JORNAL DA PRAIA - OLHAR POENTE REFERÊNCIA REGIONAL NA ÁREA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

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8 | Jornal da Praia | 11 de Março de 2022

ENTREVISTA

ENTREVISTA

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Olha Poente instituição praiense que dinamiza a Infância e a Juventude Jornal da Praia (JP) - “Uma Instituição onde o Importante são as Pessoas!”. A Olhar Poente – Associação Desenvolvimento surgiu em 2014 como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social). Quais os fundamentos que levaram à criação da IPSS? Sérgio Nascimento (SN) - No final de 2009 foi constituída a Olhar Poente enquanto associação de solidariedade social, com o propósito de promover o Desenvolvimento Local com base numa comunidade mais activa e participativa. Da ideia partimos para a prática e meses mais tarde concorremos ao concurso público, que tivemos a sorte de vencer, para a gestão da creche e CATL na freguesia da Vila Nova. Pelo trabalho desenvolvido nesta freguesia, tanto na gestão das respostas sociais, como nos novos serviços de Terapia da Fala, Centro de Estudos e Refeitório Social, o Governo dos Açores veio reconhecer a Olhar Poente, no ano de 2014, como pessoa colectiva de utilidade pública e consequente registo como IPSS. É justo destacar o importante papel que teve o Sr. Rui Nogueira, à data presidente da Junta de Freguesia, no apoio incondicional para uma melhor resposta para a comunidade. Como também o envolvimento do Centro Comunitário Espírito Santo da Vila Nova, que com uma dinâmica muito própria tem sido um extraordinário parceiro social nestes últimos anos. JP - …em 2009 a Olhar Poente dava os primeiros passos e em 2010 iniciava as suas atividades. Foi a experiência e os resultados que levam a considerar, atualmente, a Olhar Poente – Associação, uma instituição de referência no concelho da Praia da Vitória e mesmo nos Açores? SN - Os 11 anos de actividade ensinou-nos que há sempre espaço para melhorar. E só conseguiremos, continuando a arriscar. Foi o que fizemos quando aumentamos a nossa intervenção num território que estava deficitário deste tipo de resposta marcadamente social. Se analisarmos a Carta Social 2019, confirma-se que somos a IPSS com sede na ilha Terceira com mais crianças a frequentar creche e CATL (Tempo Inteiro). O mesmo se aplica às restantes ilhas dos Açores, onde somos das escassas que gere múltiplas creches mantendo o conceito familiar. Pub

da necessária mudança. Até os bons projetos educativos desenvolvidos neste município têm servido para absorver ideias de melhoria.

“Foi o que fizemos quando aumentamos a nossa intervenção num território que estava deficitário deste tipo de resposta marcadamente social.” Acredito que também por isso a Diretora Regional da Solidariedade Social, Dra. Andreia Vasconcelos, tenha manifestado publicamente que a Olhar Poente é um projeto de referência para o município e Região. Dito por uma pessoa com formação superior em serviço social, de reconhecido mérito e com experiência profissional em IPSS´s, ainda mais importância têm as suas palavras. Mas só de forma concertada podemos ser mais eficientes. Por exemplo, no início da pandemia, lançamos o desafio aos Bombeiros Voluntários da Praia da Vitória para prepararem no quartel uma formação de Teambuilding, sensibilizando

para a resiliência e entreajuda. Em momento algum podíamos deixar de estar presentes na vida das crianças e tínhamos de estar capacitados, mesmo quando confinados. Fizemo-lo também pela saúde mental da nossa equipa. Isso mesmo foi reconhecido pelo Director Regional do anterior executivo referindose ao nosso modelo como exemplar no trabalho realizado no decorrer da pandemia e confinamento. Também as vistorias do ISSA e Cooperativa Praia Cultural, realizadas por pessoal altamente qualificado, ajudaram-nos a eliminar um conjunto de anomalias. Os pais, enquanto estrutura basilar, que vão dando sinais

