Do ensino a aprendizagem

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projetadas no fundo da caverna, pois está de costas para a entrada. Mesmo de si, só percebe a sua sombra, decorrente da luz que vem de fora. O homem, portanto viveria alienado, incapaz de perceber a verdadeira natureza das coisas. Assim, a função da educação seria a de combater a alienação do aprendiz. O homem comum considera como real a aparência das coisas, pois é incapaz de perceber que o verdadeiramente real e eterno, a essência das coisas encontra-se em outro nível – o mundo das idéias. Abandonar a alienação, no entanto é doloroso. O homem, no fundo da caverna, habitua-se a um mundo de sombras e penumbra. Voltar os olhos para a luz causa dor e aversão. O homem então prefere o mundo mais confortável da meia luz. Neste contexto então é que desponta o professor, cuja função seria favorecer esta transição. Este demiurgo é aquele capaz de estabelecer a ponte entre o eterno e o transitório; entre a essência e a aparência. Esta visão não é partilhada por Aristóteles, que defende a possibilidade de uma aprendizagem por condicionamento externo. Para ele, as idéias estão nas coisas, no concreto. Por isto elege como condições fundamentais para o desenvolvimento da virtude a disposição inata, o hábito e o ensino. Preocupa-se com características individuais; na sua Arte Retórica e Arte Poética, discute entre outros, como elas variam com a idade. Mais preocupado com a política descreve os jovens como arrebatados e inconstantes, plenos de esperanças no futuro. Os velhos, ao contrário, conservadores e tradicionalistas. São desconfiados, obedecendo mais ao cálculo que à índole natural. Fiel ao princípio grego de que a virtude está no centro, apresenta a idade adulta como aquela em que os excessos das outras são coibidos. Pitágoras pregava aplicar na vida a ordem do universo, a harmonia da matemática, Isócrates centrava o ato educativo na linguagem e na retórica e Xenofontes, influenciado por Sócrates, defendia a educação da mulher e a idéia da dignidade humana. De certa maneira, a dualidade corpo – mente, já se expressava na Grécia. Por um lado o humanismo ateniense; caracterizado pela ênfase nos valores intelectuais - verdade, belo e bem. Por outro, contrastando Esparta, que fazia a apologia do culto ao corpo. Platão sonhava com a democracia, tendo a educação papel fundamental, ensino municipal e público, nos níveis primário, secundário e superior, impedindo assim as pretensões totalitárias e trazendo o controle o mais próximo da comunidade. A filosofia da educação grega foi transmitida aos romanos quando estes conquistaram a Grécia. A Paidéia traduziu-se nos estudos humanistas, a humanitas - cultura geral que transcende os interesses locais e nacionais -, universalizada pelo cristianismo e a imposição do latim nas províncias conquistadas, caracterizando o processo de romanização. O homem realizado – locuples, era o ideal do romano. Com o passar do tempo, a classe aristocrata cede espaço para outras classes e o Estado ocupa-se da educação, pela primeira vez na história, com o objetivo de formar administradores. A educação era organizada pela disciplina e justiça, paz só com vitórias, educação para a pátria. A escola tinha três níveis: ludi-magister – elementar; gramático - secundário e superior - espécie de Universidade. Alguns teóricos romanos destacam-se no cenário educacional, como Quintiliano, que centra o ensino no conteúdo do discurso em um espaço de alegria, a schola, oferecido pelo ludi-magister - mestre do brinquedo. Um explícito reconhecimento da necessidade do prazer no processo de aprendizagem. No entanto mesmo aqui, há que se considerar o conceito de alegria no contexto romano. Aqui o ludi-magister tinha como responsabilidade ensinar a criança a leitura e a escrita, atividades consideradas amenas, se comparadas ao aprendizado rígido e disciplinador da família. O importante neste caso era a moral e os ideais da sociedade.


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