Revista Nós Somos Um Só Edição 11 - Abril

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FRAGMEN

LEGATUS FIAT LUX POR: Suenilson Saulnier de Pierrelevée Sá

Certa vez há muito tempo um nobre rico, orgulhoso e poderoso, contudo profundamente amargurado estava em seu leito de morte, e mandou que chamassem o seu único filho para junto de si, pois que este há muito tempo havia sido enviado por ele para que fosse educado na condição de leigo em uma respeitável ordem monástica e de armas. Ao ver seu jovem e vigoroso herdeiro, disse-lhe usando as forças que ainda lhe restavam. Minha hora está próxima filho meu. Vou-me embora breve, mas antes preciso lhe falar sobre o que jamais conversamos. Pai não faças esforços, respondeu o filho preocupado. Não há descanso que me recupere e nem esforço que me faça piorar meu filho. De tudo quanto irás herdar em riquezas e estas não são poucas, nada mais valioso terás do que as três recomendações que tenho para ti no dia de hoje, aonde chego ao limiar da minha existência. Nunca erre meu filho, pois tantas forem às vezes que tiverem oportunidade os inimigos farão comentários maldosos a teu respeito, usarão vossos tropeços como faltas impagáveis, dirão a todos o quanto foste mal, quantificarão em proporções infinitas a menor das tuas falhas, de uma ruga diagnosticar-te-ão como se leproso fosses e da sua retratação para com aqueles a que venhas errar falarão ser dissimulação.

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Jamais confie em alguém, pois é na confiança que tens em outros é que nasce a traição, são aqueles que se sentam a tua mesa para tomar de tua ceia que o apunhalam como salteadores, confiar significa soltar o cabo da espada e dá vosso pescoço de própria vontade ao carrasco, ou seja, ser credo para com os homens é desejar tua própria ruína. E por último, vos ensino e suplico não perdoe em tempo algum a teus inimigos e até mesmo os teus amigos, se estes o decepcionarem em algo. Quem perdoa abre caminho para que o beneficiado o fira com mais força depois, quem perdoa se mostra fraco perante todos por não responder com a devida força as ofensas recebidas, e ao perdoar chancela com teu aceite à humilhação que sofrestes perante um algoz desonrado. Depois que disse tudo isso o pai, fitou o rosto do seu filho esperando dele o agradecimento por aquela lição, que pensava seria a de maior relevância que poderia ter dado a ele. O filho após alguns momentos de reflexão dirigiu-se ao pai dizendo: pai lá no priorado, para onde me mandastes quando eu tinha apenas doze anos, todas as vezes que eu errava um exercício com a espada ou com o escudo, meu turcoplier me mandava continuar, todas às vezes em que me atrapalhava com uma cerimônia um irmão mais velho prontificava-se a orientar-me e se não sabia como proceder em uma cerimônia havia alguém sempre disposto a ensinar.


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