imposturas intectuais

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Estamos bem conscientes de que o objeto de Deleuze e Guattari é a filosofia, não a popularização da ciência. Contudo, que função filosófica pode ser preenchida por esta avalanche de jargão científico (e pseudo-científico) mal digerido? Na nossa opinião a explicação mais plausível é que esses autores possuem uma vasta erudição, embora muito superficial, que ostentam em seus trabalhos. Seu livro Qu’est-ce que la philosophie? foi um best-seller na França em 1991. Um de seus principais temas é a distinção entre filosofia e ciência. Segundo Deleuze e Guattari, a filosofia cuida de “conceitos”, enquanto a ciência se dedica às “funções”. Eis como eles descrevem este contraste: [A] primeira diferença entre ciência e filosofia é a atitude de cada uma em relação ao caos. Caos é definido não tanto pela sua desordem quanto pela velocidade infinita com a qual se dissipa toda forma que nele se esboça. É um vazio que não é um nada e sim um virtual, contendo todas as partículas possíveis e suscitando todas as formas possíveis, que surgem para desaparecer logo em seguida, sem consistência ou referência, sem consequência. O caos é uma velocidade infinita de nascimento e de desaparecimento. (Deleuze e Guattari 1991, p. 111, grifo do original). Notemos de passagem que a palavra “caos” não está sendo usada aqui no seu significado científico usual (vide capítulo 7),{201} se bem que, adiante neste livro, ela seja empregada, sem comentários, também neste último sentido.{202} Eles prosseguem: Ora, a filosofia quer saber como manter as velocidades infinitas, ganhando ao mesmo tempo consistência, dando ao virtual uma consistência própria. O crivo filosófico, como plano de imanência que corta através do caos, seleciona infinitos movimentos do pensamento e é plena de conceitos formados como partículas consistentes deslocando-se tão rápido quanto o pensamento. A ciência aborda o caos de maneira inteiramente diferente, quase oposta: ela renuncia ao infinito, à velocidade infinita, para ganhar uma referência capaz de atualizar o virtual. Mantendo o infinito, a filosofia confere consistência ao virtual por meio de conceitos; renunciando ao infinito, a ciência confere ao virtual uma referência, que o atualiza, por meio de funções. A filosofia procede com um plano de imanência ou de consistência-, a ciência, com um plano de referência. No caso da ciência é como uma imagem congelada É uma fantástica


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