hídricos, pois não existe uma verdadeira estratégia nacional de longo prazo nesta matéria. Em 2019 a FENAREG apresentou o “Contributo para a Estratégia Nacional do Regadio”. Posteriormente, em 2022, o Governo publicou o estudo “Regadio 20|30”, em que inventariou as necessidades para o regadio público. No entanto, não existe um verdadeiro Plano Nacional para o Regadio, documento fundamental e que deverá ter o consenso pelo menos dos principais partidos políticos, visto que, em Portugal, existem recursos hídricos abundantes, dos quais apenas uma pequena parte é anualmente utilizada. Tem-se tornado evidente a insuficiente capacidade de armazenamento de água na maioria das bacias hidrográficas do nosso país, impedindo uma gestão interanual adequada entre afluências e necessidades.
Verifica-se que 60% dos nossos RH provém de rios internacionais. Como podemos aumentar a nossa independência no que diz respeito a essa matéria?
JN - Armazenando água. Esta é uma medida urgente e que não podemos adiar. Portugal tem capacidade para reter apenas 20% da água disponível, o que representa um grave problema para o abastecimento de água. Está muito presente a
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dramática situação do sudoeste Alentejano e do Algarve. Obviamente que não se compreende que, com a capacidade de armazenamento instalada no Guadiana (Alqueva), não existam as necessárias ligações para mitigar este problema. Outro dos casos preocupantes é a bacia do Tejo. Mas também é bom não esquecer que os cenários que nos são apresentados, se por um lado apontam para períodos de seca mais frequentes e prolongados, pelo outro também apontam para um aumento de frequência de fenómenos do outro extremo, como a concentração de chuva e inundações. Para fazer face a estes problemas, temos que armazenar água quando e onde se encontrar disponível. E como? Através do alteamento de algumas barragens existentes e da construção de novas barragens em locais estratégicos que estão estudados e identificados há muito, não esquecendo as ligações hidráulicas entre bacias.
Faria sentido conduzir para o sul água das regiões onde chove mais? Existem verbas para um empreendimento dessa dimensão?
JN - É fundamental o enquadramento do financiamento das grandes infraestruturas públicas (intervenções e construção de barragens, transferências entre bacias e restantes infraestruturas primárias) nos fundos comunitários, como o Fundo de Coesão, dado que são investimentos estruturantes para o território e para a economia nacional. Estes investimentos para as transferências de caudais excedentários entre bacias podem ser faseados, começando pela ligação urgente do Guadiana-Algarve via Pomarão e a continuação das ligações Guadiana-Sado e Guadiana-Mira. Noutra fase, avançaria a ligação Tejo-Guadiana e posteriormente a ligação Douro-Tejo.
Existe na PAC (Política Agrícola Comum), uma estratégia para o regadio nacional? Há verba para investir e modernizar o regadio?
JN - Atualmente, a verba prevista para apoiar os investimentos no regadio público e privado é de 421 milhões de euros de despesa pública, o que corresponde apenas a cerca de um terço dos 1.254 milhões de euros das necessidades de investimento até 2030, apuradas no “Contributo para uma Estratégia Nacional para o Regadio”. Tendo em consideração que as verbas disponíveis são insuficientes face às necessidades, a FENAREG elaborou uma proposta de articulação entre os diferentes fundos, apresentada no “Documento de Orientação: Financiamento do Regadio Público em
Portugal no Horizonte 2030”. O Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023-2027) prevê, no âmbito da Medida “D.3 - Regadios Coletivos Sustentáveis”, uma despesa pública de apenas 100 milhões de euros. Trata-se do valor mais baixo de sempre programado para a medida de investimento em regadio, representando um decréscimo de 66% face ao valor que estava previsto no âmbito do PDR2020.É, por isso, necessário o financiamento multifundos, com a articulação das diversas fontes de financiamento para além do PEPAC, como o FEADER/BEI, o PRR, os Fundos de Coesão e FEDER, mas também do Fundo Ambiental. Enquanto a Administração não assumir claramente todas estas necessidades, objetivos e soluções, não podemos falar que exista uma estratégia nacional.
Vamos continuar a ter capacidade para regar o olival, num cenário de escassez e/ou alterações climáticas?
JN - Atrevo-me a dizer que o olival será a cultura regada em território nacional mais adaptada para enfrentar os desafios das alterações climáticas e eventuais períodos de escassez. Para além de ser natural das nossas regiões, tem uma enorme capacidade de resiliência e de resistência, aliada a uma necessidade unitária de água muito inferior às restantes culturas de regadio, anuais ou perenes.
COMERCIAL QUÍMICA MASSÓ, S.A. Delegação de PORTUGAL: C M Y CM MY CY CMY K AAFF_ANUNCIO WELGRO + NOEDOX 10,5X29,7.pdf 1 29/11/2023 16:11:09
“IREMOS FAZER TODOS OS ESFORÇOS PARA QUE EXISTA UM PROGRAMA NACIONAL PARA A FILEIRA DO OLIVAL E DO AZEITE”
ENTREVISTA
Álvaro Mendonça e Moura
Ofim da proibição de financiamento aos olivais da área de intervenção de Alqueva, a disponibilização aos olivicultores de ações de promoção em mercados externos, a dificuldade no acesso à água e as questões relacionadas com as alterações climáticas são algumas das matérias do setor olivícola que estão a merecer maior atenção da CAP
O setor olivícola tem recebido a devida atenção por parte do poder político?
AMM - A agricultura não tem tido a atenção do poder político e o setor olivícola não é, infelizmente, exceção. Trata-se de um problema que foi particularmente evidente no executivo que agora termina funções, como aliás a CAP tem exposto publicamente, e que levou a um conjunto de manifestações organizadas há cerca de um ano. Mas o problema
arrasta-se há décadas, com uma desvalorização política da atividade agrícola, com grave prejuízo para a economia nacional e consequentemente para os consumidores. No que respeita ao setor olivícola em concreto, a CAP tem apresentado ao longo dos anos um conjunto de questões pertinentes sobre esta fileira, mas, infelizmente, ainda sem efeito por parte do poder político.
Quais são os principais problemas e necessidades sentidos pelos olivicultores portugueses, seja pelos que se dedicam ao olival moderno, seja pelos que possuem olival tradicional?
AMM - Antes de mais, é necessário esclarecer o conceito de olival moderno, pois no nosso entendimento a modernidade de um olival não tem a ver com o sistema de exploração, mas sim com a tecnologia que utiliza, pelo que poderemos ter um olival
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Presidente da CAP Confederação dos Agricultores de Portugal
“O problema arrasta-se há décadas, com uma desvalorização política da atividade agrícola, com grave prejuízo para a economia nacional e consequentemente para os consumidores”
milenar extremamente moderno se utilizar as mais modernas técnicas e tecnologias de produção. Eu próprio sou olivicultor e os principais problemas, transversais à generalidade dos olivicultores portugueses, são a inexistência de melhoramento varietal das cultivares nacionais, dificuldades no acesso à água por grande parte da área olivícola nacional, a falta de promoção do Azeite de Portugal – em particular das seis Denominações de Origem Protegida –, assim como o surgimento de novas pragas e/ou doenças, sem que existam grandes possibilidades de controlo fitossanitário. Por outro lado, são igualmente preocupações
dos olivicultores nacionais o desaparecimento de substâncias ativas, sem a existência de novas moléculas eficazes, a problemática dos subprodutos dos lagares de azeite, em especial dos bagaços húmidos, o deficiente combate às fraudes, a inexistência de ensino especializado sobre olivicultura e azeite – nomeadamente ao nível da extração e análise sensorial –, o limitado rejuvenescimento geracional (em especial nas zonas de baixa densidade populacional) e a inexistência de um sistema de seguros agrícolas que acompanhe o ciclo cultural da oliveira.
Quais são as principais conquistas da CAP ao nível do sector olivícola, na última década?
AMM - Apesar dos problemas que acima indiquei, a verdade é que ao longo da última década o setor evoluiu de forma assinalável, quer em termos de técnicas de produção, quer no que concerne aos mercados, interno e de exportação, assim como relativamente à relação com o consumidor. No que se refere à Confederação de uma forma específica, podemos assinalar, a título de exemplo, a promoção da Portaria 24/2005, que regula a inviolabilidade das garrafas colocadas à disposição do consumidor, que vem dar a este garantias reforçadas quanto àquilo que consome. A CAP congrega praticamente toda a fileira, desde associações de produtores até cooperativas agrícolas/oleícolas e promove o setor nos diversos eventos que organiza, nomeadamente o World Olive Oil Summit, bem como anualmente na Feira Nacional de
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Agricultura, onde o azeite tem sempre um destaque especial. A CAP participa ainda nos mais diversos fóruns, quer nacionais, quer europeus, bem como no Conselho Oleícola Internacional, acompanhando de perto todas as questões que são colocadas desde a produção à comercialização deste produto.
Quais são as grandes questões ligadas à olivicultura que, neste momento, merecem maior atenção da CAP?
AMM - As questões relacionadas com as alterações climáticas e com a disponibilidade de água são, neste momento, absolutamente fulcrais para a olivicultura, e são aliás preocupações transversais à atividade agrícola. Mas quero também salientar que, do nosso ponto de vista, é imprescindível para o setor a existência de uma Organização Interprofissional. A CAP é sócia fundadora da AIFO – Associação Interprofissional da Fileira Oleícola, que há quase 20 anos pretende ser reconhecida em termos operacionais, mas, incompreensivelmente e sem motivos, o Ministério da Agricultura tem vetado o seu funcionamento. Do nosso ponto de vista, estamos perante uma situação inaceitável, uma vez que a entrada em funcionamento da AIFO iria promover uma fileira mais coesa e sobretudo uma dinâmica mais eficaz. Não desistiremos desta luta que, estou certo, acabaremos por vencer. Deveremos ainda concentrar a nossos esforços no sentido de terminar a proibição de financiamento aos olivais da área de intervenção de Alqueva, para além de disponibilizar aos olivicultores ações de promoção em mercados externos, em parceria com a união de cooperativas Unaprol.
As medidas de desenvolvimento rural da UE no âmbito da PAC são suficientes para aumentar a competitividade do setor do azeite, modernizar as explorações agrícolas e atenuar os efeitos das alterações climáticas?
AMM - Na atualidade, é essencial entender e aceitar que o olival, sobretudo o olival “tradicional moderno”, terá que ser visto como tendo um papel multifuncional, não só ao nível da produção propriamente dita, mas sobretudo ao nível da coesão territorial, da promoção da biodiversidade e da fixação de carbono. Foi através de medidas da PAC
que ocorreu uma enorme transformação no setor, sendo esta fileira, atualmente, uma das mais modernas e competitivas a nível mundial. Neste momento, é necessário que, no âmbito da PAC e com urgência, se potenciem e criem estruturas de armazenamento de água, para possibilitar a utilização da mesma na mitigação dos efeitos das alterações climáticas.
Quais são as regiões do país que se revelam mais preocupantes face ao agravamento das alterações climáticas?
AMM - O problema das alterações climáticas e das secas recorrentes que temos vindo a sofrer tornou-se transversal a quase todas as culturas e regiões do país, independentemente das diferentes e pontuais incidências, consoantes os anos, ou da lógica de haver mais pluviosidade a norte do que a sul. A grande preocupação com as alterações climáticas é a inexistência de uma efetiva rede nacional da água, com a criação e/ou revitalização de estruturas de armazenamento de água que possibilitem disponibilizar a mesma em períodos críticos. Os agricultores conhecem bem o valor da água e assimilaram novas tecnologias, o que permite que atualmente, em Portugal, se regue uma maior área com muito menor utilização de água do que há uns anos.
Portugal vai ter de repensar seriamente a forma de regar o olival?
AMM - Portugal vai ter de pensar seriamente na forma de utilizar a água de que dispõe, não apenas para regar, mas para garantir a manutenção das atividades económicas de uma forma geral e mesmo para o abastecimento da população porque, como já todos percebemos, o problema não vai desaparecer e, pelo contrário, tende a agravar-se. Temos de utilizar de forma inteligente os recursos de que dispomos e que muitas vezes desperdiçamos, não só para mantermos o que temos, mas para crescermos. O país não se pode contentar com o atual nível de crescimento. Pela sua parte, os olivicultores têm vindo a fazer o seu trabalho, modernizando as técnicas de produção, convertendo os olivais, adotando novas tecnologias, aumentando a eficiência do regadio, ou seja, garantido a rentabilidade e a sustentabilidade das explorações, adaptando-as às
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novas tendências climáticas. Mas, não tenhamos ilusões, a disponibilidade de água é imprescindível numa agricultura de cariz mediterrânico como é a nossa.
Já mencionou que Portugal deveria encarar a água como um desígnio, criando uma rede nacional de água. Que medidas considera fulcrais para a agricultura, nomeadamente no que ao olival diz respeito, no âmbito dessa rede hídrica?
AMM - Com efeito, é necessário criar um plano nacional de gestão dos recursos hídricos, ao qual corresponda uma rede nacional de aprovisionamento, retenção e distribuição ao longo de todo o território. Estas infraestruturas são necessárias tanto para o olival como para as restantes culturas e diria mesmo que são fundamentais para a nossa sustentabilidade enquanto país.
Faria sentido “conduzir” a água das regiões onde chove mais, a norte, para sul, onde há menor pluviosidade? Deveria ser uma medida prioritária a nível nacional?
AMM - A resposta à sua pergunta é “depende”. Em determinados moldes sem dúvida que sim e seria irresponsável continuarmos a apadrinhar o desperdício. Faz indubitavelmente sentido e deveria ser prioritário em determinadas alturas do ano conduzir a água onde ela exista com alguma abundância e onde não seja então aí aproveitada, para zonas onde ela seja necessária, independentemente da geografia. Ainda assim, é um facto histórico que normalmente há mais pluviosidade a norte do que a sul e que os cientistas que se dedicam a estudar as alterações climáticas não preveem que isso venha a ser diferente no futuro. De qualquer forma, a questão centra-se sobretudo no caudal dos rios que, não sendo retido, corre para o Oceano, sem
que aproveitemos esse recurso. É, portanto, necessário que Portugal entenda que o desígnio “água” é fundamental para o desenvolvimento agrícola do território nacional e para a subsistência das atividades económicas de uma forma geral.
Faria sentido a criação de um Programa de Sustentabilidade do Azeite Nacional, a exemplo do que já existe no Alentejo (PSAA)?
AMM - Sim, sem dúvida. A par do que acontece na fileira do vinho, onde já existe um Plano de Sustentabilidade Nacional, iremos fazer todos os esforços para que de igual forma exista um Programa para a Fileira do Olival e do Azeite.
O que singulariza o azeite nacional?
AMM - Apesar de não existir uma definição de azeite nacional, os distintos terroirs e cultivares que lhe dão origem, fazem com que no nosso País sejam extraídos azeites extraordinários de Norte a Sul, de Este a Oeste.
Como encara o futuro da olivicultura em Portugal?
AMM - Desde que sejam encontradas soluções para as questões anteriormente elencadas, esta fileira tem um futuro promissor, não somente na vertente produtiva, mas também na vertente de fixação de população, bem como no âmbito da sustentabilidade, para além do seu conhecido contributo positivo em termos de saúde. Esta fileira é atualmente bastante competitiva, ambientalmente sustentável e economicamente viável, pelo que deve ser sem dúvida uma aposta com largo futuro.
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Reforçar a imagem e o valor do Azeite do Alentejo
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Gonçalo Moreira
Gestor do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo
“O PSAA É UM PROGRAMA INOVADOR E PIONEIRO EM TERMOS INTERNACIONAIS”
O gestor do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo assume que a Olivum pretende ser “uma fonte credível de informação”, para que se desconstrua a imagem do agricultor e da olivicultura moderna em Portugal. Gonçalo Moreira considera importante que o PSAA se assuma como um programa nacional e indica que, com a implementação do referencial de sustentabilidade, os produtores ambicionam entrar em mercados mais exigentes, como os EUA, Brasil e Norte da Europa.
Qual é a perspetiva para a campanha de 2023/2024?
GM -Perspetivamos 145 mil a 150 mil toneladas de azeite. Segundo o INE, o valor poderá ser de mais 20% de produção face ao ano passado.
Em Beja ainda há ainda um número expressivo de olival tradicional?
