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Passagem para o pesadelo Os problemas causad os por leis restritivas não são nada raros, embora as políticas migratórias devessem auxiliar o migrante. O caso da família Taioque é um forte exemplo má apropriação dessas normas migratórias. Em 2003, Marta e seus dois filhos realizavam a primeira viagem internacional de suas vidas, com destino à Itália, a fim de acelerar o processo de cidadania italiana. O marido de Marta já estava em Roma, a convite de um amigo italiano que se responsabilizara e mediara a ida do brasileiro. “Embarcamos dois meses depois do meu pai. Assim que pisamos em Roma, tivemos dificuldade para respondermos o que nos perguntavam. Nos levaram para uma sala reservada e nos deram um formulário para preencher”, relata Tatiane Taioque, filha mais velha de Marta. “Na verdade, eu

falava muito pouco italiano. Ficou bem complicado em termos de comunicação, mas consegui entender o que eles estavam pedindo no formulário. Eles queriam saber quanto dinheiro nós tínhamos e eu tive que discriminar tudo”, conta Marta. “Tentamos falar sobre os documentos que precisávamos para provar nossa cidadania italiana, mas não nos deram atenção. Não nos falaram o que estava acontecendo, nem tivemos a possibilidade de ter algum intérprete a nosso serviço no aeroporto”, completa Tatiane Taioque. A filha, que na época tinha 10 anos, ainda revela que não só os membros da família sofriam com o descaso das autoridades italianos. “Nos levaram para outra sala que para nosso espanto tinham mais pessoas, entre as quais algumas que só estavam fazendo conexão em Roma. Contabilizamos em torno de 18 pessoas.

Ali ficamos todos juntos”, conta Tatiane. Quando o amigo italiano e o marido foram acionados por Marta, a negociação com as autoridades italianas tornou-se mais delicada. Tatiane lembra que as autoridades “perguntaram como deixariam uma mulher sozinha com dois filhos entrarem na Itália, e questionaram onde estava o pai. O meu pai, então, se apresentou e prenderam-no lá no Aeroporto até à noite. Depois de muito pedir, ele conseguiu convencê-los a permitirem que nos encontrássemos por alguns segundos, dentro do aeroporto”. “Parecia até que éramos terroristas...só alguns segundos e já estavam puxando meu marido para levá-lo. Estas cenas não conseguimos esquecer”, conta Marta. “Deram-nos ticket alimentação, mas não havia banco para descansar e nenhum atendimento melhor para isso”, completa Marta Taioque.

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