Revista Santa Cruz - ano 83 - 2019 - n. 1

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Após o crime da Vale em Brumadinho, inúmeros alertas vão se multiplicando. Isso pode parecer, à primeira vista, como que se, do nada, mineradoras e a Defesa Civil do Estado de Minas Gerais tenham começado a reportar à sociedade uma série alarmante de elevação do risco de colapso das estruturas de barragens de rejeitos. Contudo, o fato é que se tornou impossível manter escondido aquilo que setores da sociedade civil, comunidades, organizações e movimentos sociais já denunciavam há tempos: a falta de segurança e o risco estrutural constantes na disposição de rejeitos. A partir dessa revelação, a incerteza invadiu a vida de milhares de pessoas. Populações em municípios como os de Nova Lima, Rio Acima, Ouro Preto, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Belo Vale, Itabirito e Congonhas foram surpreendidas com acionamento de sirenes e a remoção de pessoas. Medidas de segurança, placas indicando “rotas de fuga” e “pontos de encontro” foram instaladas, além de sirenes. Tornou-se público que populações vivem em áreas chamadas de Zonas de Autossalvamento (ZAS), ou melhor dizendo, Zonas de Risco de Morte, onde uma vez acionadas as sirenes, cabe aos

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moradores correrem. Foi imposto em vários territórios urbanos e rurais o protocolo do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM). Um sentimento de insegurança se espalhou por várias regiões de um estado historicamente espoliado pela mineração. Em muitos municípios são anunciadas reuniões com as empresas. O povo é convocado. Mapas, explicações técnicas, discussões e promessas são apresentadas. As pessoas se descobrem como atingidas pela mineração. O Estado, em estreita relação com as mineradoras, reforça a lógica perversa das mesmas, a de que para a população cabe estabelecer uma nova rotina, “permanecer atenta aos chamados de emergência” e correr, fugir, quando necessário. Minas Gerais se mostra então refém das mineradoras. O que estamos vivendo é uma política cuja estratégia é o abandono de ações de defesa e de combate contra a mineração predatória, irresponsável e de alto risco, para dar lugar a uma gestão de convivência com tais riscos. Opta-se por impor nos territórios ações de previsão antecipada, mapeamento, estabelecimento de equipamentos de segurança e de alarme, rotas de fuga e treinamentos, tudo sincronizado Revista Santa Cruz


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