5. Criação do pluralismo: consequências imprevistas do « projeto preliminar »
perdas inflingidas por esses animais selvagens representa
de três a onze, recebendo praticamente 500 alunos. Sua
cerca de 0,2% do total de cabeças por ano, ou seja,
ação ganhou vários prêmios brasileiros. Mas a derrocada
centenas de cabeças por fazendeiro, o que torna
do PRP depois de 2005 perturbou gravemente este
numerosos fazendeiros bastante sensíveis a esta questão
movimento, que o Estado local decidiu não mais manter. A
foram apresentadas aos criadores para reduzir este
algumas funcionavam ainda no momento em que
daí uma caça ilegal da onça pintada. Algumas técnicas problema.
Profissionais
zimbabuanos
maior parte das escolas pantaneiras fechou, portanto, e só
também
efetuamos este trabalho de terreno.
asseguraram uma formação para os guias turísticos, a fim de ensinar-lhes a praticar uma “caça racional”. Este projeto
Globalmente, a mobilização dos fazendeiros a favor do
se mostrou ao mesmo tempo útil e frutuoso. A WCS ainda
parque regional através de projetos “atrativos” mostrou-se
trabalha sobre estas questões.
eficaz, mas se chocou com alguns obstáculos. Os
fazendeiros estavam bem mais interessados pelos
Enfim, o “projeto preliminar” do PRP comprometeu-se
aspectos produtivos do que pelos aspectos ambientais e
com ações educativas, apoiando-se na rede de escolas
sociais, como o lembra o primeiro presidente do PRP:
pantaneiras que tinha necessidade de ser reforçada. Projeto mais “social” de todos os projetos “atrativos”, ele
O projeto VITPAN era para os fazendeiros o projeto guia
motivados. Desde os meados dos anos 90, alguns
questões, como a conservação, o ecoturismo ou a
responder às necessidades das famlilias de seus
reuniões. Para uma reunião sobre o VITPAN, você chega a
suscitou o interesse de um punhado de fazendeiros já
[…] mas no momento em que nós quisemos abordar outras
fazendeiros têm criado escolas no Pantanal para melhor
educação, tivemos muitas dificuldades para organizar
trabalhadores e evitar um êxodo para a cidade no
mobilizar 40 a 50 pessoas enquanto para uma reunião
momento em que as crianças atingem a idade de serem
sobre a educação, a assitência reduzia-se a seis ou oito
escolarizadas. Os fazenderos encarregam-se de todas as
pessoas. O sucesso ainda era menor para o ecoturismo.
cargas de funcionamento, o Estado assumindo os salários dos professores nas mesmas base que em outro
Em 1998 e com a desvalorização progressiva da moeda
brasileira31, os preços da carne viram uma nova melhoria
lugar.
momentânea. Esta situação incitou fortemente os criadores a privilegiar a produção de carne, o que explica em parte a
A influência do “projeto preliminar” do PRP para a criação
importância constante dada pelo projeto do PRP a este
de novas associações teve importância na criação da
aspecto e a falta de entusiasmo dos participantes para
APPEP, em 1998. Até 2003 e com o apoio financeiro do
projetos mais “aventurosos”.
projeto do PRP, o número de escolas pantaneiras passou
5.3
O impacto da deslegitimação: uma PC em perda de intensidade e de inclusão
Em alguns anos, oito novas organizações saíram do nada,
dos fazendeiros a unirem-se a associações oficiais e a
reunindo centenas de fazendeiros – um resultado que a
comprometerem-se com um empreendimento coletivo. O
A situação parecia de fato excepcional em relação à falta
solidariedade entre eles. Tradicionalmente, os fazendeiros
equipe francesa reivindicava na época como um “sucesso”.
que não quer dizer, porém, que não praticam a
tradicional de espírito associativo na comunidade
ajudam-se, de maneira pontual, como o fazem os bons
fazendeira. A criação da SODEPAN, nos anos 80, já tinha
sido bastante notável neste sentido. Durante nosso
31 A moeda brasileira passou de 1,2 BRL para um dólar em dezembro de 1998 a uma taxa de 3,6/1 em dezembro de 2002. Durante este período, o preço do boi brasileiro dobrou na moeda local enquanto seu preço em dólar desabava.
trabalho de terreno, numerosas pessoas interrogadas sublinharam a reticência típica e profundamente enraizada
© AFD Documento de trabalho n° 93 • Participação comunitária no Pantanal, Brasil • agosto de 2010 53