JP - Quais as valências e áreas de ação que a Olhar Poente atualmente possui e desenvolve no concelho praiense? SN - A nossa intervenção é na área da Infância e Juventude nas freguesias da Vila Nova, Fontinhas, Fonte do Bastardo e Biscoitos. Agora também em Santa Cruz, onde depois de estabelecido contacto com o projecto de diferenciação pedagógica Novas Rotas, nas Capelas, avançámos com a Academia OP – Centro de Estudos, Formação e Actividades. Paralelamente temos serviços na área social e da saúde que se complementam e são um suporte a muitas famílias. Uma boa parte destas respostas e serviços têm sido desenvolvidos em estreita cooperação, onde se destacam o Governo dos Açores e município da Praia da Vitória, tendo os executivos assumido promover políticas de justiça e solidariedade em parceria com as IPSS enquanto parceiros de desenvolvimento social. A implementação do projectopiloto Creche de Inclusão e Intervenção Precoce é disso exemplo, onde estamos focados em promover uma parceria mais concertada com a Equipa Técnica de Intervenção Precoce da Praia da Vitória e CIT, aproveitando a cooperação já protocolada com a Associação Nacional de Intervenção Precoce, para que as crianças tenham respostas imediatas e sem interrupções e os pais vivam com menos ansiedade e mais esclarecidos sobre o processo que envolve o seu educando. Por outro lado, também continuamos conscientes da importância da pedagogia do ar livre e o modelo Escola da Floresta já está a ser implementado nas nossas respostas. Agora, da mesma forma que a inclusão se resolve com mais inclusão e nunca com menos, também qualquer corte nos apoios às IPSS´s irá sempre resultar numa ruptura, num duro golpe e na falta de resposta aos utentes. Não é demagogia, é factual. A atitude pacífica, de compreensão e de tolerância deve estar presente na vida dos que assumem cargos políticos de acrescida responsabilidade. A larga maioria dos utentes das IPSS´s são dependentes, com deficiência ou com

outras problemáticas. As crianças não podem ser abandonadas por quem tem o dever instituído de as proteger. Qualquer intenção política deveria sempre ser antecedida de um prévio questionamento por quem decide: se este corte atingisse brutalmente o meu filho, tomaria esta decisão? JP - Quem visita a vossa página de Facebook, o que ressalta à “vista” são os sorrisos e a alegria das crianças nas várias atividades desenvolvidas ao longo do ano… mesmo o tradicional Carnaval terceirense não foi esquecido este ano! Os pais, os avós, os encarregados de educação, sentem-se envolvidos nestas atividades bem como a comunidades onde as valências estão inseridas? SN - Seria uma boa pergunta para colocar às famílias, acabarei por fazêla em breve! O que posso adiantar, é que a equipa há muito me convenceu que trabalhar por projectos que vão ao encontro dos interesses das crianças, resultará de forma natural em mais sorrisos e alegrias. E este princípio aplicase quando o tema é cultura e tradições, daí a participação e envolvimento das famílias nos bailinhos e marchas. Já quando foi aprovado pelo Parlamento Europeu a nossa candidatura “A Terceira na Europa”, convidámos os pais, que aceitaram, a acompanharem-nos a Bruxelas. Porém para concretizar ideias e conceitos as educadoras têm de se assumir como empreendedoras sociais. Têm que investigar, pesquisar novas ferramentas e estratégias, criar laços com colegas de outras instituições, inovarem-se todos os dias. O mesmo com as ajudantes e administrativas que também são educadoras não de canudo mas no conforto e carinho. Tentamos que o nosso sistema de trabalho dê liberdade para a criatividade e envolvimento, numa base de respeito e felicidade. Porque todos os dias, são de superação. E as famílias devem ser o mais proativas e colaborativas possível, os alunos passam mas os filhos são para sempre. Estes estão munidos de informação actualizada. Já não bastava uma pandemia veio agora uma guerra. Os alunos ocupam os intervalos da escola assistindo aos acontecimentos no leste europeu e muitos começam a apresentar os primeiros sinais de ódio e sentimento de raiva por uma pessoa ou um povo. Também as mais pequenas já brincam aos tiros nas nossas salas de creche, há muito que não assistíamos a isso. É urgente escutar os psicólogos e outros profissionais de saúde, desesperadamente as crianças e jovens precisam de acompanhamento. Pub

