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Arte ambulante bate à sua porta Uma pessoa está em casa, num dia comum brincando com seu filho ou lavando a louça e escuta alguém bater à porta e dizer: – Ôooo de casa...! Bom dia! – Bom dia – ela atende. – Nós somos do Projeto 1000 Casas e estamos levando arte para as casas aqui no bairro. Podemos entrar e fazer uma performance pro(a) senhor(a)? – Fazer o que mesmo?! Já se imaginou numa situação dessas? Arte delivery, mas sem ao menos ser feito o pedido? Foi mais ou menos assim que começaram as ações do Projeto 1000 Casas. Idealizado pelo grupo artístico Núcleo do Dirceu , a ideia é realizada na região do Grande Dirceu, na periferia da cidade de Teresina, Piauí. E vem chamando a atenção da comunidade, tirando as pessoas de seu cotidiano. Coordenador do Núcleo do Dirceu, Marcel Evelin, disse que a ideia faiscou a primeira vez “quando começamos a nos deparar com a questão de como atrair público para a arte contemporânea”. E, depois de

e isso é completamente coerente no contexto, por as pessoas serem abordadas enganosamente por marginais para entrarem em suas casas”. E quando isso acontece, os artistas dão início a uma explicação, uma negociação, que vez por outra surte efeito e a porta é aberta. Com a permissão concedida, os artistas fazem sua performance e aproveitam para por em prática um dos maiores objetivos do projeto: o diálogo com esse público. A conversa toca em assuntos como a função do espetáculo, o lugar do espectador, levando em consideração os desejos, as expectativas, e muito debate e ideias, o projeto o entendimento particular da chegou ao “foco de hoje que é necessidade e da fruição de arte friccionar esse espaço entre eu e no cotidiano dessas pessoas. o outro, tentar esgarçar o espaço “As conversas e observações entre o artista e o espectador, deles são muito pertinentes, tentando deixar o trabalho em um e nos coloca nesse lugar de lugar entre arte e cotidiano”, diz. anunciadores e ao mesmo Basicamente, a proposta é visitar tempo testemunha daquelas e performar em 1000 casas existências”, comenta Evelin. dessa região entre os anos de Compondo esse projeto, estão 2011 e 2012. Tarefa que não 15 artistas autônomos que fazem parece ser das mais fáceis. seus procedimentos ajudados “Começamos por mapear o uns pelos outros. E essas visitas, bairro, que tem por volta de 250 via de regra, são documentadas mil pessoas e muitos sub-bairros, em foto e vídeo para rechear um vilas e ajuntamentos”, conta blog que serve como um diário, Evelin. E a partir daí, explica, como prestação de contas e “estamos tentando entender também como extensão desse o que seria “performatividade” trabalho. Embora desvinculado nesse lugar específico do poder público, o projeto tem (comunidade, casa das pessoas), essa coisa de ação pública e o que é criar esse contexto de (performatividade) em lugar artista-espectador no lugar do privado (o ambiente de uma casa) espectador (a própria casa) e não e disponibilizar na internet algo no lugar do artista (o teatro). que seja privado para vir então a Essa intervenção cultural se tornar publico. inusitada, direta, na sala de O 1000 Casas já contabilizou estar ou cozinha das pessoas mais de cem visitas, então muito nem sempre é bem recebida. ainda tem a ser feito. Entretanto, Há pessoas que negam abrir a o projeto já começa a ser porta de sua casa para o projeto. reconhecido e isso facilita muito o Marcelo Evelin fala sobre isso. trabalho. “Já aconteceu de numa Ele diz que “houve muitos nãos, visita minha, uma menina que


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