Obras literarias fuvest unicamp 2014

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Capítulo XVII - Do trapézio e outras coisas "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. " Ao saber dos onze contos, o pai de Brás Cubas, furioso, exigiu o rompimento: o moço iria para a Europa, faria universidade em Coimbra. Brás Cubas não se opôs à ideia da viagem porque tinha a intenção de levar Marcela consigo; a moça, porém, recusou. Brás Cubas implorou, mostrou-se desesperado, mas Marcela ouvia impassível, "fria como um pedaço de mármore". Brás teve uma ideia que lhe pareceu salvadora: convencê-la-ia com algo mais concreto: recorrendo a mais um empréstimo, comprou um pente de marfim adornado com três grandes brilhantes. Marcela prometeu que o acompanharia. Capítulo XVIII - Visão do corredor Três dias depois, Brás Cubas partiu sozinho, com uma ideia fixa: lançar-se ao mar, repetindo o nome de Marcela. Capítulo XIX- A bordo No navio havia onze passageiros e o pai de Brás recomendou-o a todos. O capitão não tirava os olhos de cima dele; quando não podia ficar a observá-lo, levava-o à mulher, tuberculosa em fase terminal. Uma noite, Brás resolveu suicidar-se, mas encontrou o capitão junto à amurada, olhando embevecido o esplendor da noite; apontando a lua, perguntou-lhe por que não fazia uma ode à noite. Brás respondeu que não era poeta. O capitão, então, tirou do bolso alguns sonetos de sua autoria e recitou-os com amor. A musa do capitão afastou de Brás o desejo de matarse. No dia seguinte, uma tempestade. O passageiro louco pulava, outros rezavam, cheios de medo. Brás experimentou o horror da morte. Agora o capitão sempre lia seus versos para que Brás os apreciasse e a vida de sua mulher se esvaía; contou a Brás como se apaixonara, como ela lhe fora sempre fiel e dedicada e mostrou os poemas que fizera para ela. No dia em que a mulher morreu e foi lançada ao mar, Brás procurou consolar o capitão elogiando lhe os versos e oferecendo-se para publicá-los. No dia seguinte, levou a Brás Cubas um poema recém-composto em que rememorava as circunstâncias da morte da mulher e da singular sepultura que tivera. Leu-o com voz comovida e mãos trêmulas. Brás Cubas elogiou a composição. O capitão ponderou que talvez não tivesse talento, mas tinha sentimento, "se não é que o próprio sentimento prejudicou a perfeição". Brás respondeu que era perfeita; o capitão leu-a novamente, mas sem tremores, enfatizando a melodia dos versos e dando relevo às imagens. Depois, apertou a mão do moço e predisse-lhe um grande futuro. Capítulo XX - Bacharelo-me Grande futuro? Brás imaginou-se preeminente, talvez um naturalista, um literato, um banqueiro, um político ou um bispo, mas confessa ter-se aplicado pouco para isso; embora tivesse alcançado o grau de bacharel, havia sido um aluno medíocre: "um acadêmico estroina, superficial, tumultuado e petulante, dado às aventuras, fazendo romantismo prático e liberalismo teórico, vivendo na pura fé dos olhos pretos e das constituições escritas". Mas o diploma dava-lhe a liberdade, e Brás começou a sentir "uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver..." Capítulo XXI - O almocreve Um dia em que Brás montava um jumento, o animal empacou. Brás fustigou o jumento, que corcoveou e jogou-o fora da sela, mas o pé do moço ficou preso no estribo; o animal deu dois saltos e ameaçava disparar, quando um almocreve, que lá estava, com grande esforço segurou-o pelas rédeas — apesar do perigo — e Brás pôde desvencilhar-se. Convencido de que o almocreve provavelmente lhe salvara a vida, Brás decidiu dar-lhe três das cinco moedas de ouro que trazia consigo.


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