Série Alfa e Ômega - Livro 1 - Lobos Não Choram

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norte-americano? Ele sacudiu a cabeça. – Meu pai é galês. Ele veio para cá caçar e vender peles de animais na época dos caçadores de peles, e ficou porque se apaixonou pelo cheiro do pinheiro e da neve. Seu pai havia explicado exatamente daquela forma. Charles percebeu que estava sorrindo novamente, um verdadeiro sorriso dessa vez, e sentiu a sensação de relaxamento crescer ainda mais – e seu rosto não estava doendo, absolutamente; ele teria de ligar para seu irmão, Samuel, e dizer que havia finalmente aprendido que seu rosto não iria rachar se ele sorrisse. Fora preciso apenas um lobisomem Ômega para ensiná-lo. Ela entrou em um beco e parou o carro em um pequeno estacionamento, atrás de um daqueles prédios de apartamentos de tijolos que ocupavam os subúrbios mais antigos dessa parte da cidade. – Em que parte da cidade estamos? – perguntou ele. – Oak Park – disse ela. – Lar de Frank Lloyd Wright4, Edgar Rice Burroughs5 e Scorci’s. – Scorci’s? Ela acenou com a cabeça e pulou para fora do carro. – O melhor restaurante italiano de Chicago, e meu atual emprego. Ah. É por isso que ela cheirava a alho. – Então sua opinião é imparcial? Ele saiu do carro com uma sensação de alívio. Seu irmão caçoava de sua falta de apreciação por carros, já que mesmo um acidente grave provavelmente não o mataria. Mas Charles não estava preocupado em morrer – não gostava apenas do fato de que carros andavam muito rápido. Ele não conseguia sentir a terra por onde passavam, e se sentisse sono e quisesse cochilar um pouco enquanto viajava, carros não seriam capazes de seguir a trilha por si mesmos. Ele preferia cavalos. Depois que Charles apanhou a mala na parte de trás do carro, Anna travou o carro com o chaveiro. O carro buzinou uma vez, o que fez Charles pular. Depois disso, ele deu um olhar irritado para o carro. Quando se voltou, Anna estava olhando fixamente para o chão. – Sinto muito – murmurou ela. Se estivesse em sua forma de lobo, Anna estaria agachada, com o rabo enfiado entre as pernas. – Pelo quê? – perguntou ele, incapaz de suprimir a raiva que elevava sua voz em uma oitava. – Porque eu fico nervoso perto de carros? Não é sua culpa. Tenho que ter cuidado dessa vez, percebeu Charles, assim que tentou colocar o lobo sob controle novamente. Geralmente, quando seu pai o enviava para lidar com problemas, ele era capaz de fazê-lo friamente. Mas com um lobo Ômega ferido por perto, por quem se sentia responsável em vários níveis, ele teria de controlar melhor seu temperamento. – Anna – disse ele totalmente sob controle novamente. – Eu sou o matador de aluguel do meu pai. É meu trabalho, como segundo em comando. Mas isso não significa que tenho prazer em fazer isso. Não vou te ferir, dou a minha palavra. – Sim, senhor – disse ela, claramente não acreditando nele. Ele lembrou a si mesmo que a palavra de um homem não valia muito nessa época moderna. Charles sentia nela, ao mesmo tempo, o cheiro de raiva e de medo, o que o ajudou a se controlar – ela não havia sido totalmente vencida. Charles chegou à conclusão de que futuras tentativas de fazer com que Anna se sentisse mais segura provavelmente teriam o efeito oposto. Ela teria de aprender a aceitar o


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