“Com o Conselho de Pais, órgão representativo das actuais 350 famílias, temos agora uma estrutura mais compacta para que Governo e Autarquias tenham confiança em continuar a investir nestes pais e nestas crianças.” Todos temos de nos reinventar, ser ímpares. Nunca fez tanto sentido o projeto EducaMente – Meditação & Relaxamento, que desenvolvemos desde 2017. JP - …a criação do Conselho de Pais da Olhar Poente, em Novembro de 2021, é disso exemplo? SN - Ao prestarmos serviços em cinco freguesias, impede a proximidade que tanto desejamos entre os cargos de chefia pedagógica e famílias. Daí termos convidado os pais a unirem-se e a constituírem uma estrutura que lhes desse voz e responsabilidade no processo. E assim foi. Posso afirmar que destas reuniões já saíram decisões de melhoria em aspectos que estávamos menos preparados. Tentamos desta forma que o nosso funcionamento seja em rede, que favoreça a mobilidade horizontal e que exista uma comunicação informal e interactiva entre todas as partes. Resumidamente, um modelo participativo. Hoje temos pais mais atentos, mais críticos, mais disciplinados no conhecimento e do que pretendem para os seus filhos. E essa sua visão e ambição merecem o nosso respeito e dedicação. Paralelamente também a Olhar Poente defende a participação dos seus profissionais nas decisões, porque temos o privilégio de contar com uma

equipa intelectual e profissionalmente bem preparada. Com o Conselho de Pais, órgão representativo das actuais 350 famílias, temos agora uma estrutura mais compacta para que Governo e Autarquias tenham confiança em continuar a investir nestes pais e nestas crianças. JP - Quais os projetos que a Olhar Poente – Associação Desenvolvimento tem e pretende concretizar nos próximos anos? SN - A Olhar Poente amadureceu muito nos últimos anos. Veja-se o exemplo do projeto AMA – Aldeia da Parentalidade, apresentado na comunicação social esta semana e que conta com o apoio visionário do município de Angra do Heroísmo. Foi uma mãe com crianças inscritas na Olhar Poente que nos apresentou a ideia e nos cativou a envolver outras mães. Foi assim que nasceu, simples. A única condição que a Olhar Poente colocou foi que atingisse pessoas socialmente mais desprotegidas, garantindo assim que usufruam dos mesmos critérios de igualdade. Por outro lado, estamos em fase de acreditação de entidade formadora e de certificação de qualidade. Também recebemos três convites para o desenvolvimento de novas parcerias, na Praia, Angra e outra de uma organização italiana, todas com potencial. Continuamos convencidos que

os trabalhos em rede são sempre os mais profícuos, estimulantes e envolventes. Temos um potencial humano superior a 1000 pessoas (pais e filhos). Imagine-se que estas nossas famílias compostas por médicos, enfermeiros, carpinteiros, gestores, professores, juristas, bombeiros, polícias e de tantas mais áreas, se envolvessem em projectos de voluntariado, participação cívica na comunidade, a fazer pelos outros aquilo que outros fazem pelos seus filhos. Neste ponto, muito mais podíamos ter feito e só agora elaborámos o nosso Programa de Voluntariado depois de termos sido uma das 10 organizações nacionais seleccionadas pelo fundo gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto. Por tudo isto, internamente nunca esmorecemos com as injustiças que nos possam lançar e para as quais estamos atentos. Hoje sabemos que a saída da Olhar Poente de uma freguesia onde intervém terá um impacto social considerável tendo em conta os desafios dos próximos anos que não se afiguram fáceis para as famílias e crianças, sobretudo as mais vulneráveis. Por isso, lutaremos sempre e iremos até às últimas instâncias para as defender. E se o percurso for como se prevê, virá o tempo para uma nova liderança da Olhar Poente, mais apta a lidar com os desafios da inovação, que traga novas ideias, novos modelos de governação, quem sabe, numa estrutura de carácter mais circular e flexível, que acredito que seja o caminho para nos mantermos como referência e atingirmos a excelência.


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