Chupungco a liturgias do futuro inculturação

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seus díscípulos". Mas o processo de inculturação não parou aí. .. A história da liturgia romana apresenta dois excelentes exemplos de inculturação: a forma clássica que floresceu em Roma depois do século IV e a forma franco-germânica que se desenvolveu durante a era carolíngia com base na liturgia romana clássica. A julgar pela sua língua, símbolos e ritos, estas liturgias pertenciam inequivocamente ao povo para o qual elas se desenvolveram, cuja cultura e cujas tradições elas assimilaram e reexpressaram em categorias cúlticas. A inculturação pode ser descrita como o processo pelo qual os textos de ritos usados no culto pela igreja local estão de tal modo inseridos na estrutura da cultura, que absorvem seu pensamento, sua linguagem e seus modelos rituais. A inculturação litúrgica opera de acordo com a dinâmica de inserção em determinada cultura e com a assimilação inte­ rior de elementos culturais. De um ponto de vista puramen­ te antropológico podemos dizer que a inculturação permite às pessoas de um povo experimentarem em celebrações litúrgicas um 'evento cultural' cuja linguagem e cujas for­ mas rituais elas são capazes de identificar como elementos de sua cultura. Por causa da natureza do culto cristão, os elementos culturais a serem assimilados devem submeter-se a uma avaliação crítica. Eles não devem estar, como SC 37 requer, "indissoluvelmente ligados à superstição e ao erro", porém precisam estar "em harmonia com o espírito verdadeiro e

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38. Para o significado de inculturação em geral, ver A. Crollius, '''What is New about Inculturation? A Concept and its Impllcations", Gregorianum 59 (1978), pp. 721-738;M. Azevedo, íncuíturatíon and theChallengeofModeruity, Roma, 1982. Ver também M. Dumais, "The Church of the Acts of the Apostles: a Model of Inculturatíon?" .íncuitumtíon, Vol. X:CulturalChange and Liberation in a Christian Perspective, Roma, 1987, pp. 3-4. A série lncuituraíion. Wotking Pcpers 011 Liviflg Foílh andCu/tures, editada por A. Crollius, Roma, apresenta alguns artigos perti­ nentesà questão da inculturação litúrgica. Ver também R.Gonzãles, "Adaptacíón, inculturación, creatívldad. Planteamiento, problemáticas y perspectivas de profundización", Phase 158158,27 (1987), pp. 129-152.

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autêntico da liturgia". Às vezes não é fácil estabelecer a linha divisória entre superstição e algumas expressões deturpa­ das de religiosidade. Além do mais, existem algumas mani­ festações religiosas ou pseudo-religiosas e psíquicas que não merecem ser incluídas na categoria de superstição e de erro. Por outro lado, manifestações como transe, hipnose e glóssolalia, embora não sejam supersticiosas nem erradas, estão fora do objetivo da liturgia, que é culto público de uma cómunidade hierarquicamente organizada. A inculturação litúrgica deve levar em consideração não só a doutrina da fé, mas também as exigências da liturgia cristã. Uma questão de interesse imediato aqui é saber o que a avaliação crítica envolve na prática. A igreja primitiva abordava esta questão à luz dos tipos bíblicos. A unção batismal, cuja origem, de acordo com Tertuliano, não deve . ser atribuída à Sagrada Escritura, veio a ser encarada como antítipo da unção sacerdotal de Aarão. O ambiente cultural da unção é bem conhecido. Gregos e romanos massageavam o corpo com óleo por motivos como terapia física e aprimora­ mento atlético. É bem possívelque esta prática tenha entrado na liturgia cristã sob a forma da unção batismal mencionada por Tertuliano. Além deste tipo de unção, existia no tempo de Hipólito de Roma a unção dos catecúmenos antes do batismo. Ambrósio de Milão compara-a com a unção do atleta. O candidato ao batismo é ungido a fim de ter a força 39 necessária para lutarporCristo na arena do mundopresente • Outro exemplo de antítipo bíblico é o cálice de leite

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39.Tertuliano, DeCorona Ill, 1; N,4, Corpw: ClIrístianorum lAtínorum II,Turnhol t, 1954. O que Tertuliano afirma sobre o assunto é importante: Hal1! [undionem] si nullascriptura determínauií, certe consuetudo corroboravit,quae sine dubio de ínuíiticne mnnavlt. III, 1, p. 1042. Santo Ambrósio, De Sacramenfis I, 4, p. 62: Unctl/S ss quasi ath1eta ehristj ,'luos;luctamhuiussaeculi 1uetat urus, professu 5 eslu!faminis íuicerta11m;na. Ver J. Daniélou, The BibJe and lhe Liturgy, Londres, 1964, pp. 19-69; B. Botte, "Le symbolisme de I'hutle ct de l'onction", Qllestions lilurgiqu es 4 (1981), P' 196; A. Chopungco "Greco~RomanCulture and Liturgical Adaptatio n", pp. 202-218.

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