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Especial - Fórum Internacional Conectar-se é preciso estão pensando, mas se pode tentar ver o que querem, e nossa resolução de conflito será muito mais acertada. Precisamos de entendimento, entendermo-nos uns aos outros”. No filme Avatar, fica claro que no planeta Pandora - cobiçado por ‘”alienígenas terrestres” por possuir unobitanium, minério de valor incalculável para as pretensões humanas os na´vis formam uma tribo em harmonia com a natureza e muito bem resolvida entre si e com outras aldeias dos Omaticayas. Jake Sully, ex-fuzileiro, é escolhido para substituir o irmão Tommy, falecido, no programa Avatar, cuja pesquisadora-chefe á a dra. Augustine (interpretada por Sigourney Weaver, identificada com causas ambientais desde Na montanha dos gorilas, de 1988, em que também faz uma pesquisadora). O oposto da cientista é o coronel, comandante das forças que garantirão a conquista do território na´vi, não importa quantos nativos sejam abatidos e quantas árvores tenham de ser postas abaixo, a começar pela que lhes serve de morada. Jake é clonado num avatar (humanoide criado em laboratório a partir de na´vis capturados) e parte para sua missão intrigante. Atua como uma espécie de agente duplo, ao passar informações de interesse ora do coronel ora da doutora. Forte, sem medo, mas estúpido Cameron acentua no filme o aprendizado pelo qual Jake tem de passar, até assumir o lado da pesquisadora-chefe, a ponto de conseguir levá-la à aldeia dos na´vis, com a

permissão de Mo´at (mulher dragão, líder espiritual da tribo). Jake, orientado por Neytiri - que o acolhe por ele “ter um coração forte, sem medo, mas estúpido” -, aprende que em Pandora há muito mais que o precioso minério. O planeta é dotado de uma energia que flui em todos os seres vivos, é emprestada aos nativos e deve ser devolvida no momento certo. O aprendizado de Jake começa por saber rastrear e vai até perceber o fluxo, a energia do espírito dos animais. Mesmo os mais assustadores, como os alados ikrans. Terá de conectar-se a um deles, bem como a um dos cavalos, para ter mais mobilidade na vivência com todos os seres vivos da natureza e a população da aldeia. Numa das lições - ao ser salvo por Neytiri de um ataque na floresta, depois de ela ter matado o animal agressor -, Jake agradece. Mas recebe em troca: “Isso é triste, é momento de tristeza. Não agradeça por isso”. Até o dia em que se torna ele próprio um membro da tribo, passando de avatar a na´vi. Depois de ter caçado sua presa, diz: “Eu te vejo, irmão, e te agradeço. Tua alma volta a Eywa, e o teu corpo permanece aqui com o povo”. Eywa é a deusa dos Na´vis, que espalha pela floresta as sementes da árvore sagrada. Estas são “espíritos muito puros” que acompanham os nativos por toda parte. Se a missão de Jake em Pandora é intrigante, muito mais o filme de Cameron. Vale a pena ver, rever Avatar, até mesmo como uma tomada de consciência pela sustentabilidade. (ARCANJO)

Divulgação

Em vários momentos de sua fala, James Cameron reiterou conceitos fundamentais de Avatar. Um deles, a necessidade de as pessoas conectarem-se entre si e com a natureza. A expressão “I see you” serve a esse propósito porque vai além da simples tradução literal “Eu vejo você”. Significa, no filme, olhar o outro na sua integridade. Se os olhos são a janela da alma, temos de ver as pessoas e a natureza na essência de cada uma delas, de suas manifestações. Tem a ver, por exemplo, com o conhecimento dos diversos aspectos dos seres, o respeito à diversidade, estar em comunhão com eles. Nas palavras do cineasta: “Tive a ideia da expressão ‘ I see you’ para criar toda uma cultura para esse povo. Aprendemos de antropólogos que gestos tidos como naturais talvez sejam diferentes em cada cultura. I see you é ver por meio do cérebro. Na cultura na´vi, se saúdam assim, e quando a filha diz ao pai: ‘eu respeito você, eu vejo você’ significa algo diferente do que quando diz: ‘ave mitológica’. I see you é vejo você como sempre foi - saudação que se interpreta dependendo do contexto social. “Vejo dentro de você, vejo seu espírito e alma é o que falta em nossa sociedade. Partidos políticos não entendem como outros são por dentro. Se brigam contra nós em debate, de repente é algum medo de que vão perder algo. Se não se pode entender uma posição, nunca se vai entender o que aconteceu no debate. “Não estou dizendo que sou guru, que posso olhar nos olhos de todos e dizer o que

Criador(e) e criatura(d): Cameron fez Avatar para mexer com quem ainda se recusa a aceitar a ameaça ambiental que paira sobre...

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Neo Mondo - Abril 2010

... o planeta: “precisamos passar por grande mudança; nos reconectar com a natureza, uns com os outros e com valores reais”


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