São Paulo - uma rota de fuga

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- desejo da delegada é de expandir o serviço, mas isso ainda não depende dela. É um serviço diferenciado, mas não há diferença no ambiente. O mais difícil é conseguir que os refugiados se sintam a vontade, ao menos o bastante para deitar no divã simbólico e contar os seus receios, temores e motivos que os fizeram partir. “É preciso ter cautela e paciência, devemos transmitir empatia e segurança ao solicitante de refúgio”, explica Bruna Menk. No litoral paulista, os porões dos navios servem de abrigo para aqueles que chegam pelo mar. Ainda são clandestinos, que vêm do mundo inteiro, principalmente da África, como em navios negreiros partindo para a terra nova. Segundo a delegacia da Polícia Federal de Santos, a hegemonia do continente africano no porto é evidente, só esse ano, 11 camaroneses desembarcaram em Santos depois de uma viagem nada agradável no espaço mais incômodo de um navio. Mas se engana quem pensa que não há clandestinos vindos da América Latina. Os países caribenhos costumam exportar escondidos em porões, muitos de seus habitantes. Muitos clandestinos “saltam” no litoral de São Paulo e vêm para a capital. Em outubro de 2011, foi a Polinésia que enviou a mais preciosa de todas as cargas clandestinas. Era uma adolescente da Ilha de Páscoa, sem nome e lembranças, o medo era seu único documento. Souberam mais tarde que a menina havia sido violentada, e que os olhos tristes escondiam mais informações sobre os abusos. “A maioria não sabem nem que está no Brasil, eles passam dias no porão sem água ou comida”, informa o delegado Weber Custódio da Polícia Federal de Guarulhos. O delegado Custódio estava alocado na delegacia do aeroporto de Guarulhos na tarde de uma quinta-feira do final do mês de Agosto. As ocorrências mais comuns eram sobre passaporte perdidos ou menores que de algum modo estavam sendo embarcados para países nórdicos com autorizações não legais. Assim como nas outras delegacias, os pedidos de refugio são ocasionais. A verdadeira demanda era outra. Não demorou muito para o local ficar movimentado. Uma mãe desesperada e o um filho cabisbaixo tentavam embarcar para a Dinamarca. Era possível observar o acanhamento e tristeza no rosto


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