GM - Há muito olival tradicional, principalmente em Moura, Mértola, Serpa, Vidigueira. Para os produtores agregados a cooperativas este tipo de olival continua a ter grande importância na colheita das variedades nacionais. Portugal tem seis DOP [Denominação de Origem Protegida] para a produção de azeite, sendo que só o Alentejo tem metade [Azeites de Moura, Azeites do Norte Alentejano e Azeites do Alentejo Interior].
Os olivais tradicionais não conseguem competir com outro tipo de produção…
GM - Não conseguem competir, mas são muito importantes para o nosso olival, paisagem e cultura, e também para o olivoturismo e ainda para
conseguirmos manter um património genético fundamental porque são variedades muito bem adaptadas à nossa região e às alterações climáticas e à falta de água. Portugal não fez o seu trabalho de casa, de tornar as suas variedades mais adaptadas à colheita mecânica, à agroindústria. É disto que se precisa hoje em dia e que, nos últimos 30 anos, os espanhóis fizeram e muito bem. Quando chegamos à primavera e ao outono, o mais comum, quando passamos à beira de um olival tradicional, é vermos que o solo está completamente revirado. Essa é uma prática inconcebível nos dias de hoje. Considero que tudo o que seja grades é peça de museu. Por outro lado, dou o exemplo dos olivais modernos, onde 99,9% têm coberto vegetal na entrelinha. Estamos a falar de uma mancha enorme, que está verde 365 dias por ano. São áreas não plantadas que permitem manter humidade no solo, captação de carbono, biodiversidade e onde vivem insetos auxiliares, que são muito importantes no controlo de pragas e doenças do olival. Tudo aquilo tem uma função ao serviço do ecossistema.
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ENTREVISTA
Já não se pode conceber uma agricultura de futuro sem conhecimentos sólidos sobre como tratar a terra?
GM - Sem dúvida. A transmissão de conhecimento é uma parte muito importante da Olivum, que tentamos fazer através das visitas com as escolas. Hoje, o coração do lagar é o laboratório. E nós, ao levarmos os miúdos e os professores aos olivais e lagares, conseguimos desmistificar o que é a agricultura moderna. A agricultura hoje é feita com drones, GPS, robôs, tratores que andam sozinhos.
A agricultura não tem sabido comunicar com a população em geral?
GM - Não, o agricultor não sabe comunicar e, infelizmente, a agricultura e as nossas associações são maioritariamente técnicas. A Olivum não é assim. Desde 2018, passou a dar-se uma importância muito grande à comunicação do setor. Encomendámos a duas consultoras, uma espanhola e uma portuguesa, um estudo, publicado em 2019, com factos, números científicos e académicos sobre o que é o setor e isso foi um avanço muito grande. Até aí, a olivicultura não era mais que um saco de pancada. A partir dali passámos a ter documentos credíveis, que comprovavam que aquilo que as pessoas diziam não era verdadeiro. Procuram-nos cada vez mais para sermos porta-voz, e é isso que queremos ser. Queremos ser uma fonte credível de informação.
Faz sentido criar um programa de sustentabilidade do azeite nacional?
GM - Quando foi iniciado este nosso programa, éramos Associação de Olivicultores e Lagares do Sul. Mas, a verdade é que a Olivum e os seus associados produzem mais de 70% do azeite nacional e,
portanto, faz todo o sentido ganharmos uma dimensão nacional, até porque já temos associados do Algarve, Ribatejo e Beiras. Incorporámos ainda os lagares em 2020, verticalizando o setor, e passámos a representar uma área de 381 mil hectares. Pode não ser a maior área, com maior representatividade do setor, mas em termos de produção somos a associação que representa a maior fatia do azeite produzido em Portugal. No futuro, quero acreditar que isto se tornará um programa nacional porque foi construído com esse objetivo. Mas também pode ser aplicado além-fronteiras. Embora, para ser aplicado noutros países, temos que ter uma acreditação da própria APCER- Associação Portuguesa de Certificação, uma vez somos um programa que quer ter certificação nacional do azeite, da azeitona e das próprias embalagens.
O objetivo será chegar a novos mercados?
GM - Queremos manter e crescer nos mercados que já temos e, ao mesmo tempo, conseguir crescer em mercados que têm novas exigências relativamente à forma como os alimentos são produzidos, com garantias de sustentabilidade. Córdoba, Sevilha e Jaén estão já a olhar para o nosso projeto, a estudar, e a falar que o azeite tem que ter um programa com estas garantias, para chegar aos mercados que assim o exigem. Nós fomos os primeiros a fazê-lo, com um programa inovador e pioneiro em termos internacionais.
Quais os novos mercados que gostariam de alcançar?
GM - Estados Unidos, Brasil, Ásia e países do Norte da Europa.
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“NÃO
EXISTE NENHUM REFERENCIAL NO SETOR DO AZEITE TÃO COMPLETO E DE FÁCIL IMPLEMENTAÇÃO COMO O DO PSAA”
ENTREVISTA
Raquel Lucas
Professora Associada com Agregação no Departamento de Gestão da Universidade de Évora e coordenadora do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo (PSAA)
A coordenadora do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo (PSAA) perspetiva que venha a ocorrer um reforço do número de membros aderentes e uma melhoria contínua dos processos de autoavaliação, monitorização e auditoria deste projeto pioneiro a nível internacional
Quais são os contributos da Universidade de Évora para o desenvolvimento do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo (PSAA)?
RL - A equipa multidisciplinar da Universidade de Évora foi decisiva para a construção do referencial de sustentabilidade, sustentado na investigação interdisciplinar, aplicada e fundamental realizada e na experimentação e transferência do conhecimento gerado para o tecido empresarial. Foi ainda fundamental no desvendar do complexo objetivo da sustentabilidade da olivicultura e dos ecossistemas relacionados, bem como na congregação e aplicação do conhecimento científico e tecnológico em todas as áreas de intervenção e patamares da
sustentabilidade. Desde a sua fundação, a Universidade de Évora é um centro de excelência e um polo nacional e internacional de concentração e difusão do saber que disponibiliza à sociedade um largo espetro de conhecimento em diversas áreas e, em particular, a tudo o que respeita à preservação dos recursos e ao progresso e inovação do setor agrícola e do seu tecido empresarial.
Considerando o caráter multidisciplinar deste programa, foi necessário criar uma equipa da Universidade dedicada a este tema?
RL - Sim, foi constituída uma equipa multidisciplinar com 15 elementos de diferentes áreas de especialização, que incluíram investigadores espe -
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“O PSAA foi concebido para ser uma ferramenta de análise, diagnóstico, gestão e melhoria contínua do sector do azeite em qualquer contexto produtivo, geográfico, económico, ambiental ou sociocultural”
cialistas na produção olivícola, na gestão dos solos, na gestão da rega, na gestão dos recursos humanos, na eficiência energética, na gestão de resíduos e excedentes, na gestão de pragas e doenças, na qualidade do azeite, no património cultural, no desenvolvimento regional e ligação às comunidades envolventes, na sócio-economia, na neutralidade climática, na gestão da paisagem, dos ecossistemas e da biodiversidade, na qualidade do ar e da água e na gestão de embalagens e componentes.
De que forma pretendem utilizar os dados obtidos a partir do PSAA? Serão usados para conduzir estudos científicos e produzir trabalhos académicos pela Universidade de Évora?
RL - Nesta primeira fase foi construído, testado e validado o Referencial de Sustentabilidade, que se encontra em fase de implementação. Com a informação obtida foram produzidas cinco dissertações de mestrado e apresentados em conferências internacionais os resultados de três estudos preliminares, que também foram debatidos em sala de aula. Foram ainda estruturadas e propostas duas candidaturas a projetos de investigação, encontrando-se também em desenvolvimento uma tese de doutoramento sobre a temática do PSAA.
Além do PSAA, estão a desenvolver outros projetos ligados ao setor do azeite?
RL - Para além do PSAA, temos os seguintes projetos relacionados com o setor do azeite: ARIMNET - Mediterranean Extra Virgin Olive Oil Omics: profiling and fingerprinting; OLEAVALOR - Valorization of Portuguese Olive Varieties: Assess and improve production potential Impact of Intensification on provisioning of ecosystem services; POR30-Portuguese Olive Oil Omics for traceability and authenticity; Olive Trojan - OLive fly management through symbiosis-based strategies: looking for Trojan horse candidates;MIP2Sensors - De Polímeros Molecularmente Impressos a sensores ópticos baseados em MIPs: uma ferramenta light-up para a análise de pesticidas em azeite; SUSTAI-Novel approaches to promote Sustainability of Olive Cultivation in the Mediterranean; Techniques and technology for
valorization of by-products in olive groves; e INOVCIRCOLIVE - Inovação e Circularidade no Setor Oleícola.
Quais são as perspetivas para o PSAA a curto, médio e longo prazo?
RL - A perspetiva é de continuidade, avançando para uma segunda fase na qual se espera um reforço do número de membros aderentes e melhoria contínua dos processos de autoavaliação, monitorização e auditoria. A existência de mais empresários aderentes e empenhados e mais registos e a monitorização dos usos e consumos de recursos e outros materiais, bem como a consequente otimização, inovação e melhoria de todos os processos e soluções, é absolutamente necessária para continuar a garantir o caminho da sustentabilidade. Este caminho exige equilibrar a rentabilidade económica do setor olivícola com um desempenho e impacto positivos nas dimensões social, ambiental e cultural, traduzido em valor de mercado e comunicado de forma transparente e com evidências concretas, credíveis e confiáveis.
Tendo em consideração as diferenças entre as culturas de olival a nível nacional, de que forma foi possível criar uma ferramenta que se adapta às características únicas de cada uma delas?
RL - O PSAA foi concebido para ser uma ferramenta de análise, diagnóstico, gestão e melhoria contínua do sector do azeite em qualquer contexto produtivo, geográfico, económico, ambiental ou sociocultural. Assim, independentemente das características únicas de cada sistema e tecnologia de produção de olival, de cada contexto geográfico, económico ou sociocultural, o PSAA pode ser adotado como referencial de melhoria contínua sem alterações perturbadoras dos recursos e sistemas naturais e culturais, dos ecossistemas e biodiversidade e das comunidades, empresas e outras atividades complementares. Mesmo que em termos práticos algumas áreas de intervenção do PSAA não se apliquem a algumas situações, como a gestão da água de rega se o olival for de sequeiro, a preservação de áreas de vegetação autóctone, a manutenção
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de corredores húmidos e/ou linhas de drenagem natural e charcas, a disposição do olival em função do relevo, do declive e do tipo de solo, a incorporação no revestimento do solo de prados biodiversos, a reciclagem ou reutilização de resíduos, as ações de monitorização e de calculo de pressões da atividade olivícola sobre a qualidade e fertilidade do solo, a poluição difusa de nutrientes e a emissão de gases com efeito de estufa face às anomalias climáticas vigentes, a preservação de abrigos ou habitats para a fauna e criação de locais de nidificação, o uso de animais para controle das plantas espontâneas, a criação de padrões diversificados de uso do solo em conjugação com o olival e em função da aptidão do solo e condições do relevo, a procura de soluções de explorar a componente de recreio e turismo na exploração e a valorização dos sistemas que são identitários a cada paisagem, são elementos que podem ser considerados, registados e monitorizados qualquer que seja a tipologia da empresa.
O Referencial de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo é pioneiro a nível internacional?
RL - Sim, não existe nenhum referencial no setor do azeite tão completo, abrangente e, simultaneamente, de fácil implementação e verificação. A nível internacional é possível identificar seis tipologias de protocolos e programas de certificação de azeite sem convergência entre elas em termos de estrutura, aplicação, comunicação e troca de informa -
ções e sem que nenhuma abranja todas as áreas de intervenção da cadeia de valor do azeite. São potencialmente instrumentos de gestão do setor ou de uma ou de algumas empresas privadas visando incutir melhorias de qualidade e competitividade e de acesso ao mercado. A definição de objetivos e/ ou métricas para distintos patamares de sustentabilidade e das formas de os alcançar, numa perspetiva de melhoria contínua, bem como a obtenção de indicadores de posicionamento em cada área de intervenção para as dimensões ambiental, social, económica, cultural e nutricional, são algumas das fragilidades identificadas nesses padrões, em comparação com o PSAA.
De que forma o PSAA se está a preparar para os impactos futuros das mudanças climáticas?
RL - Uma das áreas temáticas introduzidas no Referencial de Sustentabilidade é precisamente a “Neutralidade Climática”, onde a atividade de produção de azeite é avaliada no âmbito da pegada climática por forma a perceber se a empresa e os produtos produzidos estão conformes com os requisitos e objetivos propostos pela União Europeia no âmbito do “Green Deal” (neutralidade da agricultura em 2035) e com a fronteira de responsabilidade do empresário no que toca aos fatores emissores de gases com efeito de estufa e ao seu papel ativo na gestão e otimização dos mesmos.
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CONSTRUINDO UMA ECONOMIA DE PARTILHA: O CAMINHO PARA O SUCESSO DA AGRICULTURA
Num mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (também conhecido como VUCA em Inglês), onde a próxima reviravolta é tão imprevisível quanto a direção do vento ou o aparecimento de uma nova ameaça, será que a economia da partilha tem a chave não apenas para sobreviver, mas para prosperar face ao imprevisível? Temos “a burra nas couves”.
Os olivicultores, os agricultores e os empresários enfrentam atualmente desafios à escala planetária que merecem a melhor atenção de todos. Povoamos um planeta confrontado com alterações climáticas com consequências imprevistas para a humanidade em crescimento demográfico exponencial e que segundo relatório das Nações Unidas atingirá 9,7 bilhões de pessoas em 2050. Porém, a falta mão-de-obra qualificada e/ou indiferenciada faz tremer muitos negócios. A pandemia global, a recuperação desigual desta e as guerras estrangulam as economias mundiais e locais e contribuem para que mais de 122 milhões de pessoas sejam empurradas para a fome numa média total de 735 milhões segundo a ONU. Para além dos alimentos, a escassez de água é real e dramática em algumas partes do globo. Aprendemos com especialistas na Agri Conferences 2023, em Lisboa, que segundo a Organização das Nações Unidas, para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 30% de todos os alimentos produzidos para consumo humano são desperdiçados ou vão para o lixo globalmente. Estes, por via da sua decomposição contribuem em 10% para a totalidade de emissões de gases de estufa produzidos pelo homem, alimentando por sua vez, as diversas alterações climáticas. Através da Organização Mundial de Saúde percebemos que a obesidade triplicou desde 1975 e que a maioria da população mundial vive em países onde o excesso de peso e obesidade mata mais pessoas do que a subnutrição. O World Obesity Atlas 2023 regista 2,6 bilhões de pessoas obesas em 2020 e estima que em 2035 tal represente 50% da população
mundial. Estamos aos poucos a construir um mundo estranho, onde o desequilíbrio entre a abundância e a escassez é alarmante.
O que fazer?
Precisamos de agir.
Será afinal escassez, abundância ou falta de melhor gestão?
Precisamos de investir fortemente e com determinação numa economia de partilha. Uma economia colaborativa baseada na partilha de recursos, serviços, informação, conhecimento e habilidades entre indivíduos, empresas e comunidades. É essencial acreditar e investir em melhores formas de trabalhar, com capacidade de utilizar mais eficientemente os recursos disponíveis, reduzir o desperdício e promover a sustentabilidade. É vital tirarmos partido daquilo que nos distingue e nos destaca como espécie e colaborarmos em larga escala e de forma flexível, o que historicamente se comprovou ser fundamental para lidar com desafios variados e em constante mudança. Só com um propósito único e em estreita colaboração e partilha, se conseguem criar oásis em desertos como se conquistam com a água e com a agricultura em Israel, por exemplo. Acreditamos que esse é também o papel da Olivum como Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal que procura ser um pólo de união dos Olivicultores, contribuindo para um setor forte.
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A tecnologia é óptima, mas as nossas maiores invenções são as inovações sociais.
Hoje, provavelmente acordou e verificou as mensagens no seu smartphone. Esse simples acto depende de inúmeras invenções tecnológicas, inventadas e produzidas por milhares de pessoas que desconhece mas em que confia. Claramente, os seres humanos adoram inovar. Mas, considere este exemplo: a mala com rodinhas não foi inventada até 1970. Então, como é que uma espécie que adora inventar, demora tanto para imaginar um dispositivo tão obviamente útil? Bem, em vez de depender de uma invenção técnica, como colocar rodas na bagagem, a maioria das pessoas encontrou uma solução social para transportar as suas pesadas bagagens pelo aeroporto. Eles pagaram a pessoas para carregar suas malas.
