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SÃO PAULO, QUARTA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2016 www.metrojornal.com.br

{BRASIL}

Odebrecht decide fazer delação após 26ª fase Lava Jato. Empreiteira anunciou que buscará acordo após Polícia Federal prender 12 dirigentes ontem. Colaborações podem ser duro golpe no PT O grupo Odebrecht, maior empreiteira do país, anunciou ontem que seus executivos tentarão fazer delação premiada na Lava Jato. A decisão foi tomada no dia em que a PF (Polícia Federal) prendeu 12 dirigentes na 26ª fase da operação, que descobriu um setor exclusivo na empresa para distribuir propinas. Com três executivos já condenados pelo juiz Sérgio Moro a penas de mais de 19 anos de prisão, incluindo o presidente Marcelo Odebrecht, a empresa parou de negar as acusações e disse que “vem mantendo contato com as autoridades” para colaborar. Em nota, o MPF informou que não há nada fechado e qualquer acordo será restrito àqueles “cuja colaboração se revelar mais importante ao interesse público”. Além do esquema da Petrobras, a Odebrecht já é investigada por repasses eleitorais suspeitos ao marqueteiro do PT João Santana, por obras no sítio de Atibaia (SP) frequentado por Lula e ainda pagamento de supostas palestras ao ex-presidente no exterior. Ainda não há informações sobre o conteúdo das delações.

A REDE DE PROPINAS DA ODEBRECHT Como a empreiteira fazia pagamentos ilegais por obras no Brasil e no mundo, segundo a PF O ESTOPIM Na 23ª fase da Lava Jato, a 'Acarajé', foi presa Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht. A PF achou planilhas suspeitas na casa dela, e Maria contou, em delação, que trabalhava para o “Setor de Operações Estruturadas”.

Maria Lúcia Tavares abriu o caminho das provas | GERALDO BUBNIAK / FOLHAPRESS

26ª Fase O esquema revelado ontem pela PF mostra que a Odebrecht mantinha um “Setor de Operações Estruturadas”, que tinha diretoria e funcionários próprios e recebia ordens de executivos de todos os ramos do grupo para entregar dinheiro em espécie a beneficiários ainda desconhecidos, na maioria. Ontem a PF apreendeu dezenas de planilhas com Maria Lúcia Tavares, funcionária presa na 23ª fase, a “Acarajé”, que investiga repasses da empresa a João Santana. Em delação, Maria Lúcia contou que trabalha há seis

anos no setor que cuidava dos “pagamentos paralelos”. Eles eram feitos a pessoas identificadas por codinomes. Responsáveis por várias obras no país, os executivos que ordenavam as propinas foram presos e chegaram ontem à noite em Curitiba. “Vamos aprofundar esses dados e encaminhar aos respectivos investigadores. Seja qual for a empresa, o partido ou o governo”, disse o procurador do MPF Carlos Fernando dos Santos Lima. RAFAEL NEVES METRO CURITIBA

Suspeita no Itaquerão prende vice do Corinthians ‘por acaso’ A única prisão inesperada da Lava Jato ontem foi do vice-presidente do Corinthians, André Luiz de Oliveira, o André Negão. Ele foi detido por porte ilegal de arma em sua casa no Tatuapé, em São Paulo. Ainda ontem ele pagou fiança e deixou a prisão. A princípio o dirigente era alvo de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a depor e liberada em seguida. Uma das planilhas apreendidas pela Lava Jato aponta que André Gavioli, diretor de contrato da Odebrecht Infraestrutura e responsável pelas obras da Arena Corinthians, mandou entregar R$ 500 mil a um destinatário identificado como “Timão”. Uma anotação feita à mão na planilha indica que o dinheiro foi pago em outubro

André Oliveira teria recebido R$ 500 mil | DANILO VERPA / FOLHAPRESS

de 2014 a “André Oliveira” em um apartamento em São Paulo. A nota também tem um telefone celular, que levou a PF ao endereço do cartola corintiano. Em nota, o Corinthians afirma que já pediu esclarecimentos à Odebrecht e já iniciou uma auditoria completa a respeito da obra.

