Legend – A Verdade Se Tornará Lenda - Marie Lu

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Não sei se a névoa vermelha que me embaça a visão é causada pela dor na minha perna, ou pela fúria da presença dela. A comandante para à frente da minha cadeira, inclina-se até perto do meu rosto, e diz: – Meu caro rapazinho. – Percebo a ironia em sua voz. – Fiquei muito animada quando me disseram que você estava acordado. Eu precisava vir vê-lo pessoalmente. Você tem muita sorte: os médicos dizem que você não está infectado pela praga, mesmo depois de ter passado algum tempo com aquele bando infectado que você chama de família. Eu me mexo rapidamente para trás e cuspo nela. Mesmo esse movimento é suficiente para fazer minha perna tremer de tanta dor. – Você é um garoto lindo. – Ela me dá um sorriso venenoso. – É uma pena que tenha escolhido uma vida de criminoso. Sabe que você poderia ter se tornado uma celebridade por seu próprio mérito, com um rosto desses? Seria vacinado gratuitamente contra a praga todos os anos. Não seria bom? Eu seria capaz de arrancar a pele de seu rosto nesse minuto, se não estivesse amarrado. – Onde estão meus irmãos? – Minha voz soa triste e rouca. – O que você fez com o Éden? A comandante apenas sorri de novo e estala os dedos para os soldados atrás dela. – Acredite quando digo que adoraria ficar para batermos um papo, mas tenho de conduzir uma sessão de treinamento. Há uma pessoa muito mais ansiosa para ver você do que eu. Vou deixar que ela assuma daqui para frente. A mulher sai sem dizer mais nenhuma palavra. Então vejo outra pessoa, alguém menor, com uma estrutura mais delicada, entrar na cela com o ruído de uma capa negra. Demoro um minuto para reconhecê-la. Não está mais usando calças rasgadas nem botas lamacentas, e não há terra em seu rosto. A Menina está limpa e arrumada, com o cabelo preto puxado para trás num rabo de cavalo alto e lustroso. Veste um uniforme elegante, dragonas douradas brilham do alto de sua vestimenta militar com manto, cordas brancas lhe circundam os ombros, uma insígnia com uma seta dupla está gravada em ambas as mangas. Seu manto vai até os pés, e tem uma faixa preta e dourada. Um nó requintado prende a parte superior da capa firmemente no lugar. Fico surpreso com sua aparência jovem, ainda mais jovem do que quando a conheci. Certamente a República não daria a uma garota da minha idade um posto tão elevado. Olho para sua boca: os mesmos lábios que beijei brilham com um tom suave de gloss. Um pensamento meio doido me vem à cabeça e tenho vontade de rir. Se ela não tivesse provocado a morte da minha mãe e a minha captura, se eu não desejasse que ela estivesse morta, eu a acharia absolutamente deslumbrante. Ela deve ter percebido o reconhecimento em meu rosto. – Você deve estar tão emocionado quanto eu estou por nos reencontrarmos. Pode atribuir a um gesto de extrema bondade da minha parte eu ter pedido que pusessem uma atadura em sua perna – ela diz de repente. – Quero ver você de pé quando for executado, não quero que morra


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