Edição 97

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A sociedade vê com bons olhos as paralisações? Eu acho que não. De modo geral, as greves representam interesses específicos de cada segmento. De um lado chamam a atenção para um problema, mas por outro lado atrapalham o nosso dia a dia.

vamente atípica, com uma ideia de proximidade do pleno emprego. Acho que boa parte dessas greves que estão ocorrendo se devem ao fato de os trabalhadores acharem que sua situação não acompanha a do crescimento do país. São demandas que estiveram represadas ao longo dos anos. Com a situação econômica favorável, os trabalhadores podem pressionar os empregadores para obter vantagens. A questão é se a greve é o instrumento mais adequado para reivindicar essas melhorais.

Nesse panorama, a aceitação da sociedade é diferente do que era na ditadura? Naquela época havia um ambiente diferente, um esforço para a conquista da democracia. Hoje a democracia já está consolidada. De Como você enxerga modo geral, quan- “O papel do em um futuro pródo os bancários, sindicato é ximo os movimenprofessores e médi- o mesmo do tos de paralisação? cos fazem greve, as passado, preservar Acho que a grepessoas tendem a ve permanecerá, os interesses dos entender porque a porém com menor causa é justa. A po- trabalhadores. apelo e apoio da população se coloca no O que ocorre é pulação. Mas contilugar daquele que uma má leitura nuará fazendo parte está demandando, desses interesses” do rol de ações dos que quer o reajuste movimentos sindisalarial, na maioria cais. das vezes. Porém, rapidamente se mostra descontente com a forma Isso porque os sindicatos patroque a demanda foi encaminhada. nais e de trabalhadores têm se Entretanto, se a greve continua afinado? se repetindo é porque de alguma Não diria afinado, mas sim porforma a sociedade ainda aceita e que empregadores e empregados também porque não foram criadas estão percebendo que seus interesoutras formas de regulação do tra- ses são legítimos. E isso vale tanto balho. para o trabalho quanto para o capital. Mas não podemos esquecer E quais seriam essas outras for- que boa parte dos nossos empremas? sários têm uma visão trabalhista Talvez o investimento na capa- presa ao passado, autoritária, de citação das lideranças. Com maior desmerecimento dos trabalhadoconhecimento de legislação, inves- res, diferentemente de empresátimentos em educação, elas seriam rios que atuam no circuito global. mais bem preparadas para ocupar Estes não têm uma relação paterestes cargos, e não precisariam nalista com o seu funcionário, que usar a greve como ferramenta para é essencialmente hierárquica e que resolver questões trabalhistas. A muitas vezes não reconhece a legiutilização de assessores capaci- timidade dos interesses dos trabatados é um fator comum e muito lhadores. positivo. Mas muitas vezes as lideranças não estão dispostas à nego- O empresariado jovem tem visão ciação. diferente na relação do trabalho? Nesse caso acho que não é a geO que justificaria a greve? ração. O principal é se ele trabalha Acho que a greve é um instru- em um setor da atividade econômento legítimo, como no caso mica ligado às formas emergentes, das obras da Copa do Mundo em como a tecnologia da informação, Porto Alegre. A situação tem um a biotecnologia, as chamadas ciêncontexto entre o poder público, cias da vida, a nanotecnologia, as empreiteiras e a Fifa, que pressiona indústrias criativas. Esses setores através dos prazos. Obviamente, têm formado um agente empresaos sindicatos fazem uma boa lei- rial que enxerga as demandas do tura, e tentam adiar a entrega das trabalhador de uma maneira difeobras. Isso se transforma em um rente da forma que os empresários recurso para conquistar melhorias de setores tradicionais. que são legítimas. Mas em outras situações a greve não é justificável. Nesse sentido, como é o empresaHá uma série de paralisações que riado no Rio Grande do Sul? não levam a nada. O julgamento Em algum momento da históse a greve é oportuna ou não passa ria fomos vanguarda. Atualmente pelo resultado que pode oferecer não. Com a escolaridade e a consaos trabalhadores. tituição de uma força hegemônica dentro do empresariado isso A greve tem uma relação diferen- poderá mudar. Mas no momento te em países emergentes como o ainda é tradicional. Os empresáBrasil e países que estão em crise rios de São Paulo, Rio de Janeiro e econômica? Florianópolis se distinguem nessa O Brasil vive uma relação relati- área.

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O Caxiense

8 a 14 de outubro de 2011

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


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