Medeia Magazine 3 - Janeiro e Fevereiro 2013

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ESTREIAS CINEMA vida cinematográfica mudar ao chegar a Hollywood com A Origem de Christopher Nolan ou Batman — o Cavaleiro das Trevas Renasce, do mesmo realizador. Do outro, um ilustre anónimo, Matthias Schoenaerts, escolhido para o papel depois de Audiard o ter visto num filme. “Há muito que queria trabalhar com ela (Cotillard)”, diz o realizador “pensei pôr à sua frente um amador, um boxeur real. Vi Bullhead, com o Matthias. Para mim foi evidente”. O actor agradece a escolha e acrescenta-lhe um elogio ao afirmar que Jacques Audiard é o melhor realizador com quem já trabalhou. Conciliar os dois actores não foi difícil, o complicado foi o filme em si. “Havia um problema específico com este filme” confessou o cineasta numa entrevista ao The Guardian, “algo que vimos frequentemente durante a escrita do guião: o contraste entre realismo e estilização. Tínhamos de estar constantemente à procura de um equilíbrio. Se é demasiado realista, fica chato. Se é demasiado estilizado, ninguém acredita nele”. A verdade é que o conseguiu encontrar. Se por um lado vemos duas pessoas a refazer a sua vida dentro de uma normalidade possível e identificável no real, por outro temos momentos mais abstractos, como o acidente de Stéphanie, em que parece um sonho (ou pesadelo), com todo o distanciamento e fantasia que dele podemos ter. É esta fluidez narrativa que imprime nos seus filmes que o tem comparado a Martin Scorsese, sobretudo a Táxi Driver ou Touro Enraivecido. Um realismo com a dose certa de magia. Imaginativo e confiante. O realizador já tinha abordado o tema da diferença em Nos Meus Lábios, com uma mulher surda a tentar um relacionamento com um homem insensível. Curiosamente foi o editor que lhe apontou as semelhanças, o próprio Audiard não tinha feito a comparação. Mas assume-a, como um regressar ao local do crime. “Talvez seja um problema de vocabulário – ‘crime’ é talvez um termo demasiado específico para o que faço”. “No final temos uma história de amor entre duas pessoas que se conhecem por causa de um acidente, e que se não fosse por isso jamais estariam juntas.” É assim que o argumentista Thomas Bidegain resume tudo. O mesmo argumentista que pergunta sarcasticamente “É para rir e chorar, o que mais pode pedir pelo preço do bilhete?”.

JACQUES AUDIARD O cineasta francês, nascido em Paris em 1952, sempre se viu envolvido no mundo da sétima arte. O seu pai, Michel Audiard, era um popular argumentista e o seu tio era produtor. Começou por ser assistente em produções francesas e chegou a trabalhar em Le locataire de Roman Polanski, em 1976. Como argumentista destacou-se em adaptações de peças para teatro até começar a escrever para cinema . Mortelle Randonnee, Reveillon Chez Bob, Saxo ou Grosse fatigue têm argumentos seus. Com o dinheiro que juntou de escrever para terceiros financiou o seu primeiro filme, Regardes les homes tomber (1994) com dois dos maiores actores franceses: Jean-Louis Trintignant e Mathieu Kassovitz. Ganhou três Césares com o seu filme de estreia e um lugar na história do cinema. Seguiram-se outros sucessos como Um Herói muito discreto, De tanto bater o meu coração parou e Um profeta. Este último, ganhou um César para melhor filme e recebeu uma nomeação para os Óscares em 2010.

JANEIRO | FEVEREIRO 2013

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