Revista Noize #68 - Otto | Março | Abril | Maio 2016

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Mesmo dia, 28 de junho. Eu sempre adorei a música dele, as letras dele, essa ideia de transcendência, esse apertar o foda-se.Você vê a quantidade de gente que gosta dele e como ele morreu assim, sabe. É o caminho de um ídolo mesmo. Eu agradeço por ser do mesmo dia que ele. E quando eu tinha meu programa da MTV, olha o que aconteceu. Não acontece com ninguém à toa não. Eu tinha um reality chamado “Viagem ao centro do Brasil”. Era eu de carro, não tinha roteiro. Daí eu tinha que ir pra Salvador, e eu queria ir no enterro de Raul. Isso não tem mais gravado

porque a MTV perdeu a fita. Foi roubo, sei lá. Quando eu cheguei lá, havia umas 2 mil pessoas. Não é todo mundo que consegue isso. Daí me apresentaram pro líder lá e eu entrevistei o cara que inventou o “Toca Raul”, um negão coroa sem camisa, me emprestou o violão, me deu vinho. Eu digo,“agora eu quero ver.” Cheguei pro líder e mostrei minha identidade e disse: Sabe que dia é hoje? Quando eles viram que era meu aniversário, eu já saí do chão pro alto. Já estava no alto. Daqui a pouco, eles me levantaram de frente pro céu e me puseram deitado de frente e balançaram

em cima do túmulo. E eu ainda tive esse arrepio célebre. Eu fui batizado de uma forma muito peculiar. Então a coisa de Raul é todo dia, toda hora. As pessoas me identificam muito. Sabe, pela bebida. Sei lá. Pelo que eu fui. Por essa coisa que eu busquei como músico. Muito por ser uma pessoa que se mete com tudo, mas hoje eu parei, sem precisar de ajuda. Acho que tem a ver com a busca. Só foi enjoo, acabou. Essas coisas só acontecem comigo. Ali eu entendi o porquê. Foi arrepiante. Quem você era e quem você é hoje, qual foi a sua metamorfose? Talvez esse disco tenha vindo como uma ruptura que a vida me deu. Acho que depois de passar por tudo isso, e por passar pra um disco, talvez eu tenha mostrado mais firmeza. Esse caminho mais conceitual, de querer contar uma história. Hoje eu trabalho mais tranquilo e esse disco me deu isso. Ou ele vinha e calava a boca do mundo e tocava por si mesmo, só. Ou, se não fosse pelo Ilhan, por esses amigos, eu não sei. Ainda bem que eu tive sempre as pessoas. Eu sou um vitorioso por tudo. Sou um pai de família e tenho uma filha maravilhosa, de uma mãe talentosa. O que mudou muito foi isso. Esse disco talvez tenha me tirado de um caminho... Me tirou de um caminho em que talvez eu pudesse ter me perdido. Não tinha mãe, dinheiro, não tinha nada.Tinha esse disco. Agora eu me sinto bem, agora eu vejo como eu sou, sabe. Foi essencial.“Seis minutos” foi uma música essencial. Ficou entre as dez melhores daquele ano nas revistas. Foi importante.


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