Tem samba na terra do frevo : as escolas de samba no carnaval do Recife

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como existia antigamente. A gente tem que batalhar e muito para colocar a agremiação na rua. Esse ano eu fui a quarta melhor agremiação do Grupo especial, venho com tudo novo, porque não gosto de coisa velha, tenho vergonha de entrar na avenida de roupa feia, gosto do que é bom, mas tenho que pagar ao pessoal para desfilar. A gente paga caro a uma orquestra de frevo. Tem que gastar a cabeça para comprar coisa barata e fazer coisa bonita, e tem que guardar um dinheiro para pagar as todos para desfilar. (Representante do Clube Vassourinhas) Nada melhorou, é um descaso, não se leva a sério o frevo na nossa cultura. Não falo só da Prefeitura, porque a culpa também é nossa, dos pernambucanos que não amam mais o frevo como antes. O dinheiro não chega, é pouco, não dá para pagar tudo. É muita luta para colocar a agremiação na rua. A subvenção chega muito em cima; o povo recorre à agiota. Precisa de uma política séria, levantar a bandeira da cultura pernambucana, que dê independência das agremiações que ficam dependendo da Prefeitura. Pagamos tudo muito caro e não tem dinheiro para fazer nada. A gente que tem sede ainda consegue alugar, fazer festa, evento e, mesmo assim, não dá, imagine quem não tem [...] (Vavá, Bloco de Frevo Banhistas do Pina).

Para além do período de carnaval não há consumo de produtos de frevo pela sociedade recifense, portanto, a produção é, em grande medida, sazonal e aquém do potencial produtivo. O ritmo “autenticamente pernambucano” não é tocado nas rádios durante o ano, as agremiações, cantores e passistas, salvo algumas raras exceções, não sobrevivem do frevo, como ocorre com muitos dos que se dedicam as escolas de samba no Rio de Janeiro. As escolas de samba, por sua vez, passam por dificuldades semelhantes as das agremiações de frevo para preparar seus desfiles, são dependentes da subvenção pública e limitadas quanto à captação de recursos privados por carregarem os estereótipos negativos historicamente cultivados já mencionados.137. Com exceção da heptacampeã do Grupo especial, Gigante do Samba, sofrem para completar o quantitativo de componentes obrigatório no regulamento do concurso, articulam com as quadrilhas juninas, com os maracatus, com os caboclinhos e os próprios grupos de frevo, componentes para suas alas em troca de pagamento ou de outras parcerias; pedem empréstimos para a conclusão dos trabalhos; desfilam com materiais baratos, reaproveitados ao extremo e adereços de qualidade duvidosa; confeccionam as fantasias, sem contar com a venda delas e sem venda não há retorno financeiro para investimentos. As lideranças das escolas de samba pernambucanas aproximam realidades, compartilham perdas com o frevo: Tá todo mundo lascado, meu filho, o povo do samba reclama, mas, o povo do frevo também reclama. O povo do frevo paga para os componentes desfilarem. No meu caso, eu não tenho como pagar. A gente tem que correr, vai fechando com maracatu, com outras comunidades, com o povo do frevo. Por que é muito difícil cumprir o regulamento e levar 450 pessoas para a avenida, a gente acaba perdendo ponto. A gente faz em parceria, eles precisam de gente, eu levo os 137

Sobre as atuais dificuldades enfrentadas pelas agremiações de frevo, Ver SARMENTO (2011).


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