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4. Articulações com outras produções culturais

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2. O gênero Conto

2. O gênero Conto

Há uma grande potência nos questionamentos que o fantástico proporciona, pois ele desafia a interpretação automática da vida e propõe novas formas de pensar.

4. ARTICULAÇÕES COM OUTRAS PRODUÇÕES CULTURAIS

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A seguir, você encontrará uma análise dos contos com comentários e possíveis articulações com outras produções culturais, que poderá explorar ao longo do debate com seus estudantes.

Meu rosto não será como o teu – Conta a história de uma adolescente determinada a evitar a ação do tempo. Para isso, usa um aplicativo de celular, que exige que ela mantenha um ritual de se fotografar da forma mais bela possível, de tempos em tempos, e destrua o aparelho em seguida. Durante a leitura desse conto, você pode propor um diálogo com o romance O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Publicado pela primeira vez em 1890, esse livro conta a história de um belo jovem que ganha um retrato de um artista e deseja que, ao invés dele, o retrato envelheça. Com o passar do tempo, Dorian assume um estilo de vida hedonista e inconsequente, mas continua jovem e belo, enquanto o retrato registra seu envelhecimento e a corrupção de sua alma. O paralelo entre as duas histórias pode proporcionar uma discussão interessante sobre moralidade, ditadura da beleza e medo de envelhecer.

Os desterrados – Este conto nos apresenta uma pequena cidade que recebe visitas frequentes de turistas por ser um dos poucos lugares onde neva no país. O narrador discorre sobre o incômodo dos moradores da cidade com os visitantes de outras regiões, as diferenças de sotaque e costumes que fazem com que os habitantes locais não queiram que seus filhos interajam com os filhos dos turistas. Um dia, cadáveres começam a sumir do cemitério da cidade e a his-

tória toma um rumo inesperado, com o coveiro tentando convencer o padre e o delegado de que os corpos foram retirados por baixo da terra. Esse conto pode ser apresentado em diálogo com o filme Distrito 9, cujos dados detalhados estão na seção “Sugestões de Referências Complementares”. As duas obras abordam intolerância e xenofobia e podem render debates aprofundados em sala de aula.

Antônia está aqui – A história de uma criança de classe média alta, que desaparece dentro da casa dos pais, é uma reflexão sobre o consumismo e a superficialidade. Contada pelo ponto de vista de um jornalista que acompanha o caso, a narrativa constrói uma atmosfera de suspense e investigação que conduz o leitor até o final trágico. Para ampliar a discussão em sala de aula, proponha uma leitura em diálogo com o conto Bárbara, de Murilo Rubião, que narra a história de uma mulher que recebe tudo o que pede, mas nunca está satisfeita.

Siga sem mim – Com um quadrinista como protagonista, essa narrativa é carregada de referências de histórias em quadrinhos. Contratado por um rapaz misterioso para ilustrar uma HQ, o personagem principal desse conto perde o controle sobre a história que está desenhando. Na tentativa de recuperar o poder sobre a narrativa, se revela cheio de preconceitos. Explorar as obras dos artistas citados no decorrer da história, como Moebius e Henfil, pode adensar a discussão com os estudantes.

Bem-vindo ao “Clubee” – Abordando o machismo e a misoginia de forma bastante direta, essa história provoca o leitor a refletir. Os protagonistas iniciais dessa narrativa são quatro homens que se consideram injustiçados devido ao seu comportamento em relação às mulheres, e recebem um convite para visitar um local onde finalmente poderão agir sem as amarras da sociedade. O caso tem fim trágico para eles, e

a narrativa revela lentamente o mistério de como tudo se desenrolou. Para adensar a discussão com os estudantes, você pode apresentar o quadrinho Y, o último homem, de Brian K. Vaughan, que mostra um mundo pós-apocalíptico onde todos os homens morreram, menos o protagonista. Assim como o conto de Marcos Apostolo, esse quadrinho chama a atenção, por meio da ficção e do fantástico, para os impactos do machismo na cultura.

Ensurdecedor – Um desmaio na rua motiva a protagonista deste conto a abandonar sua vida em Nova York para voltar para a casa dos pais no interior de Minas Gerais. A mãe a recebe de braços abertos, mas o pai e o irmão não parecem tão contentes em vê-la. Aos poucos, ela descobre o motivo e se vê presa em uma teia de corrupção. Apesar de tematizar diretamente a corrupção, essa história também fala sobre o medo da morte e do câncer, em uma reflexão sobre o pouco controle que temos sobre a vida. Um diálogo possível para esse conto é com a série Breaking Bad, em que o protagonista é levado a tomar decisões questionáveis depois de descobrir que está com câncer terminal.

Não olhe para aquele lado – Último conto do livro, essa narrativa escancara a desigualdade social e a dificuldade que as classes privilegiadas, muitas vezes, têm de encarar os mais pobres. Acostumado a espiar a favela de seu escritório utilizando um binóculo, o arquiteto que protagoniza essa história fica surpreso e incomodado quando é aconselhado a não olhar para um barraco específico. A curiosidade o vence, e a consequência é algo com que ele precisará lidar por toda a vida. Por tratar dos perigos da curiosidade, essa história pode ser uma boa oportunidade para compartilhar mitos gregos com os estudantes. Personagens como Pandora, Orfeu e Psique também sucumbiram à curiosidade e perderam algo valioso por desobedecer a um conselho.

A variedade de temas abordados pelos contos permite que você realize diversas discussões em sala de aula e apresente outras obras aos estudantes. As histórias, incômodas e questionadoras, lembram as narrativas de séries aclamadas de televisão, como Black Mirror e The Twilight Zone, cujos dados completos você encontrará em “Sugestões de Referências Complementares”.

As ilustrações, certamente, merecem uma atenção especial a cada leitura. Cada conto é aberto por uma que, na verdade, se revela sempre um fragmento da ilustração de página dupla que aparece no decorrer do conto. Essa escolha faz com que o leitor tenha uma primeira impressão da imagem, mas, no avançar da leitura, precise ressignificar ao vê-la aplicada em outro contexto.

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