Quando a memória vira história: Angelo Dourado e a historiografia sul-riograndense

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Quando a memória vira História: Angelo Dourado e a historiografia sul-riograndense

porque amigos sérios e circumspectos me obrigaram a isso porque sabiam que no outro dia eu seria morto por ter censurado o procedimento do Sr. Castilhos mandando forças que vinham assassinando e roubando...”116 E, ainda sobre o asilo forçado: Esta terra aonde me exilo é boa, seus habitantes mostram a energia dos tempos antigos.” [...] Mas, a idéia de que estou aqui emigrado, os crimes, os horrores que campeam impunes no solo pátrio, me fazem pensar que só depois de ferido em combate teria o direito de pedir asylo em terra extranha.117

Finalmente, há o registro de que, ao menos no momento em que realizava os registros da guerra, era pai de quatro filhos. Eram eles: o primogênito Angelo 118 as meninas Chiquinha e Laura 119 além do recémnascido Telêmaco120. Estas informações, ainda que poucas, fornecem-nos bases para afirmações. Como médico e, posteriormente, presidente da junta municipal, podemos afirmar que fazia parte da elite 121 sócio-econômica de sua terra adotiva e, como tal, participava ativamente do debate e acontecimentos políticos do seu tempo, seja no governo ou fora dele. Podemos afirmar também, que Dourado acreditava firmemente no poder de convencimento da palavra escrita, e a usava sempre que possível. História Geral do Rio Grande do Sul, p. 33. O testemunho de Dourado também indica tal prática, encontrada no registro da invasão do Brasil com as forças de Gumercindo Saraiva: “Não se via na campanha senão grupos que fugiam para as bandas do sul [...] porque abandonavam os pagos, a casa que os vio nascer...” DOURADO, op. cit. p. 4. 116 Idem, p. 427. 117 Idem, p. 12. 118 Idem, p.17. 119 Idem, p. 19. 120 Idem, p. 339 e 340. 121 Não pretendemos aqui empreender uma discussão do termo elite nos diferentes momentos da história, ou se o correto é a ou as elites, por não ser o objeto deste trabalho. Utilizaremos, como referencial para sua aplicação, o significado atribuído por Travis Jr, onde define o termo como sendo “Elite, em sua significação mais geral, denota um grupo de pessoas que, numa sociedade qualquer, ocupam posições eminentes. Mais especificamente, designa um grupo de pessoas eminentes num determinado campo – principalmente a minoria governante”. (TRAVIS JR, Martin B. Elite. In: Dicionário de Ciências Sociais. Coordenação Benedito Silva. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1986, p. 389).

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