Trajetórias e fronteiras no mundo do samba : João Martins e a nova geração de sambistas cariocas

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no Samba de Boteco81, o anúncio dizia a partir das 18h, cheguei às 19h, e o samba começou as 20h. Esse atraso é comum e, tendo adquirido esse knowhow, minha maior preocupação não era com o horário, mas com como chegar lá. Nunca havia ido ao 4linhas, e peguei um grande engarrafamento, o trem avariou, e como bônus, naquele horário não havia mais trens paradores, somente expresso, e este não para na estação de Bento Ribeiro, que fica próximo ao 4linhas, mas sim duas estações depois, em Madureira. Lá peguei outro ônibus no sentido contrário, para enfim chegar ao local três horas e meia após ter saído de casa, três horas após o inicio previsto para evento. Ao descer do ônibus me dei conta de que a chuva estava ainda mais forte e que meu singelo guarda chuva não aguentaria tamanha pressão. Na verdade, parecia que eu estava sem guarda chuva de tanto que eu me molhava. Tendo em vista essa conjuntura, resolvi correr, uma tarefa nada fácil estando com água na altura da canela com uma forte correnteza, pois naquele ponto da Rua João Vicente havia um declive razoável. Pelas informações que colhi na pagina do 4linhas no facebook, sabia que estava bem perto, acreditava que veria um grande fluxo de carros, de pessoas entrando no local, e que essa movimentação seria meu ponto de referência, mas com aquela chuva, a movimentação estava bem aquém do que eu esperava, e o acesso ao clube estava acontecendo por uma entrada secundária, e não pela entrada principal, o que me deixou na dúvida se ali era realmente o local do evento que eu estava procurando. Antes de me dirigir à recepcionista, resolvi esperar um pouco para me recompor da corrida, da chuva e para tentar ouvir o que as pouco mais de sete pessoas da fila falavam. Estava no lugar certo, pois vi o convite na mão delas e mesmo naquela entrada mal iluminada, consegui ler Bagulho doido! Ri mais uma vez do nome evento. A gíria bagulho pode significar muitas coisas inclusive maconha, mas apesar da sua utilização ser bem aceita nesse meio e de vários músicos serem usuários, acredito que o sentido que eles quiseram dar a esse nome ia além disso, mas apesar da conjectura, só fui entender o que eles queriam dizer algumas horas depois, durante o evento. Como aquela não era a entrada principal, não havia bilheteria ou guichê, desses com uma abertura na parede por onde se paga e pega o ingresso sem a possibilidade de um contato visual ou físico com quem estiver do lado de dentro. O que havia era uma 81

Samba organizado pelo produtor de eventos Alexandre Pires, que acontece na Rua Ati, no bairro do Pechincha aos sábados.

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