CIÊNCIA E FILOSOFIA EM JEAN PIAGET

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Na concepção circular piagetiana, a física, apesar da matematização que utiliza, não pode prescindir, em linhas gerais, da experimentação. Portanto, a física se utiliza tanto da dimensão idealista da matemática quanto da realista da biologia. Já a psicologia se vale do realismo da biologia para explicar o aparato cognitivo. Na expectativa de procurar entender as etapas do desenvolvimento mental, ela procura explicar também as operações que constituem a matemática e a física, aproveitando assim a redução idealista do objeto ao sujeito utilizada pela matemática pura. 57 Segundo Brandão da Luz58, a psicologia, ao explicar os sistemas formais do pensamento a partir do dinamismo do organismo, cria uma ligação da lógica e da matemática com a biologia que possibilita uma epistemologia que se estabelece a partir de duas orientações do processo, redução do sujeito ao objeto pela orientação biológica e do objeto ao sujeito em função das explicações das noções matemáticas e físicas do sujeito. Certamente que a concepção piagetiana de círculo da ciência apresenta profundas lacunas que dão margem a uma série de críticas acerca da validade de tal constructo piagetiano. Infelizmente, não será possível desenvolver uma explicação exaustiva e minuciosa do círculo das ciências e das críticas decorrentes, porém é importante salientar que o próprio Piaget também foi um crítico de seu conceito quando o retomou, desta vez de forma mais modesta, em um trabalho desenvolvido em parceria com o físico Rolando Garcia 59, ao buscar estabelecer comparativos entre a história da ciência e o desenvolvimento infantil. Embora o círculo da ciência tenha sido uma bandeira que Piaget defendeu durante muitas décadas, neste trabalho em comum com Garcia ele procurou detalhar tendências e mecanismos do desenvolvimento que estão presentes simultaneamente no desenvolvimento da criança e das ciências naturais. 60 As preocupações epistemológicas decorrentes desta circularidade das ciências possibilitaram uma reflexão e, ademais, uma crítica acerca das relações entre sujeito e objeto que proporcionaram as mais variadas manifestações científicas, possibilitando, assim, o surgimento de uma nova concepção de sujeito e, consequentemente, uma nova concepção de psicologia científica. 57

Ibid. LUZ, J. L. B. da. Jean Piaget e o sujeito do conhecimento, 1994. 59 Cf. PIAGET, Jean; GARCÍA, R. Psychogenèse et histoire des sciences, 1983. 60 Ibid. 58


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