Entre Gueixas e Samurais

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15,7 m (o tamanho de 108 tatami). A pintura encontra-se no teto do hatto (salão de estudos), lugar utilizado para leituras formais de textos sagrados. Os monges acreditam que os dragões são os protetores dos ensinamentos budistas, além de serem considerados os deuses da água, enviando a “nutritiva chuva zen” aos seus seguidores. Durante o processo pictórico, Koizumi usou o espaço de uma quadra de voleibol coberta numa escola elementar em Hokkaido, ilha ao norte do Japão. Produzido pela NHK, há um documentário da criação do autor no próprio Kenninji. Assisti-lo a recobrir de tinta a imensa tela é confundir homem e objeto, branco e preto, mão e pincel, corpo e papel. É tocante assistir a um dos mais refinados artistas do mundo, que se desprende da homogeneidade cultural. A imagem final da dupla de dragões nas nuvens é instigante. O dragão da direita, com postura recuada e dentes cerrados, tem um olhar amedrontado. O da esquerda, todo arrepiado e com a mandíbula escancarada, apresenta um olhar de espanto: carrega em sua pata esquerda dianteira um “ovo”, que simboliza o planeta Terra. Um retrato do processo transformador e, às vezes, violento da natureza, homem e dragão. O fenômeno natural koyo se assemelha à essência do dragão: corpo avermelhado em movimento e sopro de fogo. Dá a impressão de que a “centelha de ignição” obtida pela fricção das folhas coloridas provoca uma reação exotérmica. O dragão de Koizumi encanta e protege. Mas também provoca o ser humano. E parece soprar duas perguntas à queima-roupa: O que é a vida? O que é o homem?

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