Então, qual é a diferença entre inovação técnica e social?
Bem, para começar, uma inovação técnica geralmente significa construir ou modificar uma ferramenta física para realizar um novo propósito. A inovação social alavanca relacionamentos sociais para resolver um problema de uma nova maneira. Por exemplo, dividir o trabalho para construir ferramentas de forma mais eficiente - isso é uma inovação social. Atribuir um valor arbitrário a pedaços de papel e usá-los como dinheiro - isso também é uma inovação social. Trata-se de uma história inventada pela humanidade que só perdura graças à forte confiança de todos. Até mesmo o conceito de ficar em fila e esperar pela sua vez, é uma inovação social.
Na realidade, a história demonstra que só procuramos soluções técnicas quando a nossa rede social falhou.
Acreditamos que a transição para uma mentalidade de “jogo infinito” é um factor crítico para promover cooperação, inovação e sustentabilidade a longo prazo, em contraste com uma mentalidade de “jogo finito” baseada em competição e ganhos imediatos. Nesta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade o que faz mais sentido: ganhar ou sobreviver? menores preços ou mais garantias? comprar máquinas que desvalorizam ou terrenos que valorizam?
O que seria a Olivicultura em Portugal sem a barragem do Alqueva e sem a gestão especializada das respectivas infraestruturas pela EDIA?
Quais os benefícios da partilha de recursos na agricultura?
1. Redução de custos: Partilhar recursos como infraestruturas associadas à água, máquinas, ferramentas e mão-de-obra pode reduzir os custos operacionais para os agricultores, permitindo o acesso a soluções especializadas de forma flexível, sem necessidade de adquiri-las individualmente e sem precisar de se endividar.
2. Aumento da eficiência: A partilha de recursos pode aumentar a eficiência operacional, permitindo que os agricultores realizem tarefas mais rapidamente e com maior qualidade, resultando assim numa produção mais eficiente.
3. Acesso a tecnologia avançada: Partilhar recursos pode proporcionar acesso a tecnologias avançadas e inovações, que um agricultor individual pode não ser capaz de adquirir, ajudando a melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos.
4. Fortalecimento da comunidade agrícola: A partilha de recursos promove a cooperação e o apoio mútuo entre os agricultores, fortalecendo a comunidade agrícola e criando um ambiente de colaboração, que promove o sector como um todo e a marca Portugal no Mundo.
5. Redução do impacto ambiental: Ao partilhar recursos, os agricultores podem reduzir o desperdício e o uso excessivo de máquinas, contribuindo para práticas agrícolas mais sustentáveis e para a redução do impacto ambiental.
Ao adotar essa abordagem, esperamos promover um ambiente de partilha que beneficie a todos os envolvidos no setor olivícola, fortalecendo a comunidade e impulsionando o sucesso a longo prazo.
No contexto desafiador em que vivemos, é fundamental adotar uma abordagem inovadora e colaborativa. Este artigo propõe-se a convidá-lo a participar activamente na construção de uma economia de partilha e colaborativa. Estamos metidos num “molho de brócolos” e agora, mais do que nunca, precisamos de todos.
Consideramos factores críticos de sucesso o foco de cada um nas suas actividades principais e passarmos do paradigma da posse para o da partilha de recursos em redes profissionais de confiança, fortes e sustentáveis. Mais do que cada um fazer tudo, precisamos de nos especializar, colaborar e agir multidisciplinarmente com uma resposta mais ágil e produtiva na construção de um futuro mais Verde.
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CADERNO PSAA: ENTREVISTA A DOIS PRODUTORES
“Havia um mito em volta do olival e a Olivum conseguiu desmistificar isso tudo”
O responsável pela parte agrícola e lagar da Casa Relvas considera “extraordinário” o trabalho que a Olivum tem feito para combater a desinformação existente sobre o olival moderno no Alentejo.
Há quantos anos existe a Casa Relvas?
AR - A Casa Relvas é uma herdade familiar com 25 anos, que se dedica à produção de vinhos e azeites. Exploramos ainda montado, temos ovelhas e amendoal. Os nossos olivais são na Vidigueira e Pedrógão, no concelho de Vidigueira. O nosso lagar também está na Vidigueira. Depois temos vinhas na Vidigueira, no Redondo e em Évora. Já o amendoal está em São Matias e Cuba.
Cedo percebeu que se iria dedicar ao negócio da família?
AR - Não. Mas sempre gostei muito do campo. Teria sido melhor estudante se tivesse ido para Agronomia, mas estudei Gestão na Universidade Católica e, depois, trabalhei quatro anos na Sovena. Gostei imenso, porém acabei por vir trabalhar para a Casa Relvas com o meu pai e com o meu irmão. Hoje em dia sou responsável pela parte agrícola e pelo lagar.
Produzem azeite também de outros produtores?
AR - Exatamente, este foi o segundo ano de laboração. Com as áreas de olival que temos, achámos que havia uma oportunidade de negócio. Temos um lagar com capacidade para 20, 25 milhões de toneladas.
Quantos hectares de olival possuem e que variedades produzem?
AR - São 300 hectares, com 90% em sistema sebe. O restante é em copa e 1% em tradicional. Produzimos Arbequina, Arbosana, Frantoio, Oliana, Chiquitita, Coriana e Galega.
Qual foi a vossa produção do ano passado?
AR - Foi de 4.200 toneladas de azeitona e 712 toneladas de azeite. Isto em termos agrícolas da produção da Casa Relvas. No lagar, laborámos cerca de 5 milhões de quilos. Em 2023 vamos laborar 12/13 milhões de quilos.
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A produção de 2023 vai ser melhor ou pior que a do ano anterior?
AR - Acho que vai ser ligeiramente pior porque tivemos frio.
A Casa Relvas tem quantos funcionários a tempo inteiro?
AR - Temos 140. Para o lagar, contrata-se para a campanha. Embora, 90% da equipa do lagar seja da casa. As 18 pessoas que estão a trabalhar no lagar são todas efetivas ou em vias de passar a efetivas. Trabalham connosco durante o ano todo, em diferentes funções, consoante a necessidade.
Têm sofrido muito com o furto de azeitona?
AR - Não porque acabámos por contratar um segurança. Durante o dia temos sempre pessoas nas propriedades e à noite temos segurança sete dias por semana. Não tivemos roubos, pelo menos que tivéssemos notado.
Quais são os mercados para onde vendem a vossa produção?
AR - Para Portugal, Brasil e Alemanha vendemos uma parte pequenina em embalado, ainda estamos a dar os primeiros passos. A granel vendemos para Portugal, Espanha, Itália e um pouco para os Estados Unidos.
Qual é a importância dos produtores se unirem numa associação? Conseguem defender melhor os vossos interesses e ser ouvidos?
AR - Sim, conseguimos. Na Olivum fez-se um trabalho extraordinário porque havia um mito em volta do olival, havia uma conversa pouco honesta sobre o que era o impacto do olival e a sua sustentabilidade e a Olivum conseguiu desmistificar isso tudo. Isso só se consegue quando nos juntamos como associação, para fazer um bocadinho de lobbying e dar voz coletiva, que é mais forte que a voz individual.
De que forma o Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo (PSAA) veio ajudar os produtores a prepararem-se para o agravamento das alterações climáticas?
AR - O PSSA veio ajudar-nos, embora estejamos na fase piloto. Estamos a fazer um levantamento das práticas na Casa Relvas e, depois de uma análise, vamos tentar melhorar. Assim, se conseguirmos ser mais eficientes em termos de recursos energéticos, vamos estar mais preparados para captar mais carbono e para as alterações climáticas. Ainda há muito caminho a percorrer, mas os primeiros passos estão dados.
Que medidas em concreto já adotaram em prol da sustentabilidade?
AR - Já há muito tempo que fazemos parte deste grupo piloto da Olivum no PSAA, mas também já fizemos, anteriormente, o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo. Já temos um caminho feito nos nossos vinhos, tendo sido das primeiras empresas a
serem certificadas. Utilizamos no olival as mesmas formas de trabalhar que usamos na vinha ou na adega. Temos muitas métricas para saber se trabalhamos de forma eficiente e somos um bocado obcecados pelo consumo de água. Queremos gastar a água de forma mais eficiente, produzindo mais com menos. Tentamos ter um controlo muito apertado sobre a utilização de recursos e, em termos de biodiversidade, estamos a fazer algumas medidas dispersas, como as caixas dos morcegos, algumas sebes, agora estamos a fazer o plano de conservação e gestão da biodiversidade. Fizemos o levantamento, durante um ano, de tudo o que se passa nos nossos 2 mil hectares e vamos tentar fazer um plano de conservação e melhoria dessa biodiversidade. Mas a sustentabilidade não é só isso. Temos a parte social, em que apoiamos causas sociais e temos a parte financeira, que também faz parte da sustentabilidade. Sem essa, as outras duas morrem. Somos bastante conservadores em termos de endividamento.
O referencial da sustentabilidade do azeite é essencial para tornar azeite mais competitivo em termos internacionais, mas também para incentivar a qualidade da produção nacional?
AR - Com o referencial temos uma grande ajuda para trabalhar melhor, de forma mais eficiente e consciente. E temos um segundo ponto, que é a comunicação. Se tivermos tudo mais organizado, é muito mais simples nós, enquanto associação, comunicarmos. A terceira é a parte da comercialização, que espero que consigamos ver reforçada.
António Relvas
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H“A pensar na sustentabilidade, tenho já um rebanho de ovelhas”
Luís Cavaco
á cinco anos, Luís Cavaco decidiu conciliar a vida de dentista com a atividade agrícola. Além de vinho, a Herdade da Poupa dedica-se à produção de azeite. A integrar o projeto-piloto do Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo, este agricultor partilha quais as medidas que já tomou em prol de um desenvolvimento sustentável.
Há quanto tempo se dedica à atividade agrícola?
LC - Na atividade agrícola da Herdade da Poupa há cinco anos. Venho de famílias com agricultores e toda a minha vida tem sido dedicada à agricultura, embora seja médico dentista. Tenho 50 anos e, desde a infância e a adolescência, fui sempre apoiando o meu pai na propriedade dele, tanto na pecuária, como na parte agrícola. Este é um projeto que é só meu, embora tenha o apoio da família, especialmente do meu pai, que ajuda quando não consigo estar presente.
Além da olivicultura, dedica-se também à produção de vinho?
LC - Sim, tento diversificar. Aprendi desde sempre a não colocar os ovos todos dentro da mesma cesta. Além de olival, tenho vinha, adega e construi também um lagar. Além disso, aumentámos o número de cabeças de vacas e, a pensar também na sustentabilidade, tenho já um rebanho de ovelhas. Consegui ainda fazer mais um regadio, que me foi autorizado. Isto tudo em cinco anos, porque não tinha nada. Quando comprei a empresa, tinha três empregados e agora são dez.
Houve dificuldade em encontrar mão-de-obra?
LC - Houve, se pudesse teria mais duas pessoas, e com formação, porque estamos num setor em que é difícil muitas vezes haver mão-de-obra com qualificada. Todos estes dez empregados são cá da região, das povoações próximas. Dois são engenheiros agrónomos e eu próprio fiz uma pós-graduação em azeite no Instituto Politécnico de Beja.
A questão da sustentabilidade ganha cada vez mais peso?
LC - Sim, ganha. Mas a sustentabilidade tem três pilares (social, ambiental e económico). Se o pilar
da economia não for forte, os outros dois não existem. E muitas vezes parte-se do princípio que o pilar económico é um dado adquirido, mas este não está por si só já definido e desenvolvido. Principalmente, quando se fala de olivais. Para se falar em sustentabilidade, isso depende do tipo de olival que se tem. Portugal tem um olival completamente moderno, em sebe, e esse sim, pode dizer-se que é sustentável. Mas, por exemplo, eu tenho 150 hectares e não se trata de olival em sebe, é intensivo, e num ano em que o preço do azeite está muito elevado, o negócio é economicamente viável. Mas, se recuarmos há quatro anos, aquilo que faturávamos não era sustentável porque a produção não era sustentável. No meu olival intensivo, em particular, há problemas de fitossanidade, por isso, às vezes, é complicado. E temos ainda o problema da mão-de-obra, que em altura de campanha são 25 pessoas e mais seis ou sete tratores a gastar gasóleo e a poluir.
Que medidas sustentáveis adotou na Herdade da Poupa?
LC - As ovelhas Inras 401 foram compradas com esse intuito. Vou fazer uma experiência e perceber se é viável conseguir colocar as ovelhas desta raça a pastorear nas entrelinhas, para conseguirmos reduzir a erva e controlar o seu crescimento. Vamos também aproveitar toda a parte do estrume das ovelhas para o olival. Aliás, já fazemos isso, há muitos anos, na propriedade do meu pai. Dessa forma, reduzimos os adubos químicos e substituímos por adubos orgânicos. Vamos juntar o estrume às folhas que temos de limpeza e, quando virmos que é oportuno, fazemos compostagem. Para esse fim, adquiri, há dois anos, um reboque espalhador. Em termos de sustentabilidade, também fazemos o reaproveitamento da água. Embora seja um regante precário do EFMA [Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva], tenho uma barragem. Canalizamos toda a água das nossas filtragens para lá. Acabámos também por montar painéis solares.
Quais são os vossos principais mercados?
LC - Vendo muito a granel e os maiores destinos são Espanha e Itália. Mas também vendo algum azeite para Portugal. Temos marca própria e vendemos ainda alguns garrafões de azeite. Dentro da exploração, consigo fazer seis variedades de azeite a partir das variedades Picual, Cobrançosa, Cordovil, Arbosana, Hojiblanca e Arbequina. Só fazemos virgem extra. A partir dessas variedades, faço também um blend para ter o azeite de marca Monte da Poupa.
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PREFERÊNCIAS DOS CONSUMIDORES: AZEITE VIRGEM EXTRA COM ATRIBUTOS RELACIONADOS COM A BIOECONOMIA CIRCULAR
Anastasio J. Villanueva e Rubén Granado-Díaz
Abioeconomia circular (BEC) procura integrar, num modelo económico social e ambientalmente sustentável, os conceitos de bioeconomia1 e de economia circular2. Inclui aspetos como a melhoria da utilização dos recursos, a redução da pegada de carbono e a procura de carbono fóssil, bem como a valorização dos resíduos3 que são comuns a ambos os conceitos. Assim, no âmbito do conceito de BEC, podem ser circunscritas atividades económicas com base biológica que, consequentemente, aplicam os princípios da circularidade nos seus processos de produção.
Esta nova abordagem é benéfica para toda a sociedade, contribuindo para a criação de riqueza e emprego, bem como para enfrentar os grandes desafios atuais como as alterações climáticas, a gestão dos resíduos, a perda de biodiversidade e o ordenamento territorial, entre outros.
O desenvolvimento do BEC nos países do Mediterrâneo implica que o setor agroalimentar adote os seus princípios, de modo a torná-lo económica, social e ambientalmente sustentável a longo prazo.
Para tal, é particularmente importante compreender as preferências do consumidor de modo a poder
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incorporar atributos relacionados com o BEC nos produtos alimentares que, por sua vez, são exigidos pelos consumidores.
Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar as preferências dos consumidores relativamente a uma variedade de atributos relacionados com o BEC em produtos agroalimentares. Para o efeito, são analisadas as preferências expressas no estudo dos consumidores andaluzes de azeite extra virgem (AEV).
2. MÉTODO
Como método de análise, foi utilizada a técnica de seleção numa escala de melhor-pior, complementada com a técnica de avaliação contingente, com o propósito de obter valores monetários da disposição dos consumidores a pagar (DAP) pelos atributos BEC
incorporados no AEV. A saber, foram considerados sete atributos de acordo com a sua contribuição para a produção agroalimentar sustentável e circular: Não geramos resíduos plásticos (A1-Plástico); Não geramos resíduos vegetais (A2-Biorresíduos); Não emitimos gases com efeito de estufa (A3-Carbono); Utilizamos a água de forma sustentável (A4-Água); Conservamos a fertilidade do solo (A5-Solo); Cuidamos da biodiversidade (A6-Biodiversidade); e Contribuímos para a economia rural (A7-Rural). Os atributos BEC foram concebidos de forma a poderem ser incluídos no rótulo do produto através da inclusão de símbolos para facilitar a sua identificação pelo inquirido.
