Memória e Identidade dos Moradores de Nova Holanda

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Essa situação deixa clara a imposição de ideias que não levam em conta os contextos específicos dos espaços populares. Por outro lado, repete-se a velha fórmula de que seus moradores não têm a capacidade de decidir o que é melhor para si e para sua comunidade, por isso, os agentes externos precisariam assumir um papel “civilizatório”. Tal visão desconsidera completamente as interações com o restante da cidade, a criatividade dos moradores no enfrentamento de suas dificuldades cotidianas e o saber produzido nas favelas. Desse modo, a partir da produção e reprodução das representações discutidas acima, foi criada uma identidade para as favelas. Essa identidade definiu e continua a definir esses espaços da cidade de uma maneira estigmatizada e negativa. Isso pode ser observado com clareza quando se constata que o termo favelado é quase sempre pronunciado de maneira pejorativa e preconceituosa. Hoje a favela é identificada como o avesso da cidade, o que fica claro na formulação da expressão “cidade partida”, cunhada por Zuenir Ventura (1994). Tal fato em nada contribui para que tenhamos uma cidade mais aberta, democrática e menos desigual. Por isso, é preciso rediscutir essas representações de maneira crítica e integrar a questão da identidade dos moradores desses espaços ao debate sobre a cidade e sobre as favelas. Nesse sentido, o presente trabalho tem como proposta contribuir para o debate sobre a identidade das favelas a partir do caso específico da Nova Holanda, na Maré. A ideia é discutir aspectos dessa identidade a partir de um trabalho de reconstrução da memória dos moradores de uma das favelas mais antigas da cidade e tentar entender um pouco melhor como se constroem a imagens e os significados que dão sentido à vida nesse lugar. Observamos que o direito à autorrepresentação é fundamental, pois define como serão estabelecidas as relações com os outros cidadãos que formam a sociedade.

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