Série Alfa e Ômega - Livro 1 - Lobos Não Choram

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QUATORZE Embora Charles quisesse descer rapidamente o morro assim que a bruxa fosse embora, ele liderou o caminho em um movimento lento e controlado, para que Anna pudesse facilmente acompanhá-los em seus sapatos de neve. Quando chegaram mais perto, as árvores e os arbustos ocultavam o lugar onde Asil e seu pai esperavam. Cautelosamente, Charles diminui o passo e parou. Charles olhou para Anna e depois para Walter. Ela assentiu silenciosamente e agachou-se onde estava. Walter tomou sua posição, como o velho soldado que era. Se não fosse por ele, Charles teria ficado exatamente onde estava. Ele não arriscaria a vida de Anna por um palpite, mas Walter cuidaria dela se algo acontecesse, então Charles ficou livre para assumir o risco. Quando Charles saiu de seu esconderijo, Asil havia terminado sua oração, mas continuara simplesmente ajoelhado onde estava, com a cabeça inclinada – como se estivesse tentando arduamente não ofender o Marrok. – Devagar... – murmurou Asil, sem olhar. Os ouvidos de Asil sempre tinham sido aguçados, ou talvez ele tivesse sentido o cheiro de Charles. – Nós estamos sujeitos à bruxa, seu pai e eu. Devo fazer o que a bruxa ordenou, como se ela fosse meu Alfa. Asil virou a cabeça e, finalmente, encontrou os olhos de Charles com desespero. – Seu pai, ela o dominou com mais força. Ela descobriu quem ele era e tomou a sua vontade, como um mestre de marionetes prendendo cordas em seu fantoche. Eu espero que – explicou Asil, ainda com aquela voz suave e macia –, quando terminar essa transformação, Bran não esteja insano. – Cansado, Asil esfregou o queixo. – Eu tenho de esperar e ver, mas você não. Você precisa pegar sua companheira e sair daqui, pegar a alcateia em Aspen Creek e correr até os confins da terra. Se ela o mantiver sob seu domínio, cada lobo que lhe deve obediência será dela. – Mariposa está louca, não que fosse exatamente estável antes, mas também está ligada ao lobo morto de Sarai. Os vivos e os mortos não são bons companheiros de cama. Charles esperou. Asil deu um leve sorriso. – Eu acho que ela superestima sua força. Se a bruxa não puder segurá-lo... Ele olhou para Bran. – Bem, então, perdito, eu acho que então é melhor estar longe, muito longe. Bran cambaleou e ficou em pé como um potro recém-nascido, com as pernas abertas para não cair. Não havia nada em seus olhos. Nada mesmo. Se não fosse pelo nó de fúria gelada que estava se juntando em seu estômago (um presente de seu pai), Charles teria acreditado que Bran estava totalmente dominado. Charles viu que teria de passar por mais uma Transformação, e talvez pudesse fazer mais uma depois, mas iria ter uma maldita ressaca se assim o fizesse. Não pela primeira vez, ele desejou ter herdado do pai a capacidade de falar dentro da cabeça de outras pessoas. Isso pouparia muita energia. Assim, ele se transformou, com esperança de que Asil pudesse esperar até que ele fosse capaz de falar. Demorou um pouco mais do que ele estava acostumado, e Charles teve medo de que pudesse ficar preso à forma humana por mais tempo do que havia calculado. Mas, finalmente, Charles conseguiu terminar, e estava totalmente nu. Ele não tinha energia para agradar ao seu pudor.


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