A informação foi recolhida através de um inquérito online realizado em março de 2021 a um painel de consumidores andaluzes.
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“Esta nova abordagem é benéfica para toda a sociedade, contribuindo para a criação de riqueza e emprego(...)”
Foi utilizado um modelo com classes latentes que permite alcançar uma solução ótima de quatro classes de acordo com adequação e a parcimónia do modelo. Os parâmetros do modelo representam a influência dos diferentes atributos nas escolhas do melhor e do pior atributo relativamente a um parâmetro fixo4. A estimativa do modelo foi realizada com recurso ao programa LatentGOLD 5.1.
3. RESULTADOS
Na Figura 1 estão demonstradas as pontuações de impacto de cada atributo em cada classe, obtidas a partir do modelo de classe latente. Os resultados indicam que existem diferentes classes de consumidores de acordo com as suas preferências pelos atributos BEC incorporados no AEV.
A classe 1 (agricultores sustentáveis), que agrupa 19% da amostra, mostra uma clara preferência pelos atributos A7, A4, A6 e A5, enquanto os atributos relacionados com a gestão de resíduos (A1 e A2) e a redução de emissões (A3) são pouco valorizados. Tratam-se de consumidores que valorizam sobretudo atributos ligados à produção agrícola sustentável e à economia rural. A classe 2 (19% da amostra) mostra uma clara preferência por atributos mais diretamente relacionados com a economia circular: A1 e A7. Já a classe 3 (32% da amostra) agrupa os consumidores mais multifuncionais e com maior ênfase nos aspetos ecológicos, que valorizam particularmente os atributos ambientais, A1, A4, A6 e, em menor grau, A3 e A5. A classe 4 (30%) agrupa os consumidores utilitaristas com uma maior valorização dos atributos de que podem beneficiar mais diretamente, destacando-se as suas preferências por A7 e A1.
Figura 1. Importância relativa dos atributos.
Fonte: elaboração própria.
Através da combinação destes resultados com os obtidos para a temática da avaliação contingente
sobre a DAP para os atributos BEC considerados, verifica-se que existe uma disposição significativa dos consumidores a pagar, entre 0,11 e 0,24 €/l, por todos estes atributos, exceto para o A2-Biorresíduos, para o qual a DAP média é próxima de zero.
5. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos mostram que existe um elevado grau de heterogeneidade nas preferências dos consumidores relativamente aos atributos da BEC no azeite extra virgem, distinguindo-se quatro classes de consumidores de acordo com as suas preferências, com uma maior orientação para um ou outro tipo de atributo. Verifica-se também que os consumidores estão geralmente dispostos a pagar um preço mais elevado por estes atributos.
A partir destes resultados, pode concluir-se que a utilização de estratégias de diferenciação baseadas na incorporação de atributos BEC no AEV pode ser útil para aumentar a rentabilidade do setor.
REFERÊNCIAS
1. EC (European Commission). (2018). A sustainable bioeconomy for Europe: Strengthening the connection between economy, society and the environment. COM(2018) 673 final. European Commission, Brussels.
2. Kirchherr, J., Reike, D. y Hekkert, M. (2017). “Conceptualizing the circular economy: An analysis of 114 definitions”. Resources, Conservation and Recycling, 127: 221-232. doi: https://doi. org/10.1016/j.resconrec.2017.09.005.
3. Carus, M. y Dammer, L. (2018). “The circular bioeconomy—concepts, opportunities, and limitations”. Industrial Biotechnology, 14(2): 83-91.
4. Sawtooth. (2013). The MaxDiff System. Technical paper. Version 8. Sawtooth Software Inc., Orem, Utah (US).
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SOLUÇÕES FERTINAGRO AGROVIP POTENCIADOR DE FLORAÇÃO E VINGAMENTO
Aplicação em água de rega ou pulverização foliar
Contém azoto (6%), boro (8%), fósforo (30%) e molibdénio (2%) e aminoácidos livres (2%)
Melhora a absorção dos nutrientes fornecidos, garantindo a sua translocação nas culturas
Favorece a bioestimulação das culturas, com uma melhor floração, vingamento e maturação dos frutos
Oferece um efeito molhante que melhora a eficácia, persistência e penetração da aplicação foliar
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A REVOLUÇÃO DA OLIVICULTURA MUNDIAL: O ALENTEJO COMO REFERÊNCIA MÁXIMA DO ESTUDO
Juan Vilar Hernández
Analista agronómico internacional, consultor, professor permanente e membro do conselho social da Universidade de Jaén
Amodernização da agricultura, nomeadamente a cultura do olival em sebe, revolucionou a produção mundial de azeite.
Embora cubra apenas 3% dos olivais a nível mundial, representa 36%, mais de um terço, do azeite virgem extra obtido no mundo, num total de quase 450.000 toneladas de azeite virgem extra.
Esta situação teve um impacto económico significativo, reduzindo drasticamente a duração da campanha, passando de mais de 200 dias para menos de 50, melhorando assim a eficiência da produção.
Além disso, facilitou os avanços genéticos, simplificou os processos e melhorou a qualidade do azeite, transformando a indústria e expandindo o seu alcance a nível mundial.
O olival em sebe, que ocupa 400.000 hectares e regista uma expansão constante, procura eficiência e sustentabilidade. Este método representa 15,48% da produção mundial de azeitona.
Do ponto de vista económico, gera cerca de 1,8 mil milhões de euros de produção média durante cinco campanhas, com um volume de negócios de 2 mil milhões de euros por campanha. Além disso, exige
investimentos anuais de mais de 637 milhões de euros, com um impacto fiscal de quase 100 milhões de euros.
Nos últimos 28 anos, a cultura da oliveira em sebe implicou investimentos em 216 lagares, mais de 1.700 máquinas de colheita e cerca de 3.150 tratores. Este método de cultivo é não só economicamente rentável, mas também gera benefícios sociais significativos, criando emprego estável para mais de 700 pessoas diretamente e cerca de 2.300 de forma indireta por campanha. O valor total dos salários ultrapassa os 90 milhões de euros, com cerca de 14 milhões de euros de impostos gerados.
A cultura da oliveira em sebe criou mais de 44.000 postos de trabalho desde a sua implementação e é fundamental para satisfazer a procura crescente de produtos agrícolas prevista para 2050. Além disso, o seu impacto ambiental positivo inclui a preservação da biodiversidade e a captura de até 1,5 milhões de toneladas de CO2 por campanha, contribuindo para cerca de 5% do total, compensando a perda global de florestas desde 1990.
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Este método transformou a indústria do azeite, exigindo uma maior eficiência dos lagares e dando origem a uma produção praticamente exclusiva de azeite virgem extra.
Foi desenvolvida uma dúzia de microambientes olivícolas ligados à sua agroindústria, sendo o olival em sebe um dos principais motores da inovação nestas áreas. A diversidade genética é crucial para produzir azeite virgem extra funcional de forma sustentável, e os programas de melhoria genética estão a trabalhar em novas variedades adaptadas a este método, como a Sikitita ou a Lecciana, que revolucionaram a indústria do azeite com as suas propriedades e características únicas, essenciais para este processo de transformação.
No espaço de 28 anos, o olival em sebe conseguiu multiplicar-se e contribuir de forma significativa para a produção mundial de azeite. Se este ritmo de crescimento se mantiver, estima-se que, no futuro, poderá representar até 5% da produção total de gorduras vegetais alimentares. Esta é considerada uma estratégia agrícola sustentável, eficiente e altamente
rentável, com potencial para transformar o panorama global da produção alimentar.
O Alentejo, enquanto referência mundial de olivais modernos em sebe, é um modelo notável que alia o sucesso económico aos benefícios ambientais e sociais. Este desenvolvimento agrícola não só traz valor para o sector e para a região, como também tem um impacto positivo no controlo do carbono e na estabilidade populacional do território. Esta modernização da olivicultura na região impulsiona o crescimento económico não só na agricultura, mas também noutros sectores, o que gera um efeito multiplicador três vezes superior ao dos sectores não agrícolas, como indicam os estudos da FAO.
Fonte: elaboração própria com base em O Olival em sebe como alavanca transformadora do sector olivícola mundial, solicitado pelo Grupo Agromillora e elaborado por Juan Vilar consultores estratégicos, 2023.
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Pedro Santos
Diretor-geral da Consulai
AA OLIVICULTURA É O MOTOR DA (R)EVOLUÇÃO AGRÍCOLA NACIONAL
o longo das últimas duas décadas o setor agrícola nacional modernizou-se muito. Assistimos, sobretudo nas áreas de regadio, a um crescimento acentuado da área de culturas permanentes, com sistemas de produção modernos, com forte utilização de tecnologia, o que tem permitido a afirmação internacional de Portugal como geografia de referência na produção de alguns produtos. Este crescimento tem sido alavancado com um reforço substancial do investimento privado no setor, nacional e estrangeiro, enquanto se tem garantido uma compatibilização com as vertentes sociais e ambientais da sustentabilidade.
O setor olivícola tem sido o motor dessa revolução agrícola e isso mesmo deve ser sublinhado e valorizado.
Crescente capacidade exportadora
Apesar de existir a ideia de que, no setor do azeite, Portugal tem uma forte vertente exportadora, a verdade é que só nos últimos anos, e fruto da recente modernização setorial, é que fomos capazes de inverter a enorme dependência de importações que existia em Portugal. Em 2005, Portugal, para satisfazer a procura interna, importava quase 60.000 toneladas de azeite, pois só produzia cerca de 30.000 toneladas e, dessas, exportava 23.300 toneladas. Esta situação, apesar do aumento de produção verificada, manteve-se até 2014;
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Figura 1 - Evolução das exportações de azeite (Fonte: EUROSTAT, 2023)
esse foi o primeiro ano em que as exportações, em quantidade, ultrapassaram o valor das importações. No entanto, em valor, já se tinha verificado essa inversão desde 2011, pelo facto de termos um valor médio de exportação de azeite superior ao valor médio de importação.
As exportações nacionais de azeite têm crescido de forma muito marcada nos últimos anos, tendo atingido, em 2022, um valor superior a 930 milhões de euros, colocando Portugal como o 3.º maior exportador mundial de azeite. O sucesso deste setor é bem marcado pelo seu desempenho exportador: em 20 anos, as exportações de azeite aumentaram 12 vezes em volume e 18 vezes em valor!
O setor do azeite contribui de forma positiva, com um valor de 515,7 milhões de euros, para o saldo da balança do complexo agroalimentar nacional, que registava, em 2022, um valor negativo de -5.222 milhões de euros.
Um nível de investimento superior ao setor
Uma das marcas distintivas do setor agrícola nos últimos anos, e sobretudo desde a crise financeira de 2010/2011, foi a sua capacidade de manter, e reforçar, o investimento privado mesmo quando, no conjunto da economia, assistimos a uma redução de 45% nos valores investidos. No setor agrícola, e desde 2017, o investimento tem superado os 1.000 M€ anuais, o que significa um crescimento muito significativo face aos valores históricos.
Ao analisarmos, de forma isolada, o setor da Olivicultura relativamente ao total da Agricultura, percebemos a dinâmica do setor. O investimento em Olivicultura chegou a ser mais de 8 vezes superior ao valor que se tinha verificado em 2013 (que foi o ano de arranque do PRODER 2013-2020), quando no conjunto do setor agrícola “apenas” tinha duplicado. Este é um desempenho absolutamente extraordinário do setor e revela bem todo o empenho dos empresários agrícolas na modernização dos sistemas produtivos ligados ao olival, mesmo quando assistimos a uma redução do nível de apoio público ao investimento (que representam menos de 25%).
Como consequência deste investimento, temos assistido a um crescimento muito significativo da produtividade média de azeitona em Portugal. De uma média na ordem das 0,5 toneladas de azeitona/hectare, em 2002, passámos a produzir uma média na ordem das 2,5 toneladas de azeitona/hectare, em 2022, ou
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Figura 2 - Evolução do saldo da balança comercial de azeite (Fonte: EUROSTAT, 2023)
seja, a produtividade média de azeitona quintuplicou em 20 anos. Essa produtividade média é substancialmente superior em sistemas modernos e eficientes de regadio. Esta evolução é um excelente exemplo da aplicação prática da tecnologia, e do conhecimento, na agricultura.
Distinção pela qualidade
A capacidade de Portugal se afirmar nos mercados internacionais passa, também, pela capacidade de oferecer produtos de elevada qualidade e que sejam reconhecidos pelos consumidores. A modernização e
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Figura 3 - Evolução da Formação Bruta de Capital Fixo na Agricultura e na Olivicultura (Fonte: INE, 2023 | Base 100: 2013)
Figura 4 - Evolução da produtividade média (ton/ha) de azeitona em Portugal (Fonte: INE, 2023)
“Este é um desempenho absolutamente extraordinário do setor e revela bem todo o empenho dos empresários agrícolas na modernização dos sistemas produtivos ligados ao olival\”
o investimento verificados no setor conduziram a uma transformação muito significativa do perfil de azeites produzidos.
Ao longo dos anos, o setor tem sido capaz de melhorar a qualidade dos azeites produzidos. Em 2006, a percentagem de Azeite Virgem e Virgem Extra era de 87% do total de azeite produzido, o que já nos colocava nos melhores do mundo, mas nos últimos anos temos sido capazes de melhorar este desempenho. Em 2022, já tínhamos 98% do azeite nacional certificado como Azeite Virgem e Virgem Extra. Portugal é o
país do mundo com melhores níveis de qualidade apresentando, de forma consistente ao longo das últimas campanhas, mais de 95% de azeite Virgem e Virgem Extra.
Esta qualidade superior, associado ao facto de Portugal ser o primeiro país, no Hemisfério Norte, a ter azeite novo na campanha, permite aos operadores nacionais terem uma vantagem competitiva face à concorrência e capacidade de poder ter influência no preço mundial.
Estes 3 pontos (capacidade exportadora, investimento e qualidade) são uma marca indiscutível do desenvolvimento do setor olivícola nos últimos anos e que permite que Portugal seja, atualmente, uma referência mundial e com capacidade de crescer a sua importância no futuro. Estes dados fazem parte de um relatório encomendado pela OLIVUM e elaborado pelo consórcio criado entre a CONSULAI e a JUAN VILAR CONSULTORES, que procurou atualizar um conjunto de dados que tinham sido apresentados no relatório, de 2019, “Alentejo: a liderar a Olivicultura Moderna Internacional”.
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Figura 5 - Evolução da qualidade do azeite em Portugal (Fonte: GPP, 2023)
Nutrientes
com
Fertilizantes com futuro Fertilizantes
futuro
protegidos
ENTREVISTA
Luís Alcino Conceição
Investigador e coordenador do InovtechAgro
Para Luís Alcino Conceição, o setor olivícola português está ao nível do que de melhor se faz noutros países. Mas, o professor adjunto do Instituto Politécnico de Portalegre, doutorado em Biotecnologia, vinca que os olivicultores terão de valorizar não só o uso tecnológico, mas também a capacitação de recursos humanos para que se consiga analisar, de forma eficiente, a informação obtida através da tecnologia
Uma agricultura sustentável só é possível com produtores dotados de conhecimento científico e com tecnologias que optimizem os recursos?
LAC - Ao nível das commodities ou semi-commodities, só quem esteja atualizado, tecnicamente muito bem preparado, com equipas nas explorações agrícolas com competências técnicas, capazes de responder ao uso das tecnologias, mas também capaz de ler e dar uso à informação resultante dessas tecnologias, é que consegue ser resiliente face às circunstâncias que estamos a viver. Ou se está tecnicamente muito bem preparado ou, então, a alternativa é ter produtos com um valor acrescentado de tal maneira brutal que se consiga fazer o aporte do terroir desses produtos, garantindo um preço do produto compensador ao produtor.
Nas explorações de grande dimensão já não é concebível a inexistência de engenheiros agrónomos na equipa?
LAC - Eu diria até que a área da agronomia é o ponto de partida para a especialização em áreas que são hoje muito importantes nas grandes explorações, que é, por exemplo, o tratamento de dados, a perceção analítica da informação. Muitas vezes, o agrónomo, com a sua formação de base, só per si, não consegue fazer essa análise, mas acaba por ser obrigado a fazer o upgrade de competências, para poder acompanhar a tecnologia que está no terreno. Hoje um agrónomo tem que avançar para a formação pós-graduada.
