Cultura Livre

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Colecionadores

qualquer um ou sejam depositadas em um arquivo por qualquer um. Desse modod, não há uma forma simples de encontrá-las. A questão aqui é sobre acesso, não sobre custo. Kahle deseja disponibilizar conteúdo livre a essa conteúdo, mas deseja permitir que outros vendam acesso a ela. Seu desejo é garantir competição no acesso a essa parte importante de nossa cultura. Não durante a vida comercial de um pedaço de propriedade intelectual, mas durante a segunda vida que toda propriedade intelectual possui — uma vida não-comercial. Pois aqui está uma idéia que temos que entender de forma bem clara. Toda propriedade intelectual passa por várias “vidas”. Em sua primeira vida, se o criador tiver sorte, o conteúdo é vendido. Nesses casos, o mercado comercial é bem-sucedido para o criador. A vasta maioria da propriedade intelectual não tem esse sucesso, mas algumas claramente têm. Para esse conteúdo, a vida comercial é extremamente importante. Sem esse mercado comercial, muitos argumentam que haveria muito menos criatividade. Após o fim da vida comrecial de uma propriedade intelectual, nossa tradição sempre apoiou uma segunda vida. Um jornal leva notícias todo dia às varandas da américa. No dia seguinte, ele será usado para embrulhar peixe ou para encher caixas com produtos frágeis ou para construir um arquivo de conhecimento sobre a nossa história. Nessa segunda vida, o conteúdo continua a informar mesmo que não esteja mais a venda. O mesmo é verdadeiro quando o assunto é livros. Um livro sai das prateleiras muito rapidamente (a média atualmente é de pouco mais de um ano). Quando ele sai de circulação, ele pode ser vendido para sebos sem o dono do copyright ter direito a qualquer coisa, e ele também pode ser doado para bibliotecas, aonde muitos podem ler o livro, gratuitamente. Sebos e bibliotecas estão então dando uma segunda vida ao livro. Essa segunda vida é extremamente importante para a disseminação e estabilidade da cultura. [117] Mas cada vez mais, qualquer suposição de uma segunda vida estável para a propriedade intelectual não pode ser assumida para os principais componentes da cultura popular dos séculos 20 e 21. Para esses meios — televisão, filmes, música, rádio e Internet — não há qualquer garantia de uma segunda vida. Para esses tipos de cultura, é como se nós tivéssemos substituido as bibliotecas pelas superlojas da Saraiva. Com essa cultura, o que está disponível não é nada exceto uma faixa limitada de demandas de mercado. Além daí, a cultura desaparece. Durante a maior parte do século 20, foram motivos econômicos que causaram isso. Seria insanamente caro coletar e tornar disponível toda a TV, música e filmes: o custo de cópias analógicas é extraordinariamente caro. Então mesmo imaginando que a lei em princípio é que tornaria a prática


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