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“Não temos como pedir para largar na rua. A gente não tem um centro, um canil, um lugar em que podemos cuidar deles. Isso ai é um problema”, explica o coordenador da Vigilância em Saúde de Caxias do Sul, Julinho Santini Judithe Tasca e os cães que ocupam cômodos da sua casa | Paulo Pasa/O Caxiense

tornos Mentais (DSM-5), com novas classificações das doenças mentais. A tendência é que casos de colecionismos (não só de animais, mas de qualquer objeto) sejam classificados como casos de Transtorno de Colecionamento, classificação dentro da qual o colecionamento de animais seria uma subdivisão isolada. Em 2001, em São Paulo, foi sancionada a lei municipal que determina que os cidadãos possam abrigar no máximo 10 animais, entre cães e gatos. Este número pode ser ampliado a 15, desde que solicitada licença especial, ou pode ser reduzido dependendo do laudo de agentes sanitários ligados ao centro de zoonoses. No caso de infração, é aplicada a multa de R$ 100 – valor que é dobrado a cada reincidência. Em Porto Alegre, o limite estabelecido por lei é de 5 cães e/ou gatos e também só pode ser maior com autorização do Município. Há quase dois anos instalada na Capital, a Secretaria dos Direitos dos Animais ainda têm seus desafios: conseguir agregar o atendimento médico às pessoas que colecionam animais, já que em pouco tempo o colecio-

nador adquire a mesma quantidade de animais recolhidos. Em Caxias, no entanto, não há lei que possa regularizar a criação de animais. É por isso que a aposentada Amélia Valentini, de 83 anos, deseja sorte para que a reportagem consiga causar alguma reação das autoridades. Mesmo não tendo janelas na parede ao lado da casa de Judithe, dona Amélia já aprendeu a conviver com portas e janelas fechadas em função do mau cheiro, que só diminuiu quando acende incenso, à noite, no horário em que costuma assistir à missa. Na hora de dormir, seu único companheiro é o alarme da casa, acionado para acabar com a agitação dos cães, que costumam latir em conjunto entre 5 e 6 da manhã. Assim como a maioria do moradores da quadra, Amélia tem uma relação conflituosa com Judithe. “Eu não entendo porque esta mulher foi se sujeitar a viver deste jeito. Ela me disse que se eu não aguento é para eu me mudar, mas imagine que eu vou sair da minha casa”, lembrando que até tem um apartamento, mas o fato de estar no 4º andar de um prédio sem elevador

lhe impossibilita o acesso em função de problemas na coluna. No documentário Tabu: Colecionadores Extremos (parte de uma série sobre comportamento humano), do National Geographic Channel, o caso que se refere a animais é um encanador que coleciona répteis e anfíbios e abriu mão do casamento, quando teve que optar entre cuidar da esposa que estava doente e dar a devida atenção a seus 550 animais. Na gravação, o professor de Psicologia da Smith College, em Massachsusetts, Dr. Randy Frost – referência em estudos sobre Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOCs) – afirma que é normal que estas pessoas tratem animais como seus filhos, já que, em geral, animais domésticos são considerados familiares. O que é anormal, segundo ele é o número de filhos que a pessoa deseja. É em situação assim que vivem o casal Ana Maria da Silva e Antônio Silveira dos Santos, ambos de 73 anos, ao lado de cerca de 20 cães. Apesar dos animais estarem em menor número do que na casa 15.fev.2012

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