Em relação à olivicultura no Alentejo, os métodos usados na produção estão na vanguarda em termos internacionais?
LAC - Acho que nós não estamos diferentespelo menos, ao nível do olival em sebe, ou olival regado – daquilo que se faz noutros países. Diria até que, em alguns casos, nomeadamente em termos de algum olival com produção biológica, há um cuidado maior do agricultor português do que aquilo que às vezes observo num ou outro caso em Espanha. Estou ainda a pensar no caso do enrelvamento do solo. Conhecemos uma área imensa no Alentejo, em que o agricultor faz a sua cultura de cobertura, procura reduzir a erosão do solo. Estamos a falar de olivais que são praticamente mecanizados e que estão ligados a tecnologias, como a realização de cartografia dos solos, geoelétrica, utilização de armadilhas inteligentes para controlo de pragas e doenças, ou uso de drones para ações dentro do olival. O agricultor está ainda ao encalço de tudo o que são tecnologias de rega porque a água e a bombagem não são baratas. Vejo ainda preocupação do ponto de vista ambiental.
Quais as grandes tecnologias disponíveis em Portugal ao nível da olivicultura?
LAC - Os drones são uma matéria que ainda está muito em discussão. Aliás, o Parlamento Europeu voltou a proibir a utilização deste tipo de instrumentos para a aplicação nomeadamente de produtos fitofarmacêuticos. Por via do centro de competências, também temos alguma resistência em dizer que o drone se utiliza para todo o tipo de aplicações. Ao nível do drone já há algumas soluções, nomeadamente as questões relacionadas com a polinização, com a distribuição de adubos, com monitorização, que são muito bem-vindas e que, de alguma maneira, são premiadas através dos equipamentos disponíveis no mercado, que são uma grande ajuda, principalmente para complementar o uso do trator ou da alfaia tradicional. Agora, temos também em discussão outras tecnologias, que passam pela cartografia geoelétrica do solo, a colocação de sensores para a avaliação de humidade do solo ou na utilização de água pela cultura.
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“HOJE UM AGRÓNOMO TEM QUE AVANÇAR PARA A FORMAÇÃO PÓS-GRADUADA”
ENTREVISTA
Jeremias Távora
Director-geral da Olibest
“Nos lagares podemos orgulhar-nos de ter em Portugal das tecnologias e capacidades mais avançadas do mundo”
Jeremias Távora considera que a agregação de produtores e lagares de azeite veio trazer uma “muito maior eficiência” competitiva ao setor. O Director-geral da Olibest constata que, nos últimos 15 anos, os lagares, em particular no Alentejo, tiveram um “desenvolvimento impressionante” e observa que, nesta altura, a olivicultura vive uma fase de grande volatilidade de preços, o que obriga a controlar o custo de produção e a encontrar formas de escoar o produto nos anos em que houver maior produção mundial
Em Portugal Continental, segundo a Pordata, em 2022, existiam 455 lagares. Em 1960, o nosso país contava com 4826. Essa diminuição gigantesca deve-se às exigências de mercado de ter lagares mais modernos e com maior capacidade de produção?
A Olivum agrega produtores e lagares de azeite. Esta união é essencial para tornar a produção de azeite português mais competitiva?
JT - Esta união é a única forma de todo o setor falar a uma só voz. Este passo permitiu que a Olivum representasse mais de 80% da produção nacional de azeite e deve, por isso, ter uma responsabilidade acrescida de representação pública de todo o setor olivícola nacional. É inquestionável que esta agregação nos leva a uma muito maior eficiência e dá um sentido reforçado à associação, mas também não há dúvidas de que os desafios que temos nos próximos tempos dar-nos-ão grandes oportunidades de trazer mais competitividade e profissionalismo a todo setor, integrando uma maior diversidade de modos de produção e uma maior envolvência geográfica, de forma a tornar igualmente interessantes e viáveis os olivais tradicionais, nas zonas onde não é possível recorrer ao regadio.
JT - Tal como no campo, onde os investimentos têm sido feitos cada vez com maior influência do desenvolvimento da olivicultura moderna, com um aumento incrível da capacidade produtiva, também nos lagares podemos orgulhar-nos de ter em Portugal das tecnologias e capacidades mais avançadas do mundo. Esta tendência tem-se acelerado na era pós-Alqueva, altura a partir da qual o regadio permitiu a plantação e o crescimento do número de hectares de olival com alta produtividade, o que levou a uma concentração da época de colheita da azeitona em menos dias e, por isso, uma necessidade de transformar toda essa azeitona num período mais curto. Também um maior conhecimento técnico sobre o azeite acrescentou a estes novos projetos o objetivo de transformar grandes quantidades de azeitona, mas sempre obtendo uma grande qualidade do azeite, o que obriga os lagares a aumentarem a sua capacidade de ponta, para garantir que a azeitona tenha tempos de espera mais curtos.
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“Um modelo de bio economia sustentável e circular exige um esforço concertado por parte das autoridades públicas e da indústria”
Quais são os equipamentos mais inovadores da Olibest?
JT - Na Olibest temos implementada a Indústria 4.0. Esta classificação distingue-se das anteriores pela inovação de sensores e automatismos instalados no lagar. Com este nível de monitorização, podemos, por exemplo, conhecer com rigor as características da azeitona rececionada, o que nos permite realizar uma extração mais estável e com menos perdas industriais, que também monitorizamos ao minuto. Podemos também controlar de forma automática todas as velocidades e temperaturas, de forma a garantir a máxima qualidade do azeite. Outra inovação importante é o controlo do azeite armazenado, que nos permite saber, em cada momento, o stock existente e, através das automatizações de válvulas, fazer cargas ou blends pretendidos, sem recurso a abertura ou fecho de válvulas manuais. Finalmente, temos um software que reúne toda esta informação e que nos permite ter um controlo completo da traçabilidade dos azeites que produzimos.
Qual foi a produção de azeite nesta campanha?
JT - Na campanha 2023/2024 produzimos 8,5 mil toneladas de azeite virgem extra. Foi uma boa campanha, mas foi um ano em que, pelas condições de clima que vivemos durante a colheita, a azeitona apresentava um índice de gordura atipicamente baixo e uma percentagem de humidade excessivamente alto, o que dificultou o processo de extração.
Em termos de qualidade, como avalia a produção de 2023/2024?
JT - Em termos gerais, os azeites obtidos são bons, 100% virgem extra, mas com uma qualidade média. Quando a azeitona apresenta níveis de humidade altos e um índice de maturação elevado, é difícil conseguir azeites mais intensos e frutados, como seria desejável.
Quais as maiores preocupações do vosso setor neste momento?
JT- Vivemos uma época de enorme agitação em todo o setor. Pelas condições que temos em Portugal e especialmente no Alentejo, a tentação de aumentar a produção, com novos olivais e lagares é muito alta, o que nos levará com certeza a um aumento da produção nacional nos próximos anos. É importante começar a pensar em formas de escoar o azeite, para estarmos preparados para os anos em que o mundo produzir mais. Este é um mercado com cada vez mais volatilidade de preços, o que nos traz alguma instabilidade que temos de tentar prever e combater. Por outro lado, é fundamental controlar o custo da produção que, quer pela inflação, quer pela instabilidade mundial, aumentou nos últimos tempos aproximadamente 30%. Tendo em conta o preço atual de venda de azeite, o setor pode acomodar esta subida, mas, num cenário de preços baixos, a rentabilidade pode ficar afetada.
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BIOIBERICA LANÇA TERRA-SORB RADICULAR SYMBIOTIC®, O SEU PRIMEIRO BIOESTIMULANTE PROBIÓTICO
Reforçando o compromisso de desenvolver soluções para uma agricultura mais eficiente e amiga do ambiente, a Bioiberica criou um bioestimulante probiótico que melhora a simbiose entre bioestimulação e biofertilização, recorrendo à Priming Tech™ , uma revolucionária tecnologia de fermentação que assegura uma maior adaptabilidade das variedades às condições de campo.
O Terra-Sorb radicular SymBiotic® é um novo produto que incorpora a Bacillus velezensis PH-023, uma exclusiva estirpe bacteriana que foi selecionada por ser altamente resistente a condições extremas de temperatura e salinidade.
Esta estirpe oferece múltiplos benefícios para os agricultores, como melhoria da fertilidade do solo, estímulo da atividade enzimática da rizosfera e ainda aumento da eficiência na absorção de nutrientes, do teor foliar de macro e micronutrientes, e produção e colheita precoce.
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BAGAÇO DE OLIVEIRA IMPULSIONA AGRICULTURA CIRCULAR
Um problema do setor da olivicultura tornou-se numa oportunidade de criação de iniciativas visionárias assentes na sustentabilidade. URSA-Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva e Entogreen são dois projetos que transformaram um desafio numa mais-valia para os produtores. A compostagem e a bioconversão de resíduos orgânicos estão a tornar o olival num campo de inovação
O olival português está no centro de projetos inovadores ao serviço da sustentabilidade. Se no projeto URSA – Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva o objetivo é devolver ao olival o que é do olival, transformando os subprodutos em matéria orgânica, o projeto Entogreen vai mais longe e, além de produzir fertilizante, também gera novas oportunidades, transformando o bagaço de azeitona em proteína para a alimentação animal e óleo, que pode ser usado até na cosmética. No coração destas iniciativas está a agricultura circular, um caminho que começa a ser percorrido por um número crescente de agricultores.
“Há muitas culturas que nos dão alguns produtos orgânicos. Mas a melhor para podermos devolver matéria orgânica ao solo é, sem dúvida, o olival”, defende David Catita, responsável pelo URSA.
“No EFMA [Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva] temos bastante olival, na ordem dos 60 a 70%, e o olival tem uma coisa maravilhosa: dá a azeitona, em que só 20% é que é azeite e os outros 80% constituem um material espetacular, no qual o agricultor investiu todo o seu dinheiro, tempo e empenho e que, basicamente, são azeitonas moídas sem azeite. É um material muito nobre, que tem a grande vantagem de na compostagem já vir todo moído”, realça o técnico do Departamento de Ambiente da EDIA- Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva.
O conceito URSA foi desenvolvido pela EDIA, tendo em vista não só a promoção da fertilidade do solo, mas também o uso eficiente da água de rega.
Isto, num contexto em que, após a monitorização dos solos do EFMA, entre 2009 e 2015, se verificaram as consequências de décadas de agricultura não conservativa. “Os solos de Alqueva tinham um teor de matéria orgânica muito baixo, abaixo de 1%. Ora, os teores abaixo de 1% acontecem em solos áridos ou semi-áridos. Então, com base nessa evidência, a EDIA começou a pensar como é que conseguiríamos resolver este problema. A resolução passaria por encontrar uma maneira de reabilitar a matéria orgânica do solo ”, contextualiza David Catita, responsável pelo URSA, conceito que nasceu em 2014 com o intuito de criar um conjunto de unidades comunitárias onde os agricultores entregavam os seus subprodutos orgânicos, de origem agrícola, pecuária ou agroindustrial, trocando-os por composto agrícola já estabilizado, que poderiam devolver aos seus olivais.
A compostagem, segundo David Catita, revela-se como uma solução mais adequada que o processo natural de degradação da matéria orgânica porque, com este processo controlado, criam-se as condições ideais para originar um produto de elevada qualidade para a fertilização dos solos. “Quando falamos em composto, estamos a falar de um material que passou por um processo de estabilização e esse processo congrega humidade e temperatura por um determinado período de tempo e que vai fazer uma sequência de reações anaeróbias. Quando esse material está estabilizado, vai durar muito tempo no solo e, ao acontecer isso, vamos ganhar, à partida, retenção de carbono. Depois ganhamos ainda um conjunto de outros fenómenos, sendo que o mais interessante, no contexto de regadio, é aumentarmos a capacidade de retenção de água e de nutrientes”, sublinha.
E se, por um lado, o recurso a composto orgânico permite uma maior absorção da água e nutrientes e maior vida no solo, por outro, inibe o recurso a adubos químicos, impedindo a contaminação de lençóis freáticos, albufeiras e rios. “É importante que o solo se mantenha saudável, mas também é importante que os agricultores usem a água de forma
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mais eficiente. Temos 70 albufeiras espalhadas pelo território de Alqueva e se o solo não tiver matéria orgânica não consegue fazer a sua função de filtro”, destaca o técnico ambiental.
Sem qualquer dúvida, David Catita aponta que, “de todas as opções existentes, a compostagem é a opção mais facilmente replicável e com menor investimento. O agricultor que queira fazer compostagem não tem que ter grande investimento na técnica, até porque grande parte dela é feita com equipamentos que o agricultor já tem, seja um trator, um reboque e, nesse sentido, tem um baixo investimento”.
A primeira unidade de compostagem do projeto URSA está em funcionamento, desde 2019, na Herdade da Abóbada, em Serpa, através de uma parceria com a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, e contou com investimento de 200 mil euros. “É uma unidade pequena e feita com equipamentos que não são o último grito”, menciona David Catita. É ali que os materiais orgânicos chegam e onde é feita a sua estabilização, que demora entre 4 a 10 meses, sendo que o bagaço de azeitona demora mais, entre 8 e 10 meses. “Fazemos o trabalho todo de processamento para fazer a compostagem: a mistura, o revolvimento e a crivagem. Depois, o agricultor tem direito a receber, de graça, uma parte em composto orgânico”, esclarece o técnico ambiental.
Inspirados por este projeto, o EFMA conta, neste momento, com sete agricultores que já criaram as suas próprias unidades de compostagem. Porém, apesar das boas intenções dos empresários agrícolas, ainda existem algumas limitações legais a esta prática, como observa David Catita. “Em Janeiro de 2023, foram publicadas, pela Agência Portuguesa do Ambiente, as regras gerais de compostagem de resíduos agrícolas, pecuários e agroindustriais, o que indicou que os agricultores já poderiam fazer compostagem do seu bagaço, isentos de licenciamento, desde que cumprissem essas regras, Mas a lei da RAN [Reserva Agrícola Nacional] não é clara sobre se se pode fazer compostagem e as entidades que dão esses pareceres consideram que não se pode fazer, o que acaba por ser uma coisa completamente absurda”, evidencia o técnico da EDIA.
Ciente de que “os agricultores têm de estar na linha da frente em relação à defesa ambiental”, Filipe Cameirinha Ramos, da Herdade da Figueirinha, em Beja, não hesitou em investir 1,5 milhões de euros num projeto de compostagem, no qual tem um engenheiro agrónomo a trabalhar, em exclusivo. “Este projeto tem bastantes mais-valias. Destina-se a colocar no mercado um produto e a resolver um problema de base, que é o bagaço de azeitona”, sublinha. Desta forma, este agricultor deixou de entregar o bagaço nas extratoras, tornando o processo “ambientalmente mais saudável” e, além do auto-consumo do composto, passou a vender também a outros produtores.
Filipe Cameirinha Ramos conta que à URSA foi “beber alguma sabedoria” e que a EDIA “é um parceiro muito importante” na criação da unidade de
compostagem na herdade da sua família, a exemplo do que tem feito com várias outras empresas agroindustriais da região, em particular lagares de azeite. A implementação deste projeto da Herdade da Figueirinha, que já está em execução, foi impulsionada, precisamente, pela diretiva da APA, relativa às regras gerais de compostagem de resíduos agrícolas.
A Herdade da Figueirinha, que tem mais de 300 hectares de terra dedicados à exploração de olival (220 hectares), vinha (82 hectares) e amendoal (28 hectares), encontra-se, assim, a desenvolver uma unidade de compostagem que permite transformar todos os subprodutos produzidos na exploração, o que representa mais de 10 mil toneladas, e ainda juntando subprodutos de vários parceiros, tendo por base o bagaço. “A maioria dos nossos subprodutos é bagaço de azeitona, mas temos também folhas de oliveira, estrume de bovinos e engaço de uva”, nomeia Filipe Cameirinha Ramos. “Com a compostagem obtemos matéria orgânica de qualidade, sem metais pesados”, sublinha o produtor, empenhado em promover a agricultura circular nas suas explorações.