“Quaisquer irregularidades ou desvios de conduta, constatados por autoridades ou não, serão devidamente apurados”, diz um trecho do comunicado. Construída de maio de 2011 a abril de 2014, a Arena Corinthians teve custo total de cerca de R$ 1 bilhão. METRO CURITIBA

O SETOR DE OPERAÇÕES ESTRUTURADAS Segundo Maria Lúcia, o setor recebia demandas de todos os dirigentes da Odebrecht para pagar propinas. Os diretores do grupo citados nas planilhas geriam obras em nível federal, estadual e municipal. Foram presos 3 dirigentes que comandavam o setor de propinas e outros 10 envolvidos com obras da empreiteira. AS PROPINAS Um sistema de informática controlava as propinas. O setor de Maria Lúcia usava os serviços dos "prestadores" (doleiros que fabricavam dinheiro em espécie no mercado negro) e ordenava as entregas nos endereços. Somente um dos prestadores tinha saldo de R$ 65 milhões, dinheiro de propina que teria fornecido. AS ENTREGAS Identificados por apelidos, os beneficiários recebiam o dinheiro em casas, sedes de empresas ou quartos de hotel, quase sempre através de um emissário. Foram encontrados 17 endereços, em São Paulo, Rio, Recife e Salvador. O esquema, segundo as planilhas, durou até novembro de 2015.

Principais obras Indicativos de propinas pagas pela Odebrecht em algumas obras pelo país Ʉ GėĤĮė 7ÑĤÑĺÿČþÑ ɇJ/ɉ E-mails indicam R$ 1 milhão de propina em projeto de urbanização da Prefeitura do Rio Ʉ ÑĒÑČ áė NåĤĮÕė ɇ 2ɉ Diretor de obra do PAC teria pago R$ 150 mil Ʉ ĤåĒÑ ėĤÿĒĮþÿÑĒĨ ɇNGɉ Planilha indica propina de R$ 500 mil a vicepresidente do clube Ʉ 7åĮĤĚ Jÿė ɇJ/ɉ Anotação aponta R$ 500 mil por “Linha 4 - Oeste” do Metrô do Rio Ʉ SĤåĒĨıĤÜ ɇJNɉ Diretor responsável pela expansão das linhas teria ordenado a entrega de R$ 110 mil em espécie Ʉ åĤėġėĤĮė #ėÿÔĒÿÑ ɇ#=ɉ Diretor da obra de expansão do aeroporto teria pago R$ 1,4 milhão

FONTE: JUSTIÇA E POLÍCIA FEDERAL

Marqueteiro do PT recebeu R$ 22,5 milhões no Brasil Já investigados por receber US$ 3 milhões da Odebrecht na Venezuela, o marqueteiro do PT João Santana e sua mulher Mônica Moura também receberam R$ 22,5 milhões da empreiteira no Brasil, em espécie, entre outubro de 2014 e maio de 2015. É o que indicam as planilhas apreendidas com Maria Lúcia Tavares, que confirmou em delação que o codinome “Feira” se referia ao casal. Maria Lúcia contou que recebeu das mãos do chefe dela, Hilberto Mascarenhas (também preso), um bilhete com nomes e telefones de Mônica Moura, escrito pela própria mulher do marqueteiro. Antes de fazer delação, Maria Lúcia havia mentido à PF e dito que as entregas de “acarajés” citadas nas planilhas eram remessas do quitute baiano, e não de propina.

Delação amplia suspeitas contra João Santana | PAULO LISBOA / FOLHAPRESS

Em despacho de ontem, o juiz Sérgio Moro afirma que os pagamentos suspeitos ao casal ainda não foram explicados, e a possível ilegalidade pode “ter afetado a lisura do sistema político partidário”. Santana coordenou a comunicação das campanhas presidenciais de Lula em 2006 e Dilma em 2010 e 2014. METRO CURITIBA

Suspeita

Ex-tesoureiro de Rui Falcão é investigado Um dos destinatários que teriam recebido propina em nome de “Feira” (o marqueteiro João Santana) é identificado como Willian. Segundo a investigação, trata-se de William Ali Chaim, ex-tesoureiro da campanha do presidente do PT, Rui Falcão, e antigo funcionário do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Foram duas parcelas pagas a Chaim, de R$ 1 milhão cada uma, em 13 e 14 de novembro de 2014, segundo a planilha. O Metro Jornal não localizou advogados de Chaim. METRO CURITIBA


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