MARÇO - ABRIL - Revista MAXILLARIS

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28/2/11

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Inquérito T i a g o T e i x e i r a R o d r i g u e s, 2 2 a n o s , 4 º a n o d o M e s t r a d o I n t e g r a d o d e M e d i c i n a D e n t á r i a. Presidente da Associação Académica de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa

“Temos vindo a assistir à decadência dos cursos pré-graduados” 1 . O Processo de Bolonha foi o mote para a reformulação do curso de Medicina Dentária e também para intuir a aprendizagem ao longo da vida. No entanto, as faculdades aproveitaram para aumentar o número de vagas e criar vários cursos de pós-graduação com o propósito de contornar os problemas de financiamento. Temos vindo a assistir à decadência dos cursos pré-graduados, com menos competências práticas e teóricas, legitimando, de forma perniciosa, a criação de cursos de especialização, economicamente vantajosos às faculdades. É urgente que a Ordem dos Médicos Dentistas aja no sentido de pressionar as instituições a exigir excelência nos programas curriculares, garantindo uma boa formação de base. Um médico dentista destacar-se-á se apostar na formação contínua ao longo da vida. Assim sendo, deve ser estimulada a investigação em Medicina Dentária, não devendo apenas cingir-se à tradução de artigos e criação de artigos de revisão. 2 . É uma pregunta traiçoeira... Uma grande fatia da população ainda não tem acesso aos cuidados de saúde, mas os médicos disponíveis para a percentagem de população que a procura aumenta de ratio de ano para ano. Se, por um lado, isso estimula a competitividade na área e consecutivamente a qualidade dos serviços,

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A redistribuição de médicos dentistas recém-licenciados pelas zonas do país com necessidade de cuidados de saúde oral, através de estágios remunerados, é outra forma de criar novos postos de trabalho

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por outro, não deixa de ser preocupante o aumento do número de formados. Na nossa óptica, a integração da Medicina Dentária em todos os centros de saúde, unidades de saúde familiar e noutras instituições públicas de saúde é fundamental. A prestação de cuidados preventivos e curativos básicos a toda população é uma forma de contornar o problema da empregabilidade, beneficiando o Estado, que vê recompensado o esforço feito na formação dos alunos nas universidades, e a população, nomeadamente a com menos recursos. A implementação da Medicina Dentária nos serviços de urgência e a inclusão nas equipas multidisciplinares dos hospitais contribui para a resolução de casos clínicos complexos e diferenciados. A cobertura geográfica dos cuidados de saúde oral não está garantida. A redistribuição de médicos recém-licenciados pelas zonas do país com necessidade destes cuidados, através de estágios remunerados, é outra forma de criar novos postos de trabalho. Também defendemos a estimulação da investigação após a conclusão do curso.

3 . A realidade com que somos confrontados na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa baseia-se num ensino cada vez mais privatizado. Somos a única faculdade do país em que não é feita a imposição do kit de material ao estudante, mas cuja implementação já tem sido anunciada ao longo dos últimos anos. Como estudantes do curso superior de Medicina Dentária, interrogamo-nos se a única forma de estudar a nossa área em Portugal acarreta custos que vão além da propina máxima. Não podemos deixar que um pré-requisito desta natureza seja globalizado, nem tão pouco que determine a qualidade de ensino pré-graduado. De outro modo, dirigimo-nos para um ensino que baliza o acesso como também potencia o abandono de alunos que já o frequentam. Com esta política caminhamos para um ensino superior de elites? Em que só quem tem capacidade económica tem acesso ao conhecimento? Não nos consideramos a excepção, mas sim a regra que nunca deveria ter sido quebrada.


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