A sustentabilidade do setor agroalimentar é também uma preocupação de Daniel Murta, médico veterinário doutorado que, em 2012, começou a sua investigação sobre a utilização de insetos na valorização de resíduos orgânicos, e que decidiu dar os primeiros passos na produção de insetos para a alimentação humana, criando, em 2014, a Ingredient Odyssey, S.A., mais conhecida pela marca Entogreen. Entretanto, esta empresa biotecnológica encontrou ainda no bagaço de azeitona uma oportunidade de negócio inovadora. A matéria-prima são os subprodutos agrícolas e a ferramenta industrializada é a mosca soldado negro. “Aqui é que a magia acontece. Não é uma magia nova, é uma magia com milhões de anos e que nós soubemos captar da natureza a industrializar. Estes insetos, em 12 dias, transformam o desperdício, um subproduto de origem vegetal, em produtos de valor acrescentado. E, quando falamos em bagaço de azeitona, é onde a maravilha mais acontece”, explica Daniel Murta. A Entogreen - localizada em Santarém, no “coração agrícola do país no que diz respeito à produção de vegetais” - estava habituada a trabalhar com desperdícios, como brócolos, cebolas ou batatas, mas em 2019, perante a agudização de um desafio no setor agrícola, surgiu a ideia de começar a trabalhar também com bagaço de azeitona. “O setor do olival tem crescido significativamente, é um setor extremamente importante para o país, contribui para as exportações e para melhorar a nossa balança económica, e cria emprego. Só que esse setor tem um desafio, que é o destino a dar ao bagaço de azeitona”, contextualiza o fundador da empresa especialista no desenvolvimento de soluções biotecnológicas para a produção de proteína animal e fertilizantes orgânicos.
“O bagaço tem encontrado destino adequado nas extratoras, mas estas estão limitadas nas suas capacidades. Nos últimos anos, a quantidade de
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azeitona tem aumentado, o que tem contribuído para o sucesso do setor, mas também leva a um estrangulamento no processamento do bagaço, originando problemas nos lagares, que se vêem obrigados a parar, por não conseguirem processar tanta azeitona como gostariam”, lembra Daniel Murta.
Para evitar o armazenamento do bagaço em lagoas ou o encaminhamento para Espanha, a Entogreen empenhou-se em encontrar uma alternativa sustentável: “O que começámos a fazer em 2019 e que hoje em dia fazemos em grande escala é utilizar o bagaço de azeitona como substrato para o desenvolvimento dos nossos insetos”. Deste modo, na unidade desta empresa há capacidade para processar 40 a 50 toneladas de bagaço por dia. “Este bagaço de azeitona, que é uma ameaça ao setor do azeite, para nós é uma oportunidade. Conseguimos transformá-lo em proteína para a alimentação animal, em fertilizantes orgânicos para o solo, mas também em óleo, que tanto pode ir para a alimentação animal como para cosméticos”, ilustra o professor da Egas Moniz School of Health & Science.
Segundo Daniel Murta, quando a Entogreen estiver a laborar em pleno, a previsão é de produzir 7 mil toneladas de fertilizante por ano. Neste momento, e durante os próximos seis anos, este composto irá ser vendido, em exclusivo, à empresa SIRO-Substratos Profissionais. Já a longo prazo, a perspetiva é de procura de parceiros, no setor do olival, que queiram criar novas fábricas de transformação de bagaço de azeitona em proteína, óleo e fertilizante.
“Trabalhando com
olivicultores, nomeadamente com quem tem lagares, poderão vir a ser construídas fábricas como a nossa, em Santarém, lado a lado com os lagares, evitando o transporte de bagaço de azeitona”. Tanto a norte, como a sul, a Entogreen já encontrou, aliás, parceiros na criação de unidades biotecnológicas. “Já temos o levantamento de dez potenciais locais e parceiros. Existem mesmo alguns parceiros com quem já temos um desenvolvimento bem avançado, em Trás-os-Montes, onde temos uma perspetiva concreta de construir uma fábrica e, depois, temos perspetivas de, durante 2024, vir a construir duas fábricas no Alentejo”, adianta Daniel Murta.
PROCESSO DE BIOCONVERSÃO DA ENTOGREEN
Na unidade da Entogreen são produzidas e criadas moscas soldado-negro, que põem grandes quantidades de ovos que serão inoculados numa mistura alimentar que irá gerar larvas para uma posterior inoculação nos subprodutos a bioconverter. Seguem-se, então, três fases. Na primeira, os desperdícios vegetais, cedidos pelos agricultores, são processados e usados para alimentar as moscas. Na segunda, passados alguns dias, as larvas crescem e digerem a totalidade do material, transformando os nutrientes dos mesmos em fertilizante orgânico para o solo. Já na terceira fase, as larvas, ricas em proteína e gordura, são desidratadas a mais de 100 graus, durante duas a três horas, seguindo-se a prensagem a quente, que irá separar o óleo de inseto da proteína. A proteína ainda passa pela moagem para ficar mais fina. Tanto o óleo como a farinha estão prontos a usar como solução alimentar para animais.
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Foi-me lançado o desafio de escrever sobre a qualidade do azeite português. Tarefa complexa e muito técnica, pelo que o faço de uma forma mais generalista, de maneira a consolidar informação às pessoas ligadas ao sector, por outro lado dar informação geral aos restantes leitores e por fim demonstrar que chegar aonde chegámos, não foi por milagre, daí o título destas linhas.
Rui Ribeiro
Diretor Agroindustrial da Nutrifarms
Contextualizar os tipos de azeite - legislação
Aregulamentação sobre o azeite é necessária dado tratar-se de um alimento muito susceptível de fraude alimentar, pelo que a sua legislação é bastante completa. Vários regulamentos regem a sua classificação, produção e comercialização. A União Europeia (UE) emitiu, recentemente, dois novos regulamentos (em complemento aos já existentes), assim:
1) Foi publicado no dia 4 de novembro o Regulamento Delegado (UE) 2022/2104 que complementa o Regulamento (UE) n.º 1308/2013 respeitante às normas de comercialização do azeite e que revoga o Regulamento (CEE) n.º 2568/91 da Comissão e o Regulamento de Execução (UE) n.º 29/2012.
Em particular o regulamento publicado estabelece as características químicas e organoléticas do azeite e as normas de comercialização, tanto na venda ao consumidor (por exemplo, gamas de venda, misturas com outros óleos vegetais, utilização em géneros alimentícios…) quanto aos aspectos de rotulagem (por exemplo, denominações de venda, indicações obrigatórias/opcionais, categoria do azeite, condições de armazenamento, origem, acidez, índice de peróxidos…).
2) Foi também publicado no dia 4 de novembro o Regulamento de Execução (UE) 2022/2105 que estabelece as regras relativas aos controlos de conformidade das normas de comercialização do azeite e aos métodos de análise das características do azeite.
Por outro lado temos: The Federation of Oils, Seeds and Fats Associations (FOSFA) - Arbitration Rules, Guide and Code of Practice – FOSFA International, que arbitra, e regula as transações comerciais, para além dos códigos de Boas Práticas aceites.
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Para além da análise físico-química, os azeites são sujeitos a uma apreciação e classificação por prova, havendo para isso painéis de prova qualificados e habilitados. Um azeite por exemplo, pode ter uma acidez livre inferior a 0,8g por 100 g, mas ser classificado como virgem, por ter algum defeito de prova, por exemplo: ranço, tulha ou borras
Em resumo, os Azeites Virgem Extra são os de melhor qualidade, seguidos dos Virgem.
Portugal principal produtor em % de AV e AVE
Comparativamente com os principais países produtores, Portugal é o país que percentualmente mais produz azeites Virgem e Virgem Extra, o gráfico anexo é demonstrativo disso mesmo.
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Mas não chegámos aqui por acaso. Apontaria três fatores determinantes:
1. O recente investimento na modernização da fileira, feito nos últimos anos, em particular na área de influência da maioria dos associados da Olivum
2. A alteração do tipo de condução/plantação dos olivais
3. A modernidade dos lagares, entretanto construídos
Fatores que influenciam positiva e negativamente a qualidade do azeite
Há, todavia fatores, que com ou menor ou maior impacto, acabam por influenciar a qualidade do azeite, podemos sistematizar alguns desses, assim:
+/positivos
• Modernidade dos Lagares – passámos de um processo de 3 fases para 2 fases, em circuito fechado e, subsequente aumento da capacidade produtiva
• “Modus Operandi”
– extração a frio, menor tempo de espera para processar a azeitona, etc.
• Mecanização dos olivais
– colheita mais rápida, sem contacto com o solo e rápido processamento
• Início da colheita em outubro (muito mais cedo do que antes), menos problemas fitossanitários
-/negativos
• Fim da colheita noturna – maior exposição ao calor ¿Afecta el proceso de lavado y el momento de la recolección de las aceitunas en la calidad de los aceites de oliva virgen extra? - Aceite / Almazaras (interempresas.net)
• Alterações climáticas:
Excesso de calor em outubro – perda de polifenóis no azeite
Chuvas muito concentradas em outubro, caso deste ano que provocaram excesso de humidade e consequente dificuldade de extração – gráfico a seguir
Aparecimento de doenças fúngicas, por causa da relação, humidade e calor
• Aparecimento de Mosh & Moah por:
Utilização de lubrificantes de origem mineral
Gomas dos vibradores
Tapetes com borrachas não alimentares
Contacto com tintas não alimentares
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Novos desafios que impactam na qualidade dos azeites:
Mas os desafios são constantes em qualquer sector, também aqui o são, deixo alguns aspectos a ter em conta no I+D para os próximos anos:
• Melhoramento genético e seleção das plantas para que se adaptem à falta de água e alterações climáticas
• Novos desafios com as limitações de uso de fitossanitários impostas por uma legislação da EU mais apertada e restrita ao uso destes produtos
• Melhoramento do processo de produção (batedoras), em meio fechado e controlado
• Vulgarização do arrefecimento de azeitona e pastas, através de chiller ou outro método
• Massificação dos lagares 4G e porque não pensar já no 5G
• Utilização de lubrificantes isentos de Mosh & Moah e de outros contaminantes
• Implementação do Programa de Sustentabilidade dos Olivais (Olivum)
Tudo o que escrevemos até aqui são fatores que de alguma forma podemos influenciar, todavia, a natureza tem a sua própria regulação e prega-nos partidas. Este ano foi um desses anos. Também aqui não há milagres.
Para além das chuvas que referenciei anteriormente, os níveis de gordura na azeitona (azeite na azeitona), quer em húmido que em seco (MGS), nunca atingiram os valores desejados. Não se tratando de um fator direto na qualidade do azeite, o seu desenvolvimento acaba por influenciar a qualidade da azeitona e azeite, pois os agricultores esperam até ao máximo pelo aumento do rendimento em gordura, normalmente desenvolvido com o aparecimento do frio.
Recorro a um gráfico publicado por Fernando Sola, Diretor técnico no “Observatorio de Rendimiento Graso Aceituna” do “CSR LABORATORIO”, dados de novembro em Espanha, onde se confirma que este ano foi mau em termos de rendimento.
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Por fim, uma referência não à qualidade do azeite, mas às suas “qualidades” (leia-se propriedades) e importância na dita “dieta mediterrânica”. O azeite é constituído por 99% de ácidos gordos monoinsaturados (63-83%), saturados, poli saturados e uma série de outros compostos capazes de influenciar positivamente a saúde (antioxidantes…) e responsáveis pelas suas propriedades organolépticas exclusivas. (Hidrocarbonetos, tocoferóis, polifenóis, álcoois, esteróis e pigmentos…).
Em jeito de conclusão, sublinhava os diferentes aspectos com impacto na classificação e qualidade dos azeites:
1. As questões de regulamentação e legislação
2. A forma de produzir nos olivais
3. O desenvolvimento tecnológico dos lagares
4. O I+D no sector
5. A “mãe natureza”
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Mariana Matos
Secretário-geral da Casa do Azeite Associação do Azeite de Portugal
COMERCIALIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO AZEITE
Osector oleícola, com forte tradição no nosso país, é um dos mais relevantes sectores da agricultura nacional, e joga um papel fundamental do ponto de vista económico, ambiental, cultural e gastronómico. É uma importante fonte de rendimento e emprego em muitas regiões rurais, contribuindo para a coesão territorial e social e para a luta contra o despovoamento, contra a erosão dos solos e contra as alterações climáticas.
Nos últimos 20 anos viveu-se uma verdadeira revolução neste sector: a produção nacional aumentou 500%, e continua em crescimento, e as exportações nacionais cresceram cerca de 12 vezes, em volume, valores inimagináveis no início do século XXI. As condições para esse sucesso são sobejamente conhecidas, e o sector soube aproveitar a oportunidade e tornar-se no exemplo de modernidade e rentabilidade que é hoje referência a nível internacional.
Mas existem elos desta cadeia de valor que não tem acompanhado o desempenho da produção nacional e para os quais se torna vital um olhar mais profundo e, sobretudo, uma estratégia nacional que permita ultrapassar este status quo. Refiro-me concretamente ao consumo de azeite no mercado interno, bem como à alteração do paradigma das nossas exportações, atualmente com um perfil essencialmente a granel, sem grande valor acrescentado. Para qualquer um destes desafios, a questão fundamental prende-se com a valorização do azeite português junto dos consumidores, sejam eles nacionais ou internacionais.
O consumo de azeite em Portugal encontra-se estagnado há anos. Desde o seu quase desaparecimento nos anos 60 do século passado, onde reinavam
as margarinas, até ao final dos anos 80, o consumo de azeite rondou os 3 kg per capita/ano. No início dos anos 90 assistiu-se a uma lenta recuperação do consumo de azeite em Portugal, que atingiu os cerca de 6,5 kg per capita/ano no início do novo milénio, e aí se mantém, com oscilações pouco significativas e uma ligeira tendência em baixa.
Apesar dessa estagnação, a comercialização do azeite em Portugal conheceu uma evolução significativa em termos qualitativos, tendo o consumo de azeite – composto por azeite refinado e azeite virgem sido substituído progressivamente por azeites virgens, de maior qualidade, sobretudo por azeite virgem extra, que atualmente detém uma quota de mercado de cerca de 65% do consumo total de azeite em Portugal. Apesar da relevância do consumo de azeite virgem extra, o consumo de azeites com DOP, por exemplo, é residual, não atingindo sequer 3% de quota de mercado, em média.
O consumo de azeite em Portugal apresenta algumas debilidades que não podemos ignorar, e que ficam bem expostas na atual conjuntura de preços muito elevados. Uma parte significativa destas cerca de 65 mil toneladas que em média serão comercializadas anualmente em Portugal, segundo os dados do INE, passam ainda por circuitos de comercialização ditos informais, como feiras, mercados, vendas à porta do lagar e, mais recentemente, pela internet. São circuitos comerciais paralelos, sem qualquer controlo de qualidade, por onde passa igualmente a grande maioria da fraude que tanto dano provoca ao sector. São hábitos ancestrais muito difíceis de mudar, radicados numa crença de que o azeite “lá da terra é que é o bom, o puro”, e que se devem combater com mais fiscalização, mas sobretudo com educação e conhecimento.
Esperemos que as recentes ações da ASAE, que finalmente começou a atuar de forma mais consistente e tem exposto esta realidade, possam servir de alerta e contribuam de forma decisiva para afastar os consumidores destas práticas tão lesivas dos interesses do sector, mas principalmente dos interesses dos consumidores, que não compram “azeite” mais barato, como pensam, mas sim óleo muito caro.
Portugal é, tradicionalmente, um país com vocação exportadora. O azeite português sempre teve presença nos mais variados mercados internacionais, com particular relevância no mercado brasileiro, onde
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“O consumo de azeite em Portugal apresenta algumas debilidades que não podemos ignorar, e que ficam bem expostas na atual conjuntura de preços muito elevados”
detemos uma quota de mercado de cerca de 60%, sendo o Brasil o segundo país consumidor do mundo fora dos países produtores europeus, a seguir aos Estados Unidos da América. Nos últimos 20 anos, as exportações nacionais de azeite cresceram 12 vezes em volume e 18 vezes em valor, o que não tem paralelo em qualquer outra fileira do sector agroalimentar.
Em 2022, o valor das exportações de azeite atingiu os 976 milhões de euros, o valor mais elevado de sempre e, pela primeira vez, superior ao valor das exportações de vinho, incluindo o Vinho do Porto. Este valor representa cerca de 10% do total das exportações do sector agroalimentar, e cerca de 1,25% do total das exportações nacionais. Obviamente que a atual conjuntura de preços muito elevados favorece a obtenção deste valor, mas a trajetória de crescimento não é conjuntural, tem sido consistente ao longo das últimas 2 décadas.
