IDENTIDADE A EA BRASIL

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corresponde a uma publicização e uma politização de esferas da vida que antes eram tidas como privadas ou não-políticas. Para essa ampliação do significado da noção de emancipação contribuíram decisivamente as novas demandas colocadas pelos movimentos de contracultura dos anos 60 e pelos novos movimentos sociais que emergiram deste mesmo impulso cultural, permitindo a incorporação da luta das mulheres, dos ecologistas, da juventude e de outras iniciativas voltados à busca de uma emancipação pessoal ou psíquica. (Eckerley, 1992; Thielen, 1998; Horkheimer & Adorno, 1994; Santos, 2001; Guattari,1990). Roszac (1972) faz referência às mudanças culturais mencionadas quando afirma: “No entanto, havia inquestionavelmente uma causa comum ali: a mesma insistência quanto a uma reforma revolucionária que deveria finalmente abranger a psique e a sociedade. Até mesmo para os membros do Poder Negro, a justificativa básica da causa deriva-se de teorias existencialistas como as de Franz Fanon, para quem o valor primordial de um ato de rebelião reside na libertação psíquica que proporciona aos oprimidos” (Roszac, 1972:74).

Morin também revela os reflexos sombrios da civilização na vida e na alma individuais que justificavam a busca de liberdade também nesse plano, quando coloca que: “Ao mesmo tempo, algo ameaça nossa civilização desde dentro. A degradação das relações pessoais, a solidão, a perda das certezas ligadas à incapacidade de assumir a incerteza, tudo isso alimenta um mal subjetivo cada vez mais difundido. Como esse mal das almas se oculta em nossas cavernas interiores, como ele se fixa de forma psicossomática em insônias, dificuldades respiratórias, úlceras de estômago, desassossegos, não se percebe sua dimensão civilizacional coletiva e vai-se consultar o médico, o psicoterapeuta, o guru.” (Morin, 1995:89).

Eckersley (1992), por exemplo, nos fala de uma teoria ecopolítica emancipatória que estende o debate ambiental para além dos limites físicos, questionando “a idéia de progresso” e os custos sociais e psicológicos resultantes do domínio da razão instrumental sobre o desenvolvimento humano e social. Esses teóricos compreendem a crise ambiental como uma 95


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