Revista Educar

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EXPERIÊNCIA AMAZONAS

Projeto da Universidade Estadual do Amazonas irá alfabetizar indígenas em duas línguas Maria de Nazaré Correa da Silva*

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á muito tempo a questão indígena no Brasil é objeto de estudo e de análise. Os povos indígenas, desde o processo de colonização das terras brasileiras, foram tratados como inferiores, sem alma, detentores de uma cultura insignificante. A partir de um discurso etnocêntrico os colonizadores do país diminuíram e desprezaram a contribuição indígena para nossa cultura. Lutar pelo direito desses povos é uma prática constante de pesquisadores que tomam para si a causa indígena como direito que deve ser garantido por lei. O ano de 1988 foi decisivo no apoio às questões indígenas, a própria Constituição Federal configurou a consolidação do processo de redemocratização do país. Foi nesse contexto que lideranças indígenas de diferentes povos exerceram, junto ao Congresso Constituinte, legítimas pressões reivindicando a explicitação de direitos que as-

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segurassem a sua continuidade enquanto etnias. Dentre as várias reivindicações aos direitos indígenas, voltaremos nosso olhar para a discussão da educação escolar indígena como direito, e não mais como concessão, exigindo de toda sociedade a participação na efetiva ação dos deveres do Estado, não só para com os indígenas, mas também em atenção ao cidadão brasileiro. A educação escolar indígena deve fazer parte de nossas preocupações enquanto sujeitos comprometidos com as causas dos povos indígenas, povos que por muito tempo foram deixados de fora de um direito que é de todos. Propiciar essa educação nos proporciona a oportunidade de investigar a nossa própria história, desconstruindo uma história de caráter colonizador e construindo a história a partir dos interesses dos próprios povos em questão. Mais do que garantir o resgate da língua, a escola indígena deve contribuir para o resgate da dignidade, da cidadania, dos direitos e deveres desses povos, que no decorrer a história do nosso país foram deixados de fora de decisões fundamentais para suas vidas. A educação escolar indígena, assim como as outras práticas de ensino, é um campo minado pela História, Antropologia, Pedagogia, Direito, Sociologia, Ciência Política e outras ciências complementares, que auxiliam na investigação desse complexo universo demarcado por seus processos próprios de aprendizagem. Foi com esse pensamento que o Programa de Letramento Reescrevendo o Futuro da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade do Estado do Amazonas, em parceria com Secretarias de Educação, Prefeituras, Programa Brasil Alfabetizado, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Governo do Estado do Amazonas, Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), desenvolveu um trabalho de Alfabetização com o povo da etnia Kambeba/ Omágua, denominado Alfabilingue, atendendo à solicitação feita pelo Senhor Farnei Kambeba que é um dos responsáveis pela Organização da Associação dos Kambeba do Alto Solimões no Amazonas. O projeto da Universidade do Estado do Amazonas


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