O saldo da balança comercial rondou os 505 milhões de euros, contribuindo de forma muito expressiva para a redução do déficit da balança comercial alimentar nacional, sendo um dos poucos sectores agroalimentares como uma balança comercial positiva.
Apesar deste sucesso inegável, existem aspetos que não só podem, como devem ser melhorados. Do total das exportações nacionais de azeite em 2022, cerca de 68% tiveram como destino Espanha e Itália. Ou seja, são exportações de azeite a granel, sem grande valor acrescentado, cujo preço médio de venda, por kg, foi 44% inferior ao valor médio de venda do azeite para o mercado brasileiro, por exemplo. Este é um dos principais desafios do sector: a perda de valor acrescentado e de posicionamento de marca-país, que decorre de uma falta de estratégia adequada para a valorização dos azeites portugueses, algo que os nossos principais concorrentes sabem aproveitar muito bem (o caso de Itália é paradigmático).
Para todos os desafios que temos pela frente, a resposta parece ser uma só: unir o sector em torno da criação de um Plano Estratégico para o Azeite Português, que gere conhecimento e que permita suportar uma estratégia de valorização deste recurso tão valioso, não só no mercado interno, onde a educação dos consumidores é fundamental, mas que contribua igualmente para a alteração do atual paradigma das exportações nacionais e para acrescentar valor e
reforçar a imagem do azeite português num mercado global, cada vez mais competitivo.
Uma espécie de “relatório Porter” para o sector do azeite, que estabeleça um plano de ação coerente para toda a fileira, desde a produção ao consumidor, com forte envolvimento de todos os agentes económicos. Que identifique os mercados prioritários para o azeite português e defina estratégias de longo prazo para esses mercados, com objetivos bem definidos a 10 anos, por exemplo.
Desenvolver um Plano Estratégico para o Azeite Português será, seguramente, um primeiro e imprescindível passo. Posteriormente colocar-se-á a questão de estabelecer um modelo de financiamento para a sua execução, e para tal não precisamos de inventar a roda. Basta olhar para os nossos principais concorrentes e perceber como o modelo interprofissional contribui de forma decisiva para a promoção, para a conquista de novos mercados e para a valorização da imagem do azeite desses países. Em Espanha, por exemplo, cada euro investido pelo sector através da cobrança de uma taxa parafiscal de 6 euros por tonelada de azeite (0,006€/kg), numa lógica de benefício-custo, tem um efeito multiplicador por 4, provenientes de fundos comunitários destinados à promoção, gerando a capacidade financeira necessária para um sólido e regular investimento na promoção do azeite espanhol, não só em Espanha como nos principais mercados consumidores mundiais.
Em Portugal, apesar dos esforços da fileira, não tem sido possível concretizar o projeto interprofissional, por manifesta falta de apoio e de visão estratégica de quem tutela este sector que, ao contrário dos nossos principais concorrentes, se tem constituído como uma força de bloqueio contra a concretização do projeto interprofissional no sector. Esperemos que o próximo governo tenha a visão estratégica necessária para finalmente, ao fim de mais de 2 décadas, apoiar de forma inequívoca o sector e ajudar a encontrar soluções para os problemas e dificuldades que ainda persistem.
Esse deveria ser o grande desígnio da fileira, como um todo, para os próximos anos.
2024 será, sem sombra de dúvida, mais um ano desafiante para todo o sector, mas também se apresenta como uma oportunidade para avançar na valorização, na imagem e no prestígio de um dos produtos mais emblemáticos do nosso país.
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GREENWASHING: UM QUADRO LEGAL EM EVOLUÇÃO
Especialista em direito alimentar, Diretor da Arcadia International, Professor convidado na University and Research of Wageningen, (WUR) Investigador do Nova Consumer Lab (NCL) Francesco Montanari
No mercado europeu, a sustentabilidade apresenta-se cada vez mais como um fator diferenciador que influencia as decisões de compra dos consumidores. No caso dos produtos alimentares, a sustentabilidade tem hoje a mesma importância para os consumidores que a nutrição, saúde e bem-estar tiveram nos primeiros anos deste século. Assim, o consumidor depara-se bastante frequentemente com alegações tais como ‘amigo do clima’, ‘respeitoso do ambiente’ ou ‘sustentável’ tanto nas embalagens alimentares como na publicidade.
Mas será que todas essas alegações são efetivamente verdadeiras e fundamentadas?
Esta dúvida é absolutamente legitima pois há já um longo histórico de casos em que alegações deste género foram consideradas enganosas e, por isso, ilegais. Estas práticas comerciais – comumente conhecidas como greenwashing ou eco-branqueamento - estão neste momento debaixo dos holofotes das ONG ambientalistas e de proteção dos consumidores, bem como dos decisores europeus.
Efetivamente, 2022 ficou marcado pelas campanhas levadas a cabo por várias ONG com o objetivo de
denunciar alegadas práticas de greenwashing realizadas por grandes grupos alimentares. Por exemplo, em novembro do ano passado, as ONG ClientEarth e BEUC apresentaram queixa formal à Comissão Europeia contra a Coca-Cola, Nestlé e Danone. Em causa estão alegações que apresentariam o plástico das embalagens destas empresas como um material suscetível de ser reciclado infinitas vezes, apesar de não ser o caso.
Em termos de regulamentação, atualmente as práticas de greenwashing estão sujeitas às disposições da Diretiva 2005/29/CE relativa às práticas comerciais desleais das empresas face os consumidores, que Portugal transpôs para a ordem jurídica nacional através do Decreto-Lei n.º 57/2008.
Na verdade, esta legislação não prevê normas específicas para o greenwashing. No entanto, o seu âmbito de aplicação é propositadamente genérico e amplo de modo que abrange essas práticas, inclusive quando relacionadas com um produto alimentar, a sua embalagem e/ou as atividades de uma empresa alimentar. Esta interpretação é confirmada pelas linhas orientadoras da Comissão Europeia que consagram uma dúzia de páginas ao enquadramento
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“Ao longo destes últimos anos, as alegações vagas e genéricas deram azo a muitos casos de fiscalização e processos em várias jurisdições europeias”
das alegações ambientais como práticas suscetíveis de enganar o consumidor.
Para efeito da legislação sobre as práticas comerciais desleais atualmente em vigor, existem dois tipos de alegações ambientais, ou seja:
• As alegações que constituem práticas comerciais desleais em qualquer circunstância; e
• As alegações que podem ser consideradas como desleais, necessitando-se para este efeito uma avaliação caso a caso.
Constituem alegações ambientais desleais em qualquer circunstância e, por isso, proibidas, por exemplo, a situação em que uma empresa afirma ser signatária de um código de conduta ambiental quando não o é, ou em que um produto ostenta um selo ambiental sem ter obtido a devida certificação ou licença para o poder fazer. Trata-se no fundo de uma blacklist de práticas cuja natureza enganosa é estabelecida pela lei, sem que haja a necessidade de fornecer provas para este efeito.
Esta blacklist está a ser atualmente revista pelas instituições europeias exatamente com o intuito de reforçar o nível de proteção dos consumidores. No que diz respeito ao greenwashing, estão a serem considerados, entre outros, os seguintes aditamentos:
• Proibição de ostentar rótulos ou selos ambientais que não resultem de programas de certificação independentes públicos ou privados (isto quer dizer as empresas não poderão usar rótulos ou selos atribuídos por si próprias);
• Proibição de destacar o desempenho ambiental de um produto caso este resulte de um requisito imposto pela lei (por exemplo, designar de ‘eco-tampas’ as tampas de certas garrafas de plástico de utilização única que, a partir de julho deste ano, deverão ser comercializadas garantindo que permaneçam unidas a essas embalagens durante e depois do consumo);
• Proibição de fazer alegações relacionadas com o impacto no clima (por exemplo, ‘zero carbono’, ‘neutro em carbono’, etc.) quando não estejam baseadas em programas ou mecanismos de compensação de carbono devidamente verificados e independentes.
Diversamente, as alegações ambientais excessivamente vagas ou genéricas poderão vir a ser consideradas desleais caso não sejam devidamente substanciadas, ou seja, facultando ao consumidor informações mais precisas. Portanto, em caso de fiscalização, alegações tais como ‘amigo do ambiente’, ‘ecológico’, ‘verde’, ‘responsável’ ou ‘ético’ apresentam o risco de ser enquadradas como enganosas a não ser que o operador em causa:
• Fundamente a própria alegação com uma alegação mais específica; e
• Sempre que apropriado, esclareça se a alegação é feita em relação ao produto no seu conjunto, a uma sua componente específica ou, mais em geral, às atividades do próprio operador.
Ao longo destes últimos anos, as alegações vagas e genéricas deram a azo a muitos casos de fiscalização e processos em várias jurisdições europeias. Assim, por exemplo, foi considerada enganosa uma alegação que retratava a água filtrada como mais sustentável comparado com a água engarrafada, sem, no entanto, que esta afirmação fosse apoiada em dados científicos. Da mesma forma, foi julgada enganosa uma campanha publicitária que dava a entender que todas as garrafas comercializadas por uma empresa eram biodegradáveis quando, na realidade, era só uma edição limitada dessas embalagens que possuía efetivamente estas caraterísticas.
No entanto, dada a proliferação das alegações ambientais no mercado europeu e uma vez que legislação acima descrita constitui uma normativa de cariz geral, o legislador europeu está neste momento a ponderar a adoção de um quadro legal mais específico para os green claims. Trata-se em concreto de uma proposta de diretiva que a Comissão Europeia apresentou em março do ano passado e cuja aprovação não deverá acontecer antes do início de 2025.
Quais os aspetos mais relevantes deste projeto de lei europeu atualmente em discussão?
De forma geral, esta proposta pretende garantir uma maior proteção dos interesses económicos dos consumidores exigindo às empresas mais rigor na fundamentação das alegações ambientais. Além disso, salvo o caso das microempresas, as restantes empresas poderão fazer uma alegação ambiental só
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depois de uma verificação realizada por uma entidade verificadora nacional. Em caso de desfecho positivo, a verificação conferirá à empresa interessada um certificado de conformidade com validade em todo o mercado comunitário.
A proposta visa também regulamentar os programas de certificação e rotulagem de sustentabilidade ambiental. Estes programas têm progressivamente adquirido importância no setor agro-alimentar até que países como Itália e França estabeleceram vários sistemas de certificação públicos a nível nacional ou regional.
No que diz respeito aos programas de certificação públicos, a intenção da Comissão Europeia é permitir aos que já existem continuarem a operar, proibindo, no entanto, a introdução de novos programas. Em relação aos sistemas de certificação privados, estes estarão sujeitos a um procedimento de autorização prévia pelas autoridades competentes nacionais, tendo de comprovar o próprio valor acrescentado em termos ambientais em comparação aos outros sistemas presentes no mercado.
“A proposta visa também regulamentar os programas de certificação e rotulagem de sustentabilidade ambiental.”
Neste contexto, há também a intenção de regulamentar os selos de sustentabilidades que avaliam o desempenho ambiental dos produtos usando notas e/ou cores tal como fazem o Eco-score e o Planetscore no caso dos alimentos. A ideia subjacente é que no futuro um selo deste género possa existir só se for harmonizado (ou seja, o mesmo para todo o mercado europeu).
Em suma, o quadro legal europeu que regulamenta as alegações ambientais está a ser reforçado com o objetivo de travar as práticas de greenwashing, garantindo, de tal forma, uma maior proteção dos consumidores. Mesmo que parte deste quadro regulatório se encontre ainda em via de definição, é expectável que, no médio prazo, a fiscalização nesta área específica se intensifique. Da mesma forma, as empresas que apostam nas alegações ambientais como componente das próprias estratégias de marketing estarão sujeitas a um escrutínio cada vez maior por parte de ONG e empresas concorrentes.
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O Solo é um recurso não renovável. A gestão correta e sustentável do solo pode aumentar a produtividade das culturas agrícolas. Grande parte da Biodiversidade do nosso planeta habita nos solos (bactérias, fungos, nemátodos, animais vertebrados, insectos, ácaros,…), 80% das raízes das árvores estão nos primeiros 30 cm do solo.
Proteção contra erosão do solo, aumenta o teor de Matéria orgânica do solo, evita a lixiviação de nutrientes, melhora a estrutura do solo, diminuição da compactação no solo, melhora a transitabilidade das máquinas durante os períodos de precipitação, controlo de infestantes (minimiza o uso de herbicidas).
Para que a fauna auxiliar se estabeleça nas explorações agrícolas é fundamental proporcionar as condições básicas para o seu desenvolvimento e proliferação, mediante a criação de Estruturas Ecológicas.
É importante a seleção e utilização de variedades que apresentem elevado nível de rusticidade, melhoradoras e acrescentem benefícios ecológicos.
C O B E R T O V E G E T A L
Ajuda a estabelecer explorações agrícolas sustentáveis que favoreçam o controlo de doenças e adaptação ás mudanças climáticas, serão desenvolvidas estratégias para reduzir o consumo de água e a pegada de carbono dos sistemas de produção.
Ao aumentar a taxa de infiltração do solo aumenta também a quantidade de água disponível em profundidade para as plantas.
Ao contribuírem para o aumento da matéria orgânica do solo contribuem também para uma consequente fixação de carbono, a matéria orgânica é constituída 58% por carbono.
O papel das leguminosas, que têm a capacidade de fixar o azoto atmosférico, através de uma associação simbiótica com uma bactéria de solo, formando nódulos nas raízes.
que se encontra aprisionado nos espaços entre as partículas do solo é convertido em azoto mineral podendo ser utilizado quantidade de azoto fixado no solo é diretamente proporcional á quantidade de matéria verde produzida pelas leguminosas, em média as leguminosas fixam cerca de 25 Kg de azoto no solo por cada tonelada de matéria seca vegetal produzida.
O coberto vegetal pode oferecer também soluções de maneio e controlo de plantas infestantes problemáticas e que demonstrem resistência a herbicida, datas de floração diferentes, várias dormências de sementes devido a presentarem elevada dureza que permite a sua persistência ao longo dos anos após a sua instalação.
O Aumento da biodiversidade cria as condições favoráveis para a atividade dos organismos auxiliares, para que a fauna auxiliar se estabeleça nas explorações agrícolas é fundamental proporcionar as condições básicas para o seu desenvolvimento e proliferação, mediante a criação de Estruturas Ecológicas de Contínuidade.
Sem uma boa manutenção destas estruturas não é possível existir Biodiversidade Funcional, é importante a selecção e utilização de variedades que apresentem elevado nível de rusticidade, sejam melhoradoras e acrescentem benefícios ecológicos (atrativos de fauna auxiliar). Os cobertos vegetais e as sebes de bordadura, são por isso uma importante ajuda á gestão e manutenção dos insetos auxiliares.
Para que a Fauna Auxiliar se estabeleça nas explorações agrícolas é fundamental a sua identificação e avaliação, devem ocupar pelo menos 5% da área da exploração, sendo o valor ótimo 10% da área.
É importante para aumentar os níveis de fauna auxiliar dentro das parcelas uma boa e eficaz manutenção do coberto vegetal, cortes demasiado cedo provocam uma descida abrupta do numero de indivíduos no geral, mas em particular na fauna auxiliar que acaba por não ter refúgios que permitam a sua sobrevivência.
A colocação de sebes à volta das culturas é uma parte fundamental no processo de recolonização das parcelas da cultura pela fauna auxiliar, mantendo assim um maior equilíbrio entre auxiliares e fitófagos.
Um coberto Vegetal, trata-se portanto de uma importante ajuda á gestão de culturas permanentes como o Olival.
A selecção e manutenção de plantas de cobertura vegetal nestes sistemas agronómicos pode ser uma ferramenta vital que permitem diversos benefícios.
Fatores a considerar na instalação de um coberto vegetal: Clima (precipitação anual), topografia, caracterização do solo (textura, Ph, nível de fertilidade), características das espécies a introduzir. Nas espécies a introduzir é muito importante a persistência.
Gramíneas (Azevém perene, azevém anual, aveia strigosa)
Leguminosas (Trevos, Mendicagos, Vicias,…) Brássicas (Mostarda,Nabo,Rabanete)
Asteraceas (Calêndula)
Hydrophylaceas (Facélia)
Franklin Roosevelt 1937
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A NAÇÃO QUE DESTRÓI O SEU SOLO DESTRÓI-SE A SI MESMA.
