3ª edição Jornal InterAção

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Jornal InterAção Vem Cá, Gatinho – Parte II uando ela entrou em casa e trancou a porta, sentiu um alívio. Tudo estava acabado. O marido morto. O amante fora dali. A herança chegando. E o gato também. Não, o gato não. Era apenas um gato de cemitério! Psicopata e assassino... Ela trancou a porta e ficou apoiada nela. Calma! Respira, garota! Tudo terminará em três dias. Cansada, a moça foi à cozinha e bebeu um copo com água. Nenhum sinal de Bóris. Jéssica subiu as escadas lentamente, parando no último degrau para olhar se o gato estava na sala. Não, ele não estava ali. Ela dobrou o corredor e parou diante da porta do quarto. Tocou a maçaneta. Abra logo. Está esperando o quê? A Morte? Ela sabia o que estava esperando: Bóris. O gato que o marido havia ganhado da mãe quando tinha 15 anos. O gato que havia acompanhado o namoro deles por nove meses. O gato que havia visto o casamento deles há onze meses no fundo da Igreja... No fundo da Igreja... O gato já me perseguia! - Deixe, amor, é só um gato. – dizia ele no seu ouvido durante a cerimônia. - Por que ele está aqui? - Deve ter entrado no carro lá em casa. Os dois subiram as escadas se beijando, tirando parte da roupa. Entraram no quarto. Marlon jogou Jéssica na cama e caiu sobre ela. Os dois começaram a se beijar. A moça jogou a cabeça para trás e fechou os olhos. Ele beijava o pescoço dela, mas Elvis beijava melhor. Ela virou o rosto e abriu os olhos. Levou um susto ao ver Bóris no canto do qurto olhando para eles. - Bóris! - gritou ela. - O quê? - Bóris está ali. - Deixe. -Não. - Ele não vai fazer nada. Deixe ele ter um momento “Voyer”. - Não. - ela percebeu quando o gato deixou parte da língua escapar de sua boca e percorrer seus lábios, fazendo-a gritar – TIRE-O DAQUI! Marlon se levantou e pegou o gato pelo couro do pescoço e o colocou fora do quarto. - Está feliz? - perguntou o homem. - Agora estou. Jéssica estava com a mão na maçaneta desse mesmo quarto e pensou em tudo. Lua-de-mel em Veneza, viagem para Dallas nas férias, presentes valiosos, o irmão de Marlon como amante, o assassinato na manhã do dia anterior... Começou a chorar ali mesmo apoiada na porta. Finalmente a abriu. A cama estava perto, mas Jéssica demorou cinco minutos para chegar até ela, pois tinha que chorar. Não por arrependimento, mas porque simplesmente tinha que chorar. Era um desejo. Ela chorou no chão do quarto. Se levantou, tirou a roupa, pôs uma camisola. Então deitou na cama e

dormiu. Sonhava que estava tomando sol na praia e tinha algo molhado em seu pescoço. Era bom. Então ela abriu os olhos. Bóris estava em cima dela. A encarando. O que esse gato quer de mim? Ele a olhava meticulosamente. Parecia que a desejava não sei se é para matar ou... para algo diabólico. Ela queria gritar, mas não podia. Sentia um peso no peito que começava a deixa-la sem ar. Gritar. Pedir ajuda. Era só isso que ela queria. O gato movimentava as patas como se estivesse pisando num punhado de terra. Ele quer me enforcar... O gato continuava os movimentos, só que mais fortes. Ela não conseguia se mexer. Não conseguia gritar. Estava sem ar... Jéssica estava desesperada. O gato afundava as patas no seu peito continuamente e não parava de olhar ela. A moça tentava procurar forças para pedir ajuda e não encontrava. Não conseguia nem mexer a cabeça. De repente, o Bóris aproxima seu focinho para o rosto dela. Ele tinha um ar gelado. O desespero dela aumentou. O gato encostou o nariz no dela e deu uma lambida nos seus lábios e empurrou seu peito, sufocando-a ainda mais. O felino voltou a olhar profundamente nos olhos dela. Os olhos de Bóris eram realmente fundos e penetrantes. Parecia que ela se perdia naquele verde cortado por um abismo. E nesse abismo, ela caía. Era por isso que ela não sentia ar, porque caía naquele abismo, caía onde não tinha fundo. O gato pisava em seu peito lhe tirando todo o ar. Era como se fosse uma forma de enforcá-la. Como vou escapar? Socorro. Jéssica precisava reunir todas as forças possíveis e impossíveis para se livrar do gato. Queria gritar, mas não conseguia. Tinha que tentar. Ela puxou um pouco o ar e relaxou o pulmão. A pata do gato pesou mais... Então ela decidiu tirá-lo de cima dela. Os braços não saíram do lugar. A pata do gato pesou ainda mais... Ela tentou rolar na cama. A pata do gato pesou mais... Jéssica se levanta de supetão! Bóris sai correndo do quarto enquanto a mulher tenta se recuperar. Ela se levanta, tranca a porta e dorme. Naquela noite, ela sonhou que estava em um cemitério, mais precisamente dentro de uma cova, e lá no alto, Marlon usava uma pá para jogar areia nela. E ao lado dele, Boris a fitava. Dois dias depois... Jéssica se arruma. Os policiais chegariam 10:30. Pontualmente, três homens e uma mulher na casa dos 40 anos entravam em sua casa. As investigações começariam. - Dona Jéssica – falava um homem alto de cabelos grisalhos. Era o investigador. – Fizemos a exumação e autópsia do corpo de Marlon e foi detectado cianureto. - Eu não permiti nenhuma exumação – bradou Jéssica encarando o investigador.

- Dona Catarina permitiu. Velha idiota. - Desde quando fazem a exumação de um corpo sem a permissão da esposa? – Jéssica estava jogando. - Isso não interessa. – respondeu o investigador. – Só queremos saber se a senhora tem algo a declarar. Cianureto é um veneno forte e mata logo após ser ingerido. - E? – Jéssica estava começando a suar. A mulher que acompanhava o investigador respondeu. - E então, Jéssica, a senhora declarou para a polícia e para a emergência que o seu marido apenas caiu morto no chão, levando todos a pensarem que sofreu um infarto. Quero lembrar que a senhora declarou, também à emergência, que Marlon era um homem doente. O exame não mostrou isso. O investigador de cabelos grisalhos continuou. - Resumindo o que a minha parceira falou: como o cianureto apareceu no corpo do seu marido? Jéssica tremeu. - Não sei. Não faço a mínima idéia. Ele pode ter se matado. - A senhora possui um frasco de cianureto aqui na sua casa? - Não. - E como o seu marido pode ter se matado? - Não sei. Eu não possuo cianureto aqui. Ao terminar de falar, os cinco escutam um barulho de vidro rolando. Quando eles encontarm a origem, se espantam. Bóris entra na sala brincando com um frasco o chutando para um lado e para o outro como se o frasco fosse uma bola ou um novelo de lã. O inspetor se aproxima do gato e pega o frasco. Jéssica se levanta. Aquilo não podia estar acontecendo. - Olhem – fala o inspetor – Aqui está escrito: cianureto. Vejam o rótulo. Não tinha mais como negar. Havia cianureto naquele frasco. Jéssica olha ao redor e todos a encaram. Quando ela vê Bóris, sente algo subir sua espinha, um calafrio, pois ele a olhava diretamente nos olhos. Continua... ,


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