Saga Pedro Bandeira - Livro I - O Diabo Conselheiro

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- É por isso que a escola não tem verba! – uma menina indignada juntou-se ao grupo mais deslocado do salão. Jogou todos os livros que trazia consigo na mesa, fazendo pratos, garfos e facas pularem. - Lá vem a Francine – Felix anunciou. A menina fez cara feia, mas ele deu aquele sorriso perfeito. Ela desviou o olhar. - Mas é! Olha que palhaçada! Todo o ano é assim! Aqueles três acham que são melhores que nós e gastam uma fortuna importando comida do exterior! Ou vocês acham que aquela comida é feita aqui? Ela vem direto da França, querido! Os cozinheiros afrancesados mandam tudo pela rede de Flu, pra comida chegar quentinha ainda. - Mas isso não é o pior ainda, Francine – o cara dos dreadlooks se juntou ao grupo. Ainda estava com a mesma roupa que Pedro havia visto no ônibus. Nem o óculos ele havia tirado ainda. – O pior é quando eles se alimentam de foie gras de Fênix! Isso é criminoso! Fênix só renascem quando morrem de morte natural, não de morte matada! - Senhoras e senhores, apresento à vocês o grupo mais inconformado da mesa! – Felix comentou, divertindo-se. – Vocês formam um bom casal até... A menina deu uma livrada na cabeça de Felix, que cuspiu um tomate cereja inteiro na mesa. - A salada tá boa hoje, mano? A Marta não virou veneno ai não? – o cara dos dreadlooks se dirigiu a Murilo. - Tá sim. Tô comendo isso aqui a uns dez minutos e ainda tô vivo, mano! Murilo abriu um sorriso enorme, salpicado de folhas de alface. Então eles eram irmãos?! Como Pedro não havia percebido? Os dois tinham orelhas pontudas, os dois eram vegetarianos, os dois tinham os mesmos tons de pele... Um era uma cópia do outro! A diferença era que o dos dreadlooks era uns quatro anos mais velho que Murilo. De repente, todo o salão se calou. Era como se a lei do silêncio tivesse baixado naquele lugar. Na porta do salão, lá, muito bem vestida com um casaquinho vermelho e uma calça social preta, estava a terceira conselheira, tão mal falada por todos os alunos. Marta Elizandra Junqueira de Queiróz era a extrema cretina do grupo de conselheiros. Parecida com um esqueleto de peruca marrom, tinha predileção por respostas ríspidas, olhares cheios de significados e situações que deixassem os alunos em uma verdadeira saia justa. Estava lá, parada, com cara de bruxa. Bruxa não. Com cara de vaca, mas falar tal barbaridade é ofender os bovinos. 40


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