A L G U M A S C O N S I D E R A Ç Õ E S S O B R E M I S T U R A D E S E M E N T E S E B I O D I V E R S I D A D E F U N C I O N A L V a s c o A b r e u , N u t r i p r a d o , J a n e i r o 2 0 2 4
S O L O NUTRIPRADO OLIVAL
IMPACTO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA DISPONIBILIDADE DE ÁGUA PARA A PRODUÇÃO OLEÍCOLA -
DESAFIOS,
OPORTUNIDADES E RESPOSTAS
The number one victim of climate change is water. Either there is too much or too little and at the wrong time”.
Esta citação, atribuída a Johan Rockstrom, na sessão “The future of humanity on earth”, Nobel Week Dialogue 2018 “Water Matters”, e referida no livro “O uso da água em Portugal”, da Fundação Calouste Gulbenkian, é bem elucidativa do grande impacto que as alterações climáticas têm nos recursos hídricos em geral e, sendo a agricultura um sector que utiliza muito a água, a produção das culturas agrícolas é bastante afectada.
A orla mediterrânica, e Portugal em particular, é a zona do globo onde essas alterações climáticas terão mais evidências
Gonçalo Morais Tristão
Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio
Centro de Competências para o Regadio Nacional
e consequências. A diminuição da pluviosidade e o aumento da temperatura, com períodos de seca mais severos e prolongados, além da ocorrência mais frequente de fenómenos meteorológicos extremos “induz crescentes restrições à produção, qualidade e rentabilidade da agricultura, incluindo …. a olivicultura” (Costa et al., 2020; Fraga et al., 2017; EU, 2021; Andrade et al. 2021; FCG, 2020).
“O aumento da temperatura média do ar (e do solo), acompanhado de um crescimento significativo da evapotranspiração, promovem um défice crescente de água durante o ciclo vegetativo das culturas, especialmente agravado em situações de baixas reservas de água no solo” (Soares e Lima, 2022).
Com este enquadramento, e também tendo em consideração a necessidade de um aumento da produção mundial de alimentos em mais 55%, até 2050, segundo estimativa da FAO, torna-se evidente o aumento da procura de água para a agricultura. Face à ocorrência de períodos de seca mais prolongados, como resolver este dilema?
A nosso ver, devemos seguir uma política de retenção de água, onde ela faz mais falta, através da construção de novas barragens, de alteamento de outras e da procura de novas soluções mais estruturantes. Os poderes públicos, quer sejam da Administração Central ligados aos ministérios da agricultura, do ambiente e da coesão do território, quer sejam da administração local, devem olhar para
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Figura 1. Exemplo da gama de valores dos volumes de água aplicados em olival intensivo na região do Alentejo. Dados obtidos no âmbito da Ação Uso Eficiente da água pela Entidade Reconhecedora de Regante COTR. Os valores apresentados correspondem a uma amostra de 321 parcelas de olival intensivo monitorizadas para o consumo de água no Alentejo (COTR, 2021).
Figura 2. Exemplo da gama de valores dos volumes de água aplicados em olival em sebe na região do Alentejo. Os valores apresentados fazem parte de uma amostra de 166 parcelas de olival em sebe monitorizadas para o consumo de água de rega no Alentejo (COTR, 2021).
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“Não instalar gotejadores afastados da zona do sistema radicular das plantas ou utilizar anéis vedantes; elaborar planos de contingência para situações de seca e de ondas de calor”
este problema, sem quaisquer dogmas ideológicos. A este respeito, é fundamental dar continuidade à execução do Programa Nacional de Regadios, assim como estudar a localização de novas áreas que possam ser infraestruturadas com regadio público colectivo e simplificar os aspectos de licenciamento requerido para o regadio privado. O desenvolvimento destas medidas não podem pôr em causa a salvaguarda de interesses ambientais, no pressuposto de que estes se interligam, numa base equilibrada, com objectivos de desenvolvimento rural.
Ainda a propósito sobre a disponibilidade de água para a agricultura, importa assinalar que Portugal tem uma baixa capacidade de retenção da água que acorre às nossas bacias hidrográficas. Em termos médios, retemos apenas 20% das afluências de águas nas bacias em solo português. Sabemos ainda que essas afluências nas várias bacias hidrográficas são 10 vezes superiores a todos os consumos (sector agrícola, sector industrial, turismo e consumo urbano) de água em anos considerados húmidos e 4 vezes em anos secos.
Em segundo lugar, devemos insistir na investigação e adopção prática de medidas, ao nível das explorações agrícolas, que contribuam para um uso mais eficiente da água na rega das culturas. E digo
insistir porque a questão do “uso eficiente da água” tem sido uma constante, e um sucesso, ao longo das últimas décadas no sector agrícola. Se compararmos o valor da água utilizada no sector agrícola (rega e pecuária) que consta no 1º Plano Nacional da Água, aprovado em 2002, que foi de 6551 hm3, com valor registado nos Planos de Gestão de Região Hidrográfica de 2016, que é de 3435 hm3, constamos que o sector agrícola, em 14 anos, reduziu em 48%, a água utilizada na rega. Por outro lado, numa análise aos números postos à disposição pelo Gabinete de Planeamento e Políticas e Administração Geral (GPP), verificamos uma evolução muito significativa dos consumos de água na rega, passando dos cerca de 15.000 m3/ ha em 1960 para 6.660 m3/ha em 2014. As estimativas hoje são entre 3.000 e os 4.000 m3/ha.
Em relação à olivicultura, o sector pode, e deve, continuar a implementar, além de muitas outras, medidas de induzam uma maior eficiência na rega.
Como fotografia do panorama actual, apresentam-se abaixo dois gráficos com os volumes utilizados na rega do olival no Alentejo.
Sendo esta uma amostra dos consumos de rega no olival no Alentejo, e tendo em conta os impactos das alterações climáticas, nomeadamente a limitação dos recursos
hídricos disponíveis, deve-se considerar a experimentação e a implementação de estratégias de rega que possam reduzir o volume de água utilizada, sem pôr em causa a produção. É o caso da rega deficitária, entendendo-se como tal, a “aplicação de dotações inferiores às necessárias para conforto hídrico (inferiores à perda por evapotranspiração cultural), de forma a induzir um stresse moderado e a poupar água” (Chaves et al. 2009). As duas principais estratégias de rega deficitária são:
- Rega Deficitária Convencional: Estratégia de rega deficitária em que se aplica, ao longo de todo o período de rega, uma quantidade de água sempre inferior à quantidade necessária para conforto hídrico. Em geral baseia-se na aplicação de uma fração da evapotranspiração cultural (ETc) mais ou menos constante desde o início do período de rega até à proximidade da colheita.
- Rega Deficitária Controlada (RDC): Estratégia de rega deficitária que se baseia na aplicação de frações variáveis da ETc ao longo do período de rega. Tem por objetivos a manutenção de uma adequada disponibilidade hídrica conjugada com imposição de condições de stress moderado em períodos específicos do ciclo biológico. Outras boas práticas devem ser adoptadas. Por exemplo: Aderir
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a sistemas de avisos agro-meteorológicos (avisos de rega); Evitar regar nas horas de maior calor para minimizar as perdas de água por evaporação; Utilizar equipamentos/ sensores para monitorizar o teor de água no solo e o estado hídrico da planta e saber interpretar os resultados para otimizar a rega e a gestão dos sensores na parcela; Utilizar contadores volumétricos para medir o consumo de água da rega; Promover medidas de poupança de água ao nível da parcela através do processo de “benchmarking” (comparação entre pares); Realizar inspeções frequentes aos sistemas de distribuição de água de rega e eliminar as fugas, assim que detetadas; Substituir equipamentos de rega com funcionamento deficiente; Não instalar gotejadores afastados da zona do sistema radicular das plantas ou utilizar anéis vedantes; Elaborar planos de contingência para situações de seca e de ondas de calor.
No sentido de apoiar os olivicultores na adopção de boas práticas
e na utilização racional da água, o COTR implementou para a OLIVUM e os seus associados, uma folha técnica com informação sobre as necessidades de rega do olival, informando-os, semanalmente, das necessidades hídricas do olival, segundo uma estratégia com estimativa das necessidades máximas que conduzirão à máxima produção e outra estratégia em défice de rega controlado (RDC). São considerados os tipos de olival (Intensivo, Novo, Sebe e Tradicional) e os compassos mais representativos da região. Os valores apresentados não tem em conta as variações na água disponível no solo.
Obviamente que, apesar do muito que se avançou em termos de um uso mais eficiente da água na agricultura em geral, muito há ainda a fazer. Na questão da gestão dos recursos hídricos, que se estimam mais limitados no futuro, devem ser tomadas decisões ao nível da “oferta”, ao mesmo tempo que, do lado da “procura” dos recursos hídricos se deve insistir
na formação dos agricultores nas práticas indutores de eficiência hídrica. Algumas dessas medidas, nessas duas perspectivas, estão insertas no documento “Plano Regional de Eficiência Hídrica do Alentejo”, documento para o qual o COTR deu a sua colaboração. Seria muito importante que esse documento fosse publicado para servir de base à implementação, e financiamento, de medidas que visam o aumento da capacidade de regularização de barragens, o aumento das disponibilidades hídricas, o aprofundamento de acções de experimentação e divulgação de boas práticas na rega junto dos agricultores, ou o incentivo e promoção da utilização das melhores tecnologias de gestão da rega nas explorações agrícolas.
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“OS VIVEIRISTAS NÃO ESTÃO A FAZER AS VARIEDADES TRADICIONAIS”
Francisco Pavão
Francisco Pavão, presidente da APPITAD, e José Duarte, presidente da Cooperativa Agrícola Moura e Barrancos, fazem um retrato do olival tradicional em Trás-os-Montes e Alto Douro e no Baixo Alentejo. Os dois representantes do setor lamentam a falta de aposta no olival de sequeiro e defendem a criação de uma política estratégica para o interior que reconheça a importância ambiental, económica e social desta atividade
É urgente a criação de um plano nacional que salvaguarde o olival de sequeiro, não olhando apenas para a produtividade, mas também para as mais-valias que as variedades tradicionais trazem para os territórios desertificados. José Duarte, presidente da Cooperativa Agrícola Moura e Barrancos, e Francisco Pavão, presidente da APPITAD-Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, são unânimes em defender uma política estratégica para o interior, que implemente medidas, de discriminação positiva, de incentivo ao rejuvenescimento das explorações agrícolas porque não se faz agricultura sem pessoas.
“Para subsistir, o olival tradicional de sequeiro tem que ter apoios para a manutenção da atividade, até porque este tipo de olival tem valências ao nível da sustentabilidade ambiental, económica e social do território”, sublinha José Duarte. “Estamos a falar de olivais que normalmente estão no interior do país, em zonas em que há um tecido económico frágil e
onde a olivicultura tem tido um papel importante na fixação de pessoas. Mas o olival tradicional só vai ser viável se tiver acoplado apoios complementares”, observa o responsável pela Cooperativa de Moura e Barrancos. Para este produtor, faria sentido que os apoios viessem de fundos comunitários, “através do 2.º Pilar do PEPAC [Plano Estratégico da Política Agrícola Comum]”, que diz respeito ao desenvolvimento rural. “Neste momento, o olival tradicional é alvo de um apoio comunitário, através de medidas agroambientais, mas com valores irrisórios. E nós queremos que as pessoas se mantenham nestes territórios e preservem estes olivais”, sublinha o responsável pela cooperativa alentejana, que conta com 4.000 associados, sendo que 1.300 estão ligados à olivicultura.
Como se trata de olivais “com produtividade baixa, com custos de produção altos e, em anos em que o azeite está a um preço excessivamente baixo, acabam por estar no limiar, ou abaixo do limiar de rentabilidade”, é imperativo, para José Duarte, que se encare este setor com justeza. “Temos de olhar para o olival tradicional de forma diferenciada e arranjar um mecanismo que ajude a complementar esse rendimento, até pelo serviço ambiental que presta”, exprime.
Francisco Pavão, dirigente da APPITAD, também aborda o tema da atração populacional: “Temos de criar políticas de fixação de pessoas no interior,
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José Duarte
políticas que não sejam apenas fiscais, mas também sociais. Isto tudo é uma questão macro, que envolve muito mais que a agricultura em si. Envolve uma política estratégica para o interior”.
A verdade é que a escassez de mão-de-obra é notória e não apenas no Alentejo, mas também em Trás-os-Montes e Alto Douro. “Nas empresas agrícolas, temos necessidade de mão-de-obra especializada. Precisamos de tratoristas, operadores de máquinas, podadores. É uma necessidade urgente”, manifesta o presidente da associação de Mirandela, que conta com 1.500 sócios, 90% dos quais olivicultores. Mas, para este produtor, é também fulcral “criar estruturas de potenciação dos produtos destes territórios, que não têm capacidade para produzir em escala, mas que tem uma enorme potencialidade para fazer produtos de alta qualidade”. E, nesse sentido, Francisco Pavão apela a que se aposte em “literacia alimentar”, para que haja uma consciencialização dos consumidores sobre a qualidade do azeite consumido.
Tanto Trás-os-Montes e Alto Douro como o Baixo Alentejo são ricos em produtos qualificados, sejam DOP (Denominação de Origem Protegida), sejam IGP (Indicação Geográfica Protegida), de que são exemplo o Azeite de Moura DOP, feito a partir de azeitonas das variedades Galega, Verdeal e Cordovil, ou do Azeite de Trás-os-Montes DOP, que recorre, entre outras, às variedades Verdeal transmontana, Madural, Cobrançosa e Cordovil.
Porém, não é papel das cooperativas controlar quais as variedades usadas nas novas plantações de olival, até porque isso depende, não só da vontade
de cada agricultor, mas também da disponibilidade varietal. “Nós, enquanto cooperativa, nas novas plantações, temos uma dificuldade muito grande em conseguir plantas das nossas variedades porque os viveiristas não estão a fazer as variedades tradicionais, pela dificuldade de enraizamento, pelo problema de doenças. Infelizmente, em Portugal, não se tem estado a trabalhar as nossas variedades, tornando-as mais resilientes às alterações climáticas, às pragas e doenças do olival”, lamenta José Duarte. No entanto, este agricultor mantém o otimismo: “Acredito que a médio prazo iremos ter as nossas variedades mais adaptadas e mais produtivas, esperemos que não corram o risco de desaparecer”, perspetiva.
Para a criação de um fator diferenciador em mercados de excelência, tem havido uma aposta em modos de produção alternativos. “Houve um aumento enorme de agricultores aderentes quer à produção integrada, quer à agricultura biológica. Hoje em dia, os agricultores praticam uma agricultura muito mais sustentável, muito menos interventiva”, explica Francisco Pavão. “Temos muito mais gente a não pulverizar, temos maior produção de biodiversidade, temos um sistema de combate a pragas e doenças muito mais eficaz, temos uma redução de produtos fitofarmacêuticos, temos maior racionalidade no uso de fertilizantes. Somos muito mais sustentáveis que há 20 anos”, ilustra o presidente da APPITAD.
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FICHA TECNICA
Presidente:
Pedro Lopes
Propriedade:
OLIVUM - Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal
Colaboradores:
Álvaro Mendonça e Moura
Anastasio J. Villanueva
António Relvas
David Catita
Daniel Murta
Filipe Cameirinha Ramos
Francesco Montanari
Francisco Pavão
Gonçalo Morais Tristão
Gonçalo Moreira
Jeremias Távora
Joaquim Freire de Andrade
José Duarte
José Núncio
José Pedro Salema
Juan Vilar Hernández
Luís Alcino Conceição
Luís Cavaco
Mariana Matos
Miguel Portela Morais
Pedro Santos
Raquel Lucas
Rubén Granado-Díaz
Rui Ribeiro
Susana Oliveira Sassetti
Teresa Teixeira
Redatora:
Liliana Garcia
Design:
Velcro Studio
Coordenação: Hill&Knowlton Portugal
Tiragem: 1.000
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77 Infor mações de contacto: OLIVUM – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal Rua Blasco Hugo Fernandes, nº3 7800-591 Beja Telf +351 284326146 Telm +351 965193236 geral@olivumsul.com T t O t V Ru 1 51 2 T ltore es 4 2 co º3 Te a lf sc 7 co 8 + g o H 0 35 ga Hu 0 01 re ug g 5 oci s d o 91 õe aç ç e Fe ões ão P er de d o c co e n lff+3 780000-559 ugooF essddeePo ciação ção de ões es con In om 23 m 46 36 6 s, nº tore 3 nt ort n B +351 2