A redoma de vidro sylvia plath

Page 124

Debaixo da foto havia uma reportagem contando que a tal bolsista havia desaparecido de casa no dia 17 de agosto, usando saia verde e camisa branca, e que deixara um bilhete dizendo que daria uma longa caminhada. Quando a senhorita Greenwood não voltou à meia-noite, dizia a reportagem, sua mãe chamou a polícia local. O recorte seguinte trazia uma foto minha ao lado da minha mãe e do meu irmão. Estávamos sorrindo no quintal de casa. Eu também não tinha ideia de quem havia tirado aquela foto, até que percebi que estava usando macacão e tênis branco, e lembrei que aquela foi a roupa que usei durante o verão em que trabalhei colhendo espinafre, e que numa tarde quente Dodo Conway havia passado em casa e tirado algumas fotos da família. A senhora Greenwood pediu que esta foto fosse publicada na esperança de que isso ajude a convencer sua filha a voltar para casa. PÍLULAS PARA DORMIR TERIAM DESAPARECIDO COM A GAROTA Uma foto escura, tirada à noite, de cerca de doze pessoas de cara redonda num bosque. Achei que as pessoas no canto pareciam estranhas e baixinhas demais, até que percebi que eram cachorros. Cães farejadores usados nas buscas da garota desaparecida. O sargento da polícia Bill Hindly afirma que as perspectivas não são boas. GAROTA ENCONTRADA VIVA! A última foto mostrava alguns policiais erguendo e colocando na ambulância um grande rolo de lençol com uma cabeça em forma de repolho na ponta. A matéria dizia que minha mãe estava no porão lavando a roupa da semana quando ouviu gemidos discretos saindo de um buraco em desuso… Larguei os recortes sobre a colcha branca. — Fica com eles — disse Joan. — Você devia guardá-los num álbum. Dobrei os recortes e os coloquei no bolso. — Eu li sobre você — continuou Joan. — Não sobre como eles te encontraram, mas sobre tudo o que aconteceu até aquele momento, e juntei todo meu dinheiro e peguei o primeiro avião para Nova York. — Por que Nova York? — Ah, achei que seria mais fácil de me matar em Nova York. — O que você fez? Joan abriu um sorrisinho inocente e esticou os braços, virando as palmas das mãos para cima. Como uma cordilheira em miniatura, vergões grossos e vermelhos atravessavam a carne branca de seus pulsos. — Como você fez isso? — Pela primeira vez me ocorreu que Joan e eu podíamos ter algo em comum. — Soquei a janela da minha colega de quarto. — Que colega de quarto? — Minha antiga colega de quarto. Ela estava trabalhando em Nova York, e como eu não sabia mais onde ficar e meu dinheiro estava acabando, fui ficar com ela. Meus pais me acharam lá. Ela escreveu pra eles dizendo que eu estava estranha e meu pai foi me buscar de avião e me trouxe de volta. — Mas agora você está bem — eu disse, com convicção.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.